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Uma Jovem Católica

Sou uma jovem esposa e mãe católica portuguesa. Neste blog partilho a minha caminhada em busca da santidade e o meu encontro com o amor misericordioso do Senhor. Espero que ele vos possa ajudar a encontrar a alegria do Evangelho!

Uma Jovem Católica

Sou uma jovem esposa e mãe católica portuguesa. Neste blog partilho a minha caminhada em busca da santidade e o meu encontro com o amor misericordioso do Senhor. Espero que ele vos possa ajudar a encontrar a alegria do Evangelho!

Vivendo as Bodas de Caná

  †   Peregrinação: do EGIPTO à TERRA SANTA ~  2019   †  

 ~  Egipto - Jordânia - Israel - Palestina  ~ 

 

Estamos no final do nosso 7º dia de peregrinação na Terra Santa (um dia que tinha começado lá no topo do Monte das Bem-Aventuranças, ainda se lembram?). O Padre Miguel, que nos acompanhou ao longo de toda a viagem, tinha ainda uma surpresa guardada para nós neste dia: tinha conseguido marcar uma pequena visita guiada àquela que poderá ter sido a casa da Sagrada Família em Nazaré ... Mas parece-me que Deus tinha outros planos em mente para nós nesse dia ... 

A verdade é que, no dia anterior à nossa visita, a Irmã que se tinha disponibilizado para nos abrir a porta da casa e que nos daria a tal visita guiada tinha ficado inesperadamente doente e a visita tinha sido cancelada ...

"Assim, temos ainda mais 1 ou 2 horas livres neste fim de tarde. Alguém tem alguma ideia do que possamos todos fazer? Estão muito cansados? Querem voltar já para o hotel? Querem ir às compras?" - pergunta-nos o Pe Miguel já dentro do autocarro.

 

E eu começo a sentir borbulhar dentro de mim uma ideia e um desejo que tinha tido, semanas antes, ao contemplar o mapa de Israel e ao constatar todos os locais pelos quais iríamos passar na nossa peregrinação na Terra Santa.... Caná da Galileia não aparecia no nosso guião, logo não iríamos passar por lá, para minha grande tristeza... 

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Todos os locais pelos quais passámos neste 7º dia de peregrinação na Terra Santa

Volto a olhar para o mapa: Caná da Galileia ficava mesmo no caminho de volta para o nosso hotel, em Nazaré ... Não seria possível passar por lá? Nossa Senhora Auxiliadora, Mãe de Caná, se for essa a vontade do Senhor, peço-te este pequeno milagre! ...

Dou por mim a levantar a mão e a propor: "Não podíamos passar por Caná? No mapa parece que fica mesmo a caminho do hotel... " 

O Pe Miguel olha para mim intrigado. Nunca tinha pensado nessa hipótese. Ele, aliás, apesar de esta ser a 7ª vez que vem à Terra Santa, nunca tinha tido a oportunidade de visitar esta cidade .... Seria possível? Ainda dava tempo?

Começamos a falar com a nossa querida guia e com o nosso solicito motorista. Sacamos dos telemóveis para tentar saber se chegaríamos a tempo antes da igreja dedicada às Bodas de Caná fechasse. Sim, parece que conseguíamos chegar a tempo!

Eu nem quero acreditar! O meu coração mal cabe dentro de mim!!

Vamos a Caná da Galileia! Vamos a Caná da Galileia!!  

 

Apanhamos trânsito até lá chegar, mas conseguimos chegar 30 minutos antes da Igreja fechar. À entrada, um casal estrangeiro, vestido de noivo e de noiva, rodeados provavelmente da sua família, preparava-se para renovar as suas promessas de Matrimónio (fiquei com a sensação que faziam 25 anos de casamento!)

Alguém pergunta ao nosso Padre, talvez inspirado pela bela imagem que testemunhávamos: "Não podíamos também nós renovarmos as nossas promessas de Matrimónio aqui?"

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Alguns dos nossos casais, em preparação para a renovação dos seus votos de casamento

Pela graça de Deus, a ideia é novamente aceite por todos. A Igreja principal está já ocupada, sim, mas uma querida Irmã indica-nos uma pequena capela, no jardim à volta desta Igreja, em que o podemos fazer ... "Rapidamente, porque estamos quase a fechar!" - avisa-nos com um sorriso.

