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Uma Jovem Católica

Sou uma jovem esposa e mãe católica portuguesa. Neste blog partilho a minha caminhada em busca da santidade e o meu encontro com o amor misericordioso do Senhor. Espero que ele vos possa ajudar a encontrar a alegria do Evangelho!

Uma Jovem Católica

Sou uma jovem esposa e mãe católica portuguesa. Neste blog partilho a minha caminhada em busca da santidade e o meu encontro com o amor misericordioso do Senhor. Espero que ele vos possa ajudar a encontrar a alegria do Evangelho!

Compreendendo o Antigo Testamento (parte 1)

Num post anterior, em que partilhei convosco algumas dicas para ler e estudar a Bíblia, falei-vos acerca da importância de aprofundarmos o nosso conhecimento acerca do Antigo Testamento. No site da Alexandria Católica descobri 2 livros maravilhosos que nos ensinam a compreender o pensamento e a escrita dos judeus da época do Antigo Testamento: Para entender o Antigo Testamento e Páginas Difíceis da Bíblia - que eu comecei a ler no ano passado.

 

E se nesta Quaresma se dedicassem a compreender melhor os livros do Antigo Testamento?

Aceitam o desafio?

 

Neste sentido, pensei em ir partilhando convosco algumas citações destes 2 livros, de modo a suscitar o vosso interesse para os irem ler na íntegra ;)

Introdução

"O Antigo Testamento inicia-se com a declaração de que Deus «criou do nada todas as coisas». Portanto, «tudo o que não é Deus, vem de Deus». 

É realmente difícil, para não dizer impossível, esgotar o alcance doutrinal e vital desta afirmação, não obstante, tão simples. As criaturas visíveis, em cada fibra de seu ser, em cada fase de seu operar, nas suas atitudes, provêm totalmente de Deus (...) A palavra de Deus tudo cria, a bênção de Deus tudo fecunda. Por isso, no universo tudo é belo, tudo é bom (...). 

O espetáculo da imensidão e da complexidade do universo (...) submete o homem bíblico à adoração, à admiração, ao louvor, à gratidão para com o Criador. "

 

"Páginas Difíceis da Bíblia" da autoria de E. Galbiati e A. Piazza, 1959

 

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 Imagem retirada daqui 

Tema da Sagrada Escritura 

"A Bíblia, em última análise, trata de um só objecto - as disposições da Providência em vista da salvação do homem. Apresenta-nos em suas fases sucessivas (...) o mistério de um Deus que desce até ao homem, para elevar o homem ao consórcio de Deus.

Tal descida não é só uma vinda (...) tem um carácter de adaptação da Majestade do Criador aos moldes pequeninos do pensamento e da vida da criatura.

Essa descida de Deus ao homem é também o mistério de um Amor que, embora soberano e independente, se quer dar, derramando o bem sobre os homens, mas que é, de diversos modos, mal entendido e rejeitado - não obstante, mostra-se invencível na arte de procurar o homem ingrato."

 

Escrever na Antiguidade

"Escrever era difícil na Antiguidade: o material (papiro ou pergaminho) era raro, exigia muito tempo e grande habilidade por parte do autor. Em consequência, o magistério se exercia quase unicamente por palavra viva." 

 

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Imagem retirada daqui

 

Conceito de livro inspirado por Deus

(texto com algumas adaptações minhas)

 

O conceito real de um livro inspirado pelo Altíssimo é diferente daquele que a maioria dos cristãos tem. Os hagiógrafos não entravam "em transe", escrevendo palavra por palavra todo o ditado que Deus mandava, como uns robots telecomandados. Deus sugeria-lhes ideias e pensamentos - mas quem escrevia eram homens simples, dentro do seu contexto cultural e social, com a sua forma de escrever própria, largamente influenciada por tudo o que se fazia e como se fazia e como se entendia as palavras naquela altura. Na Antiguidade, havia uma forma de falar, de contar e de entender, muito diferente da nossa actual.

Não nos devemos admirar que:

- a Escritura se assemelhe a outras obras profanas da altura

- com as hipóteses de acréscimos ou interpolações feitas ao longo dos séculos

- nem com a não veracidade exacta de partes do seu conteúdo

 

Alguns profetas escreveram profecias acerca de Jesus, que nem para eles devem ter feito sentido. Mas a maior parte não era assim - só escreviam acerca do passado e do presente que conheciam.

De facto, muitas proposições estão segundo os moldes usuais que eram utilizados entre os homens da Antiguidade.

 

Se a Bíblia fosse um ditado meramente mecânico, o livro estaria emancipado de vestígios da personalidade do autor humano. (...) Deus, pela inspiração, ilumina a inteligência do hagiógrafo,  para que este,  com a lucidez do próprio Deus, compreenda tais e tais verdades e as transmita aos leitores.

A inspiração faz que, com a clarividência de Deus, o hagiógrafo examine a veracidade das noções que ele tem na sua mente, as escolha e formule de modo a se tornarem a expressão fiel dos pensamentos do Altíssimo

- pode não implicar directamente novos conhecimentos, mas sim uma maior certeza (do próprio Deus) acerca das verdades já conhecidas

- a inspiração bíblica suscita o hagiógrafo a escrever

- suscitando-a, porém, eleva-a a um plano superior, a fim de que produza um efeito não simplesmente humano, mas humano e divino

 

Deus penetra todas as capacidades e faculdades do escritor (inteligência, vontade, potências executivas) e percorre, simultaneamente com este, as etapas necessárias para a redacção dum livro, de modo que a obra daí resultante não apenas contém a Palavra de Deus, mas é a Palavra de Deus, que tomou a face, a veste, de palavra do homem.

 

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Imagem retirada daqui

As ideias ensinadas pela obra provêm primariamente de Deus, o Autor principal; todavia a forma literária, a veste, que serve para exprimir tais ideias, é condicionada pelo hagiógrafo - fica subordinada à educação e às categorias culturais dum escritor humano.

 

Assim, as afirmações da Sagrada Escritura só gozam da absoluta veracidade da Palavra de Deus quando entendidas no mesmo sentido que o hagiógrafo, seu porta-voz humano, lhe queria atribuir.

 

Com efeito, na Escritura depreendem-se os vestígios característicos de um homem de cultura esmerada e de trato nobre, como Isaías, um dos ilustres cidadãos de Jerusalém no séc. VIII a.C.; 

as impressões de um homem dos campos, dum simples pastor, como Amós;

as de um temperamento muito sensível e vibrante, como o de Jeremias;

os cálculos harmoniosos e simétricos dum cobrador de impostos, com afecto pelos números, como São Mateus;

a vivacidade de um jovem fogoso, pouco preocupado com o estilo, como São Marcos;

a terminologia e a firmeza de espírito dum médico de formação helenista, como São Lucas. 

 

"Para entender o Antigo Testamento" da autoria de D. Estêvão Bettencourt, 1956

 

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