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Uma Jovem Católica

Sou uma jovem esposa e mãe católica portuguesa. Neste blog partilho a minha caminhada em busca da santidade e o meu encontro com o amor misericordioso do Senhor. Espero que ele vos possa ajudar a encontrar a alegria do Evangelho!

Uma Jovem Católica

Sou uma jovem esposa e mãe católica portuguesa. Neste blog partilho a minha caminhada em busca da santidade e o meu encontro com o amor misericordioso do Senhor. Espero que ele vos possa ajudar a encontrar a alegria do Evangelho!

Caminho de Emaús - um convite

Hoje queria lançar-vos um convite: uma caminhada pela Bíblia ao ritmo duma verdadeira caravana. 

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Já estão abertas as inscrições no site das Famílias de Caná, para a 2ª edição do curso bíblico online "Caminho de Emaús". Serão 20 sessões, uma vez por semana, às quartas-feiras das 21h às 22h, via Zoom, a começar no dia 1 de Março de 2023 e com previsão de terminar em Julho de 2023. Iremos percorrer as Sagradas Escrituras duma ponta à outra, conhecendo cada vez mais e melhor esta história de amor de Deus com o Seu povo, com cada um de nós, com cada uma das nossas famílias. A Teresa Power falar-nos-á de 7 grandes temas presentes em toda a Bíblia: a Aliança, o Templo, o Cordeiro de Deus, o Pão da Vida e o Vinho da Salvação, o Matrimónio Espiritual, Maria, a Benção e a Maldição e, por fim, na Missa. 

Só precisam duma Bíblia e dum coração sedento pelo Senhor! Encontramo-nos lá? 

Encontros com Jesus - 4. A sogra de Simão Pedro

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Saindo da sinagoga, [Jesus foi] para casa de Simão e André, com Tiago e João. A sogra de Simão estava de cama com febre, e logo Lhe falaram dela. Aproximando-Se, tomou-a pela mão e levantou-a. A febre deixou-a e ela começou a servi-los. (Mc 1, 31)

Lembram-se da última vez em que ficaram de cama com febre? Do quão irritáveis ficaram, do quanto a cabeça doía e pesava, do quanto cada parte do corpo doía e pesava, da inquietação permanente, da dificuldade em encontrar uma posição confortável que nos satisfaça porque nenhuma nos parece boa, sem ter forças ou vontade de fazer o quer que seja …

À semelhança do que nos acontece quando estamos doentes, quando estamos sob o domínio duma febre ou doença “espiritual”, presos no nosso pecado, também nós nos sentimos sempre irritáveis, desconfortáveis como se nunca nada estivesse bem, inquietos, insatisfeitos, sem ter forças ou vontade de fazer o quer que seja ...

Para outras meditações: Canal Sede Sal, Sede Luz

Encontros com Jesus - 2. Isabel, a mãe de S. João Baptista

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Sempre que passo por uma altura na minha vida, em que Deus me pede para esperar por algo, o Senhor sabe que eu preciso de conhecer e meditar em histórias de vida que me inspirem a levar avante o meu combate diário pela virtude da paciência e da humildade. E assim, um dia, Deus falou-me ao coração através da história de Isabel, prima da Virgem Maria, esposa do sacerdote Zacarias e mãe de João Baptista. Isabel promete ser alguém muito especial, ou não fosse ela logo chamada, juntamente com o seu marido, como sendo «justa diante de Deus» (Lc 1,6), um título apenas atribuído também a São José ... 

Para outras meditações: Canal Sede Sal, Sede Luz

Única e insubstituível ....

Já não sei quantas vezes li o primeiro capítulo do livro do Genésis (dez? quinze vezes?), que nos relata a belíssima história, cheia de poesia e de simbolismo, da criação do mundo e do homem, a maior maravilha que Deus alguma vez podia ter criado … Contudo, um dia destes, ao lê-la de novo, parecia que a estava ler pela primeira vez, tal foi a admiração, o encanto e deslumbramento daquilo que “li”, pela graça do Espírito Santo …

 

Será que nos apercebemos, realmente, o quanto Deus nos desejou e amou, desde o princípio do mundo?

Será que nos apercebemos, realmente, de todo o cuidado, carinho e amor Deus colocou ao desenhar cada pequena característica de cada um de nós?

Será que nos apercebemos, realmente, do quanto cada um de nós é especialmente único e insubstituível? Não apenas em relação às nossas características, mas também a nível do nosso papel absolutamente irrepetível, excepcional, único, no belo e imenso divino plano, que Deus sonhou para toda a humanidade, por toda a eternidade?

 

Ouçam então comigo - o nosso grande e eterno Amado a falar-nos ao coração ….

