Por causa dum Sim, veio o Natal
"O Natal é quando o homem quiser!"
Não me recordo a primeira vez que ouvi esta velha expressão mas sei que a tenho ouvido vezes e vezes e vezes sem conta. Oiço-a na rua, nas lojas, no hospital, nas reuniões de família.... Alguém (usualmente eu) deseja "um feliz Natal" e a outra pessoa responde, numa voz cheia de sarcasmo e amargura - "Natal? Natal é quando o homem quiser!"
Apetece-me sempre responder de volta - "Ora, isso querias tu!"
Não, o Natal NÃO é quando o homem quiser....
Nas palavras do nosso novo sr. padre - o Natal foi quando Deus quis e uma mulher aceitou e disse que sim.
Natal foi quando Jesus voluntariamente se propôs vir à Terra.
Natal foi quando Ele atravessou o enormíssimo abismo do pecado (que nós próprios criámos) e que nos separava do amor de Deus.
O Natal foi uma das maiores expressões de humildade, que nunca ninguém se tinha atrevido sequer a pensar ser possível: Deus Todo Poderoso, Criador do Céu e da Terra, Aquele a quem nada falta, que tudo tem, que tudo pode - esse mesmo Deus, desejou encarnar, verdadeiramente, na nossa própria natureza humana, frágil e dependente.... e, escândalo dos escândalos, apenas depois de pedir o consentimento a uma jovem virgem.
Que grande é este mistério!
Já S. Luís Maria de Montfort, no seu Tratado, nos tinha tentado exprimir este mistério:
"Maria, não sendo mais que uma criatura saída das mãos do Altíssimo, (...) não sendo nada em comparação com a Sua Majestade infinita" e sendo " (...) o Senhor sempre independente e bastando-se a Si mesmo, (Ele) não teve nem tem absoluta necessidade da Santíssima Virgem para o cumprimento dos seus desígnios" (TVD 14)
Jesus podia ter vindo à Terra e ter-se tornado homem de qualquer maneira que Ele quisesse. Podia ter surgido, já homem adulto, do nada! Mas não.... Ele quis pedir a participação voluntária a Nossa Senhora, assumindo a condição dum ser tão indefeso como um bebé.
"O Espírito Santo quer servir-se dela, embora disso não tenha uma necessidade absoluta, para produzir nela e por ela Jesus Cristo." (TVD 21)
"Ó admirável e incompreensível dependência de um Deus!" (TVD 18)
Nossa Senhora podia ter dito que não. Ela era livre para escolher. Ela podia ter duvidado. Mas não - como reflectimos num post anterior, ela tentou logo compreender como tal podia acontecer.
Parem um momento e reflictam bem no valor do sacrifício deste sim: Maria, uma jovem mulher (numa sociedade onde as mulheres eram maioritariamente vistas como mercadorias de troca entre famílias), uma virgem noiva, às portas do seu casamento.... aceita tornar-se mãe, sem compreender bem como nem porquê, esquecendo todos os seus planos de vida, aceitando o risco de ser repudiada por S. José e pela sua própria família, aceitando o risco de ser apedrejada até à morte por um suposto crime de adultério...
Maria, simples e humildemente, aceita. Livremente ela aceita tudo. Aceita completamente. Ela doa-se na sua totalidade, tudo para Deus...
Sim, como é grande este mistério!
O Natal aconteceu uma vez; mas os seus efeitos e implicações são eternos.
A Igreja estabeleceu um período de 4 semanas (a que chamou Advento) para prepararmos os nossos corações e as nossas vidas, a fim de, durante as 2 semanas seguintes, pudéssemos reflectir e traduzir em acções concretas na nossa vida, as inúmeras graças e os mistérios que envolvem o início da nossa Salvação.
Mas não permaneçamos no que aconteceu ontem; no tempo do Natal devemos olhar para o hoje e para o futuro, preparando-nos, com alguma pressa e urgência, para a segunda e definitiva vinda de Jesus - não sabemos quando será mas o Senhor pediu-nos, em diversas vezes, para que estivéssemos sempre prontos e preparados.
Essa é que devia ser a nossa principal pressa... e não no trânsito, nas filas, na compra das prendas (e agora na troca das prendas e nos saldos).
Há tanta coisa para fazer, tanta coisa para preparar - vá, comecemos agora mesmo! Rezem comigo uma Avé Maria e um Nós, Jesus - e aqui vamos nós! Juntos!