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Uma Jovem Católica

Sou uma jovem esposa e mãe católica portuguesa. Neste blog partilho a minha caminhada em busca da santidade e o meu encontro com o amor misericordioso do Senhor. Espero que ele vos possa ajudar a encontrar a alegria do Evangelho!

Uma Jovem Católica

Sou uma jovem esposa e mãe católica portuguesa. Neste blog partilho a minha caminhada em busca da santidade e o meu encontro com o amor misericordioso do Senhor. Espero que ele vos possa ajudar a encontrar a alegria do Evangelho!

A "Passagem" do Amor

Queridos leitores, queridos amigos

Começo a pensar que digo o mesmo todos os anos (apesar de ainda só ter vivo 6 Quaresmas na minha vida), mas digo-vos com toda a sinceridade que a Quaresma deste ano tem sido, sem qualquer sombra de dúvida, a Quaresma mais difícil e excruciante de que me lembro de viver ... As razões são mais que muitas, as consequências e implicações, então, são ainda mais numerosas. Mas a causa ... a causa é só uma, vim eu a descobrir - o meu orgulho, a minha soberba.

 

Ao ler algumas reflexões de outras pessoas sobre esta Quaresma, tão particular e única, notei que muitas partilhavam o quanto esta Quaresma lhes ensinou a ouvir - a voz do Senhor e a voz dos irmãos. Bem, para mim, tendo sido uma Quaresma que me tem ensinado não só a ouvir mas também a ver ... eu, que tão, tão cega andava ... À semelhança do cego de Betsaida, que Jesus chama de parte, tomando-o pela mão para longe da cidade, para aí conversar com ele e curá-lo através da graça que provém da Palavra da Sua boca... 

Chegaram a Betsaida e trouxeram-lhe um cego, pedindo-lhe que o tocasse. Jesus tomou-o pela mão e conduziu-o para fora da aldeia. Deitou-lhe saliva nos olhos, impôs-lhe as mãos e perguntou: «Vês alguma coisa?». Ele ergueu os olhos e respondeu: «Vejo os homens; vejo-os como árvores a andar». Em seguida, Jesus impôs-lhe outra vez as mãos sobre os olhos, ele começou a ver e ficou curado. 

Mc 8,23-25

 

Sei que este ano a Igreja nos chama a ler o Evangelho de São Mateus, mas eu tenho sentido uma necessidade inexplicável de ler o Evangelho de São João e é sobre algumas passagens deste Evangelho que gostava de ir partilhando convosco ao longo destes dias - talvez sejam umas reflexões um pouco soltas e um pouco atrasadas em relação ao programa litúrgico, eu sei, mas sei também que para a graça actuante do Senhor não existe tarde demais ... 

 

Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que chegara a Sua hora de passar deste mundo para o Pai, Ele, que amara os Seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim.

Jo 13,1

A festa judaica da Páscoa celebrava a saída e libertação do povo hebraico das terras do Egipto, passando da condição de escravos para filhos livres do Senhor. Agora - sim, agora - em que vivemos o pleno cumprimento de todas as Escrituras através de Jesus, é chegada a hora da "passagem" de Jesus, a hora do amor "até ao fim". Realmente, se pensarmos bem, o amor é um processo de transformação, em que cada um é chamado a sair de si mesmo e dos seus limites humanos, para chegar até ao ente amado, ao irmão, ao Senhor. Para amarmos como Jesus, é preciso estarmos dispostos a fazer - e a sofrer, sim, porque dói - esta passagem, esta transformação...

Para que o amor pelo irmão e pelo Senhor cresça no nosso coração (e na nossa vida), é preciso fazer espaço, é preciso criar espaço dentro dos nossos corações. Como? Pois, essa é a parte dolorosa, porque a resposta é só uma - esvaziando-nos de nós próprios, esvaziando-nos do amor que temos por nós próprios, despojando-nos do nosso querer, do nosso egoísmo ...

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Imagem retirada daqui

Jesus, sabendo que saíra de Deus e para Deus voltava, levantou-Se da mesa, tirou o manto e tomou uma toalha, que pôs à cintura. Depois, deitou água numa bacia e começou a lavar os pés aos discípulos e a enxugá-los com a toalha que pusera à cintura.

Jo 13, 3-5

Chegou a "hora" de Jesus, a hora do amor, perfeito, total, profundo, radical; chegou a hora de passar deste mundo para o Pai. Como vive Jesus essa hora de passagem, de mudança? Em pleno serviço, em pleno despojamento de Si mesmo ... 

Por amor à ovelha perdida e presa no pecado, por amor a mim, por amor a ti, Jesus saiu de junto de Deus Pai, e desceu até nós, assumindo a nossa condição humana. Nisto consiste o amor - sair de nós mesmos para alcançar o outro que amamos, descendo o que for preciso, abaixando-nos, humilhando-nos, até chegarmos junto do ser amado. 

Num gesto completamente contrário ao de Adão no jardim do Éden (e à minha própria acção, diária, aliás, inúmeras vezes ao longo do dia...), que tentou apoderar-se do que era divino pela sua própria vontade e através das suas próprias forças, Jesus esvazia-se de Si mesmo, colocando-se na posição de escravo e servo; retirando o Seu manto, despojando-se de todo o Seu esplendor divino; Jesus ajoelha-se diante de cada um de nós, lavando e enxugando os nossos pés sujos ... 

Jesus desceu do Céu, de certa forma, sozinho. Mas já não regressará para junto de Deus Pai sozinho. Levar-nos-á, a todos, com Ele, para o Céu, para o Reino de amor que Deus tanto anseia por nos oferecer - para todo o sempre!