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Uma Jovem Católica

Sou uma jovem esposa e mãe católica portuguesa. Neste blog partilho a minha caminhada em busca da santidade e o meu encontro com o amor misericordioso do Senhor. Espero que ele vos possa ajudar a encontrar a alegria do Evangelho!

Uma Jovem Católica

Sou uma jovem esposa e mãe católica portuguesa. Neste blog partilho a minha caminhada em busca da santidade e o meu encontro com o amor misericordioso do Senhor. Espero que ele vos possa ajudar a encontrar a alegria do Evangelho!

Abraão: o caminho errado e o caminho certo

Houve fome naquela terra. Como a miséria era grande, Abrão desceu ao Egipto para aí viver algum tempo. Quando já estavam quase a entrar no Egipto, Abrão disse a Sarai, sua mulher: «Ouve, sei que és uma mulher de belo aspecto. Quando os egípcios te virem, dirão: ‘É a mulher dele.‘ E matar-me-ão e a ti conservarão a vida. Diz, pois, que és minha irmã, peço-te, a fim de que eu seja bem tratado por causa de ti, e salve a minha vida, graças a ti.» (Gn 12, 10-13)

Acho que não deve existir ninguém neste mundo que tenha facilidade em admitir os próprios erros. Ainda mais, se esses erros forem bastante sérios e tiverem consequências graves, como colocar em causa a segurança de toda a nossa família.

Abrão toma a decisão de levar toda a sua família para o Egipto, aparentemente, sem rezar primeiro sobre o assunto, sem tentar compreender a vontade ou os caminhos do Senhor, sem Lhe perguntar o que deve fazer. Talvez tenha havido um ou mais anos de colheitas difíceis e escassas, de pouca reprodução dos seus rebanhos, de tempo sempre seco e quente, inóspito e infecundo. De qualquer das formas, Abrão vê-se rodeado de dificuldades, fica ansioso e com medo, e toma uma decisão precipitada e não desejada pelo Senhor. 

Como podemos saber que esta decisão não era da vontade do Senhor? Porque, para a realizar e justificar, Abrão vê-se "obrigado" a pecar, vê-se forçado a ser desonesto para manter a sua decisão. Os caminhos do Senhor favorecem sempre o crescimento das virtudes em nós. Os nossos caminhos, pelo contrário, tendem a favorecer um ciclo perpetuante de pecado atrás de pecado ... Abrão não mente, é verdade; Sarai, sua esposa, era realmente também sua meia-irmã, filha do mesmo pai mas de uma mãe diferente da de Abrão. Era habitual, naquela altura, que meios-irmãos se casassem, para que a família ou a tribo se conservasse e crescesse. 

Mas Abrão, em vez de actuar como chefe protector da sua família, está disposto a pecar ele próprio e a levar a sua esposa a pecar também, pedindo a Sarai que seja desonesta e que esconda uma parte importante da verdade. Na ânsia de executar os seus planos e sonhos, Abrão coloca Sarai em risco, ao permitir que esta pudesse ser livremente chamada a apresentar-se na corte do Faraó ...

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Imagem da autoria de George Hawke, traduzida e adaptada por mim

Mas, apesar dos nossos erros e dos nossos pecados, por mais pequenos ou por mais graves que sejam, o Senhor, que é rico em misericórdia, consegue sempre trazer frutos, consegue sempre trazer o bem, apesar do mal criado por nós. Apesar da sua errada decisão, Deus, na Sua infinita bondade, faz com que o Egipto se torne num local de refúgio para Abrão.

Ali, no Egipto, Abrão aperceber-se-á do seu erro e do seu pecado. Ali, no Egipto, ele voltará a encontrar-se com Deus, recordará as Suas promessas e a sua fé continuará a crescer. Ali, no Egipto, Abrão fortalecer-se-á, para depois ter a coragem de voltar para Canaã e explorar as terras que, apesar de agora estarem ocupadas por outros povos, um dia serão suas e da sua descendência - assim lhe prometeu o Senhor do Universo. 

Esta Fé, a cada dia maior, pela progressiva relação de intimidade entre o Senhor e Abrão, que o Senhor incentiva e que Abrão luta por manter, é particularmente visível no episódio da separação de Lot.

A terra não era bastante grande para nela se estabelecerem os dois, porque os bens de ambos eram avultados. Houve questões entre os pastores dos rebanhos de Abrão e os pastores dos rebanhos de Lot.
Então Abrão disse a Lot: «Peço-te que entre nós e entre os nossos pastores não haja conflitos, pois somos irmãos. 
Aí tens essa região toda diante de ti. Separemo-nos. Se fores para a esquerda, irei para a direita; se fores para a direita, irei para a esquerda.» (Gn 13, 6-9)

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Imagem retirada daqui

Às vezes ponho-me a pensar que, à semelhança das crianças pequenas, todos temos um "ursinho de peluche", uma "fraldinha", uma "chucha", algo do qual não abdicamos e à qual nos agarramos, com unhas e dentes, em momentos de insegurança, de medo, de desconhecimento quanto ao futuro. Esses "ursinhos" ou "fraldinhas" pode ser o nosso cônjuge, os nossos pais, os nossos filhos, ou então pode ser a nossa carreira, as nossas capacidades, um talento especial, algo pelo qual somos conhecidos, o nosso estatuto na paróquia, ou pode ser a nossa casa, as nossas condições socio-económicas, a cidade em que sempre vivemos, a paz e tranquilidade da nossa vida pacata, o conforto da nossa rotina, a segurança da nossa vida bem planeada ... 

