Sou uma jovem esposa e mãe católica portuguesa. Neste blog partilho a minha caminhada em busca da santidade e o meu encontro com o amor misericordioso do Senhor. Espero que ele vos possa ajudar a encontrar a alegria do Evangelho!
Sou uma jovem esposa e mãe católica portuguesa. Neste blog partilho a minha caminhada em busca da santidade e o meu encontro com o amor misericordioso do Senhor. Espero que ele vos possa ajudar a encontrar a alegria do Evangelho!
O Senhor levou-me a viver inúmeras aventuras, com Ele, neste ano de 2018, ano esse que agora termina para dar lugar a um novo ano - cheio de possibilidades, oportunidades, sonhos, conquistas e lições ....
Neste ano de 2018,iniciei a minha profissão como médica, passando por diversos serviços e áreas, passando da teoria abstrata, impessoal e indiferente para a prática real, imperfeita, humana, personalizada. Agora, neste ano de 2019, iniciarei a minha formação específica para me tornar médica de família, um processo que será, sem dúvida, díficil e muito trabalhoso, e que durará pelo menos 4 anos ...
Neste ano de 2018,consolidei a minha vocação como catequista na minha paróquia, oferecendo-me verdadeiramente de corpo e alma, aceitando (uns dias melhores que outros) todas as contrariedades e dificuldades que foram surgindo pelo caminho, e aceitando desafios que outrora jamais teria tido a coragem de o fazer ...
Neste ano de 2018,assumi publicamente (no meu coração, já o tinha feito há muito tempo...) o meu compromisso com o movimento das Famílias de Caná, após um (demasiado longo) período de discernimento acerca do meu papel, como leiga solteira, dentro do movimento, e assim tornei-me numa activa Jovem de Caná - à semelhança de Nossa Senhora quando ainda solteira....
Neste ano de 2018,passei também por um intenso processo de discernimento vocacional, após ter aumentado, a passinhos de bebé (mas sempre aumentando, graças a Deus!), a minha vida de oração, e agora encontro-me num estado de maior claridade, desapego e entrega à vontade de Deus para a minha vida ...
Por fim, neste ano de 2018,tomei a difícil e custosa decisão de sair da casa dos meus pais, para vir viver sozinha numa casinha, bem juntinho da casa de Jesus, e, com esta última decisão, as pequenas portas e janelas que ainda pudessem estar a impedir a ação do Espírito Santo, foram finalmente escancaradas e plenamente abertas às Suas infinitas Graças (até ao dia em que eu voltar a fechar alguma, novamente - convosco também é assim?)
Houve, sem dúvida, outros acontecimentos marcantes e significantes que podia referir, mas penso que estes servirão para explicar, pelo menos em parte, como cheguei às pequenas reflexões que hoje queria partilhar convosco. São anotações soltas que eu fui escrevendo ao longo do ano, no meu caderno espiritual. Todas elas partiram de situações difíceis, em que o meu orgulho e egoísmo desmedidos tiveram de morrer (aos bocadinhos, claro) - autênticas lições de humildade que Deus, tão carinhosa e pacientemente, me tem vindo a ensinar....
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O ano de 2018, para mim, podia ter perfeitamente como tema e título - "Crescer em intimidade com Deus": crescer mesmo quando custa e dói, sem medo das mudanças, das transformações, daquilo que se perde e que tem de morrer, para algo melhor e mais santo poder germinar, nascer, crescer e florir; intimidade - um dos desejos mais profundos do nosso coração - com Deus, por Deus, em Deus ...
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Neste ano, compreendi finalmente (de coração) que o nome que melhor revela a vocação da mulher é maternidade, é ser mãe; e que o verbo que melhor define a vocação da mulher é receber e estarsempre aberta à vida ... Esta vocação está profundamente enraizada no nosso coração, por mais que a neguemos ou tentemos fugir dela, e apenas encontraremos a felicidade verdadeira, plena, permanente, eterna e inalterável, independentemente das circunstâncias da vida, se a aceitarmos de braços abertos - à semelhança de Maria.