 

“No princípio, quando Deus criou os céus e a terra, a terra era informe e vazia, as trevas cobriam o abismo” Gn 1,1-2

 

Quando Eu pensei num mundo sem ti, oh como era profunda a escuridão que o envolvia, como a terra era informe e vazia …

 

“Deus disse: «Reúnam-se as águas que estão debaixo dos céus, num único lugar, a fim de aparecer a terra seca.» E assim aconteceu.” Gn 1,9

 

Quando Eu pensei num mundo sem ti, os Céus começaram a chorar, de tal maneira que os oceanos nasceram ….

 

Não, de modo nenhum! Um mundo sem ti não era possível existir …

 

“Deus disse: «Faça-se a luz.» E a luz foi feita.” Gn 1,3

 

Ao som do teu nome, Eu criei a luz que apenas a tua alma podia conter, o reflexo da Minha luz que apenas à tua alma pertence, que apenas tu podes reflectir desta forma …

 

“Depois, Deus disse: «Façamos o ser humano à nossa imagem, à nossa semelhança (…) Deus criou o ser humano à sua imagem, criou-o à imagem de Deus; Ele os criou homem e mulher.” Gn 1,26-27

 

Eu te criei, única, irrepetível – nunca ninguém foi como tu, nunca ninguém será.

A história da tua alma, única, irrepetível, tem uma importância inigualável na história deste mundo, por toda a eternidade …

 

“Deus, vendo toda a Sua obra, considerou-a muito boa.” Gn 1,31

 

Quando Eu completei a Minha obra – tu – em toda a tua beleza, complexidade e profundidade … não podia haver mais palavras para descrever o Meu êxtase …

 

“Assim foram terminados os céus e a Terra e todo o seu conjunto. Concluída, no sétimo dia, toda a obra que tinha feito, Deus repousou, no sétimo dia, de todo o trabalho por Ele realizado.” Gn 2,1

 

A tua alma, minha Amada, é o sabat que eu escolhi para repousar …

 

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Mas isto ainda não era o suficiente – o Meu amor não conhece fim, é eterno, infinito, imensurável, interminável e jamais poderá mudar …

 

Quando Eu pensei num Céu sem ti, por causa do teu pecado… não, não, NÂO! Eu não poderia suportar a dor de te perder!...

Então Eu enviei até ti o Meu Filho, como prova e sacrifício do Meu infinito amor, de forma a garantir que, se tu assim aceitares, possas viver Comigo em comunhão do mais puro amor para sempre …

 

Queridos amigos, alegrem-se comigo: o Senhor abençoou-me abundantemente, oferecendo-me hoje o início do meu 25º ano de vida nesta terra!

Que, pela Sua graça, eu passe cada momento do próximo ano a espalhar esta Boa-Nova: Deus amou-nos de tal forma que nos enviou o Seu Filho para nos salvar da corrupção destruidora do pecado, a fim de nos unir a Ele, em pura comunhão de amor, para todo o sempre! Amén!

Compreendendo o Antigo Testamento (parte 2)

Como seguimento do post anterior, deixo-vos mais algumas citações do livro Para entender o Antigo Testamento de D. Estêvão Bettencourt - de forma a suscitar o vosso interesse para o irem ler na íntegra e aprofundarem o vosso conhecimento acerca do Antigo Testamento.

 

Género literário

"Conjunto de regras de estilo e vocabulário que os homens de determinada época ou região costumavam observar quando queriam escrever sobre certo tema.

(...) Em suma, dir-se-á: todas as vezes que uma antiga sentença exegética seja comprovada falsa à luz das ciências modernas, reconheça-se que o erro estava contido, não na Sagrada Escritura, mas na interpretação que os homens davam à esta. "

 

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Imagem retirada daqui

 

Principais características de pensamento e linguagem dos autores bíblicos

"Os oradores eram escritores (...) que visavam despertar impressões vivas nos seus ouvintes e leitores. Procuravam transmitir da maneira mais penetrante possível um estado de alma. Isto faz com que uma página de literatura semita seja impregnada de movimento, variedade de pessoas e coisas que se sucedem com realismo; emoções e afectos diversos a perpassam (...) O semita recorria frequentemente a gestos, às pausas, aos artifícios da entoação da voz. O falar dos antigos judeus terá sido exuberante, teatral (...) dada a sua vivacidade, o israelita era muito dado às expressões fortes, hiperbólicas ou contrastantes."

 

  • Hipérbole muito ousada é a do rei Benadad da Síria que, desejando chamar a atenção para o seu numeroso exército, exclamava:

"Tratem-me os deuses com todo o rigor, se o pó da Samaria for suficiente

para encher as mãos dos guerreiros que me seguem"

1 Reis 20,10

 

  • Hiperbólicas são também as expressões "a terra inteira, todos os povos" que, certamente, se referem a certas regiões ou nações apenas.

