Sou uma jovem esposa e mãe católica portuguesa. Neste blog partilho a minha caminhada em busca da santidade e o meu encontro com o amor misericordioso do Senhor. Espero que ele vos possa ajudar a encontrar a alegria do Evangelho!
Sou uma jovem esposa e mãe católica portuguesa. Neste blog partilho a minha caminhada em busca da santidade e o meu encontro com o amor misericordioso do Senhor. Espero que ele vos possa ajudar a encontrar a alegria do Evangelho!
Não sei se alguma vez repararam como o Evangelho começa e termina em mãos femininas: começa com Maria de Nazaré, pelo mistério da Encarnação do Verbo, e termina com Maria Madalena, a primeira a descobrir e a propagar a Ressurreição do Senhor. Assim, a Encarnação e a Ressurreição - a flor e o fruto do Evangelho - são confiadamente depositadas no coração generoso, altruísta e humilde de mulheres. E entre as duas, temos inúmeras histórias de encontros de Jesus com o mundo feminino. Mas quem são estas mulheres?
Naquele tempo, disse Jesus: «Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas, porque fechais aos homens o Reino dos Céus: vós não entrais nem deixais entrar os que o desejam.
Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas, porque devorais as casas das viúvas, com o pretexto de prolongadas orações. Por isso, sereis mais rigorosamente julgados.
Ai de vós, guias cegos, que dizeis: "Quem jurar pelo santuário a nada se obriga; mas quem jurar pelo ouro do santuário tem de cumprir". Insensatos e cegos! Que vale mais: o ouro ou o santuário que santifica o ouro?" (Mt 23, 13-14. 16-17)
Ao longo desta 21ª Semana do Tempo Comum, se acompanharmos as leituras do Evangelho, veremos Jesus a reprovar, repetidas vezes, os fariseus e os escribas, acusando-os de hipocrisia. Jesus utiliza palavras e imagens muito fortes, (excessivamente?) duras até. Chama-lhes hipócritas, insensatos, devoradores de viúvas, cheios de maldade, autênticos cegos que provocam também a cegueira de outros homens. Compara-os a sepulcros caiados, belos por fora mas podres por dentro, e a pedras de tropeço, causadores de quedas irrecuperáveis para muitos.
"Oh pobres fariseus e escribas" - penso eu, tantas vezes, suspirando e revirando os olhos - "sempre tão arrogantes e convencidos ... " Mas será realmente assim, Marisa? Terão sido eles sempre assim? Será que era apenas esse - a arrogância, a hipocrisia, a cegueira - o problema que Jesus lhes apontava? Será que Jesus queria apenas apontar-lhes o dedo, nomeando os seus pecados?
Mas o Senhor alguma vez quererá apenas isso? Alguma vez Deus desejaria apenas criticar, apontar o dedo, denunciar, tornar público o pecado pessoal de cada um deles? Para que serviria isso, Marisa? Qual o bem disso? Acaso Deus comportar-se-ia como um mero denunciador - "Vejam todos como eles são maus!"? Acaso Deus não é amor? Acaso poderá ter havido algum instante da vida de Jesus - Ele que é verdadeiramente Deus, verdadeiramente Homem - em que Ele, falando ou agindo, não estaria a amar a pessoa à Sua frente, a obra das Suas mãos?
Talvez Marisa, a questão seja mais profunda do que te parece à primeira vista.
Lembra-te do que ouviste recentemente numa homilia: os escribas eram autênticos guardiões da Lei e dos Escritos Sagrados, copiando-os cuidadosa e rigorosamente, garantindo que nenhum erro se propagasse nem que se perdesse no tempo uma só palavra de Deus; já os fariseus eram um grupo recente na altura de Jesus, formados pela necessidade de reavivar o judaísmo daquela altura e impedir que se perdesse a beleza das Escrituras, da cultura e da religião judaica ou que o povo fosse corrompido pelos pensamentos, filosofia e estilos de vida pagãos, tanto da parte dos gregos como dos romanos.
Permitam-me o atrevimento de dizer: Jesus era muito parecido com os fariseus. Eles conheciam a Lei e os Profetas de trás para a frente, como se fosse a palma das suas mãos, tal como Jesus conhecia. Eles dedicavam todo seu tempo, toda a sua vida, à leitura, ao conhecimento, à interpretação e à propagação da beleza da Lei e dos Profetas, tal como Jesus o fez também. Eles eram praticantes exemplares da Lei, tal como Jesus o era. Eles eram amantes da Palavra de Deus, tal como Jesus a amava.
O problema dos fariseus foi que rapidamente caíram na tentação do poder e da auto-suficiência. Deixaram-se sucumbir em escrúpulos. Quiseram tornar-se donos da Lei e dos Profetas, autoridades irrepreensíveis, acima de qualquer outra - até acima de Deus. E esqueceram-se que eram meros homens, pó da terra, servos do Senhor. ..
Pobres fariseus - o bom e o belo que poderíeis ter sido, que o Senhor desejava que vos tivésseis tornado, que Deus vos chamava a ser ...
Em vez disso, escolheram esconder as suas misérias - até de si mesmos - e colocar máscaras para outros verem. Desejaram ser admirados e assim escolheram fingir - ser mais e melhor do que, realmente, eram.
Escolheram fingir, esconder as suas misérias, fugir de si mesmos. E assim impedir deliberadamente que a graça santificante de Deus possa actuar nas suas almas. Fingindo, escondendo-se, fugindo - impediram assim que Deus os habitasse, os renovasse, os curasse, os perdoasse. Talvez seja por isso que Jesus não tolera a sua hipocrisia.
Além disso, é como se declarassem explicitamente que Deus não os criou correctamente, que não os gerou bem, que eles deveriam ser diferentes do que são. No fundo, que Deus errou e fez algo mal - mas que eles fariam melhor.
Pobres escribas e fariseus - que por vezes sou eu mesma. Tão amantes e zelosos da Palavra de Deus, que tentavam tornar-se seus donos e senhores. Tentavam almejar uma perfeição diferente daquela a que Deus os (e nos) chama e convida. Lembrem-se quem são, de quem são, donde vieram, para onde querem ir. Reconheçam as vossas misérias. Não as tentem esconder - de si mesmos e de Deus. Não fujam - de vocês próprios nem da misericórdia do Senhor. Não tentem fingir ser o que não são - o Senhor ama-vos. E vós, aceitais o Seu amor? Aceitais ser amados?
Que o Senhor possa dizer de mim, um dia, tal como disse do Apóstolo Bartolomeu
«Eis um verdadeiro israelita, em quem não há fingimento. Em verdade, em verdade vos digo: vereis o Céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do homem.» (Mt 23, 47. 51)