E nós, quando damos por isso, temos 10 casais a renovar as suas promessas de casamento em plena terra de Caná da Galileia!

Uns casaram-se há apenas 3 meses, outros há mais de 40 anos ... É uma cerimónia simples, como terá sido também as Bodas de Caná, como nos conta o Evangelho de São João, e eu vou recordando no meu coração os ensinamentos que tenho aprendido e vivido ao participar no movimento das Famílias de Caná ... 

 

“Ao terceiro dia, houve um casamento em Caná da Galileia e a Mãe de Jesus estava presente. Jesus também tinha sido convidado para esse casamento com os Seus discípulos. Faltou o vinho e a Mãe de Jesus disse-Lhe: «Eles já não têm vinho». Jesus respondeu: «Mulher, que tem isso a ver contigo e comigo? A Minha hora ainda não chegou.» A Mãe de Jesus disse aos servidores: «Fazei tudo o que Ele vos disser».

Ora, havia ali 6 vasilhas de pedra de uns 100 litros cada uma, que serviam para os ritos de purificação dos judeus. Disse Jesus aos servidores: «Enchei as vasilhas de água.» Eles encheram-nas até cima. Então ordenou-lhes: «Agora tirai e levai ao chefe de mesa». E eles assim fizeram.

O chefe de mesa provou a água transformada em vinho, sem saber de onde vinha. Os que serviam sabiam, pois foram eles que tinham tirado a água. Então o chefe de mesa chamou o noivo e disse-lhe: «Todos servem primeiro o vinho melhor e, depois de terem bebido bem, é que servem o pior. Tu, porém, guardaste o melhor vinho até agora!»

Foi assim que, em Caná da Galileia, Jesus realizou o primeiro dos Seus sinais miraculosos. Ele manifestou a Sua glória e os Seus discípulos acreditaram n’Ele.”

                                                                                                                                           Jo 2,1-11 

 

O Evangelho leva-nos directamente para a intimidade duma festa de casamento judaica. Pode-nos parecer bastante estranho que este relato comece com "ao terceiro dia...", pois actualmente as nossas festas de casamento duram apenas um dia, ou ainda menos, uma tarde ou uma noite ...  Eu acho que deveriam durar muito mais tempo, tal é a alegria contagiante e transbordante que todos vivemos quando duas pessoas se decidem a entregar toda a sua vida uma à outra...

Os judeus também parecem concordar comigo e assim as suas festas de casamento têm, até aos dias de hoje, pelo menos 7 dias (as famílias que tiverem dinheiro para isso, podem prolongar a festa até 14 dias).

Desde o início do povo de Israel que o casamento era uma festa vivida em comunidade, uma festa partilhada, com toda a família e com todos os amigos e vizinhos. Eram duas pessoas as que se casavam, sim, mas a festa e a alegria era de todos!

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Igreja em Caná da Galileia, precisamente dedicada a este relato bíblico

... e a Mãe de Jesus estava presente. Jesus também tinha sido convidado para esse casamento com os Seus discípulos.     (Jo 2,2)

Sempre achei engraçado que, durante quase todo o relato, apesar de ser um casamento e de, por norma, os noivos serem a figura mais importante desse dia, quase nem se fala deles ... Na verdade, não fazemos ideia de quem era este casal, cuja família estava agora mesmo a nascer ... Mas, para convidarem Maria e Jesus, que viviam em Nazaré (a cerca de 15 km de distância), podemos assumir que eram duas pessoas muito queridas a ambos. 

E nós, será que também nos lembramos de convidar Jesus e Maria a participarem nas nossas vidas?

Não, nem sempre não ... Oh, como é importante aprender a dizer de todo o coração a Jesus, nosso Senhor, e a Maria, nossa Mãe: Venham, fiquem connosco, nas nossas vidas. Vivam-nas connosco. Estejam presentes ...

Faltou o vinho ...       (Jo 2,3a)

Ai que vergonha tão grande! A festa deveria ainda durar pelo menos mais 4 dias e já ao 3º dia faltou o vinho. E agora? Não é dum dia para o outro que se vai pisar uvas, fermentar e fazer-se vinho...

