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Uma Jovem Católica

Sou uma jovem esposa e mãe católica portuguesa. Neste blog partilho a minha caminhada em busca da santidade e o meu encontro com o amor misericordioso do Senhor. Espero que ele vos possa ajudar a encontrar a alegria do Evangelho!

Uma Jovem Católica

Sou uma jovem esposa e mãe católica portuguesa. Neste blog partilho a minha caminhada em busca da santidade e o meu encontro com o amor misericordioso do Senhor. Espero que ele vos possa ajudar a encontrar a alegria do Evangelho!

Para maior glória de Deus

(Em jeito de continuação do post anterior e em plena sintonia com a nossa querida Teresa Power - meditação para o V Domingo da Páscoa).

 

O tempo de Deus é perfeito.

Sim, o tempo de Deus é perfeito, mesmo que pareça um enorme mistério, mesmo que eu, agora, não o compreenda ... 

Deus nunca se adianta nem se precipita, nem nunca faz algo atrasado ou demasiado tarde.

O tempo de Deus é perfeito.

 

(Aproveito para vos dar a conhecer outra das minhas cantoras católicas favoritas, a Sarah Kroger)

Your time - Sarah Kroger


Your time is not my time, it's a mystery to me
Patience, not my virtue but I'm trying to let it be
You who wrote the hours, made these moments in my days
Know it's getting harder for my heart to trust His way

Lord, Your time is perfect
Lord, so perfect is Your time
Lord, Your time is perfect
So above and beyond mine

Like a newborn bird just waiting for the chance to fly
Still without its wings and all it ever sees is sky
Father, I am waiting for the day when I can go
Your ways are a ballad so I'll wait 'til You say so

Lord, Your time is perfect
Lord, so perfect is Your time
Lord, Your time is perfect
So above and beyond mine

Your time, Your time
Your time, ooh-ooooh, oo-ooh
Your time is not my time but I'm trying to let it be

O Teu tempo - Sarah Kroger (tradução livre minha)


O Teu tempo não é o meu tempo, é um mistério para mim
A paciência não é uma virtude minha, mas estou a tentar que seja
Tu escreveste as horas, criaste estes momentos dos meus dias
Sabe que está a ficar cada vez mais difícil para o meu coração confiar no Teu caminho

Senhor, o Teu tempo é perfeito
Senhor, tão perfeito é o Teu tempo
Senhor, o Teu tempo é perfeito
Tão acima e além do meu

Como um passarinho pequeno que aguarda pela oportunidade de poder voar
Ainda sem as suas asas e tudo o que vê é o céu
Pai, estou à espera do dia em que eu possa ir
Os teus caminhos são como uma balada, então eu esperarei até Tu me dizeres para ir 

Senhor, o Teu tempo é perfeito
Senhor, tão perfeito é o Teu tempo
Senhor, o Teu tempo é perfeito
Tão acima e além do meu

O Teu tempo, o Teu tempo
O Teu tempo, ooh-ooooh, oo-ooh
O Teu tempo não é o meu tempo, mas eu estou a tentar que seja 

 

Eu não sou a primeira nem a única pessoa a debater-me com a diferença entre o tempo de Deus e o "meu" tempo; entre a velocidade da manifestação da vontade e das acções do Senhor e a evolução que eu gostava tanto que estivesse a acontecer. Não, nem eu sou a primeira ou a única, nem nenhum de vocês o é. 

Esta dificuldade, este desafio, está visivelmente presente desde o princípio da nossa história, desde o princípio da história do povo de Deus. 

 

Peguemos no livro do Êxodo, e comecemos a ler a partir do versículo 22 do capítulo 15, em diante. Os israelitas caminham desde o Egipto, pelo deserto, em direcção à Terra Prometida ... e demoraram 40 anos a lá chegar... 40 anos! 

Contudo, tal como muitos saberão, se virmos num mapa a distância entre o Egipto e a Terra Prometida .... parece absolutamente absurdo que o povo de Deus tenha demorado tanto tempo até lá chegar e que tenha andado durante tanto tempo às "voltinhas" pelo deserto, seguindo aquela que seria a vontade de Deus....

Havia claramente um caminho directo, mais curto, mais fácil. Mas o Senhor não os levou por aí.

Porque não o fizeste Senhor?

