Sou uma jovem esposa e mãe católica portuguesa. Neste blog partilho a minha caminhada em busca da santidade e o meu encontro com o amor misericordioso do Senhor. Espero que ele vos possa ajudar a encontrar a alegria do Evangelho!
Sou uma jovem esposa e mãe católica portuguesa. Neste blog partilho a minha caminhada em busca da santidade e o meu encontro com o amor misericordioso do Senhor. Espero que ele vos possa ajudar a encontrar a alegria do Evangelho!
O jovem Samuel servia o Senhor sob a direcção de Eli. O Senhor, naquele tempo, falava raras vezes e as visões não eram frequentes. Ora certo dia aconteceu que Eli estava deitado, pois os seus olhos tinham enfraquecido e mal podia ver. A lâmpada de Deus ainda não se tinha apagado e Samuel repousava no templo do Senhor, onde se encontrava a Arca de Deus. (1Sm 3,1-3)
O profeta Eli estava no final dos seus dias. Tinha sido escolhido pelo Senhor, para ser Seu profeta e sacerdote, para ensinar o povo a interpretar os sinais dos tempos e os sinais de Deus, e para servir e louvar o próprio Deus no Seu templo sagrado. Mas Eli não fez nem uma coisa, nem outra. Deixou-se corromper, permitiu que o pecado grave e mortal entrasse na sua casa, no seio da sua família, e se entranhasse no povo de Deus, o qual tinha prometido proteger, guardar e orientar. Todos sabiam dos seus pecados, dos seus maus caminhos, das suas más decisões, não só em relação a si próprio mas especialmente em relação aos seus filhos, que criou com "rédea solta", sem os educar no amor e nos caminhos do Senhor, como era seu dever de pai e chefe de família. Sem limites ou regras, e sem exemplos inspiradores, os seus filhos cresceram entregues às suas próprias paixões e desejos... e o resultado estava à vista de todos.
Mas o Senhor, ao contrário de nós, é sempre rico em misericórdia. Na verdade, a "lâmpada de Deus ainda não se tinha apagado" e continuava a dar novas oportunidades a Eli para se redimir dos seus pecados. Já na sua velhice, já com os olhos "enfraquecidos", que "mal podiam ver" a luz da Fé, o Senhor entrega nas suas mãos o cuidado pelo coração dum jovem. Este jovem, gerado não por obra do próprio Eli, mas através dum milagre do Senhor numa mulher, Ana, até então estéril, é oferecido imerecidamente a Eli para que o adoptasse como seu.
Apesar de todos os seus erros, pecados e maus caminhos, será só a partir do reconhecimento de Eli, que o jovem Samuel saberá identificar a voz de Deus na sua vida.
O Senhor chamou Samuel e ele respondeu: «Eis-me aqui.» Samuel correu para junto de Eli e disse-lhe: «Aqui estou, pois me chamaste.» Disse-lhe Eli: «Não te chamei, meu filho; volta a deitar-te.» (1 Sm 3, 3b-5)
Neste último Domingo, na sua homilia, o nosso pároco explicou-nos que este episódio da vida de Samuel poderia assemelhar-se a uma circunstância, nas nossas próprias vidas, pela qual já todos passámos: recebemos uma chamada no nosso telefone, cujo número desconhecemos, e portanto não sabemos quem é; atendemos e não conseguimos reconhecer, logo pelas primeiras palavras, quem está a falar connosco; e por fim, vemo-nos obrigados a questionar - quem está a falar?
Para podermos identificar o número que nos está a ligar, habitualmente, é necessário que já tenhamos ligado antes para esse número e que, por isso, o tenhamos guardado na memória do nosso telefone associado a um nome. Mas, para reconhecermos, imediatamente, a voz de quem nos fala, é preciso haver vários diálogos prévios, é preciso haver intimidade, é preciso haver uma história com aquela pessoa. Só assim podemos reconhecê-la imediatamente: Sim, sei exactamente de quem é esta voz!