Presente em Gn 41,54 e 57;  Dt 2,25  ; 2 Cron 20,29;   Atos 2,5

 

  • Visando distinguir entre "amar mais" e "amar menos", o judeu empregava os termos "amar" simplesmente e "odiar", a fim de que a oposição mais se evidenciasse 

"Jesus disse: «Se alguém vem a Mim e não odeia

pai, mãe, esposa, filhos, irmãos e irmãs, até mesmo a própria vida,

não pode ser meu discípulo"

Lc 14,26

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Imagem retirada daqui

  • Em vez de dizer "tomar posse, dominar", o judeu às vezes preferia a expressão "lançar a sandália sobre...", que lembrava o gesto concreto ou o cerimonial da tomada de posse 

"Sobre Edom lançarei a minha sandália,

Sobre a terra dos filisteus cantarei o meu triunfo"

Salmo 60,10

Ver também - Dt 25,9 e Jos 10,24 e Rute 4,7

 

  • A expressão "sentir-se feliz, alegre" podia ser substituída pelos dizeres "ter a alma saciada de gordura", visto a gordura ser sinal de suficiência e plenitude.

"A minha alma será saciada de gordura e de medula

E os meus lábios alegres prorromperá o teu louvor"

Salmo 63,9

 

  • Quando alguém se julgava "em perigo de vida", dizia concretamente que "trazia a sua alma nas mãos", já que "ter nas mãos" é a atitude que imediatamente precede a entrega. 

"Minha alma está sempre em minhas mãos,

Mas não me esqueço da Tua Lei" 

Salmo 119,109

Ver também - Juízes 12,3 e Job 13,14

 

  • "Expor a própria vida" ou "estar decidido a morrer" era equivalente a "tomar a própria carne entre os dentes", ou seja, morder-se 

"Tomo a minha carne entre os meus dentes

Coloco a minha vida em minhas mãos"

Job 13,14

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Imagem retirada daqui

  • A ideia abstrata de posse ou de largueza, liberalidade, era expressa pelo termo concreto "mão", já que a mão é a parte do nosso corpo que directamente apreende ou distribui. Assim lê-se em

"Se a sua mão não atingir o valor de uma ovelha"

Lev 5,7

o que quer dizer, "Se as suas posses não lhe permitirem comprar uma ovelha"

 

  • Lê-se também 

"O rei Salomão deu à rainha de Sabá tudo o que ela desejava.... como a mão do rei Salomão"

1 Reis 10,13

isto é, "de acordo com a opulência de um rei tal como Salomão" 

 

  • Lê-se igualmente que

"A porção de Benjamin era cinco mãos mais abundante que as porções de todos eles (seus irmãos)"

Gn 43,34

frase em que "cinco mãos" significa "cinco vezes" 

 

  • A figura de linguagem "mão curta" ou "encurtada" designava frugalidade em dar

"A mão do Senhor seria curta demais? Verás sem demora se acontecerá ou não o que te disse!"

Num 11,23

falava Javé ao anunciar as codornizes do deserto

"Não, a mão do Senhor não é curta para salvar"

Isaías 59,1

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Imagem retirada daqui

  • "Poder, força" era um conceito expresso pelo vocabulário "chifre", pois é neste que parece residir a força de muitos animais.

"Deus é meu escudo e o chifre da minha salvação"

Salmo 18,3

(=força que me salva)

"Abaterei todos os chifres dos malvados

E os chifres dos justos serão exaltados"

Salmo 75,11

 

  • A ideia da fraqueza humana (tanto moral como física) era expressa pelos termos "carne, poeira e cinzas"

Ver    Is 31,3    Gen 18,27   Jó 30,19

 

  • A fortaleza era associada à ideia de montanha ou rochedo. Por isso

"Javé é a minha montanha, é o meu rochedo" Salmo 17,3

no qual o homem se abriga encontrando amparo

Ver também Salmo 18,15 e 61,3-8

 

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Imagem retirada daqui

  • A beleza e o encanto eram significados por símbolos muito materiais - a descrição do Esposo, no Cântico dos Cânticos 5,10-16, realça 3 características/qualidades: 

. Fortaleza e virilidade - comparação dos seus membros com peças de ouro, mármore e marfim ou com os imponentes cedros do Líbano

. Graça e beleza masculina - menção de cores, elementos aromáticos ou doces (flores e árvores)

. Pureza e fidelidade - traduzidas pelas imagens da pomba, da água e do leite

 

  • Também no Cântico dos Cânticos a figura da Esposa é caracterizada por:

. Beleza feminina - sinais de flores, palmas, objectos perfumados ou doces

. Seu encanto e pureza - comparada com uma pomba

. Fecundidade - à semelhança dos cereais e animais domésticos

 

  • A índole agradável, aceitável, de uma oferta feita a Deus era simbolizada pelo imaginário perfume da oferenda

"Noé construiu um altar para o Senhor, ofereceu holocaustos e o Senhor sentiu o seu agradável odor"

Gn 8,20-21

Ver também 1 Sam 26,19 e Ap 5,8

 

  • "Homem e animais" equivalem a "todos os seres vivos"

"O rei da Babilónia virá arruinar este país, exterminando os seus homens e animais."

