Meditando na parábola do trigo e do joio
Tenho andado a passar por um período de insónias e, assim, a Bíblia tem-me acompanhado ainda mais do que o costume. Nestes dias, a Igreja tem-nos levado a meditar em diversas parábolas de Jesus, transmitidas até aos dias de hoje através do Evangelho segundo São Mateus.
Afastando-se, então, das multidões, Jesus foi para casa. E os seus discípulos, aproximando-se Dele, disseram-Lhe: «Explica-nos a parábola do joio no campo.» (Mt 13,36)
Também eu, na solidão do meu quarto, longe das confusões e preocupações que me enchem os dias, me tento aproximar de Jesus, pedindo-Lhe incessantemente: Senhor, explica-me ...
«O Reino do Céu é comparável a um homem que semeou boa semente no seu campo. Ora, enquanto os seus homens dormiam, veio o inimigo, semeou joio no meio do trigo e afastou-se. Quando a haste cresceu e deu fruto, apareceu também o joio.
Os servos do dono da casa foram ter com ele e disseram-lhe: 'Senhor, não semeaste boa semente no teu campo? Donde vem, pois, o joio?'
'Foi algum inimigo meu que fez isto' - respondeu ele.
Disseram-lhe os servos: 'Queres que vamos arrancá-lo?'
Ele respondeu: 'Não, para que não suceda que, ao apanhardes o joio, arranqueis o trigo ao mesmo tempo. Deixai um e outro crescer juntos, até à ceifa; e, na altura da ceifa, direi aos ceifeiros: Apanhai primeiro o joio e atai-o em feixes para ser queimado; e recolhei o trigo no meu celeiro.'» (Mt 13, 24-30)
Estarei eu atenta aquilo que vai crescendo dentro de mim, no campo que o Senhor semeou, no meu coração, na minha vida?
As sementes do Senhor são abundantes e numerosas. Como é que eu as tenho recebido? Como as tenho nutrido? Estarei a ter o cuidado de continuamente enriquecer o solo do meu campo, com a virtude da humildade (que tem origem na palavra "humus" - solo), ou estarei eu a deixar que ele se endureça de orgulho?
Que tipo de sementes tenho eu permitido que criem raízes em mim? Sementes geradoras de vida, de trigo frutuoso, de trigo que se deixe arrancar e moer, para assim se tornar farinha e depois pão, a fim de dar vida aqueles que me rodeiam? Ou serão sementes ocas e vazias, que apenas ocupam espaço e tempo, impedindo que as boas sementes cresçam e se desenvolvam em pleno esplendor?
Contudo, é necessário aprender a esperar pelo tempo certo do Senhor. Se me deparar com algo que me pareça joio na minha vida, posso, num acto colérico, querer arrancá-lo imediatamente e assim tratar do assunto (à minha maneira, claro). Mas a verdade é que eu percebo pouco de "agricultura" ... saberei eu distinguir, realmente, o trigo do joio? Não, o Senhor não deseja que nenhum trigo se perca ou seja arrancado precocemente; e eu sei, por experiência, que percebo muito pouco de "agricultura" ... Na minha ânsia, posso estar a arrancar de forma irremediável algo que, na verdade, seja bom e traga o bem. É preciso ter paciência e esperar pela ordem interior que o Senhor nos dá - "Sim, é agora, é isso mesmo" ou "Não, ainda não, espera Marisa ...".
Pior ainda - posso cair na tentação de querer ir arrancar aquilo que me parece joio na vida do outro que me rodeia. Deixa-me que "te ajude", penso eu. Ah, que tentação frequente ... Não, apenas ao Senhor, e unicamente a Ele, pertence a ceifa e a colheita ...