Faltar o vinho numa festa de casamento era uma grande vergonha para aquela família, porque indicaria que não se tinha preparado adequadamente para tal acontecimento, que não estavam, na verdade, prontos para o compromisso que assumiriam perante toda a comunidade ... 

A festa teria de terminar mais cedo ... e que mau presságio seria esse, para a vida em conjunto daquele casal, daquela família que agora se formava….

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Interior da Igreja dedicada às Bodas de Caná

Faltou o vinho e a Mãe de Jesus disse-Lhe: «Eles já não têm vinho»              (Jo 2,3)

Mas Maria estava atenta.

Ela estava lá como convidada e por isso não tinha de se preocupar com estas coisas... Mas o coração de Nossa Senhora não consegue senão estar sempre em serviço.

Maria está, até aos dias de hoje, sempre atenta e vigilante a todas as necessidades dos seus filhos e claro que notará, talvez ainda antes de nós mesmos, que o vinho está a acabar nas nossas vidas ...

 

E que vinho é este?

Muitas vezes será o vinho do Amor; umas vezes poderá ser o vinho da ou da Esperança; por vezes será o vinho da Alegria ou então o vinho do deslumbramento pelo nosso esposo ou esposa, pelos nossos filhos, pela nossa família …

Oh, quantas vezes vemos o outro, que convive e habita connosco, como prémio da nossa conquista, que eu "mereci" receber ... Ou então, pelo contrário, como infortúnio ou fruto dum mero acaso qualquer ...  Em vez de o receber, tal como ele é, como um dom magnífico e maravilhoso de Deus na minha vida! 

 

Mas  ... e se o vinho estiver, realmente, a acabar nas nossas vidas, na nossa família? O que podemos fazer?

Nós podemos não saber muito bem o que fazer, mas Maria sabe perfeitamente e fá-lo ali mesmo: vai falar directamente com Jesus, intercedendo por nós. É Maria que nos revela onde se esconde a Fonte do verdadeiro vinho, que nos trará de novo a vida e onde poderemos voltar a encher os nossos corações, a nossa família, as nossas vidas... 

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Poço do jardim da Igreja das Bodas de Caná.

Faltou o vinho e a Mãe de Jesus disse-Lhe: «Eles já não têm vinho».

Jesus respondeu: «Mulher, que tem isso a ver contigo e comigo? A Minha hora ainda não chegou.»

A Mãe de Jesus disse aos servidores: «Fazei tudo o que Ele vos disser».  (Jo 2, 3-5)

Reparem bem na fé de Maria - apesar das palavras (algo provocadoras) de Jesus, a sua fé continua inabalável! Ela sabe, ela tem a certeza que está na hora, que chegou a hora.

Então Nossa Senhora vira-se para os servos do casamento e diz-lhes algo tão simples, mas ainda assim tão difícil e desafiador: Fazei tudo o que Ele vos disser.... Maria passou a sua vida inteira a fazer exactamente isso – a fazer a vontade de Deus, a fazer tudo de acordo com o coração de Deus. Ela sabe que isso resulta e resulta sempre!

Quem melhor que ela para nos puder dizer uma coisa destas? Fazei tudo o que Ele vos disser. Eu sempre fiz assim e Ele nunca me deixou ficar mal …

Ora, havia ali 6 vasilhas de pedra de uns 100 litros cada uma, que serviam para os ritos de purificação dos judeus.

Disse Jesus aos servidores: «Enchei as vasilhas de água.»  (Jo 2,6-7)

Jesus também não faz por menos! Ele gosta muito de actuar assim: nós recorremos a Ele na nossa oração, pedimos por favor para que Ele nos dê um copinho de água e Jesus - porque nos ama assim tanto! - dá-nos nada mais nada menos que 6 vasilhas com 100L cada … ena, que fartura!

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As talhas (ou vasilhas) responsáveis por encher de água o poço do jardim da Igreja das Bodas de Caná.

Mas digam-me: É possível encher-se algo, algum recipiente, se ele já tiver cheio de outras coisas? Acham que é possível encher os nossos corações, as nossas vidas, quais grandes vasilhas, se elas já tiverem cheias com outras coisas do mundo?

