Sou uma jovem esposa e mãe católica portuguesa. Neste blog partilho a minha caminhada em busca da santidade e o meu encontro com o amor misericordioso do Senhor. Espero que ele vos possa ajudar a encontrar a alegria do Evangelho!
Sou uma jovem esposa e mãe católica portuguesa. Neste blog partilho a minha caminhada em busca da santidade e o meu encontro com o amor misericordioso do Senhor. Espero que ele vos possa ajudar a encontrar a alegria do Evangelho!
Primeiro trevas, depois uma luz brilhante proveniente do Senhor, o sopro do vento sobre as águas, a terra seca a surgir enquanto as águas se separam ... Estarei eu a falar do 3º dia da Criação, ou do episódio da divisão do Mar Vermelho?
Bem, de ambos, na verdade.
Deus disse: «Reúnam-se as águas que estão debaixo dos céus, num único lugar, a fim de aparecer a terra seca.» E assim aconteceu. Deus chamou terra à parte sólida, e mar, ao conjunto das águas. E Deus viu que isto era bom. (Gn 1,9-10)
A imagem da divisão das águas - que representava o local do julgamento e da morte do homem - e do surgimento da terra seca - local seguro e estável, onde o homem poderia construir uma casa temporária, antes de chegar à sua Morada Eterna, no Reino dos Céus - foi uma imagem que permaneceu com o povo judeu durante muito tempo.
O povo hebreu não só viu, como experienciou na sua própria vida, esta imagem tão forte - a divisão das águas, inseguras e traiçoeiras, pelo poder do Senhor, e o surgir da terra seca, sólida e confiável. A indicação do caminho a seguir, preparado com a ternura dum Pai antes de todos os séculos ...
Moisés estendeu a sua mão sobre o mar e o Senhor fez recuar o mar com um vento forte do oriente toda a noite, e pôs o mar a seco. As águas dividiram-se, e os filhos de Israel entraram pelo meio do mar, por terra seca, e as águas eram para eles um muro à sua direita e à sua esquerda. (Ex 14,21-22)
Eis uma nova criação: um povo especialmente escolhido pelo Senhor. Cada hebreu recebeu um convite da parte do Senhor, um chamamento pessoal e único, para deixar o Egipto, a terra da escravatura, e a passar, através das águas do Mar Vermelho, pelo deserto das provações da vida, até chegar finalmente à Terra Prometida, onde então correria o mais puro leite e mel...
Neste deserto, Deus guiou e instruiu, alimentou e hidratou, curou e sarou o seu povo escolhido, dia após dia, tentando maravilhar e cativar os seus corações, durante 40 anos. O Senhor esforçou-se, enviando-lhes mil oportunidades por dia, para que o tempo passado no deserto, que as escolhas feitas por cada membro do Seu povo, lhes servissem para estabelecer qual o local da sua morada eterna - o Céu ou o Inferno.
Também hoje, na minha vida, o Senhor tenta proteger-me das águas enganadoras do pecado, levando-me por um caminho seguro, nesta passagem temporária pela terra, guiando-me e instruindo-me, alimentando-me e hidratando-me, curando-me e sarando-me, dia após dia. Também a mim, não me faltam oportunidades, todos os dias, a todo o instante, para me abrir à graça e ao amor de Deus, para me deixar moldar à Sua imagem e semelhança, para escolher o local da minha morada eterna - o Céu ou o Inferno.
Na sexta-feira passada, tive a enorme graça de poder ouvir uma catequese maravilhosa, como há muito não ouvia, do nosso querido bispo de Setúbal, D. José Ornelas, no 1º Encontro Formativo da Pastoral Familiar de Setúbal.
Falou-se de 'confinamento' nos dias de hoje, nas nossas famílias, na nossa sociedade, mas através duma perspectiva diferente - trazendo à memória, e tornando vivas novamente, várias histórias do Povo de Deus, relatadas ao longo das Escrituras. Nunca antes me tinha apercebido de tantos paralelismos entre o passado do Povo de Deus, o nosso presente e as lições para o nosso futuro ...
Começando pelo relato da 1ª Páscoa judaica, quando o povo hebreu se refugiou nas suas casas, para proteger os seus filhos e se distinguir dos egípcios, ao exílio na Babilónia exigido pelo rei Nabucodonosor, passando pelo distanciamento necessário entre Abrãao e o seu sobrinho Lot, até chegar ao 'desconfinamento' trazido por Jesus. Uma catequese que nos leva (e muito!) a reflectir, sempre à luz da Bíblia e da História do Povo de Deus. Absolutamente imperdível!
Meditar no 2º dia do relato da Criação permite-nos também compreender melhor o significado do Baptismo de Jesus.
