Youtube - Catequeses do Papa Francisco sobre a Velhice (2022) - Catequese 11 a 15
Catequese 11) Eclesiastes, a noite incerta do sentido e das coisas da vida
Resumo da catequese do Santo Padre: Diante duma realidade que às vezes parece abrigar todos os opostos, reservando-lhes o mesmo destino, ou seja, cada um deles resulta em nada, o ser humano experimenta o desencanto, sentindo-se tentado a viver na indiferença: tudo vale o mesmo! Ao princípio, o conhecimento que nos isenta da moralidade parece fonte de liberdade, de energia, mas não tarda a transformar-se em paralisia da alma. Eclesiastes, com a sua ironia, desmascara este delírio de omnisciência que gera uma impotência da vontade, fazendo-lhe perder a paixão pela justiça e consequente luta pelo seu triunfo. A contínua oscilação entre o sentido e a falta do mesmo na existência é a representação irónica dum conhecimento da vida que se desligou da paixão pela justiça e caiu na indiferença, chegando ao desencanto de Eclesiastes: «Vaidade das vaidades, tudo é vaidade»! Tudo é nevoeiro, fumaça, vazio... No mundo atual, a passagem por esta crise – uma crise saudável – tornou-se crucial, pois uma cultura que pretenda ser a medida de tudo e manipular tudo, acaba produzindo uma desmoralização coletiva na busca do sentido da vida. O livro de Eclesiastes oferece-nos uma espécie de intuição negativa, que pode surgir em qualquer época da vida, mas não há dúvida de que a velhice torna quase inevitável o encontro com este desencanto. É, pois, decisiva a resistência dos idosos aos efeitos desmoralizadores deste desencanto: se os idosos, que já viram tudo, mantêm intacta a sua paixão pela justiça, então há esperança de amor e também de fé. Idosos cheios de sabedoria e humor fazem muito bem aos jovens. Salvam-nos dum conhecimento triste e sem sabedoria e reconduzem-nos à promessa de Jesus: «Felizes os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados».
Catequese 12) "Não me abandones quando meu vigor se extingue!" (Sal 71,9)
Resumo da catequese do Santo Padre: Na leitura inicial, o ancião volta-se para Deus numa daquelas situações de abandono, fraude e prepotência, que às vezes assolam o tempo da velhice. Acontece lermos nos jornais ou ouvirmos nos noticiários casos de idosos a quem roubam as suas economias, abandonam sem cuidados ou intimidam, desprezando os seus direitos. Inclusive em ambientes familiares, vemos idosos expropriados da sua pensão de ancianidade e até mesmo da sua casa. Quem explora assim a fragilidade humana, devia sentir vergonha. É, portanto, urgente que a sociedade se dedique com seriedade a cuidar dos seus idosos, combatendo a cultura do descarte. Perguntemo-nos: por que motivo a civilização moderna e a política se mostram tão insensíveis à dignidade de conviver com os idosos e os doentes? O ancião do salmo, quando lhe fizeram ver a sua velhice como uma derrota, reencontrou a confiança em Deus, ganhando forças na oração: «Não me abandones, Senhor, quando já não tiver forças» (Sal 71, 9). Os idosos, na sua debilidade, ensinam-nos que todos temos necessidade de nos entregar a Deus; chamemos-lhe o “magistério da fragilidade”, que é capaz de abrir um horizonte decisivo para a reforma da nossa civilização. Aproveite-mo-lo!