Sim, é preciso esvaziarmo-nos - de nós próprios, do nosso ego, do nosso egoísmo e orgulho, das distrações deste mundo, das coisas que insistimos em acumular ... para poder acontecer este autêntico milagre de Caná, também nas nossas vidas; para poder acontecer esta enorme graça e bênção que Maria pediu por nós, e que Jesus tanto deseja realizar, dia após dia, em cada uma das nossas famílias ... 

Disse Jesus aos servidores: «Enchei as vasilhas de água.» Eles encheram-nas até cima.  (Jo 2,7-8)

Quase que oiço os servos a pensarem para si: "Ah Jesus, toda a gente sabe que o vinho não vem assim da água. É absurdo o que nos pedes … mas pronto, se Tu o dizes, e logo Tu com esse Teu olhar, firme e confiante, entao nós fazemos, então nós acreditamos …"

Por um lado, é preciso acreditarmos que o milagre acontecerá; é preciso confiarmos - com toda a confiança! - que as promessas de Deus sempre, sempre, sempre se concretizarão, mais tarde ou mais cedo ... Mas, por outro lado, é preciso também que nós próprios facilitemos a realização desse milagre; é preciso mexermo-nos, é preciso agir e enchermos as nossas vasilhas com a água que temos à mão, aqui mesmo na nossa casa, na nossa própria família, no nosso próprio estado de vida – com a água do nosso trabalho, dos nossos talentos, da nossa inteligência, da nossa criatividade, do nosso tempo, do nosso esforço, do nosso cansaço ... sim, esforço e cansaço também.

É que, com Deus, não há meias medidas. Não há meio cheio, meio vazio … ou é tudo ou é nada. Ou é cheio, bem cheio até cá acima, ou não é suficiente. Por amor a Deus e para Deus, devemos dar o nosso tudo, o nosso melhor, toda a nossa vontade … ou não é suficiente; ou não é verdadeiro amor ...

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A pequena capela na qual os nossos casais renovaram as suas promessas de Matrimónio em Caná

Então [Jesus] ordenou-lhes: «Agora tirai e levai ao chefe de mesa». E eles assim fizeram.                                                                                                                         (Jo 2,8b-9a)

Eu não faço ideia como é que chegou algum vinho sequer àquela mesa!… Se eu fosse um dos servos, as minhas pernas iriam tremer tanto, que iria derramar quase tudo pelo caminho e quase nada chegaria àquela mesa, tal era o meu medo da reacção dos convidados e dos noivos, quando eles me pedissem vinho e eu lhes trouxesse vasilhas com água...

Mas eles assim fizeram … apesar do medo, das dúvidas, do desconhecido, do não saberem o que iria acontecer … eles fizeram - tudo! - o que Jesus lhes disse.

O chefe de mesa provou a água transformada em vinho, sem saber de onde vinha. Os que serviam sabiam, pois foram eles que tinham tirado a água.

Então o chefe de mesa chamou o noivo e disse-lhe: «Todos servem primeiro o vinho melhor e, depois de terem bebido bem, é que servem o pior. Tu, porém, guardaste o melhor vinho até agora!»                                                                                                              (Jo 2,9b-10)

A lógica de Deus parece ser sempre diferente da do mundo... O mundo acha que o melhor tem de vir logo primeiro, em grande quantidade e ser bem aproveitado e apreciado - e que fique com os restos quem vier a seguir.

Mas Deus guarda (quase) sempre o melhor para o fim. No final, disse-nos Jesus tantas vezes, os últimos serão os primeiros, os rejeitados terão um lugar à frente. Na lógica de Deus, o vinho melhor vem depois da provação, depois da dificuldade - e restabelecerá não só as nossas forças, como saberá ainda melhor do que se fosse tomado antes ...

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Foi assim que, em Caná da Galileia, Jesus realizou o primeiro dos seus sinais miraculosos. Ele manifestou a Sua glória e os Seus discípulos acreditaram n’Ele. (Jo 2,11-12)

E nós?

Deixaremos que o Senhor manifeste toda a Sua glória nas nossas vidas, tal como Ele deseja tanto fazer?

Atrevemo-nos a acreditar e a pôr em prática, tal como Maria e os Apóstolos, tudo o que Ele nos disser, todas as Suas palavras, todas as Suas promessas? 

 

No próximo Domingo, dia 1 de Março, haverá um retiro das Famílias de Caná, em Mogofores, em Aveiro, para nos ajudar a preparar esta Quaresma.