O sobrinho Lot era, permitam-me que o diga assim, o "ursinho de peluche" na vida de Abrão. "Ofereço-Te tudo Senhor, estou disposto a abdicar de tudo, tudo! Só não me tires o Lot, Senhor, que eu tanto amo ..." 

Se, com a morte do seu pai Tera em Harã, foi quebrado o vínculo de Abrão com a sua vida anterior, antes de conhecer o amor do Deus Único, a presença de Lot na sua vida era, por assim dizer, a representação dos últimos fios, das últimas fibras, que ligavam Abrão ao seu passado. Um passado conhecido e, por isso, enganadoramente seguro.

Abrão tem aqui uma bela oportunidade para demonstrar a sua experiência de vida, já adquirida por meio de erros e pecados. Ele, não só está disposto a separar-se de Lot, desapegando-se assim de toda a sua segurança anterior, como ainda o permite escolher a melhor parte daquela imensa terra que o Senhor lhe prometeu - a ele, Abrão, e não a Lot. 

Ah, agora sim Abrão - agora, estás a aprender a ser humilde, como Eu, e a abandonares-te a Mim e ao Meu amor ... 

Depois de Lot o ter deixado, Deus disse a Abrão: «Ergue os teus olhos e, do sítio em que estás, contempla o norte, o sul, o oriente e o ocidente. Toda a terra que estás a ver, dar-ta-ei, a ti e aos teus descendentes, para sempre. Farei que a tua descendência seja numerosa como o pó da terra, de modo que só se alguém puder contar o pó da terra é que a tua posteridade poderá ser contada. Levanta-te, percorre esta terra em todas as direcções, porque Eu ta darei.» (Gn 13, 14-17)

Ser capaz de abdicar de Lot representou para Abrão um importante marco na sua caminhada de Fé. Na verdade, as provas de Fé a que o Senhor nos chama, ao longo da nossa vida, não existem para que mostremos a Deus, e aos outros, como é grande e valente a nossa Fé. Servem, sim, para que nós próprios nos apercebamos de quantas maravilhas o Senhor é capaz de fazer em nós e através de nós, apesar da nossa pequenez e fragilidade.

Louvado seja Deus!

O começo da caminhada de Fé de Abraão - e da nossa!

Este post começa com um suspiro. Saído bem de dentro da minha alma. Caramba Marisa, outra vez?

Cada vez mais noto que peco por falta de Fé. A minha confiança nas promessas do Senhor flutua continuamente e a minha resposta ao Seu chamamento diário é inconstante e vacilante. As dificuldades no caminho, por mais pequenas que sejam, tornam-me insegura, fazem-me duvidar com facilidade e, muitas vezes, pecar por falta de Fé.

Oh, como gostava de ser como tal e tal santo, ou como esta e a outra figura da Bíblia, com uma Fé sempre crescente, estável, inabalável ... Eles eram todos assim, não é, firmes, constantes e inalteráveis na sua Fé, enquanto eu pareço sempre ser flutuante e instável ... Não é?

Bem ... não, Marisa. Nem por isso. Nem sempre. Nem todos.

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Imagem retirada daqui

No outro dia, ao preparar a catequese para o meu grupo do 5ºvolume, pus-me a ler com atenção a história do Abraão. Ia lendo, capítulo a capítulo, tentando conhecer com pormenor a história da sua vida, para depois a ensinar aos meninos. Eis então que me apercebo de algo: eu não (re)conheço este Abrão! 

Sempre tive tendência em pensar nesta personagem como Abraão, o nosso Pai na Fé, com uma das Fés mais fortes e resilientes da história do Cristianismo, sempre confiante nas promessas do Senhor, por mais impossíveis que elas parecessem à primeira vista. Mas, aquilo que eu ia lendo transmitiu-me, pela primeira vez na minha vida, uma imagem diferente.

O Abrão que eu lia tinha dúvidas, nem sempre acreditava nas palavras do Senhor, pecava inúmeras vezes, tomava decisões erradas, oscilava entre demonstrações de grande Fé e manifestações de medo e de tentativa de controlo do futuro com as próprias mãos e pelos próprios meios ... O Abrão que lia parecia-se, bem, comigo! E sei que contigo também. Parecia-se, aliás, connosco e com as nossas vidas de Fé flutuante. 

Apercebi-me, nesse dia, que sempre tinha pensado nesta personagem como Abraão - o santo, o "produto finalizado" pelas obras e graças do Senhor - e não tanto como Abrão - o simples homem que ouviu o chamamento do Senhor e se deixou enamorar por Ele - que foi a sua factual identidade na maior parte da sua vida. Senão vejamos ...

