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Uma Jovem Católica

Sou uma jovem esposa e mãe católica portuguesa. Neste blog partilho a minha caminhada em busca da santidade e o meu encontro com o amor misericordioso do Senhor. Espero que ele vos possa ajudar a encontrar a alegria do Evangelho!

Uma Jovem Católica

Sou uma jovem esposa e mãe católica portuguesa. Neste blog partilho a minha caminhada em busca da santidade e o meu encontro com o amor misericordioso do Senhor. Espero que ele vos possa ajudar a encontrar a alegria do Evangelho!

Imprevistos, previstos por Deus

Os Evangelhos não nos explicam os motivos que levaram Nossa Senhora a acompanhar S. José até Belém para o recenseamento - tal como escrevi numa reflexão há dois anos atrás

 

Mais de 200km separam Nazaré de Belém. Os caminhos são rudes, por vezes muito difíceis de passar e sempre cercados de perigos. Mesmo que, segundo a Tradição, Nossa Senhora tenha feito esse caminho no dorso dum burrinho, não deixa, contudo, de ser uma dura viagem de quatro a cinco dias... Com comida simples e frugal, com algumas noites passadas ao relento, deitados no chão, quando passavam por zonas pouco habitadas...

 vespera de natal 2.jpg

Imagem retirada daqui

 

A Igreja ensina-nos que uma das melhores formas de contemplarmos e de meditarmos acerca da vida de Jesus é imaginar que somos nós a viver aquelas situações relatadas - se fossemos nós, como reagiriamos? como teriamos falado? como teriamos agido? como teria sido, se fossemos nós?

 

Este tipo de pensamentos, para mim, "dá-me sempre pano para mangas" .... dá-me sempre para dias e dias de meditação - porque eu teria agido sempre duma maneira completamente diferente da que aparece nos Evangelhos. Eu e a minha natureza pecadora....

 

Por exemplo, eu facilmente manifesto frustração perante situações, por mais pequenas que sejam, em que ocorre algo que eu não tinha previsto. Ou seja, quando as coisas não acontecem à minha maneira, como eu queria, como eu tinha imaginado, como eu me tinha preparado - quando me vejo com problemas inesperados.... o resultado não costuma ser bom nem bonito. Zango-me, chateio-me, fico logo de mau humor e pobre coitado do primeiro que me aparece à frente... Há anos que tento mudar este traço horrível da minha personalidade, e ele tem vindo a suavizar-se, sem dúvida, pela graça de Deus, mas ainda continua muito vincado.

 

Este Advento dei por mim a reflectir numa enormíssima e bela virtude de Nossa Senhora (e de São José também) - a capacidade de aceitar os "imprevistos" enviados por Deus.... uma virtude que eu claramente não possuo. 

virgem maria.jpg

 

Esta virtude aparece em todos os relatos que envolvem a Santíssima Virgem - ela esteve sempre disposta a aceitar todos os "imprevistos", previstos por Deus. Não apenas aceitar, mas inclusive abraçar estes imprevistos - o anjo Gabriel que aparece e que lhe faz uma proposta que muda toda a sua vida; a admirável notícia da gravidez de Isabel; o surgir do recenseamento e a viagem até Belém; a ausência dum lugar para ficarem; o parto num estábulo; os pastores que os descobrem e vêm visitar; os magos que vieram de longe e que trazem presentes tão estranhos; a fuga à pressa para o Egipto; a estadia num país diferente; a viagem de volta para Nazaré; a perda e o reencontro do Menino no Templo; o vinho que falta nas Bodas de Caná .... 

 

Em todos os momentos, em todas as situações, por mais caricatas ou perigosas ou estranhas ou incompreensíveis - sempre:

Seja feita a Vossa vontade.

 

Imagem retirada do Pinterest

 

Ou nas palavras da nossa querida Chiara 'Luce' Badano - Tu queres Jesus? Então eu também quero. 