Jer 36,29

Presente também Jer 50,3

 

  • "Homens e mulheres, crianças e anciãos" significava "todos os habitantes, toda a população"

Passaram ao fio da es­pada todos quanto nela encontraram, ho­mens e mulheres, crianças e velhos, e os bois, as ove­lhas e os jumentos.

Jos 6,21

Também presente em Jer 51,22

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Imagem retirada daqui

  • "Alma e carne" designava "homem inteiro"
  • "Céu e a terra" significava todo o Universo

 

  • "Sair e entrar" servia para exprimir toda a actividade de um indivíduo, até mesmo as tarefas de administração régia

Moisés dirigiu estas palavras a todo o Israel: 

«Tenho cento e vinte anos; já não posso sair e entrar».

Dt 31,2     

Ver também 2 Cron 1,10     1 Sam 18     13,16      29,6    2 Sam 3,25

3 Reis 3,7    15,17     4 Reis 11,8     19,27     Is 37,28    Ez 43,11     

Salmo 120,8    Jo 10,9     At 1,21    9,28

 

"Para entender o Antigo Testamento" da autoria de D. Estêvão Bettencourt, 1956

 

Compreendendo o Antigo Testamento (parte 1)

Num post anterior, em que partilhei convosco algumas dicas para ler e estudar a Bíblia, falei-vos acerca da importância de aprofundarmos o nosso conhecimento acerca do Antigo Testamento. No site da Alexandria Católica descobri 2 livros maravilhosos que nos ensinam a compreender o pensamento e a escrita dos judeus da época do Antigo Testamento: Para entender o Antigo Testamento e Páginas Difíceis da Bíblia - que eu comecei a ler no ano passado.

 

E se nesta Quaresma se dedicassem a compreender melhor os livros do Antigo Testamento?

Aceitam o desafio?

 

Neste sentido, pensei em ir partilhando convosco algumas citações destes 2 livros, de modo a suscitar o vosso interesse para os irem ler na íntegra ;)

Introdução

"O Antigo Testamento inicia-se com a declaração de que Deus «criou do nada todas as coisas». Portanto, «tudo o que não é Deus, vem de Deus». 

É realmente difícil, para não dizer impossível, esgotar o alcance doutrinal e vital desta afirmação, não obstante, tão simples. As criaturas visíveis, em cada fibra de seu ser, em cada fase de seu operar, nas suas atitudes, provêm totalmente de Deus (...) A palavra de Deus tudo cria, a bênção de Deus tudo fecunda. Por isso, no universo tudo é belo, tudo é bom (...). 

O espetáculo da imensidão e da complexidade do universo (...) submete o homem bíblico à adoração, à admiração, ao louvor, à gratidão para com o Criador. "

 

"Páginas Difíceis da Bíblia" da autoria de E. Galbiati e A. Piazza, 1959

 

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 Imagem retirada daqui 

Tema da Sagrada Escritura 

"A Bíblia, em última análise, trata de um só objecto - as disposições da Providência em vista da salvação do homem. Apresenta-nos em suas fases sucessivas (...) o mistério de um Deus que desce até ao homem, para elevar o homem ao consórcio de Deus.

Tal descida não é só uma vinda (...) tem um carácter de adaptação da Majestade do Criador aos moldes pequeninos do pensamento e da vida da criatura.

Essa descida de Deus ao homem é também o mistério de um Amor que, embora soberano e independente, se quer dar, derramando o bem sobre os homens, mas que é, de diversos modos, mal entendido e rejeitado - não obstante, mostra-se invencível na arte de procurar o homem ingrato."

 

Escrever na Antiguidade

"Escrever era difícil na Antiguidade: o material (papiro ou pergaminho) era raro, exigia muito tempo e grande habilidade por parte do autor. Em consequência, o magistério se exercia quase unicamente por palavra viva." 

