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Uma Jovem Católica

Sou uma jovem esposa e mãe católica portuguesa. Neste blog partilho a minha caminhada em busca da santidade e o meu encontro com o amor misericordioso do Senhor. Espero que ele vos possa ajudar a encontrar a alegria do Evangelho!

Uma Jovem Católica

Sou uma jovem esposa e mãe católica portuguesa. Neste blog partilho a minha caminhada em busca da santidade e o meu encontro com o amor misericordioso do Senhor. Espero que ele vos possa ajudar a encontrar a alegria do Evangelho!

Novena de preparação para o Matrimónio

Escrevo-vos este post a poucos dias de celebrarmos o nosso 1º aniversário de Casamento, no próximo dia 10 de Abril. Que ano inacreditável! Que ano tão frutuoso! Que ano tão abençoado pelo Senhor! A Ele, glória eterna!

 

A oração sempre teve um papel primordial tanto na minha vida como na do meu marido. Assim, pouco tempo depois de termos começado a namorar, começámos a rezar o Terço em conjunto, todos os dias. Eu já o rezava diariamente desde 2014 (graças às Famílias de Caná), o que incentivou o Tiago a querer acompanhar-me neste hábito. Este é um dos melhores frutos dum bom namoro e dum bom casamento - o incentivo mútuo a crescer cada vez mais em santidade, adquirindo os bons hábitos do outro!

Sempre que podíamos, tentávamos rezar o Terço ao mesmo tempo, às vezes juntos e presencialmente, outras vezes por telefone ou por Skype, ou então separados mas estabelecendo horários de oração semelhantes. Nem sempre foi fácil, claro, foi preciso vencer muitas vezes a preguiça e a tentação de deixar para depois, e fazer o esforço diário de nos lembrar deste nosso compromisso a dois (independentemente do quão ocupados estivéssemos naquele dia). Mas - rapidamente nos apercebemos - quase tudo feito a dois se tornava mais fácil e acessível!

Pouco tempo depois de termos ficado noivos, decidimos acrescentar um novo hábito de oração em conjunto: rezarmos uma Novena por mês. Começámos com a Novena da Natividade de Nossa Senhora em Setembro, depois pelas almas do Purgatório em Outubro-Novembro, e por fim a Novena para a Imaculada Conceição em Dezembro. Nesse Natal, pensei em presentear o Tiago com mais 3 Novenas - elaboradas por mim - para os últimos 3 meses antes do dia do nosso Matrimónio. 

 

Hoje partilho convosco a primeira dessas Novenas! Para esta Novena, escrevi as orações de cada dia tendo por base as diversas Cartas do Apóstolo S. Paulo que podem ser escolhidas do Ritual do Matrimónio. Espero que ela vos possa abençoar tanto como nos abençoou a nós!

Novena de preparação para o Matrimónio.jpg

Para fazer o download, basta clicar aqui (ou na imagem)

O reerguer da mulher encurvada

Nas primeiras vezes que fui visitar a minha filha recém-nascida à Neonatologia tive de ser levada numa cadeira de rodas. Durante vários dias, só conseguia andar devagarinho, com uma mão na barriga e outra apoiada na parede, por curtas distâncias de cada vez, curvada sobre mim mesma, impossibilitada de me erguer, por causa das dores e das limitações físicas causadas pela cesariana. 

Nesses dias, lembrei-me da história da mulher encurvada, que nos é contada no Evangelho de S. Lucas:

"Num dia de sábado, ensinava Jesus numa sinagoga. Estava lá certa mulher doente por causa de um espírito, há 18 anos: andava curvada e não podia endireitar-se completamente. Ao vê-la, Jesus chamou-a e disse-lhe: «Mulher, estás livre da tua enfermidade.» E impôs-lhe as mãos. No mesmo instante, ela endireitou-se e começou a dar glória a Deus.

Mas o chefe da sinagoga, indignado por ver que Jesus fazia uma cura ao sábado, disse à multidão: «Seis dias há, durante os quais se deve trabalhar. Vinde, pois, nesses dias, para serdes curados e não em dia de sábado.» 