 

Não existe nenhuma situação "imprevista", que não tenha sido prevista por Deus. Eu posso ser apanhada desprevenida - mas Deus nunca. A maior parte dos imprevistos, dou por mim a pensar, talvez até sejam desejados por Deus que ocorram: para que eu exercite paciência e obediência, para que eu aprenda a confiar n'Ele, para que a minha Fé cresça...

 

Que Nossa Senhora nos dê a graça de sermos cada vez mais parecidos com ela!

 

P.s: Antes que eu me volte a esquecer - este ano, eu voltei a criar um calendário mensal católico para 2018. Podem fazer o download grátis, aqui ou então aqui. Podem imprimi-lo à vontade, e podem partilhá-lo com quem quiserem. Só vos peço que, ao fazerem o download, rezem uma Avé Maria por mim, por favor. Que Deus vos abençoe! 

Por causa dum Sim, veio o Natal

"O Natal é quando o homem quiser!"

 

Não me recordo a primeira vez que ouvi esta velha expressão mas sei que a tenho ouvido vezes e vezes e vezes sem conta. Oiço-a na rua, nas lojas, no hospital, nas reuniões de família.... Alguém (usualmente eu) deseja "um feliz Natal" e a outra pessoa responde, numa voz cheia de sarcasmo e amargura - "Natal? Natal é quando o homem quiser!

Apetece-me sempre responder de volta - "Ora, isso querias tu!

 

Não, o Natal NÃO é quando o homem quiser....

Nas palavras do nosso novo sr. padre - o Natal foi quando Deus quis e uma mulher aceitou e disse que sim.

 

Natal foi quando Jesus voluntariamente se propôs vir à Terra. 

Natal foi quando Ele atravessou o enormíssimo abismo do pecado (que nós próprios criámos) e que nos separava do amor de Deus. 

O Natal foi uma das maiores expressões de humildade, que nunca ninguém se tinha atrevido sequer a pensar ser possível: Deus Todo Poderoso, Criador do Céu e da Terra, Aquele a quem nada falta, que tudo tem, que tudo pode - esse mesmo Deus, desejou encarnar, verdadeiramente, na nossa própria natureza humana, frágil e dependente.... e, escândalo dos escândalos, apenas depois de pedir o consentimento a uma jovem virgem. 

Que grande é este mistério! 

 

S. Luís Maria de Montfort, no seu Tratado, nos tinha tentado exprimir este mistério:

"Maria, não sendo mais que uma criatura saída das mãos do Altíssimo, (...) não sendo nada em comparação com a Sua Majestade infinita" e sendo " (...) o Senhor sempre independente e bastando-se a Si mesmo, (Ele) não teve nem tem absoluta necessidade da Santíssima Virgem para o cumprimento dos seus desígnios" (TVD 14)

 

Jesus podia ter vindo à Terra e ter-se tornado homem de qualquer maneira que Ele quisesse. Podia ter surgido, já homem adulto, do nada! Mas não.... Ele quis pedir a participação voluntária a Nossa Senhora, assumindo a condição dum ser tão indefeso como um bebé.  

"O Espírito Santo quer servir-se dela, embora disso não tenha uma necessidade absoluta, para produzir nela e por ela Jesus Cristo." (TVD 21)

"Ó admirável e incompreensível dependência de um Deus!" (TVD 18

 

Nossa Senhora podia ter dito que não. Ela era livre para escolher. Ela podia ter duvidado. Mas não - como reflectimos num post anterior, ela tentou logo compreender como tal podia acontecer.

 

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Parem um momento e reflictam bem no valor do sacrifício deste sim: Maria, uma jovem mulher (numa sociedade onde as mulheres eram maioritariamente vistas como mercadorias de troca entre famílias), uma virgem noiva, às portas do seu casamento.... aceita tornar-se mãe, sem compreender bem como nem porquê, esquecendo todos os seus planos de vida, aceitando o risco de ser repudiada por S. José e pela sua própria família, aceitando o risco de ser apedrejada até à morte por um suposto crime de adultério... 