 

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Imagem retirada daqui

 

Conceito de livro inspirado por Deus

(texto com algumas adaptações minhas)

 

O conceito real de um livro inspirado pelo Altíssimo é diferente daquele que a maioria dos cristãos tem. Os hagiógrafos não entravam "em transe", escrevendo palavra por palavra todo o ditado que Deus mandava, como uns robots telecomandados. Deus sugeria-lhes ideias e pensamentos - mas quem escrevia eram homens simples, dentro do seu contexto cultural e social, com a sua forma de escrever própria, largamente influenciada por tudo o que se fazia e como se fazia e como se entendia as palavras naquela altura. Na Antiguidade, havia uma forma de falar, de contar e de entender, muito diferente da nossa actual.

Não nos devemos admirar que:

- a Escritura se assemelhe a outras obras profanas da altura

- com as hipóteses de acréscimos ou interpolações feitas ao longo dos séculos

- nem com a não veracidade exacta de partes do seu conteúdo

 

Alguns profetas escreveram profecias acerca de Jesus, que nem para eles devem ter feito sentido. Mas a maior parte não era assim - só escreviam acerca do passado e do presente que conheciam.

De facto, muitas proposições estão segundo os moldes usuais que eram utilizados entre os homens da Antiguidade.

 

Se a Bíblia fosse um ditado meramente mecânico, o livro estaria emancipado de vestígios da personalidade do autor humano. (...) Deus, pela inspiração, ilumina a inteligência do hagiógrafo,  para que este,  com a lucidez do próprio Deus, compreenda tais e tais verdades e as transmita aos leitores.

A inspiração faz que, com a clarividência de Deus, o hagiógrafo examine a veracidade das noções que ele tem na sua mente, as escolha e formule de modo a se tornarem a expressão fiel dos pensamentos do Altíssimo

- pode não implicar directamente novos conhecimentos, mas sim uma maior certeza (do próprio Deus) acerca das verdades já conhecidas

- a inspiração bíblica suscita o hagiógrafo a escrever

- suscitando-a, porém, eleva-a a um plano superior, a fim de que produza um efeito não simplesmente humano, mas humano e divino

 

Deus penetra todas as capacidades e faculdades do escritor (inteligência, vontade, potências executivas) e percorre, simultaneamente com este, as etapas necessárias para a redacção dum livro, de modo que a obra daí resultante não apenas contém a Palavra de Deus, mas é a Palavra de Deus, que tomou a face, a veste, de palavra do homem.

 

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Imagem retirada daqui

As ideias ensinadas pela obra provêm primariamente de Deus, o Autor principal; todavia a forma literária, a veste, que serve para exprimir tais ideias, é condicionada pelo hagiógrafo - fica subordinada à educação e às categorias culturais dum escritor humano.

 

Assim, as afirmações da Sagrada Escritura só gozam da absoluta veracidade da Palavra de Deus quando entendidas no mesmo sentido que o hagiógrafo, seu porta-voz humano, lhe queria atribuir.

 

Com efeito, na Escritura depreendem-se os vestígios característicos de um homem de cultura esmerada e de trato nobre, como Isaías, um dos ilustres cidadãos de Jerusalém no séc. VIII a.C.; 

as impressões de um homem dos campos, dum simples pastor, como Amós;

as de um temperamento muito sensível e vibrante, como o de Jeremias;

os cálculos harmoniosos e simétricos dum cobrador de impostos, com afecto pelos números, como São Mateus;

a vivacidade de um jovem fogoso, pouco preocupado com o estilo, como São Marcos;

a terminologia e a firmeza de espírito dum médico de formação helenista, como São Lucas. 

 

"Para entender o Antigo Testamento" da autoria de D. Estêvão Bettencourt, 1956

 

Dicas para ler e estudar a Bíblia

Entre 2014 e 2015, eu escrevi alguns posts acerca do Plano de Leitura da Bíblia que na altura tinha decidido seguir, com o objectivo de ler a Bíblia, duma ponta à outra, no espaço de um ano. Sei que muitas pessoas descobriram este blog exactamente por terem andado à procura dum plano de leitura bíblico que incluisse os 73 livros da Bíblia Católica (em vez dos 66 das bíblias protestantes) - algo que é bastante dificil de encontrar....

 

Eu segui, mais ou menos, o plano que tinha delineado e sem dúvida que aquela decisão foi muito importante, tanto na minha relação com Deus, como com a Igreja. Mas hoje, queria partilhar convosco algumas sugestões e alguns tópicos para ponderarem antes de se aventurarem numa primeira grande leitura da Bíblia... principalmente para aqueles que nunca leram a Bíblia antes ...

 

Eu penso, com toda a sinceridade, que é preferível (e mais sábio) seguirem as leituras da missa diária, durante um ano inteiro, do que começarem logo por um plano de leitura da Bíblia. Por exemplo, através do site do Evangelho Quotidianopodem receber todos os dias no vosso email as leituras da missa diária, associada a um pequeno comentário a essa leitura, comentário esse que pode ser da autoria dum santo, dum papa ou de algum documento da Igreja Católica (como do Catecismo). É através deste site/aplicação que eu leio, todos os dias, ao pequeno-almoço, as leituras da missa diária (uma vez que não consigo ter disponibilidade para participar na Eucaristia durante a semana - que é obviamente a melhor opção). 