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Imagem retirada daqui

 

... Oh, se a minha vida não parece por vezes esta viagem interminável do povo de Deus, às voltas e voltinhas pelo deserto adentro, sem qualquer deslumbre da Terra Prometida ... 

 

Mas porque o quiseste assim Senhor? Porquê tanto tempo até lá chegar? Porquê tão difícil? Não havia outra maneira?

Não, não havia. Sim, foi mesmo preciso assim tanto tempo.

Sim, era mesmo necessário ser daquela maneira. 

Porque só assim foi possível transformar o coração de pedra daquele povo num coração de carne. Só assim foi possível crescerem em virtudes - fé, esperança, amor ... Só assim puderam crescer todos em paciência, em fortaleza, em mansidão, em entrega plena e total nas mãos de Deus Pai Criador ... 

Porque só assim a glória do Senhor pôde ser manifestada e visível para todos.

 

Os pequenos comentários que acompanham a minha Bíblia dizem-me que, no capítulo 14 do Livro do Êxodo, foi a primeira vez em que, nas Sagradas Escrituras, se falou na glória de Deus.

O povo de Deus está entre a espada e a parede - entre o Mar Vermelho e os soldados do Faraó - e não há por onde fugir. E eis que a glória de Deus se manifesta pela primeira vez - através da de Moisés, as águas do Mar Vermelho separam-se momentaneamente, o que era impossível acontece e torna-se verdadeiro, e o povo de Deus avança em segurança até ao outro lado da margem. Eis a primeira vez que os israelitas se apercebem da imensa glória de Deus .... (claro que já deveriam ter-se apercebido antes, nas incontáveis bênçãos e milagres que o Senhor tinha feito ao longo de tantas gerações anteriores - mas os israelitas, tal como nós próprios, eram um povo de "pouca fé" e de "compreensão lenta" - como Jesus nos disse tantas e tantas vezes....)

 

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Imagem retirada daqui

 

Sim, a glória de Deus é bem visível na vitória das batalhas, mas é precisamente no meio das batalhas mais difíceis e ferozes que a Sua glória resplandece, incomparavelmente. 

O mesmo acontece, hoje, nas nossas vidas - é no meio das nossas lutas e batalhas que a glória de Deus pode (e deve) ser mais visível. Permita-lo-ei eu?

Na minha vida, ao atravessar este deserto de espera, estarei eu a permitir que a glória de Deus seja ainda mais visível e experienciada?

Neste momento da minha vida, em que estou numa fase do caminho que eu não desejaria estar, mas que Deus deseja que eu esteja - estarei eu a permitir que a minha vida O glorique?

Que aponte na Sua direção (oh, hei-Lo, o Autor e Sustento da minha vida -  venham e conheçam-n'O)?

Estarei eu a testemunhar todas as coisas boas e maravilhosas que Ele está a fazer na minha vida, mesmo neste pleno deserto?

 

Continuem a ler o livro do Êxodo, e deparar-se-ão com inúmeras batalhas impossíveis que o Senhor ganhou e venceu pelos israelitas, e assim a Sua glória pôde manifestar-se duma forma incomparável nas Suas vidas. 

 

Eis então a resposta - conseguir olhar para a minha vida, para esta espera no deserto, através desta perspectiva -  em vez de me focar em tudo aquilo que eu desejava e não tenho. Se eu conseguir aperceber-me de todas as coisas boas que Deus está a realizar, mesmo ao longo destes anos de deserto, isso fará então a minha vida mais alegre e mais grata.

jesus.jpg

Imagem retirada daqui

 

Se a vossa vida parecer que está, também, parada entre a espada e a parede, entre as águas profundas do Mar Vermelho (que não parece nada que se irá abrir para nos dar passagem) e os assustadores soldados do Faraó que continuam a dirigir-se na vossa direcção, lembrem-se, vocês não estão sozinhos. Não oiçam a voz sedutora do Príncipe das mentiras.

 

Lembremo-nos que temos um Pai que nos ama infinitamente e que tem guardadas para nós tantas coisas maravilhosas. Pensemos em tudo aquilo que Deus está a fazer, neste momento, nas nossas vidas - e não pensemos em tudo o que desejaríamos que Ele estivesse a fazer. Escolham focar-se nas inúmeras bênçãos e graças que Ele nos tem oferecido nas nossas vidas.