Maria, simples e humildemente, aceita. Livremente ela aceita tudo. Aceita completamente. Ela doa-se na sua totalidade, tudo para Deus... 

 

Sim, como é grande este mistério!

 

O Natal aconteceu uma vez; mas os seus efeitos e implicações são eternos.

A Igreja estabeleceu um período de 4 semanas (a que chamou Advento) para prepararmos os nossos corações e as nossas vidas, a fim de, durante as 2 semanas seguintes, pudéssemos reflectir e traduzir em acções concretas na nossa vida, as inúmeras graças e os mistérios que envolvem o início da nossa Salvação.

Mas não permaneçamos no que aconteceu ontem; no tempo do Natal devemos olhar para o hoje e para o futuro, preparando-nos, com alguma pressa e urgência, para a segunda e definitiva vinda de Jesus - não sabemos quando será mas o Senhor pediu-nos, em diversas vezes, para que estivéssemos sempre prontos e preparados.

 

Essa é que devia ser a nossa principal pressa... e não no trânsito, nas filas, na compra das prendas (e agora na troca das prendas e nos saldos).

Há tanta coisa para fazer, tanta coisa para preparar - vá, comecemos agora mesmo! Rezem comigo uma Avé Maria e um Nós, Jesus - e aqui vamos nós! Juntos! 

O nascimento de Jesus a 25 de Dezembro

Imprevistos, imprevistos e imprevistos!

 

Tinha pensado em traduzir e publicar hoje aqui no blog, no seguimento dos posts anteriores, dois textos do Prof. Taylor Marshall, um deles citando o Papa Bento XVI, confirmando que o dia do nascimento de Jesus foi mesmo a 25 de Dezembro. Mas surgiram imprevistos aqui por casa e já não tive tempo... 

 

Providencialmente, descobri que o blog Senza Pagare já os tinha traduzido e publicado! Oh, graças sejam dadas a Deus!

 

Podem ler aqui:

Senza Pagare - Jesus nasceu mesmo no dia 25 de Dezembro?       (Original do Prof. Taylor Marshall)

 

e aqui:

 

Senza Pagare - Papa Bento XVI: Jesus nasceu no dia 25 de Dezembro      (Original do Prof. Taylor Marshall)

 

Perto do dia 25 de Dezembro, se puderem, voltem a ler este post sobre o dia do Natal - é um post bem velhinho eu sei, mas eu própria tendo a lê-lo todos os anos. É uma das melhores reflexões de Natal que já encontrei ... 

 

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Tu fazes parte da família agora (24 Dez 2014)

- Meditação sobre o nascimento de Jesus, por Jurell Sison

 

A Voz - S. João Baptista

No tempo do Advento, a partir do 2º Domingo, as leituras diárias da missa começam a falar-nos muito de João Baptista - desde o relato da anunciação da sua concepção a Zacarias pelo anjo Gabriel, ate à sua vida no deserto, as suas semelhanças com os antigos Profetas, aos baptimos que incentivava as pessoas a realizar e, por fim, até ao relato da sua morte tão injusta.

 

Mas exploremos um pouco mais a importância de João Baptista e a sua extrema humildade, com a ajuda de Santo Agostinho ... 

 

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 Imagem retirada daqui

"João é a voz, Cristo, a Palavra

João era a voz, mas o Senhor, no princípio, era a Palavra (Jo 1,1). João era a voz passageira, Cristo, a Palavra eterna desde o princípio.

Suprimi a palavra, o que se torna a voz? Esvaziada de sentido, é apenas um ruído. A voz sem palavras ressoa ao ouvido, mas não alimenta o coração.

Entretanto, mesmo quando se trata de alimentar nossos corações, vejamos a ordem das coisas. Se penso no que vou dizer, a palavra já está em meu coração. Se quero, porém, falar contigo, procuro o modo de fazer chegar ao teu coração o que já está no meu.