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Neste ano, descobri que um dos maiores desejos do meu coração é receberAquele que mais quero amar, Aquele que mais me ama, Aquele que é o amor, Aquele que é o meu Amado ...
Receberé uma palavra maravilhosa e divina, mas também é uma palavra difícil e muito exigente. Para eu poder receber, tenho de estar disposta a sere estar vulnerável - oh, a vulnerabilidade de receber! - tenho de admitir e aceitar que tenho uma necessidade, que algo me falta, de que preciso de algo que não tenho e que não sou capaz ... Admitir e aceitar isto, pode ser assustador ao princípio, pode deixar-nos com medo e fazer-nos sentir ansiedade - e o mundo de hoje tem tantas formas apelativas de nos afastar desta realidade e de nos fazer esquecer estes sentimentos que, ao contrário do que popular e socialmente se propaga, não nos faz mal nenhum, antes pelo contrário - dá-nos vida e felicidade!
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O que significa intimidade, Senhor? O que significa ser íntimo de alguém, mas especialmente de Ti?
É sentir-se plenamente "em casa" na presença de alguém. É aceitar ser-se perfeita, total e completamente conhecida tal como sou - cheia de vícios, defeitos e pecados, cheia de feridas abertas e outras em resolução, "cheia" de espaços vazios e de pedaços que faltam - e, ainda assim, aceitar ser-se amada ... por aquele Amor louco e infinito de Deus que, tal como um dilúvio, é capaz de nos encher até transbordar, de inundar completamente todos os buracos e espaços vazios, de limpar todas as feridas, de remover todas as minhas manchas e sujidades e de santificar e purificar todos os meus desejos ... Intimidadesignifica eu poder ser, livremente, quem sou - sem máscaras, sem medos, sem sentir necessidade de ser aprovada, nem de conseguir ser ou fazer algo ... para ser amada.
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Mas, como se chega a essa intimidade - conTigo? Como podemos nos tornar íntimos?
Para se ser íntimo, é necessário confiar no outro. Em que se baseia a confiança?
Em promessas realizadas. Num amor que tenha sido comprovado e testado, que tenha sido posto à prova no fogo, por diversas vezes, e ainda assim subsistir - e até aumentar de intensidade - apenas um amor assim pode chegar a esse nível de intimidade que eu tanto desejo .... E, na minha vida, Deus já me deu mais do que provas suficientes do Seu amor....
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É realmente um dos desejos mais profundos do nosso coração ser-se conhecido e amado: é alguém conhecer toda a nossa história de vida, todo o nosso ser e, ainda assim, aceitar-nos e amar-nos.
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Se tivermos a coragem de olhar para o mais profundo do nosso coração, descobriremos que desejamos ser intimamente conhecidos; que desejamos permitir que possamos ser vistos, conhecidos e admirados; que desejamos permitir ser acarinhados e amados....
O maior desejo de Jesus (por inúmeras vezes e por inúmeras vozes Ele nos disse isto!) é oferecer-nos o Seu amor, é satisfazer e realizar todos estes nossos desejos mais profundos ... porque não O permitimos de vez?
Porque ainda tento eu fazer coisas, ser assim ou assado e, desta forma, "provar" a Deus que mereço o Seu amor...? Quem penso eu que sou? Merecer o amor de Deus? Como se fosse possível ... que heresia! Que pecado tão grande! Afinal, quem é para mim Jesus?....
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Olho para Jesus na cruz - um dia, li algures que a cruz é o leito matrimonial de Jesus. Sim, leito matrimonial ...
Ali, Jesus encontra-se nu e sem qualquer proteção. Nada possui. Está completamente vulnerável e sem qualquer segurança a que se agarrar. Ali está Jesus - pregado, aberto, indefeso, vulnerável ...