Venham, queridos leitores, queridos amigos! Venham celebrar connosco as Bodas da vida!

Nossa Senhora Auxiliadora, Mãe de Caná,

Consagramos-te hoje e sempre a nossa família.

Confiamos na tua intercessão de mãe,

Para que o vinho da fé, da esperança e do amor

Nunca acabe em nossa casa.

Faz de nós servos do Senhor, como tu e S.José teu esposo,

E ensina-nos a fazer tudo o que Jesus nos disser.

Ámen!

 

  †   Peregrinação: do EGIPTO à TERRA SANTA ~  2019   †  

 ~  Egipto - Jordânia - Israel - Palestina  ~ 

Na casa de Simão Pedro

  †   Peregrinação: do EGIPTO à TERRA SANTA ~  2019   †  

 ~  Egipto - Jordânia - Israel - Palestina  ~ 

 

Continuamos a nossa peregrinação pela cidade de Cafarnaúm, sob um sol abrasador. Como pode uma terra à beira mar ser assim tão quente? 

Mas há aqui, nesta cidade, uma construção muito especial, que eu há muito desejava ver com os meus próprios olhos (e que, infelizmente, entre o entusiasmo e a maré de turistas, quase não consegui tirar fotos ...)

              Deixando a sinagoga, Jesus entrou em casa de Simão Pedro       (Lc 4, 38a)

E nós fazemos o mesmo - saímos da sinagoga, onde Jesus tinha acabado de curar um homem possesso por um espírito maligno, em pleno Sábado judaico (ai o burburinho que não terá corrido pela cidade nesse dia!); descemos uns degraus de pedra, damos uma dúzia de passos e deparamo-nos com aquela que se acredita ser a casa do Apóstolo Simão Pedro....

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É tão pequenina! 

É a primeira interjeição que me sai dos lábios, quando a vejo pela primeira vez, por fora, e que volto a repetir uns instantes depois, quando tiver a oportunidade de a ver melhor, de cima. Sim, é realmente pequena, tem apenas uma divisão, de formato quadrangular, que serviria simultaneamente de cozinha, sala e quarto.

 

E como podemos nós saber, tantos séculos depois, que esta é, realmente, a casa de Pedro?

Sou-vos sincera, já não me lembro de todos os argumentos que a nossa guia partilhou connosco, mas lembro-me de nos ter falado sobre umas inscrições descobertas nas paredes, em hebraico e em grego, datadas dos primeiros séculos, alegando este facto, e outras inscrições dizendo "Cristo tende piedade" e "Senhor Jesus Cristo ajuda os Teus servos".

Um dado arqueológico em particular marcou-me a memória: o terem descoberto, nas ruínas desta casa, uma quantidade absurda de cotos de velas e de candeias a óleo! Sim, restos e restos de velas, e quase nenhum item doméstico, como pratos ou vasilhas de barro, como as que se encontraram nas ruínas das outras casas vizinhas. Parece que os primeiros cristãos utilizaram estas instalações como uma das primeiras igrejas, quando começaram a ser expulsos das sinagogas e perseguidos pelos romanos.

Outro dado importante é que, à volta destas primeiras paredes (que rapidamente se tornaram alvo de veneração pelos primeiros cristãos) foram sendo construídos outros edifícios, mas estes já com um formato octogonal, típico do estilo bizantino no século IV e V. Tal como podem observar nesta foto já antiga, parece que foi sendo preciso ir aumentado o tamanho da igreja, uma e outra vez, para poder acolher todos os fiéis que se continuaram a reunir nesta primeira igreja .... 

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Imagem retirada daqui

 

Mas voltemos ao relato dos Evangelhos. Conta-nos São Lucas que Jesus naquele dia

Deixando a sinagoga, Jesus entrou em casa de Simão.

A sogra de Simão estava com muita febre, e intercederam junto Dele em seu favor.

Inclinando-se sobre ela, ordenou à febre e esta deixou-a;

ela erguendo-se, começou imediatamente a servi-los.