Esta é, acredito eu, a melhor forma de compreenderem a interligação existente entre o Antigo e o Novo Testamento; entre aquilo que Deus tinha já tentado dizer aos judeus, mas que eles não perceberam na totalidade, e que portanto Jesus veio esclarecer; também descobrirão coisas que os judeus tinham compreendido correctamente, mas que já se tinham .... esquecido, ou dado menor importância, e que Cristo veio (re)afirmar e (re)validar. E os comentários às leituras que a equipa do Evangelho Quotidiano escolhe são sempre, sempre, sempre maravilhosos, edificantes e inspiradores!

 

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Se, ainda assim, pretenderem ler e, principalmente, estudar a Biblia, tenho algumas dicas para partilhar convosco:

 

Comprem uma boa Bíblia - procurem uma Bíblia que tenha uma boa tradução, mas que inclua também muitos comentários e explicações.  A melhor Bíblia em português que conheço é dos Capucinhos (que podem ler online aqui) - é simplesmente fantástica! 

 

- Estudem acompanhados dum bom guia de estudo o melhor site de estudo bíblico católico que eu conheço (e que eu uso frequentemente) é o Agape Bible Study. Outro site muitíssimo bom é o St. Paul Center, onde podem encontrar guias de estudo em formato de texto ou então de vídeo

 

- Aprofundem o vosso conhecimento acerca do Antigo Testamento - no site da Alexandria Católica podem encontrar 2 livros maravilhosos, que nos ensinam a compreender o pensamento e a escrita dos judeus da época do Antigo Testamento: Para entender o Antigo Testamento e Páginas Difíceis da Bíblia 

 

Já começaram a planear a Quaresma? Ela está quase aí! E que tal oferecerem mais um pouquinho do vosso dia a Deus? Se deixarem de lado o Facebook, o Instagram ou a Blogosfera de certeza que terão tempo. Deixem que Deus vos fale, directamente ao coração, através da Sua palavra, todos os dias!

 

Quantos quilómetros andaram Maria e Jesus ao longo das suas vidas?

É engraçado que eu tenha passado da "menina com medo de conduzir" para aquela que mais quilómetros faz de carro por dia aqui em casa. Há 2 anos que faço (e continuarei a fazer este ano também) quase 80 km por dia, cerca de 1 hora e meia a conduzir, para ir e vir do Hospital de Setúbal. Deus é realmente curioso ...

Mas, se ao início custava um pouquinho - tanto tempo, tantos quilómetros, tantos carros, tanto trânsito, tanta confusão - hoje, já quase nem dou pelo tempo passar e Setúbal parece que é já ali. E, além disso, passar tanto tempo sozinha, dá-me a oportunidade de rezar o Terço no caminho para o trabalho e de fazer muitas outras orações e meditações no caminho de volta para casa. Que bênção tem sido!

 

Um dia destes, ao meditar no 2º Mistério Gozoso - a visitação de Nossa Senhora à sua prima Santa Isabel - dei comigo a pensar quantos quilómetros seriam e quanto tempo demoraria a ir de Nazaré, da casa de Maria, até Jerusalém (onde algures seria a casa de Isabel). E este pensamento depressa escalou - quantos quilómetros seriam de Belém a Jerusalém, e daí ao Egipto .... quanto tempo demoraria? e... 

 

Claro que fui procurar respostas na internet na primeira oportunidade que tive!

Encontrei um óptimo artigo - em inglês, escrito por um pastor protestante que aparentemente dedicou a sua vida a percorrer o globo inteiro, a pé, de terra em terra, de país em país, a fim de propagar a mensagem do Evangelho. Ainda assim, é um artigo que eu recomendo todos a lerem - é muito comprido, é verdade, mas ensina-nos muitas coisas acerca de como era a vida no tempo de Jesus, em especial, acerca das suas deslocações e das suas viagens.

É com base neste artigo que escrevo o texto de hoje (principalmente para saber as distâncias entre as cidades). É preciso ter em atenção que o autor desse artigo é Protestante e que, portanto, os seus cálculos e informações não têm em conta aquilo que a Tradição da Igreja Católica nos transmite que realmente aconteceu (que eu explicarei mais à frente).

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Imagem retirada daqui

 

O meio de transporte mais usado no tempo de Jesus era, admirem-se, andar a pé!