Procurando então como fazer chegar a ti e penetrar em teu coração o que já está no meu, recorro à voz e por ela falo contigo. O som da voz te faz entender a palavra; e quando te fez entendê-la, esse som desaparece, mas a palavra que ele te transmitiu permanece em teu coração, sem haver deixado o meu.

Não te parece que esse som, depois de haver transmitido minha palavra, está dizendo: É necessário que ele cresça e eu diminua? (Jo 3,30). A voz ressoou, cumprindo sua função, e desapareceu, como se dissesse: Esta é a minha alegria, e ela é completa (Jo 3,29). Guardemos a palavra; não percamos a palavra concebida em nosso íntimo.

Queres ver como a voz passa e a palavra divina permanece? Que foi feito do batismo de João? Cumpriu sua missão e desapareceu; agora é o batismo de Cristo que está em vigor. Todos cremos em Cristo e esperamos dele a salvação: foi o que a voz anunciou.

Justamente porque é difícil não confundir a voz com a palavra, julgaram que João era o Cristo. Confundiram a voz com a palavra. Mas a voz reconheceu o que era para não prejudicar a palavra. Eu não sou o Cristo (Jo 1,20), disse João, nem Elias nem o Profeta. Perguntaram-lhe então: Quem és tu? Eu sou, respondeu ele, a voz que grita no deserto: “Aplainai o caminho do Senhor" (Jo 1,19.23). É a voz do que grita no deserto, do que rompe o silêncio. Aplainai o caminho do Senhor, como se dissesse: “Sou a voz que se faz ouvir apenas para levar o Senhor aos vossos corações. Mas ele não se dignará vir aonde o quero levar, se não preparardes o caminho”.

O que significa: Aplainai o caminho, senão: Orai como se deve orar? O que significa ainda: Aplainai o caminho, senão: Tende pensamentos humildes? Imitai o exemplo de João. Julgam que é o Cristo e ele diz não ser aquele que julgam; não se aproveita do erro alheio para uma afirmação pessoal. Se tivesse dito: “Eu sou o Cristo”, facilmente teriam acreditado nele, pois já era considerado como tal antes que o dissesse. Mas não disse; pelo contrário, reconheceu o que era, disse o que não era, foi humilde. Viu de onde lhe vinha a salvação; compreendeu que era uma lâmpada e temeu que o vento do orgulho pudesse apagá-la."

 

Dos Sermões de Santo Agostinho, bispo

(Sermão 293, 3: PL 38, 1328-1329) (Séc. V)

Liturgia das Horas do 3º Domingo do Advento

Sugestão de filme para o Advento

Hoje queria fazer uma sugestão dum filme, muito adequado para o tempo do Advento em que nos encontramos, chamado "It's a beautiful life" (em português, deram-lhe o nome "Do Céu caiu uma estrela" ou então "A felicidade não se compra").

É um filme antigo, de 1946, ainda a preto e branco mas que conta uma história maravilhosa, cheia de boas lições e de bons exemplos - um anjo da guarda tenta impedir que um homem se atire duma ponte, na véspera de Natal. Com esse intuito, o anjo decide recordar-lhe diversas situações que se passaram na sua vida e nas vidas das pessoas que o rodeavam, por causa das suas boas acções, pelo seu espírito de altruísmo e pelo seu bom coração. Decide também mostrar-lhe o que não teria acontecido, caso ele tivesse dito que não às diversas oportunidades de santidade que Deus lhe deu ao longo da sua vida.

É uma maravilhosa história que nos põe bastante a pensar nos efeitos das nossas boas acções, por mais pequenas que possam ser, e que nos incentiva a dizermos sim a Deus e a aceitarmos ser a Sua mão visível neste mundo. 

 

Podem ver o filme em inglês aqui:

 

Mas facilmente o encontram com legendas através do google 

São José, o Justo

Vamos continuar a "montar o nosso presépio"? 

Hoje reflectiremos, com a ajuda do nosso querido Papa Bento XVI, acerca de São José, adequadamente chamado de «o Justo».