                                                                                                                  Lc 4, 38-39

Jesus tinha acabado de fazer um (grande) milagre público, à frente de todos os habitantes daquela cidade, em plena sinagoga; mas agora realiza um novo milagre, ainda em pleno Sábado, na intimidade dum lar. Jesus passa do interior das paredes sagradas da sinagoga, o local de eleição para os judeus louvarem a Deus, e entra, Ele mesmo, o próprio Senhor, no interior das paredes sagradas duma casa de família, dando assim um carácter de sacralidade à nossa vida familiar.

É o próprio Deus que deseja entrar em nossa casa e nas nossas vidas, e fazer nelas "Sua morada". Será que o permitimos, à semelhança de Pedro? Não tenhamos medo nem vergonha, por mais simples ou humilde que elas sejam - Deus está desejoso de entrar na intimidade das nossas vidas.

 

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Igreja construída nos anos 90, exactamente por cima e à volta da casa de S.Pedro, numa brilhante ideia, que mistura engenharia e teologia. No seu centro, através dum pavimento transparente, podemos ver ainda mais de perto as ruínas da casa de Pedro.

 

Também São Marcos nos relata este episódio

Saindo da sinagoga, [foi] para casa de Simão e André, com Tiago e João.

    A sogra de Simão estava de cama com febre, e logo Lhe falaram dela. 

           Aproximando-se, tomou-a pela mão e levantou-a.

                 A febre deixou-a e ela começou a servi-los.          (Mc 1, 29-31)

Ao entrar na casa de Pedro, Jesus depara-se com uma mulher paralisada "por uma febre" que a tinha colocado de cama, incapaz de se levantar. Jesus aproxima-Se, faz-Se próximo daquela mulher e de cada um de nós, independentemente da razão da nossa "febre" que nos impede de viver.

Jesus estende-lhe a mão, desejoso de curá-la e de salvá-la daquela prisão - mas, para isso, é necessário um pequeno esforço da parte da sogra de Pedro; é necessário que nós estejamos dispostos, também, a estender a nossa mão, por um pouco que seja, na direcção do Senhor que Se faz próximo de nós; é necessário um pequeno gesto de reciprocidade e de entrega ao Deus que nos visita, tentando salvar, mesmo no nosso maior momento de fraqueza ... 

E assim, levantados pela força do Espírito Santo, acolhendo o amor que Deus nos oferece, agradecidos de todo o coração pelas maravilhas que o Senhor operou nas nossas vidas, colocamo-nos imediatamente ao serviço dos irmãos, começando com os de lá de casa, como sinal visível de quem já não vive só para si mesmo, mas para "dar a vida" aos outros ...

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Os Evangelhos dizem-nos que Jesus veio a Cafarnaúm e ficou diversas vezes nesta casa que pertencia a Simão Pedro... Ao folhear as páginas dos Evangelhos e ao rever estas minhas memórias acerca da Terra Santa, não posso deixar de notar a forma como Pedro deixou que Jesus entrasse na sua vida e de como, aos poucos, este mero pescador, primeiro de peixes e depois de almas, foi permitindo que Jesus tomasse posse de tudo o que lhe pertencia...

Tudo começou com um "ouvi falar" dum Nazareno, com um olhar cheio de amor e misericórdia, com um toque capaz de curar os doentes e uma voz capaz de expulsar demónios, cuja "fama rapidamente se espalhou por toda a parte, em toda a região da Galileia" (Mc 1,28) ... 

Um "ouvi falar", que rapidamente se tornou num "vem e vede" como "o Senhor é bom para aqueles que O temem" (como tantos Salmos nos anunciavam). Pedro veio, viu e ouviu, e o seu coração começou a transformar-se ...

Um dia, na praia, Jesus atrevido - como por vezes era (e ainda é) Seu costume - pede a Simão Pedro o seu barco, para daí poder ensinar melhor as multidões. Pedro aceita mais este passo de Jesus na sua vida e no seu coração, e coloca à Sua disposição um dos seus bens mais preciosos, o seu próprio ganha pão e a sua forma de sustento. Pedro oferece a Jesus, numa demonstração do seu amor crescente pelo Senhor, toda a autoridade e poder de comandar o seu próprio barco, tanto nos dias de brisa suave e de sol ameno, como nos dias de tempestade...

 

Agora, Jesus pede-lhe para entrar na sua própria casa. Nunca mais haverá sossego naquela casa, com pessoas a trazerem familiares e amigos doentes, desde manhã até à noite, num vai e vem constante, não lhes dando tempo sequer para pescarem, cozinharem ou alimentarem-se ... 