E o Seu maior desejo é tornar-se Um connosco. É abraçar os nossos medos, inseguranças, traumas e dores. É amar-nos completa e infinitamente....
Jesus, na cruz, não se preocupa em proteger-se a Si mesmo - o que apenas deseja é oferecer-se a Si mesmo, é entregar-se - por nós ...
Amar ~ Oferecer ~ Receber ~ Confiar ~ Amar
"Bendiz o Senhor, ó minha alma.
A minha única alegria encontra-se no Senhor.
Ao Senhor, glória eterna! Aleluia!"
Salmo 103
Um abençoado ano novo para todos! Que aceitem o convite de Deus, para crescerem em intimidade com Ele, ao longo deste ano ...
Porque é que todos os meses confesso sempre o mesmo pecado - respondi mal à mãe, com impaciência e brusquidão; refilei forte e feio com a avó; murmurei palavras maldosas e cheias de veneno contra o meu pai ...??
O período de férias é sempre uma boa altura para reflectir - nas férias a sério, claro, quando há espaço para o silêncio tão necessário para ouvir a voz de Deus; não naquelas férias em que escolhemos esconder-nos dos problemas e enterrar a cabeça na areia das praias ...
Porque é que discuto tanto e tantas vezes com as pessoas que precisamente mais amo e que mais me amam?
Porque é que é tão fácil falar com elas com menos cuidado, menos caridade, irreflectidamente, levianamente, do que faria se fosse com colegas de trabalho?
Porque é que penso que é um "direito" que eu tenho, poder chegar a casa e largar toda a frustração do dia de trabalho em cima da primeira pessoa que encontro em casa?
Porque é que é tão fácil pensar e falar acerca dos desagradáveis defeitos de cada elemento da minha família?
Porque penso assim? Porque as vejo assim? Porque faço isto?
É fácil, oh tão fácil, pensar - a culpa é deles; eles é que são isto e aquilo e assim e assado ... eles é que me estão sempre a chatear e a “picar”; eles é que não têm paciência nenhuma comigo; eles é que não compreendem; eles é que me fazem ser assim …
Que pecado tão grande o meu.
Se tivermos realmente vontade de melhorar, de nos santificar, de crescer em amor a Deus e ao próximo … no dia em que ganharmos coragem para enfrentar de frente, com a ajuda do Espírito Santo, este nosso pecado tão grande, tão grave …. e fizermos finalmente silêncio na nossa alma, sempre tão agitada e desassossegada, então …
…. poderemos por fim reconhecer que, em plena verdade, deveríamos antes pensar:
Não acontecerá que sou eu que tenho precisamente os defeitos que mais me incomodam nos outros?
Quais são os meus defeitos – que eu não quero reconhecer por falta de humildade - que me levam a falar e responder assim, a julgar os outros assim?
Na minha mãe revejo este e este defeito, na avó aquele e o outro, no pai revejo perfeitamente este, este e ainda este ... e, por reconhecer a presença dos meus defeitos nos outros que me rodeiam, torno-me hostil para com eles, em vez de os compreender e ter paciência ...
Este exercício de reflexão dói e dói muito, mesmo muito ... mas também purifica o coração, traz clareza de pensamento e torna-nos, sem dúvida, mais humildes, mais santos ...
"Muitos focalizam as pessoas com as lentes deformadas dos seus próprios defeitos."
São Josemaria Escrivá, Sulco n. 644
«Devemos sempre julgar os outros benignamente, porque o que parece aos nossos olhos negligência pode muitas vezes ser um acto de heroísmo aos olhos do Senhor. Uma irmã que tenha uma dor de cabeça ou atravesse provações espirituais cumpre mais quando faz metade do seu trabalho do que outras irmãs sadias de corpo e alma que fazem tudo bem».
Mais de 100 pessoas ficam a olhar, perplexas, para o sr. Pe José Pinheiro, no passado sábado dia 2 de Março, no início do retiro quaresmal para catequistas, a nível diocesano, que decorreu no nosso belíssimo Seminário em Almada.