O Senhor voltou a chamar Samuel. Samuel levantou-se, foi ter com Eli e disse: «Aqui estou, porque me chamaste». Eli respondeu: «Não te chamei, meu filho; torna a deitar-te». Samuel ainda não conhecia o Senhor, porque, até então, nunca se lhe tinha manifestado a palavra do Senhor. (1Sm 3,6)
Por três vezes Samuel é chamado pelo Senhor; por três vezes Samuel acorda do seu sono, tranquilo e sereno, sem refilar nem resmungar; por três vezes Samuel aceita levantar-se da sua cama, quentinha e confortável como a nossa; por três vezes atravessa o templo do Senhor, correndo com santa pressa, para ir ter com Eli que ele julgava que o tinha chamado; por três vezes apresenta-se junto de Eli e comunica-lhe a vontade do seu coração: "Eis-me aqui. Aqui estou. Chamaste-me e eu vim. E vim para fazer a tua vontade".
Às vezes, como sabem que é o meu hábito, ponho-me a imaginar como seria este episódio se fosse eu no lugar do pequeno Samuel. Seria certamente algo como: "O Senhor chamou a Marisa a meio da noite. E das duas uma: ou ela nem sequer acordou; ou então, acordou, refilou - Hã? Que foi? Isto são horas? - virou-se para o outro lado e voltou a adormecer. No dia seguinte, ao pequeno-almoço, a Marisa continuou a resmungar pela interrupção inconveniente dessa mesma noite - E tu nunca mais me faças uma dessas, hã?"
O Senhor chamou Samuel pela terceira vez. Ele levantou-se, foi ter com Eli e disse: «Aqui estou, porque me chamaste». Então Eli compreendeu que era o Senhor que chamava pelo jovem. Disse Eli a Samuel: «Vai deitar-te; e, se te chamarem outra vez, responde: "Falai, Senhor, que o vosso servo escuta"». Samuel voltou para o seu lugar e deitou-se. O Senhor veio, aproximou-Se e chamou como das outras vezes: «Samuel, Samuel!». E Samuel respondeu: «Falai, Senhor, que o vosso servo escuta». (1 Sm 3, 6-10)
Fora de brincadeiras.
Ao ler esta passagem no Domingo passado, a minha atenção ficou presa nestas últimas palavras: "O Senhor veio, aproximou-Se e chamou como das outras vezes". O escritor sagrado constrói uma frase com 3 verbos - "veio", "aproximou-Se" e "chamou", à semelhança da actuação do jovem Samuel, também ela constituída por 3 etapas: "levanta-se", "vai ter com" e "diz". Não me parece ser ao acaso essa construção gramatical.
Deus veioaté nós, como ainda há pouco celebrávamos no tempo de Natal, para que nos possamos levantar, pela Sua graça e força. Deus aproximou-Sede nós, meras criaturas humanas, decaídas e perdidas no nosso pecado, para que pudéssemos iniciar o caminho que nos levará, um dia, até junto d'Ele, para que fosse possível irmos ter com Ele. Por fim, o Senhor chamou-nos, dizendo: "Vocês são os Meus filhos muito amados. Venham, deixem-se amar por Mim!"
E Ele continua a chamar-nos, uma, duas, três vezes, as que forem precisas e necessárias. Ele nunca Se cansará de nos chamar; nós é que muitas e muitas vezes nos cansamos de Lhe responder, de O ouvir, de O escutar, de seguir a Sua voz, de nos apresentar-nos ao serviço a que Ele nos chama. É preciso fazer como as crianças e aprender a ter um coração jovem como o delas: pedir, pedir, pedir sem cessar a graça para responder ao Senhor; convidar-nos uns a outros, uma e outra vez, vamos, vamos de novo, outra vez, outra vez!; sem refilar ou resmungar pela repetição, mas escolhendo ser alegres de coração; correndo quando necessário, com a santa pressa de fazer a vontade do Senhor no momento em que Ele nos chama e não depois, mais tarde, mais logo ... Ah, tanto a aprender!