Mais tarde, quando o coração de Pedro estiver preparado, Jesus pedir-lhe-á que deixe casa, família e trabalho, para poder segui-Lo. Deus vai assim, pouco a pouco, tomando o devido lugar no coração e na vida de Pedro, Ele de quem tudo provém, Ele de quem tudo recebemos ...

Barco, casa, família, bens e comida, vontade e paciência, (muito!) tempo, o presente e o futuro, incertezas e perseguições, uma grande trabalheira, e por fim a própria vida - sim, Jesus pedirá para se tornar Senhor e Rei de tudo, tudo, tudo na vida do Apóstolo Pedro.

 

À semelhança do que os primeiros cristãos foram fazendo, e do que o povo de Deus tinha já feito no seu longo percurso no deserto, também Pedro aprende que é preciso ir fazendo espaço para o Senhor, é preciso ir alargando o tamanho "da tenda" do nosso coração, "para a esquerda e para a direita"... É preciso, nesta nossa caminhada de santidade diária, que saibamos oferecer - livremente, por puro amor, um passinho de cada vez - todas as áreas das nossas vidas, tudo aquilo que possuímos, que fazemos, que amamos ... o nosso trabalho, as nossas coisas, a nossa casa, a nossa família, o nosso quarto, o nosso coração, a nossa vida ... 

 

O tempo da Quaresma está quase aí, à nossa porta.

Deixaremos que o Senhor se aproxime de nós? Que entre na nossa casa e no nosso coração?

Que cure tudo o que nos paralisa e impede de viver plenamente em serviço e em comunhão com os irmãos?

Permitiremos, à semelhança de Pedro e da sua família, que o Senhor venha e sacralize a nossa vida familiar? 

 

  †   Peregrinação: do EGIPTO à TERRA SANTA ~  2019   †  

 ~  Egipto - Jordânia - Israel - Palestina  ~ 

Com Jesus em Cafarnaúm

  †   Peregrinação: do EGIPTO à TERRA SANTA ~  2019   †  

 ~  Egipto - Jordânia - Israel - Palestina  ~ 

Tendo ouvido dizer que João fora preso, Jesus retirou-se para a Galileia. Depois, abandonando Nazaré, foi habitar em Cafarnaúm, cidade situada à beira-mar.

Mt 4,12-13

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Estamos em Cafarnaúm, a cidade no Norte da Galileia onde Jesus passou a maior parte dos seus três anos de pregação pública e realizou alguns dos Seus milagres mais conhecidos. 

Foi aqui, nesta cidade, que o evangelista S. Mateus, o antigo cobrador de impostos e o autor desta 1ª passagem do Novo Testamento referente a esta cidade, ouviu o chamamento de Jesus, como ele próprio nos relata:

Jesus viu um homem chamado Mateus, sentado no posto de cobrança, e disse-lhe: «Segue-Me!» E ele levantou-se e seguiu-O

Mt 9,9

Quanta simplicidade ... Imagino Mateus, sentado no seu posto de cobrança, a contar as moedas que deveria entregar aos romanos naquela semana. É bem provável que algumas destas moedas caíssem, assim por acaso, para dentro do seu colo, das suas vestes, dos seus bolsos, uma e outra vez ...

Ah, tal não deverá ter sido a sua cara de vergonha, quando se apercebeu da presença duma sombra sobre a sua mesa e, levantando os olhos, encontrou os de Jesus. Nunca ninguém o tinha olhado assim, com tanto amor e misericórdia, apesar do seu pecado evidente...

Imagino a transformação que ocorreu na alma de Mateus, o arrependimento sobrepondo-se à culpa e à vergonha; o acreditar em ser possível começar de novo, em deixar a sua velha e triste vida para trás, tão cheia de ganância e egoísmo; e a confiança numa nova vida, purificada e generosa, a desabrochar no seu coração, após aquele olhar tão cheio de amor e misericórdia de Jesus ... 

Segue-Me, diz-lhe o Senhor ... Como Lhe poderia dizer que não? 

E assim, seguro do amor de Deus, Mateus pôs-se de pé, abandonou para sempre o seu passado e caminhou atrás de Jesus ... 