"Sim, ouviram bem, Deus criou-nos para descansarmos Nele!"
Na verdade, já Santo Agostinho afirmava
Criaste-nos para Vós, Senhor, e o nosso coração vive inquieto, enquanto não repousar em Vós!
Mas não se enganem: descansar em Deus é muito diferente de não fazer nada. Aliás, envolve até fazermos muita coisa, dizer Sim a Deus muitas e muitas e muitas vezes - quando apetece e quando não apetece, quando dá jeito e quando não dá jeito nenhum, quando posso e mesmo quando não posso...
Mas devemos fazer tudo isso, com o nosso coração em paz, nas mãos de Deus, no exacto local onde ele pertence. Só encontramos verdadeiro descanso para a nossa alma, um descanso permanente, seguro, eterno, quando encontramos Deus e a Ele oferecermos a nossa pobre alma e aceitarmos descansar Nele.
Existem muitas pessoas que descansam demais (quantos exemplos podemos nós encontrar nos Evangelhos... e nas nossas vidas!)... ou melhor dizendo, usam essa desculpa para permanecerem estacionários no conforto das suas vidas
Outras, pelo contrário, não conseguem ficar quietas, fazem, fazem e fazem, como autênticas Martas... mas esquecem-se ou desvalorizam aquilo que é mais importante - conhecer e amar Deus, crescer todos os dias em intimidade com Ele, deixar que Ele nos fale ao coração, que cuide das nossas feridas, que nos ensine o caminho a seguir, e que desta relação de amor transborde abundantemente o amor pelo próximo.
Não importa o quão cheia ou agitada ou preenchida a nossa vida esteja. Pelo menos um momento de oração por dia é absolutamente essencial nas nossas vidas. Essencial! Imprescindível!
Porque
«Sem Mim, nada podeis fazer» Jo 15,5
Cada um de nós tem uma vocação, um chamamento por parte de Deus, para sermos santos.Santos! Conseguem imaginar-vos santos? Eu não consigo imaginar-me! Mas o olhar de Deus vai sempre mais longe que o nosso...
Esta nossa vocação tem ser descoberta - alguns mais cedo, outros mais tarde na vida. E quando a descobrimos, devemos olhá-la com verdadeiro espanto (Tu queres-me a mim, Senhor?!), com verdadeira humildade (Oh Senhor, mas eu não sou digno!) e com verdadeiro agradecimento (Se Tu queres Jesus, então eu também quero!).
A nossa vocação surge do nosso encontro pessoal com Jesus. Eu não escolho a minha vocação - Deus escolhe. E por mais que eu a negue e que tente fugir e dizer que não, a nossa vocação é incontornável. Aceitarmos a vocação de Deus é o único, único caminho que sacia completamente e que me traz felicidade verdadeira.
Ao procurarmos Jesus, descobrimos depois a nossa missão; do nosso encontro com Jesus, brota uma missão. Enquanto a vocação à santidade é universal, é para todos, a missão que Deus tem para cada um de nós é única, irrepetível, personalizada. Ninguém a poderá fazer por mim. Tenho mesmo de ser eu. Só podia ser eu a fazê-la.
Ser catequista faz parte da missão que Deus escolheu para mim.
Partindo sempre do meu encontro pessoal, íntimo, familiar, de pleno amor, com Deus, eu devo dar testemunho aos outros, devo apontar o caminho, devo partilhar as maravilhas que Deus continuamente faz na minha vida, devo evangelizar, sempre, em todos os momentos, em todos os lugares, não apenas na sala de catequese.
Sábado foi um dia muito chuvoso, com muito vento e trovoada. Na hora de meditação pessoal durante o retiro, senti-me a ser chamada numa dada direção no Seminário. Eu já devia ter adivinhado quem seria - claro que fui encontrar uma bela estátua de Nossa Senhora, bem ali, à minha espera. Fiquei toda molhada, mas nem dei conta.