Hoje se escutardes a voz do Senhor, não fecheis os vossos corações (Heb 3,7b-8)
Chegou - esta foi a primeira palavra que surgiu na minha mente ao acordar. A promessa do Senhor chegou, cumpriu-se, está continuamente a cumprir-se. Estou a um passo mais perto do grande dia. Chegou e continua a chegar. Eis que Ele vem. Eis que já chegou ...
Se deixar de lado as dificuldades, as limitações e as lágrimas (tudo coisas que o Senhor amorosamente me enviou na tentativa de me tornar um pouquinho mais santa), dou por mim a pensar que o ano de 2020 foi o ano das promessas cumpridas (mais uma vez) na minha vida. E tudo, por obra e graça do Senhor.
Sim, foi um ano de espera (mais uma vez), um ano para aprender a dobrar a minha vontade e a escolher a vontade do Senhor (mais uma vez), um ano com todas as possibilidades para me tornar santa (adivinhem? mais uma vez também). E essa tarefa tanto trabalho tem dado ao Senhor ...
2021 será um ano particularmente especial para mim. Irá mudar (literalmente) toda a minha vida e todo o meu futuro. Exactamente 10 anos depois da minha conversão, direi o meu Sim perpétuo (o meu Fiat, à semelhança da nossa Mãe, cuja solenidade hoje celebramos) à vocação de amor a que o Senhor me chamou.
Será um ano duma vida nova, sim, mas, também por isso, desconhecida. E o desconhecido, pelo menos a mim, mete-me medo. Tanta coisa pode acontecer, e se...? E se acontecer isto ou aquilo? E se eu não conseguir? E se eu falhar?
Sim, eu irei falhar, muitas vezes. Sim, eu não vou conseguir, muitas vezes. Mas ficará tudo bem, sim, porque Deus não falha. Deus vence sempre. Deus sustenta-nos quando não conseguirmos. Deus orientar-nos-á e guiar-nos-á quando não soubermos o caminho ou não o consigamos ver.
Desde Abraão, nosso pai na Fé, que o Senhor nos diz isto continuamente. À semelhança de Abraão, também a mim, também a ti, «o Senhor nos dirige pessoalmente a Sua Palavra» e Se revela como um Deus que é capaz de tudo, para fazermos parte da Sua família, da Sua comunhão de amor. «A Fé é a nossa resposta a esta Palavra que nos interpela».
Como a Abraão, também a mim, também a ti, «a Palavra do Senhor transmite-nos um chamamento e uma promessa». Chama-nos a «sair de nós próprios», convida a abrir-nos a uma nova vida, provoca em nós um autêntico «êxodo», desde as terras da escravatura do pecado e do amor-próprio em que nos quisemos perder, e põe-nos a caminho da Terra Prometida, a terra do amor saciante, da infinita paz de espírito e de corpo, da alegria perpétua, da eterna comunhão ...
Mas como tal será possível? Parece algo tão grande e imenso, absolutamente impossível ... Na verdade, Abraão descobre, e cada um de nós é chamado também a descobrir e a experienciar, nas situações concretas das nossas vidas, que «a Fé vê na medida em que caminha».
O Senhor chama-nos e convida-nos, nós escutamos a Sua voz, nós permitimos que Ela chegue ao nosso coração, acreditamos nas Suas promessas e tomamos o pequeno passo de nos virarmos na Sua direcção. No preciso instante deste movimento, «a Fé», transmitindo-nos a graça super-abundante do Senhor, «permite-nos ver» - o suficiente, e nada mais que isso - «para darmos o próximo passo».
E como pôde Abraão, como podemos nós, acreditar nesta Palavra, nesta promessa do Senhor? Vem, Eu estou sempre contigo! Vem, Eu sustentar-te-ei, Eu acompanhar-te-ei, Eu serei tudo para ti.