Catequese 13) Nicodemos - "Como pode um homem nascer, sendo já velho?" (Jo 3,4)
Resumo da catequese do Santo Padre: Nicodemos, um dos chefes dos Judeus, está entre as pessoas idosas mais relevantes nos Evangelhos. No seu diálogo com o divino Mestre manifesta-se o coração da Revelação de Jesus e de sua missão redentora: “Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3, 16). Quando Jesus lhe diz que é preciso “nascer do Alto”, Nicodemos apresenta como objeção a velhice. Mas, à luz da palavra de Jesus em resposta a esta objeção, descobrimos que a velhice não é um obstáculo a este novo nascimento, e sim o tempo oportuno para entendê-lo. O “nascimento do Alto”, que nos permite entrar no reino de Deus, é uma nova geração no Espírito. A vida em nossa carne mortal é uma belíssima obra inacabada, como algumas obras de arte que, apesar de incompletas, possuem um fascínio único. Porque a nossa vida aqui na terra é iniciação, e não consumação. A fé, que acolhe o anúncio evangélico do reino de Deus ao qual estamos destinados, nos torna capazes de ver os sinais de esperança nesta nova vida em Deus. A velhice é a condição na qual o milagre do “nascimento do alto” pode ser assimilado intimamente e tornar-se sinal de credibilidade para a humanidade.
Catequese 14) O alegre serviço de fé que se aprende na gratidão
Resumo da catequese do Santo Padre: «A sogra de Simão Pedro estava de cama com febre»: ouvimos ler ao princípio. Não sabemos se a doença era grave ou não, mas, na velhice, até uma simples febre pode ser perigosa. A doença pesa sobre o idoso de modo diferente de quando se era jovem ou adulto; já não se consegue sonhar a esperança num futuro, porque este parece ter-se acabado. Mas o referido caso do Evangelho ajuda-nos a esperar. Notemos que Jesus não vai sozinho visitar aquela idosa doente, mas acompanham-No os discípulos. É a comunidade cristã que deve cuidar dos idosos; parentes e amigos devem sentir a responsabilidade de os visitar e, na sua oração, apresentá-los ao Senhor. Vendo aquela mulher doente, Jesus toma-a pela mão e levanta-a curando-a. Com este gesto de terno amor, dá a primeira lição aos discípulos: a salvação anuncia-se, ou melhor, comunica-se através da atenção prestada àquela mulher doente. Mas, se a primeira lição foi dada por Jesus, a segunda deu-a a sogra de Simão: a da gratidão que se faz serviço. «Levantou-se e começou a servi-los». É bom que os idosos cultivem a responsabilidade de servir, vencendo a tentação de ficar de lado. O Senhor não os descarta, mas restitui-lhes as forças para continuarem a servir. Se os anciãos, em vez de ser descartados e dispensados de intervir nos acontecimentos que marcam a vida da comunidade, fossem colocados no centro da atenção coletiva, sentir-se-iam encorajados a exercer o ministério da gratidão a Deus, que não Se esquece de ninguém. Esta gratidão das pessoas idosas pelos dons recebidos restitui à comunidade a alegria da convivência e confirma a fé no seu destino último.
Catequese 15) Pedro e João
Resumo da catequese do Santo Padre: Escutamos na leitura de São João, um comovente diálogo entre Jesus e Pedro, no qual transparece todo o amor de Jesus pelos seus discípulos que permite uma conversa sem rodeios, forte e livre. A dado momento, Jesus lembra a Pedro o tempo da sua juventude quando era autossuficiente, para lhe revelar que, quando for mais velho, já não será tão senhor de si e da sua vida. Na verdade, a velhice traz as marcas da fragilidade: começa-se a depender mais dos outros, até mesmo para se vestir e caminhar. São circunstâncias novas que dão à vivência da fé as feições da debilidade. Nessa altura permanece válido o convite: «tu segue-Me». O seguimento de Jesus deverá deixar-se instruir e moldar pela fragilidade, pela dependência dos outros. Claro, este novo tempo é também um tempo de provação. A começar pela tentação de manter o nosso protagonismo. «E ele?», diz Pedro, vendo o discípulo amado, que os seguia. A resposta de Jesus é franca e desabrida: «Que te importa? Tu segue-Me». Bela lição! Os idosos não deverão ter inveja dos jovens que percorrem o seu caminho, que ocupam o seu lugar, que lhes sobrevivem. A parte melhor da vida dos idosos, que nunca mais lhes será tirada, há de ser este seguimento forçadamente inativo, mas feito de comovida contemplação e extasiada escuta da Palavra do Senhor.