Veio Jesus da Galileia ao Jordão ter com João, para ser baptizado por ele.João opunha-se, dizendo: «Eu é que tenho necessidade de ser baptizado por Ti, e Tu vens a mim?» Jesus, porém, respondeu-lhe: «Deixa por agora. Convém que cumpramos assim toda a justiça.» João, então, concordou. Uma vez baptizado, Jesus saiu da água e eis que se rasgaram os céus, e viu o Espírito de Deus descer como uma pomba e vir sobre Ele.E uma voz vinda do Céu dizia: «Este é o Meu Filho muito amado, no qual pus todo o Meu agrado.» (Mt 3,13-17)
Jesus é baptizado no rio Jordão, o rio cujo nome significa "Aquele que desce" em hebraico. Lembrando a analogia do último post, não me parece ser um acaso que este rio nasça no topo dum monte, o monte Hérmon, em Cesareia de Filipe no norte de Israel. Na verdade, o monte Hérmon é um monte tão alto - e assim tão perto da morada de Deus - que permanece coberto de neve durante a maior parte do ano.
Foi bem aqui em cima, em Cesareia de Filipe, perto da nascente do rio Jordão, que Jesus deu a Pedro as chaves do Reino dos Céus, representando a sua união íntima com o coração do Senhor.
Desde a sua origem no norte de Israel, o rio Jordão vai descendo continuamente, atravessando Israel, até por fim desaguar no ponto mais baixo de toda a terra, no mar Morto. Podendo ter escolhido qualquer ponto do comprimento do rio, o Senhor chamou João Baptista a baptizar o povo judeu no local imediatamente antes deste rio chegar às águas estéreis e inóspitas do mar Morto.
Foi bem aqui em baixo, perto do ponto de entrada no mar Morto, que Jesus escolheu também ser baptizado por João. Jesus vai-nos buscar, independentemente do quão fundo o nosso pecado nos arrastar, não desistindo de nós e de nos salvar até ao último instante da nossa vida, antes de nos perdermos completamente no Inferno...
Mas vamos voltar ao simbolismo do 2º dia do relato da Criação. Com o Seu Baptismo, Jesus entra dentro das águas de baixo, das águas do abismo, assim como depois entrará nas águas do sofrimento e da Sua morte. Ele ergue-se destas águas, tal como virá depois a erguer-se da morada dos mortos, ao ressuscitar. Os Céus rasgam-se; a barreira, a divisão, existente entre Deus e o homem, desde o 2º dia da Criação, que impedia que o homem se unisse plenamente ao seu Criador, desaparece. Os Céus abrem-se, a Vida Eterna torna-se possível ao homem, de tal forma que o Espírito Santo desce, sob a forma duma pomba, tal como fará mais tarde no dia do Pentecostes, para anunciar através de Jesus, a todos os homens, o quanto cada um de nós é, também, o Seu filho muito amado ...
O Baptismo de Jesus destrói assim a barreira que nos separava de Deus e abre-nos as portas do Céu ...
Deus disse: «Haja um firmamento entre as águas, para as manter separadas umas das outras.» E assim aconteceu. Deus fez o firmamento e separou as águas que estavam debaixo do firmamento das que estavam por cima do firmamento. Deus chamou céus ao firmamento. Assim, surgiu a tarde e, em seguida, a manhã: foi o segundo dia. (Gn 1,6-8)
No 2º dia da Criação, diz-nos o autor do Génesis que Deus criou as águas. As águas de cima seriam os Céus, onde Deus escolheu ser a Sua morada. Já as águas de baixo seriam a morada do homem. Entre elas, uma barreira, uma divisão, um firmamento, que separava o homem de Deus.
Em todo o relato da Criação, o 2º dia é o único dia que o Senhor não chama "bom". Deus não quer que o homem esteja separado Dele, mesmo que o homem insista em fazê-lo, escolhendo continuamente o pecado em vez do Seu amor. Deste modo, o 2º dia da Criação parece querer representar o mundo antes da vinda de Jesus.
Para o povo judaico, as águas do mar, profundas e insondáveis, representavam um local de morte e de julgamento para o homem. Foi nas águas do mar que a humanidade corrupta foi submergida, no dia do grande Dilúvio, enquanto Noé e a sua família, permanecendo sobre as águas do mar, dentro da arca, foram protegidos contra a morte. Foi nas águas do rio Nilo que o Faraó mandou afogar todos os bebés hebreus, enquanto apenas Moisés pôde ser protegido da morte, ao permanecer sobre as águas do rio, dentro duma cesta de vime. Foi também nas águas do mar Vermelho que os soldados do Egipto foram engolidos pela morte, que eles próprios provocaram, enquanto o povo hebreu atravessou as águas, sem que qualquer mal lhes acontecesse.
Se, para os judeus, quanto mais fundo descermos nas águas, mais nos aproximaremos da morte, também é verdade que, quanto mais alto subirmos, mais perto estaremos de Deus, mais amiga e íntima será a nossa relação com o Senhor. Assim aconteceu com Moisés e depois com Elias, que encontraram o Senhor após subirem até ao topo da montanha. Também as alianças entre Deus e o seu povo realizaram-se sempre nos sítios mais altos.