O Senhor é tão rico em provas e em promessas cumpridas, como é rico em demonstrações de amor e de misericórdia. Olhemos com atenção para a nossa vida, olhemos para a vida do povo de Israel, olhemos para a vida da nossa família, do nosso país, da nossa era. Olhemos com atenção e rapidamente veremos como o Senhor tem sido rico em provas e em demonstrações. Algumas delas serão grandes e grandiosas, outras pequenas e humildes, muitas delas serão tão íntimas que só mesmo nós conseguimos vê-las e reconhecê-las como tal.
A Fé é uma «resposta ao chamamento do Senhor», mas é também um «exercício de memória».Lembra-te Israel, lembra-te Marisa, de tudo o que o Senhor fez e continua a fazer por ti, por amor a ti... E escuta-O, porque Ele promete-te que ainda fará mais!
Não era preciso, tudo o que aconteceu já era mais do que suficiente. Mas o amor não conhece limites! O amor nunca diz chega! E por isso, o Senhor, na sua infinita Bondade, continua a querer fazer-nos mais promessas! A essência da Sua promessa é só uma - Eu amar-te-ei para sempre! - mas torna-se concreta e real hoje mesmo, nas circunstâncias da nossa vida presente.
Assim, a Fé de Abraão, a minha Fé, a tua Fé, torna-se não só uma «resposta a uma Palavra que nos precede e nos interpela», mas também um «acto de memória», de «memória duma promessa», de «memória dum futuro», e que por isso se torna capaz de «iluminar cada novo passo do nosso caminho».
E se, como a Abraão, como a mim, este convite do Senhor vos assusta, de tão grande e belo que é, não nos esqueçamos que «a Palavra de Deus, embora traga consigo novidade e surpresa, não é de forma alguma alheia à experiência» de vida de cada um de nós. «Na voz que Se lhe dirige, Abraão reconhece um apelo profundo, desde sempre inscrito no mais íntimo do seu ser».
Se a promessa do Senhor vos assusta: não temais, não tenhais medo! O medo vem sempre do Maligno e a coragem de Deus! Cada um de vós foi preparado, desde o início da Criação, e tem sido continuamente moldado para poder cumprir a promessa a que o Senhor vos chama. Ele não nos faria aspirar a algo que não nos desse a Sua graça para cumprir, já Santa Teresinha nos testemunhava.
As palavras dos homens, estas mesmo que eu escrevo, são «efémeras e passageiras», fracas em si mesmo, insuficientes para cumprirem a realidade que anunciam. Mas quando esta «Palavra é pronunciada por Deus», Aquele que é fiel, «torna-se no que mais seguro e inabalável possa haver, possibilitando a continuidade do nosso caminho». A Palavra do Senhor é a «rocha segura, sobre a qual se pode construir com alicerces firmes» e duradouros, eternos aliás.
Não é por acaso que, tanto em hebraico como em grego como em latim, a palavra «Fé» deriva do verbo «sustentar» e é usada na Bíblia tanto para «significar a fidelidade de Deus» como a «fé do homem». Assim, «o homem fiel recebe a sua força do confiar-se nas mãos do Deus fiel». Vejam bem a dignidade do cristão, «que recebe o mesmo nome de Deus: ambos são chamados fiéis» (palavras de São Cirilo de Jerusalém, Doutor da Igreja)
E outro Doutor da Igreja, Santo Agostinho, nos explica que: «O homem fiel é aquele que crê no Deus que promete. O Deus fiel é aquele que concede o que prometeu ao homem».
É esta a minha oração, ao raiar deste dia: Ouçamos a voz do Senhor, no início deste novo ano e todos os dias da nossa vida. Ouçamos com atenção e façamos ressonância dentro de nós, façamos memória do futuro, acreditemos nas Suas promessas, sejamos corajosos, tenhamos Fé, sejamos fiéis, como Ele é fiel.
Seja louvado nosso Senhor Jesus Cristo - para sempre seja louvado com Sua Mãe, Maria Santíssima!