Sejamos gratos. Recuperem a vossa fé na bondade do Senhor, nosso Pai.

Tudo o resto, coloquemos nas Suas mãos; ofereçamos-Lhe - tudo - e Ele cuidará - de tudo.

 

Sim, estamos realmente, neste preciso momento das nossas vidas, no exacto lugar e situação que Deus deseja que nós estejamos; na exacta fase do caminho que fará de nós santos ... os santos que só cada um de nós poderá ser.

 

O esforço do nosso "Sim" diário à vontade de Deus

Nos últimos anos, tenho vivido um intenso processo de discernimento vocacional que, pela transbordante e imprescindível graça de Deus, parece que chegou finalmente a um único caminho. Assim, neste último ano, tenho vivido com a certeza da minha vocação, após anos e anos de oração, aconselhamento e exploração das diversas vocações que a Igreja nos oferece. Mas o tempo passa e passa e passa e ... nada acontece.

 

Porque é que esta minha vocação não se concretiza, finalmente, Senhor?

Senhor, se me chamas tão fortemente por este caminho, por esta vocação, porque é que nada acontece, porque é que ela não se realiza?

Se Tu colocaste este desejo tão grande e profundo no meu coração, porque não o cumpres? Porque é que não o completas? 

 

À minha volta, vejo diariamente as vocações das outras pessoas a serem cumpridas; vejo-as a serem chamadas e a dizerem o seu "sim", visível e definitivo, à sua vocação e à vontade de Deus nas suas vidas. Eu também o queria fazer. Eu também o desejava fazer....  

E facilmente (oh tão facilmente!...) caio na tentação de pensar: Senhor, acaso esqueceste-Te de mim?

 

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Oh, a cruz de não vivermos (ainda) a nossa vocação em pleno ...

Oh, a cruz de vivermos uma vida que desejaríamos tanto que fosse diferente.

 

O Tentador, contudo, não perde uma única oportunidade. Mal abrimos esta pequena fresta no nosso coração - Senhor, acaso esqueceste-Te de mim? - e ele fará de tudo para que continuemos a cair, para que nos afastemos do amor de Deus. Quando mal damos por isso, já caímos na tentação de duvidar do imenso amor de Deus por nós - Se me chamas a esta vocação e ela não se realiza, é porque não me amas Senhor ... 

 

O Maligno é o príncipe da sedução e ele, mais que ninguém, sabe exactamente como nos seduzir com as suas mentiras - Porque me mostras, Senhor, tantos bons exemplos de vocações a serem cumpridas e realizadas, e a minha não? Porque me mostras tanto ouro na vida dos outros, e na minha nem sequer um pouco de ferro parece existir? Porque é que não permites que aconteça? Porque é que o impedes de acontecer? 

 

Oh, poderá Deus, alguma vez, impedir que se cumpra aquilo que Ele próprio mais deseja, mais ainda que qualquer um de nós - o cumprimento pleno da nossa vocação, através da qual nos santificaremos e assim viveremos para todo o sempre em profunda comunhão de amor com Ele ... 

 

Oh, que pecado tão grande o meu!

Não, não é assim que deve ser a minha postura perante esta situação. Não, não é assim que eu devo responder por este caminho que o Senhor me leva, que eu não compreendo e que eu não concordo que seja mesmo por aqui ... (Não podia ser mais rápido, Senhor? Tem mesmo de demorar assim tanto tempo a acontecer?)

 

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Noutros dias (numa nova tentativa do Príncipe da mentira e da discórdia), dou por mim a escolher evitar a todo o custo pensar sequer na minha vocação, não permitindo que este meu desejo profundo se manifeste no meu dia a dia. Escolho ignorá-lo, escolho escondê-lo, escolho evitá-lo, chegando até a negá-lo, chegando até a fingir que não o conheço e que ele não existe ... 

Oh, esta é um tipo de resposta muito fácil, muito confortável, que muitos escolhem.

Mas não, esta também não é a atitude correta...

 

Então, o que devo fazer? 

Aceita a Cruz. Aceita essa luta, diária. Aceita esses desejos, tão profundos, tão entranhados no teu coração; aceita-os, recebe-os, acolhe-os ... E aceita o facto de eles ainda não se terem cumpridos, de ainda não terem sido plenamente satisfeitos ou realizados.