Quem podia, viajava sobre um burro ou usava uma carroça para transportar cargas mais pesadas, mas a maior parte das viagens, e pensando especialmente no caso da Sagrada Família, eram feitas a pé. Naquela altura, os romanos ainda não tinham construído muitas estradas em Israel e assim, a maior parte dos caminhos ainda eram muito rudes e agrestes. Um percurso entre Nazaré e Belém envolvia passar por zonas montanhosas, vales, rios, zonas de deserto e até regiões mais selvagens e com poucas casas. Imaginem dias e dias a andar, sob diversas temperaturas - muito calor durante o dia e frio durante a noite. Imaginem a poeira e a sujidade. Imaginem o cansaço.... É verdade, existiam pousadas e outros locais, como celeiros e grutas, que se podiam alugar para passar a noite - mas nas zonas mais desertas, às vezes a única hipótese era montar uma tenda ou dormir ao relento. Também não havia casas de banho, nem banheiras para tomar um banho quentinho, nem restaurantes com a comida pronta. E os perigos eram abundantes, desde animais selvagens a ladrões escondidos ao longo do caminho. Eram dias difíceis na estrada, e uma viagem nunca era encarada de ânimo leve ...

 

Proponho-vos tentarmos fazer uma estimativa de quantas viagens e de quantos quilómetros percorreram Nossa Senhora e Jesus ao longo das suas vidas, com base nas informações que a Bíblia nos fornece, associadas às da Tradição da Igreja Católica (e por causa deste ponto, os meus cálculos vão ser diferentes dos cálculos do artigo que vos mencionei). Comecemos com Nossa Senhora!

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Mapa de Israel no tempo de Jesus - eu sinalizei a amarelo os locais das cidades mais importantes para os nossos cálculos.

É um óptimo mapa, aproveitem-no para localizarem outras cidades por onde Jesus passou - Caná, Bethsaida, Cesareia ...

 

Quanto andou Nossa Senhora ao longo da sua vida?

 

Maria terá nascido em Nazaré e, segundo a Tradição, terá sido entregue ao Templo de Jerusalém por volta dos 2-3 anos idade. Sendo ainda tão pequena, vou supor que alguém, a mãe ou o pai, a terá levado ao colo na maior parte da viagem, e portanto não vou incluir esta primeira viagem nos meus cálculos.

Maria terá ficado a viver no Templo de Jerusalém até aos seus 14-15 anos, altura em que terá voltado para Nazaré, tendo ficado noiva de São José. São Lucas diz-nos explicitamente que a anunciação do anjo Gabriel a Nossa Senhora ocorreu em Nazaré (Lc 1,26-27) - uma pequena cidade no norte de Israel, na região da Galileia, como podem observar no mapa. Uma viagem de Jerusalém até Nazaré (como vou explicar mais à frente) são cerca de 190 km. Considerando que uma pessoa possa andar cerca de 30km por dia, uma viagem de Jerusalém a Nazaré constituía cerca de 5-6 dias de viagem.

Logo após a Anunciação, Nossa Senhora parte, já grávida, em viagem até à casa da sua prima Isabel, a poucos quilómetros a sul da cidade de Jerusalém. Esta viagem de ida e volta até à casa de Isabel e Zacarias são cerca 390km (um total de 13 dias de viagem).

Já casada com São José, grávida de Jesus, Maria viaja novamente até Belém, para o recenseamento romano. De Nazaré até Belém são cerca de 210km. Ou seja, sabemos que Nossa Senhora andou, pelo menos, 600km grávida! Absolutamente impressionante .... 

Maria e José terão ficado a viver em Belém durante algum tempo após o nascimento de Jesus, mas foram até Jerusalém uma vez para a apresentação do Menino no Templo e uma segunda vez, 40 dias depois do parto, para a purificação ritual de Maria - o que constitui 4 viagens de 10 km, ou seja, mais 40km.

jose e maria viajam.jpg

 Imagem retirada daqui

De Belém, após um sonho de São José, partiram com o Menino para o Egipto - numa viagem de, pelo menos, 563km, ou seja, quase 19 dias até chegarem ao Egipto. Por aí ficaram a viver, escondidos, até ao dia em que José teve um novo sonho e finalmente puderam voltar para casa, em Nazaré. Do Egipto até Nazaré, utilizando a estrada mais curta, que segue o mar Mediterrâneo, são pelo menos 645 km, ou seja, quase 22 dias a caminhar com a "casa às costas"!

Tentam retomar a sua vida em Nazaré, tendo Jesus cerca de 3-5 anos. Maria viverá em Nazaré, pelo menos, até aos 30 anos de Jesus, quando Ele começa a pregar acerca do Reino de Deus.