Replicou-lhe o Senhor: «Hipócritas, não solta cada um de vós, ao sábado, o seu boi ou o seu jumento da manjedoura e o leva a beber? E esta mulher, que é filha de Abraão, presa por Satanás há 18 anos, não devia libertar-se desse laço, a um sábado?» Dizendo isto, todos os seus adversários ficaram envergonhados, e a multidão alegrava-se com todas as maravilhas que Ele realizava.". (Lc 13, 10-17)

 

Não sei se sabiam mas, no tempo de Jesus, as mulheres tinham de ficar na parte de trás das sinagogas, separadas dos homens por uma vedação ou gradeamento (tal como acontecia com os gentios, que também não podiam ter acesso às zonas restritas e mais sagradas dos judeus, no interior do Templo ou das sinagogas). Elas só podiam, caso assim quisessem, ouvir a leitura e o estudo das Sagradas Escrituras se permanecessem sentadas lá atrás, bem no fundo do grande salão.

Assim, neste dia de Sábado, lá atrás na sinagoga, encontrava-se uma mulher - que não só era mulher e tinha de estar lá atrás, como, ainda por cima, era encurvada, o que a tornava ainda menos visível. Esta mulher, diz-nos o Evangelho, estava doente por causa dum “espírito de enfermidade” ou dum “espírito de fraqueza” (dependendo das traduções), que a obrigava a viver encurvada desde há 18 anos. Uma vez, explicaram-me que a palavra grega usada neste texto significava que esta mulher vivia “dobrada sobre si mesma” e “impedida de erguer a cabeça”.

Apesar de tudo isto, Jesus vê-a. Para Ele não há barreiras nem separações. Na Sua presença, todas as grades, reais ou simbólicas, caem por terra. 

Mulher encurvada.jpg

Imagem retirada daqui

O Evangelho não especifica se Jesus a chamou até junto de Si ou se foi ter com ela. Mas Jesus interpela-a directamente, coloca as Suas mãos sobre o dorso da mulher e declara-lhe: “Mulher, estás livres da tua enfermidade”, ou “Mulher, estás livre dos laços da tua fraqueza” noutras traduções. E ela imediatamente endireitou-se e começou a dar glória a Deus.

Esta mulher vivia encurvada sobre si mesma, ou seja, os outros olha-la-iam – tanto de forma literal como figurativa – de cima para baixo. O próprio olhar desta mulher estava preso no chão. O seu olhar estava limitado. Os seus horizontes eram estreitos, sujos, pedregosos - como o solo que constantemente fitava. 

Jesus é a primeira pessoa, na vida naquela mulher, que não a olha de cima para baixo; antes, a eleva, até Si, permitindo-lhe olhar, olhos nos olhos, com o próprio Deus, contemplando-a e permitindo que ela O contemplasse também, alargando os horizontes do seu olhar e, assim, da sua vida.  

 

Na sociedade do tempo de Jesus (tal como vemos retratado noutros episódios evangélicos), as pessoas acreditavam que as doenças mais graves e debilitantes - como a condição desta mulher - eram uma forma de castigo divino, por alguma culpa ou pecado grave cometido, ou por si ou por familiares próximos. Assim, quanta vergonha não sentiria esta mulher, de cada vez que necessitava de aparecer em público, para comprar comida ou rezar ao Deus de Israel na sinagoga, naquele estado físico, que dava tanto nas vistas ...

Esta mulher tinha um corpo imperfeito, doente, permanentemente dobrado e encurvado sobre si mesmo, que lhe roubaria toda a auto-estima e amor próprio. Talvez até a fizesse viver numa profunda tristeza e solidão. Mas foi com este mesmo corpo, imperfeito e deformado, que ela se permitiu ser olhada, chamada e tocada por Jesus. Sem sentir qualquer vergonha ou medo, talvez pela primeira vez na sua vida. Ao endireita-la, ao levantá-la, Jesus devolve-lhe toda a dignidade que anteriormente tinha perdido.

Jesus identifica-nos claramente que o “espírito de enfermidade” ou o “espírito de fraqueza”, que a impedia de se manter direita, provinha da acção de Satanás, o Adversário, o Inimigo da humanidade desde o Génesis. Assim, fica claro que a condição desta mulher era muitíssimo mais profunda do que só uma maleita física.

Mulher encurvada2.jpg

Imagem retirada daqui


No final deste milagre, o chefe da sinagoga critica Jesus por o ter realizado em dia de sábado, dia em que não seria suposto realizar-se qualquer tipo de trabalho, segundo os costumes judaicos. É curioso reparar como todas as curas sabáticas de Jesus, descritas nos Evangelhos, têm algo em comum: nenhuma dessas curas foi “solicitada” a Jesus; em nenhuma delas veio alguém, ou algum intermediário, ter com Jesus, pedindo ou implorando a sua cura ou a cura de outrem. Aliás, se repararmos com atenção, todos os milagres de Jesus em dia de sábado partiram da Sua própria iniciativa, foram voluntariamente concedidos por Si, sem que o doente Lho tenha pedido – como é o caso do milagre desta mulher encurvada.