 

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Foi aqui, nesta cidade, talvez quem sabe numa destas ruas entre as ruínas das casas que os meus olhos veem e que a minha imaginação reconstrói de novo à vida, que Jesus curou o servo do Centurião romano que humildemente pediu o Seu auxílio, como também S. Mateus nos conta:

Entrando em Cafarnaúm, aproximou-se [de Jesus] um centurião, suplicando nestes termos: «Senhor, o meu servo jaz em casa paralítico, sofrendo horrivelmente.» Disse-lhe Jesus: «Eu irei curá-lo.» 

Respondeu-Lhe o centurião: «Senhor, eu não sou digno de que entres debaixo do meu tecto; mas diz uma só palavra e o meu servo será curado. Porque eu, que não passo de um subordinado, tenho soldados às minhas ordens e digo a um: ‘Vai’, e ele vai; a outro: ‘Vem’, e ele vem; e ao meu servo: ‘Faz isto’, e ele faz.»

Jesus, ao ouvi-lo, admirou-Se e disse aos que o seguiam: «Em verdade vos digo: Não encontrei ninguém em Israel com tão grande fé!» 

Disse, então, Jesus ao centurião: «Vai, que tudo se faça conforme a tua fé.» Naquela mesma hora, o servo ficou curado.

Mt 8,5-10.13

Lembrai-me-ei eu, sempre, de toda esta história, quando repito as mesmas palavras que o Centurião - Senhor, eu não sou digna de que entreis em minha morada, mas dizei uma só palavra e eu serei salva! - durante a Santa Missa? 

Porque é realmente verdade - todos os Santos nos afirmam e confirmam - se tivermos verdadeiramente Fé, se acreditarmos firmemente que a Palavra de Deus, que nos é lida e proclamada e partilhada em cada Eucaristia, é capaz de nos vivificar e purificar, também nós seremos salvos, uma e outra vez, vezes e vezes sem conta ... 

 

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Foi aqui, nesta cidade, talvez nesta mesma sinagoga (a 2ª maior sinagoga dos primeiros séculos alguma vez encontrada até hoje!), que Jesus realizou outro dos Seus grandes milagres, a cura dum homem possesso por um espírito maligno - ali mesmo, em plena sinagoga, à vista de todos, em pleno Sábado.

[Jesus e os Seus discípulos] entraram em Cafarnaúm. Chegado o Sábado, [Jesus] veio à sinagoga e começou a ensinar. E maravilhavam-se com o Seu ensinamento, pois os ensinava como quem tem autoridade e não como os doutores da Lei.

Na sinagoga encontrava-se um homem com um espírito maligno, que começou a gritar: «Que tens a ver connosco, Jesus de Nazaré? Vieste para nos arruinar? Sei quem Tu és: o Santo de Deus.»

Jesus repreendeu-o, dizendo: «Cala-te e sai desse homem.» Então, o espírito maligno, depois de o sacudir com força, saiu dele dando um grande grito. 

Tão assombrados ficaram que perguntavam uns aos outros: «Que é isto? Eis um novo ensinamento, e feito com tal autoridade que até manda aos espíritos malignos e eles obedecem-lhe!» E a sua fama logo se espalhou por toda a parte, em toda a região da Galileia.

Mc 1, 21-28

As palavras «que entreis em minha morada» continuam a ressoar no meu coração, ao ouvir outro peregrino ler esta passagem nas ruínas desta antiga sinagoga. Parece-me que quase que oiço Jesus dizer claramente àquele demónio: «Sai imediatamente da Minha morada! A alma, o corpo e o coração desse homem são a morada que Eu mais desejo, aquela que o Meu Pai preparou para Mim! Sai! Deixa-o! Ele pertence-Me!»

Realmente, um pouco mais tarde, Jesus dir-nos-á de forma bastante clara:

«Se alguém Me ama, guardará a Minha palavra e o Meu Pai o amará, e Nós viremos a ele e nele faremos a Nossa morada»                                                                     Jo 14,23

Vem, Senhor, vem!

Expulsa de dentro de mim tudo o que esteja impuro e maligno, com a força da Tua Palavra! 

Vem, Senhor, vem e faz de mim Tua morada ... 

Amén

 

  †   Peregrinação: do EGIPTO à TERRA SANTA ~  2019   †  

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