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Imagem da autoria de George Hawke, traduzida e adaptada por mim

Abrão tinha 75 anos quando Deus lhe falou ao coração pela primeira vez na vida (e eu que por vezes lamento ter tido uma conversão tardia). Foram 75 anos a viver como os seus antepassados, como pastores nómadas, sem rumo, sem um local para chamarem casa ou terra sua, sem pertença, sem vínculo. Mas, um dia, Abrão ouve uma voz, diferente de todas as outras, que o chama para Si: "Vem Comigo e Eu mostrar-te-ei a tua casa, o local onde pertences, a terra que Eu preparei para ti. Vem Comigo e Eu satisfarei todos os teus desejos e anseios mais profundos e íntimos. Vem Comigo, caminha Comigo, dá-Me a tua mão e deixa-te guiar por Mim, e viverás uma vida de bênçãos e graças, como nunca imaginaste ser possível ..."

Abraão não é o único "sortudo" a quem o Senhor diz e promete algo assim. Ele também o tenta dizer a mim e a ti, a cada um de nós, seus filhos tão amados. Aceitaremos parar para O escutar, como o fez Abrão? Estaremos dispostos a aceitar esta "intromissão" do Senhor nas nossas vidas, que revira os nossos planos e interesses, e nos convida a uma vida nova? Aceitaremos, tu e eu, o Seu desafio de amor?

abraao poe-se a caminho da terra prometida - Cópi

Imagem retirada daqui

Abrão responde a este primeiro chamamento da parte do Senhor e parte de Ur dos Caldeus, trazendo consigo Sarai, sua esposa, Lot, seu sobrinho, e Tera, seu pai, assim como todos os seus pertences e rebanhos (literalmente com a casa às costas!). Mas a sua Fé ainda é pequena, apesar de crescer a cada dia, e não o leva até muito longe.

Abrão pára em Harã (ou Haran), a cerca de 950km de distância de Ur dos Caldeus, a meio caminho da Terra Prometida, e começa a assentar o seu arraial, como se dissesse ao Senhor: "Olha, aqui parece-me um bom sítio, não achas? Já vim até longe o suficiente, não é? Aqui está bom. Acho que já chega de viagens, ficamos por aqui..."

Oh, quantas vezes tenho eu tido também esta atitude, à semelhança de Abrão, ao longo da minha vida?

 

A felicidade eterna que Deus nos promete, se nos confiarmos à Sua palavra e aos Seus desígnios, raramente será encontrada na razoabilidade. Deus não sabe amar assim, só o "suficiente". Nem nos chama a amar assim. É preciso dar tudo, para assim tudo receber das Suas mãos. 

O pai de Abrão, Tera, morre precisamente em Harã. A ligação mais carnal e visceral de Abrão com o seu passado é, assim, quebrada, perdida. Isto serviu-lhe de sinal, para que compreendesse que estava na altura de continuar o caminho. 

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Imagem retirada daqui

O Senhor disse a Abrão: «Deixa a tua terra, a tua família e a casa do teu pai, e vai para a terra que Eu te indicar. Farei de ti um grande povo, abençoar-te-ei, engrandecerei o teu nome e serás uma fonte de bênçãos.» (Gn 12, 1-2)

Num momento de dor, Abrão volta-se para o Senhor e deixa-se confortar por Ele. Deus é o amigo que está sempre disponível para nos ouvir, para nos confortar, para nos apoiar, como Abrão descobrirá ao longo da sua longa vida. Há um novo diálogo íntimo entre Deus e Abrão, que volta a fazer crescer a sua Fé e a confiança nas promessas do Senhor. Desta vez, já é capaz de fazer todo o caminho até à Terra Prometida, em Canaã, a 1700 km de distância de Ur dos Caldeus. 

 

Em Canaã, voltam a surgir dificuldades, o que parece abalar novamente a Fé de Abrão, colocando-o com dúvidas e receios. Ele apercebe-se que a Terra Prometida já se encontra ocupada por um povo forte e guerreiro, o povo cananeu. E, além disso, surge uma grande fome naquela região. Quase que o oiço dizer ao Senhor: "Não era suposto teres-me prometido uma terra que eu pudesse chamar minha? E uma terra abençoada por Ti, rica e farta e saciante? Então, de onde vêem tantas dificuldades?"

A fuga para o Egipto antecipa, sem Abrão se aperceber, a fuga dos seus descendentes - Jacob, seu neto, José e os seus 11 irmãos, seus bisnetos, e das suas famílias - que acontecerá anos mais tarde, como irá ser contada nos últimos capítulos do livro do Génesis. Desta forma, Abrão mostra-nos, pela primeira vez na Bíblia, como o Egipto é uma terra que oferece refúgio e crescimento, tal como fará várias vezes ao longo da história do povo numeroso que está prestes a ser formado pela Fé crescente, apesar de vacilante, de Abrão.