 

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A designação de José como homem justo (zaddik) (...) oferece um retrato completo de São José e, ao mesmo tempo, insere-o entre as grandes figuras da Antiga Aliança, a começar por Abraão, o justo.

 

O Salmo 1 representa a imagem clássica do «justo». O justo, segundo este salmo, é um homem que vive em intenso contacto com a palavra de Deus, que «põe o seu enlevo na lei do Senhor» (v.2). É como uma árvore que, plantada à beira das águas correntes, produz continuamente o seu fruto. Com a imagem das águas correntes, das quais se nutre a árvore, entende-se naturalmente a palavra viva de Deus, onde o justo faz penetrar as raízes da sua existência. Para ele, a vontade de Deus não é uma lei imposta a partir de fora, mas «alegria»; para ele, a lei torna-se espontaneamente «evangelho», boa nova, porque ele interpreta-a numa atitude de abertura pessoal e cheia de amor para com Deus, e assim aprende a compreendê-la e a vivê-la a partir de dentro. (...)

Esta imagem - do homem que tem as suas raízes nas águas vivas da palavra de Deus, não cessa jamais de dialogar com Deus e, por isso, produz sempre fruto - torna-se realidade concreta (...) em José de Nazaré. Depois da descoberta feita por José, trata-se de interpretar e aplicar a lei de maneira justa; e ele fá-lo com amor: não quer expor publicamente Maria à ignomínia. Ama-a, mesmo no momento de grande desilusão. (...) José vive a lei como evangelho, procura o caminho da unidade entre direito e amor. E assim está preparado interiormente para a mensagem nova, inesperada e humanamente incrível, que lhe virá de Deus.

 

Enquanto «entra em casa» de Maria, o anjo a José aparece só em sonho, mas num sonho que é realidade e revela realidade. Mais uma vez é-nos apresentado um traço essencial da figura de São José: a sua sensível percepção do divino e a sua capacidade de discernimento. (...)

A mensagem que lhe é comunicada é enorme e requer uma fé excepcionalmente corajosa. (...) Antes, Mateus dissera que José estava «considerando interiormente» a questão da justa reacção à gravidez de Maria. Podemos, pois, imaginar como terá então lutado, no seu íntimo, com esta mensagem inaudita do sonho: «José, filho de David, não temas receber Maria, tua esposa, pois o que ela concebeu é obra do Espírito Santo» (Mt 1,20). (...) 

 

Depois da informação sobre a concepção do Menino por virtude do Espírito Santos, é confiado a José um encargo: Maria «dará à luz um filho, ao qual darás o nome de Jesus, porque Ele salvará o povo dos seus pecados» (Mt 1,21). Juntamente com o convite a tomar consigo Maria como sua esposa, José recebe a ordem de dar um nome ao Menino e, deste modo, de O assumir juridicamente como seu filho. (...)

 

Mateus completa a narração referindo que José se levantou do sono e fez o que lhe fora mandado pelo anjo do Senhor. (...) Mais uma vez e de maneira muito concreta, José é-nos apresentado aqui como «homem justo»: o seu permanecer interiormente alerta para Deus - uma atitude que lhe permite acolher e compreender a mensagem - torna-se, espontaneamente, obediência. Se antes procurara adivinhar com as próprias capacidades, agora sabe que coisa justa deve fazer.

 

Reflexão retirada do livro "Jesus de Nazaré - A infância de Jesus",

do Papa Bento XVI, 2012, pág. 37-43

A resposta de Maria ao anjo Gabriel

Estamos já na segunda semana do Advento. Este ano, o Advento "tem uma semana a menos", uma vez que celebramos o 4º Domingo do Advento na véspera de Natal, dia 24 de Dezembro. No dia seguinte celebraremos logo a vinda do Amor até junto de nós.

 

Então, está na altura de "preparar o presépio". Hoje, começaremos com Maria; depois falaremos de José e do Menino Jesus.

Neste sentido, partilho convosco uma reflexão do Papa Bento XVI, acerca da resposta de Nossa Senhora à anunciação por parte do anjo Gabriel.