Assim se manifesta claramente a iniciativa de Deus em nos salvar, Ele que é o “Senhor do Sábado”. Desta forma, Cristo relembra-nos a intenção primordial, o propósito, do dia de sábado, o Shabat, o dia de descanso do Senhor: este seria o dia da semana dedicado e consagrado ao encontro, a nível pessoal, familiar e comunitário, com o Senhor; em que o povo deveria permitir-se descansar e usufruir da Obra da Criação; em que os judeus deveriam relembrar e comemorar a libertação da escravatura do Egipto e da vitória do grande Êxodo, e assim louvar a Deus por todos os Seus dons e bênçãos.

 

Jesus usa palavras duras e chama-lhes de hipócritas. Se os judeus podiam soltar os seus animais, no dia de sábado, para os levar a beber, quão mais adequado não seria que esta mulher bebesse da verdadeira Água Viva, no dia do Senhor, e assim readquirisse a sua dignidade perdida de filha de Deus? Aquela mulher foi reerguida através do seu encontro com Jesus e imediatamente se pôs a louvar o Deus que a tinha salvo - cumpriu-se na perfeição o propósito do dia do Shabat ....

 

Para ouvir esta ou outras catequeses, sobre os encontros de Jesus com algumas das mulheres dos Evangelhos,

basta clicarem no Podcast - Encontros com Jesus.

Abre-te

Alegro-me nos sofrimentos que suporto por vós e completo na minha carne o que falta às tribulações de Cristo, pelo Seu Corpo, que é a Igreja. (Cl 1,24)

 

A nossa filha Isabel teve de nascer através duma cesariana urgente a meio da noite. Este não foi, decididamente, o tipo de parto que nós tinhamos imaginado, nem preparado para ter, ao longo de toda a nossa gravidez. Mas foi a via de parto que o Senhor escolheu.

Durante alguns dias, tive a tentação de pensar que tinha falhado, para com a minha filha e o meu marido; que esta circunstância me tornaria menos mãe e menos mulher do que as outras, que tinham tido partos naturais; que, através deste meu primeiro parto, tinha perdido uma óptima oportunidade para me unir à Paixão de Cristo e de oferecer o sacrifício das minhas dores em expiação pelos pecados do mundo e por tantas intenções de oração que tinha vindo a reunir para este dia ... O Tentador é muito hábil a fazer-nos acreditar nisto: que falhámos, que perdemos, que somos fracos e que aquilo que fazemos (ou somos) é absolutamente inútil e ridículo. 

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Mas, pela luz do Espírito Santo, pude ver a beleza santificante deste meu primeiro parto, ao reflectir nas suas semelhanças com a Paixão de Jesus. No início, tal como Jesus, também eu implorei a Deus: «Pai, se quiseres, afasta de mim este cálice; contudo, não se faça a minha vontade, mas a Tua.» (Lc 22, 42). Depois, como Jesus no Horto das Oliveiras, também eu tive de aprender a render-me à vontade do Senhor, aceitando e permitindo de coração que se cumprisse, em mim e na nossa vida, aquela que era a Sua vontade. Jesus foi levado ao Cálvario; eu, ao bloco operatório. À semelhança de Jesus na Sua Paixão, também eu tive de passar pela "flagelação" da colocação do catéter epidural, aguentando a passagem de diversos choques elétricos pelas minhas pernas, sem me puder mexer. Tal como Jesus, também eu fui totalmente despida das minhas vestes, deitada numa mesa fria incapaz de me mexer, com os braços estendidos, um para cada lado, numa autêntica forma de cruz. A Jesus abriram-Lhe o peito com uma lança; a mim, cortaram-me ao meio ... para que daí nascesse uma nova vida.

É este o Meu mandamento: que vos ameis uns aos outros como Eu vos amei. Ninguém tem mais amor do que quem dá a vida pelos seus amigos. (Jo 15, 12-13)

Agora, sou capaz de sorrir, olhando para as minhas feridas, as minhas chagas, à semelhança de Cristo Ressuscitado. Agora sei que o meu corpo transformou-se num verdadeiro altar, onde o meu sacrifício de imolação foi capaz de gerar uma nova vida.

Agora - sorrio - já estou mais parecida conTigo, Jesus!