O livro do Êxodo indica claramente que:

"Todos os homens deverão apresentar-se três vezes por ano, diante do Senhor, Deus de Israel." Êxodo 34,23

Ou seja, qualquer judeu devoto ía, pelo menos, três vezes por ano a Jerusalém, ao Templo do Senhor, celebrar as 3 maiores festas judaicas - a Páscoa, a Festa das Semanas e a Festa das Tendas ou dos Tabernáculos. Apesar disso, sabe-se que as famílias que viviam mais longe de Jerusalém, como poderá ter sido o caso da Sagrada Família em Nazaré (a quase 200km de Jerusalém), iam até ao Templo apenas na Páscoa (a celebração mais importante do ano inteiro). 

Assim, Maria terá acompanhado São José e Jesus, pelo menos, uma vez por ano até Jerusalém, ou seja, 386km de ida e volta durante 25 a 27 anos, o que dá um total de cerca 10.000km.

Durante os 3 anos do ministério de Jesus, Maria tê-lo-á acompanhado a Jerusalém todos os anos, sendo que na 3ª e última vez, Jesus foi crucificado (ou seja, 2 viagens de ida e volta de Jerusalém + 1 ida a Jerusalém = 965km). Também sabemos que Maria estava presente nas bodas de Caná (ida e volta de Nazaré a Caná são cerca de 19 km). E sabemos também que Maria esteve presente, pelo menos uma vez, em Cafarnaum (ida e volta de Nazaré a Cafarnaum são cerca 96km).

 

Tudo isto somado, dá um total de, pelo menos, 13.118km percorridos ao longo de 47 anos de vida de Nossa Senhora (até à morte de Jesus), ou seja, mais de 437 dias em viagem (o que constitui 1 ano e 2 meses).

 

Impressionante não?

Agora passemos a Jesus.

 

Quanto andou Jesus ao longo da sua vida?

 

Jesus era muito pequeno na altura da fuga de São José e de Nossa Senhora para o Egipto. Assim, começo os meus cálculos pela viagem de volta do Egipto até Nazaré, altura em que Jesus já teria entre 3 e 5 anos, e portanto, faria a maior parte da viagem a pé (pelo menos 645 km, ou seja, quase 22 dias na estrada).

Vou considerar que Jesus terá acompanhado São José nas três idas por ano ao Templo de Jerusalém, como o livro do Êxodo diz. Ou seja, até aos 30 anos de vida, Jesus terá realizado, pelo menos, 30.000km (só em viagens de ida e volta de Jerusalém) ou seja, cerca de 1.000 dias a caminhar. 

Um pormenor importante é que a distância exacta, em linha recta, entre Cafarnaum, Nazaré e Jerusalém são cerca de 144km. Contudo, para fazerem essa viagem, os judeus teriam de atravessar o território da Samaria; como havia uma rivalidade com os samaritanos, os judeus da Galileia seguiam sempre um percurso que contornava a Samaria. Além disso, este percurso, apesar de mais longo (193km), era mais fácil de atravessar (não era por terrenos tão montanhosos como seria pela Samaria) e era o que a maior parte dos judeus seguia. Eu assinalei-o no mapa para compreenderem melhor:

Mapa de Israel adaptado.jpg

 Mapa de Israel no tempo de Jesus (adaptado)

Durante os 3 anos do Ministério de Jesus, o Evangelho de São João indica-nos que Jesus esteve em Jerusalém:

  • pelo menos uma vez, para a Festa das Tendas (Jo 7,2)
  • pelo menos uma vez, na Festa da Dedicação do Templo (Jo 10,22)
  • pelo menos três vezes durante a Páscoa dos judeus (Jo 2,13 e 5,1 e 12,12)

O que dá um total de, pelo menos, cinco viagens da Galileia a Jerusalém durante esses 3 anos (3.669km). Se considerarmos ainda as outras viagens que nos são relatadas nos Evangelhos, por exemplo, as bodas em Caná, o baptismo no rio Jordão, a estadia em Cafarnaum na casa de Pedro .... totaliza-se (segundo o artigo que vos mencionei) 5.029km durante esses 3 anos de pregação (168 dias em viagem).

 

Tudo isto somado, dá um total de, pelo menos, 34.640km percorridos ao longo dos 33 anos de vida de Jesus, ou seja, mais de 1.155 dias em viagem (o que constitui mais de 3 anos e 2 meses).

 

Ainda mais impressionante, não é?

Não há um dia que passe, sem eu me admirar e espantar mais e mais, acerca de Jesus e da sua família!

 

Acho que não voltarei a refilar acerca das minhas inúmeras viagens, no conforto do meu querido carrinho ...  

 

Este texto não pretende ser um artigo científico, nem um estudo exacto - eu quis apenas fazer uma estimativa acerca de quantos quilómetros fizeram cada elemento da Sagrada Família e de quantos dias em viagem que passaram, a fim de compreender melhor as suas vidas...