Aceita esta tua necessidade, esta tua incompletude, aceita esta falta que tens - e permite que seja o próprio Deus a preencher e completar esse espaço (aparentemente) vazio.

Dói o peito? Chama o Senhor e pede-Lhe que te cure e alivie. 

Não aguentas mais? Pede a Deus pela fortaleza que não possuis.

Não sentes mais nada do que um enorme vazio? Oferece-o, vá, oferece-o ao Senhor, se é tudo o que pensas possuir....

 

Lembra-te, Marisa, das lições que Deus tão carinhosamente já te ensinou nestes anos. Se sentes tão fortemente este desejo, se hoje é um daqueles dias em que a não realização da tua vocação te custa tanto, se dói tanto que chega a arder no peito - então sabes (lembra-te!) que Deus está neste preciso momento a tentar dizer-te: Está na altura de passarmos algum tempo juntos, tu e Eu. Não, esta sede insaciável não é pela tua vocação; esta sede só Eu próprio posso saciar. Vem Comigo, então beberás e comerás e ficarás saciada ... 

 

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Sim, é uma cruz não vivermos (ainda) a nossa vocação em pleno ... - é libertador poder reconhecer esta verdade....

Sim, é uma luta e uma cruz, diária - a liberdade que surge ao admiti-lo....

É um caminho, cheio de bênçãos e graças mas também de muitas dores e lágrimas.

Sim, é uma luta dura e contínua, esta de viver com um desejo tão grande e tão forte no nosso coração que ainda não foi satisfeito.

Sim, é uma cruz que eu tenho de aceitar levar comigo todos os dias, em todos os instantes da minha vida.

Se é este o cálice que desejas que eu beba, Senhor, seja feita a Tua vontade - eu continuarei a beber diariamente deste cálice, eu escolho continuar a beber dele ... 

 

Mas sem dúvidas que há dias mais fáceis que outros. Há dias em que este cálice não parece ser tão amargo e insuportável como parece noutros dias... 

 

Para que serve, então, este tempo de espera? Este tempo em que nada parece acontecer?

Para poderes crescer em virtudes. Para poderes aprender e treinar todas aquelas virtudes que precisarás, diariamente, a partir do dia em que o Senhor te chamar a viver (concretamente) a tua vocação - fortaleza, mansidão, paciência, temperança, auto-doação total e voluntária, saber sofrer com alegria, saber oferecer todos os nossos sacrifícios por mais pequenos que aparentes ser, aprender a dizer "sim"s e "não"s pequeninos (mas ainda assim custosos e dolorosos) - para quando chegar o dia, em que o Senhor te perguntar: aceitas - completa e eternamente - este caminho? - então poderes dizer um verdadeiro e autêntico "sim".

 

Então eu escolho dizer-Te que sim, meu Deus e meu Senhor, neste preciso instante, àquela pequena coisa que me queres oferecer. Eu escolho acolher a Tua vontade, eu escolho acolher-Te. Eu escolho fazer a Tua vontade, neste momento. E daqui por uns instantes, meros segundos ou minutos, eu escolherei, novamente, dizer-te que sim, e depois e depois e depois ... 

 

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E se, pela graça de Deus, conseguirmos permanecer nesta atitude de acolhimento, de aceitação, com o coração aberto e disponível a ouvir a palavra e os desejos d'Aquele que mais nos ama, então conseguiremos compreender que viver este período de espera é exactamente o melhor plano de vida que Deus tem para nós. É a nossa melhor oportunidade para vivermos e crescermos em santidade.

A santidade é, afinal, a nossa vocação universal, aquela a que todos somos chamados. E estar, neste momento, neste período de espera, faz parte da minha vocação à santidade. Esta espera servirá para me tornar mais santa. Esta espera é o melhor caminho que a minha vida poderia assumir para me poder tornar santa

Passar por este período de espera fará de mim mais santa, duma forma mais rápida e eficaz, do que se já estivesse a viver em pleno a minha vocação. Deus assim o promete. 

 

Sim, eu estou, neste preciso momento da minha vida, no exacto lugar e situação que Deus deseja que eu esteja; na exacta fase do caminho que fará de mim santa ... a santa que só eu posso ser.