Mas "perto de" não quer dizer "junto de" ou "unido a". Se as águas de baixo representam a morada terrena do homem e, quanto mais fundo, mais perto da morte; se as águas de cima representam os céus e a morada eterna do homem, que ele almeja alcançar; e se existe uma barreira, uma divisão entre ambos, como poderá o homem ultrapassar essa barreira e chegar, por fim, até junto de Deus, unindo-se Àquele que a sua alma mais ama, o Único capaz de saciar os desejos do seu coração?
«Eu sou o Caminho», diz-nos Jesus.
Realmente, Jesus é a única via através da qual poderemos vir a alcançar o Céu e, assim, o amor eterno e abundante do Senhor. Foi Ele que nos abriu o caminho até ao Céu, foi Ele que restituiu a união primordial entre Deus e o homem, que havia antes do nosso pecado. Fê-lo na Sua Transfiguração, no cimo do Monte Tabor; fê-lo na Sua Crucificação, no topo do Calvário; fê-lo através da Sua Ascenção aos Céus, deixando o caminho aberto, desde o Monte das Oliveiras, para cada um de nós ...
A preparação do novo ano catequético, que se inicia este fim-de-semana na minha paróquia, leva-me a ler e a desfolhar as primeiras páginas da Bíblia, acerca do relato da Criação do mundo em 7 dias. No primeiro dia a luz é criada, no segundo dia ocorre a separação das águas, no terceiro a terra seca surge no meio das águas ...
Hmm ... - dou por mim a pensar - isto parece-me familiar ... sim, isto faz-me mesmo lembrar de ...
Apercebo-me então que cada dia do relato da Criação parece querer prefigurar um episódio específico da vida de Jesus, da Encarnação ao Calvário. Na verdade, parece que o Divino Autor das Sagradas Escrituras tentou anunciar-nos a total restauração que Cristo nos viria oferecer, por amor, logo desde as primeiras páginas ...
No princípio, Deus disse: «Faça-se luz.» E a luz foi feita.Deus viu que a luz era boa e separou a luz das trevas. Deus chamou dia à luz, e às trevas, noite. Assim, surgiu a tarde e, em seguida, a manhã: foi o primeiro dia. (Gn 1,3-5)
Jesus, Luz dos homens, estava presente antes de qualquer outra coisa existir. Deste modo, esta Luz tomou parte, tornou-Se parte, de todas as coisas que foram criadas depois Dela. Nada foi criado que não A possuísse, que não A tivesse em si. Esta Luz, esta Vida, estava, assim, presente em todas as coisas...
No princípio existia o Verbo; o Verbo estava em Deus; e o Verbo era Deus. No princípio Ele estava em Deus. Por Ele é que tudo começou a existir; e sem Ele nada veio à existência. Nele é que estava a Vida de tudo o que veio a existir. E a Vida era a Luz dos homens. A Luz brilhou nas trevas, mas as trevas não A receberam.
(Jo 1,1-5)
Através do pecado, prefigurado pela história de Adão e Eva no jardim do Éden, o homem renunciou a esta Luz, a esta Vida, presente em todas as coisas criadas pelo Senhor. Ao escolher o pecado, ao escolher o amor próprio, o egoísmo, o desejo de se tornar como Deus, o homem renunciou ao amor do Senhor, que estava intrinsecamente presente em tudo o que existia, desde o primeiro dia da criação do mundo.
Deus não aceitou esta separação. Então planeou uma nova criação, uma nova humanidade, através do mistério da Redenção de Cristo Jesus.
«Eis que venho renovar todas as coisas.» (Ap 21,5a)
Foi assim o primeiro dia da Nova Criação: Deus disse «Faça-se Luz». E a luz foi feita.
«Maria, hás-de conceber no teu seio e dar à luz um filho, ao qual porás o nome de Jesus»
«Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra.» (Lc 1,31.38)
Com o mistério da Encarnação, Jesus colocou toda a Sua divindade dentro duma célula minúscula, dentro do ventre de Maria, que a acolheu e nutriu, como ninguém alguma vez poderia ter feito. Deus, o Criador, entra assim dentro da Sua própria criação ... E se, antes, havia uma parte da Luz do Senhor em cada coisa criada, Maria tornou-se a primeira criatura a ser plena e totalmente possuída pela Luz, pela Vida, de Deus.
O Verbo era a Luz verdadeira, que, ao vir ao mundo, a todo o homem ilumina.
E o Verbo fez-Se homem e veio habitar connosco. E nós contemplámos a Sua glória
(Jo 1,9. 14)
Ensina-me, Mãe, a deixar-me também possuir, totalmente, por essa Luz da Vida ...