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A resposta de Maria desenvolve-se em três etapas.

A primeira reacção à saudação do anjo é feita de perturbação e ponderação. A sua reacção é diferente da de Zacarias; dele é referido que ficou perturbado e «encheu-se de temor» (Lc 1,12). No caso de Maria, no início usa-se a mesma palavra (ela perturbou-se), mas o que se segue depois não é o temor, mas uma reflexão íntima sobre a saudação do anjo. Maria reflecte (entra em diálogo consigo mesma) sobre o que deva significar a saudação do mensageiro de Deus. Assim, vemos surgir já aqui um traço característico da figura da Mãe de Jesus, um traço que encontramos no Evangelho mais duas vezes em situações análogas: o confronto íntimo com a Palavra (ver também Lc 2,19 e Lc 2,51).

Não se detém no primeiro sentimento que a assalta, ou seja, a perturbação pela proximidade de Deus no seu anjo, mas procura entender. Por isso, Maria aparece como mulher corajosa, que conserva o autocontrolo mesmo diante do inaudito. Ao mesmo tempo, é apresentada como mulher de grande interioridade, que conjuga o coração e a mente e procura entender o contexto, o conjunto da mensagem de Deus. Assim, torna-se imagem da Igreja, que reflecte sobre a palavra de Deus, procura compreendê-la na sua totalidade e guarda o dom da mesma na sua memória.

 

Enigmática, para nós, é a segunda reacção de Maria. (...) O anjo comunica-lhe que foi escolhida para se tornar mãe do Messias. Então Maria fórmula uma pergunta breve e incisiva: «Como será isso, se eu não conheço homem?» (Lc 1,34). Considere-se de novo a diferença da sua resposta, relativamente à de Zacarias: enquanto este reagiu duvidando da possibilidade da tarefa que lhe foi atribuída (...) Maria não dúvida, não levanta questões sobre o facto «de que» se possa realizar a promessa, mas quanto ao «como» está se realizaria. (...) [Mas] o anjo confirma-lhe que não será mãe pelo modo normal depois de ser recebida em casa de José, mas através da «sombra da força do Altíssimo», por meio da vinda do Espírito Santo e, com veemência, assegura: «Porque nada é impossível a Deus» (Lc 1,37).

 

Depois disto, segue-se a terceira reacção, a resposta essencial de Maria: um simples «sim» daquela que se declara serva do Senhor. «Faça-se em mim segundo a tua palavra» (Lc 1,38). (...) São Bernardo de Claraval afirma que, no momento do pedido a Maria, o céu e a terra como que suspendem a respiração. Dirá «sim»?! Ela demora.... Porventura lhe servirá de obstáculo a sua humildade? Só por esta vez - diz-lhe Bernardo - não sejas humilde, mas magnânima. Dá-nos o teu «sim»! Este é o momento decisivo, em que dos seus lábios, do seu coração, surge a resposta: «Faça-se em mim segundo a tua palavra». É o momento da obediência livre, humilde e simultaneamente magnânima, na qual se realiza a decisão mais sublime da liberdade humana. (...)

 

Penso que é importante ouvir também a última frase da narração da Anunciação: «E o anjo retirou-se de junto dela (Lc 1,38). A grande hora do encontro com o mensageiro de Deus, na qual toda a vida muda, passa; e Maria fica sozinha com a tarefa que verdadeiramente supera toda a capacidade humana. Não há anjos em seu redor, ela deve prosseguir pelo seu caminho, que passará através de muitas obscuridades, a começar pelo espavento de José perante a sua gravidez até ao momento em que se diz de Jesus que está «fora de si» (Mc 3,21 e Jo 10,20), até à noite da Cruz. (...) O anjo parte, a missão permanece e, juntamente com ela, matura a proximidade interior com Deus, o íntimo ver e tocar a sua proximidade."

 

Reflexão retirada do livro "Jesus de Nazaré - A infância de Jesus"

do Papa Bento XVI, 2012, pág. 33-37

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