Ali, no meio dos trovões, da chuva, do vento, não pude deixar de reparar num pequeno passarinho que insistia em continuar a cantar - e que bem que cantava. Quanto mais chovia, mais trovejava, mais ele cantava! Que eu assim seja também ...
Para terminar, queria apenas partilhar convosco algumas ideias (já antigas, ao que parece) do nosso querido Papa Francisco (mas que eu nunca tinha lido antes!) para manifestarmos visivelmente o amor de Deus durante a Quaresma (e que foram partilhadas connosco durante o retiro).
15 actos de caridade como manifestações concretas de amor
Sorrir - um cristão é sempre alegre
Agradecer - embora não "precise" fazê-lo
Lembrar o outro quanto o amamos
Cumprimentar com alegria as pessoas que vemos todos os dias
Ouvir pacientemente a história do outro, sem julgamento, com amor
Parar para ajudar - estar atento a quem precisa de mim
Animar alguém
Reconhecer os sucessos e as qualidades do outro
Separar o que não se usa e dar a quem precisa
Ajudar alguém, para que possa descansar
Corrigir com amor - não calar por medo
Ter pequenas delicadezas para quem está perto de nós
Limpar o que se suja em casa
Ajudar os outros a superar os seus obstáculos
Telefonar aos nossos pais
E agora, para coisas ainda mais dificeis
O melhor jejum
Jejum de palavras negativas e abundância de palavras bondosas
Jejum de descontentamento e abundância de gratidão
Jejum de raiva e abundância de mansidão e paciência
Jejum de pessimismo e abundância de esperança e optimismo
Jejum de preocupações e abundância de confiança em Deus
Jejum de queixas e abundância de agradecimento pelas coisas simples da vida
Jejum de tensões e abundância de orações
Jejum de amargura e tristeza e abundância de alegria no coração
Jejum de egoísmo e abundância de compaixão pelos outros
Jejum de falta de perdão e abundância de gestos de reconciliação
Jejum de palavras e abundância de silêncio para ouvir os outros
Neste 4ªDomingo da Quaresma, queria partilhar convosco um texto que tive a oportunidade de ler nesta semana, e que me tocou profundamente….
Já fiz tantas vezes esta pergunta que já perdi a conta - Porque volto eu a cair nos mesmos pecados que já confessei (tantas vezes!) ??
O sr. padre Juan Ávila Estrada, um fantástico sacerdote colombiano, especializado na área do Matrimónio e da Família - cujos alguns dos seus artigos podem ser lidos aqui – responde-nos maravilhosamente a esta pergunta:
Porque cometemos uma e outra vez os mesmos pecados, apesar de já os termos confessado? Porque costuma ser tão difícil a nossa conversão?
Primeiro, porque ela é uma graça de Deus; segundo, porque a conversão não é uma meta, mas um caminho; terceiro, porque a utilizamos de forma errada.
A compreensão geral que se costuma dar à palavra conversão remete-nos para a correcção que tentamos dar à nossa vida e que nos leva a deixar de fazer o mal, a fim de nos agarrarmos ao bem. Mas isto, que parece tão fácil de dizer, é na prática um exercício cujos resultados nem sempre são os esperados ou desejados.
Partamos do facto de que a conversão não é simplesmente o cessar dos nossos pecados - que neste caso chamarei de “frutos da árvore” - mas é sim o pretender alcançar o fim do Pecado.
Utilizei o termo Pecado com a letra P maiúscula, para que compreendamos que os pecados (as acções quotidianas que deterioram a nossa relação com Deus e que nos levam a ferir a Sua Lei) são a expressão de uma realidade interior que demonstra o quão alterada e danificada está a estrutura da nossa personalidade, o que é visível através das nossas emoções, afectos, entendimento, vontade e liberdade.
O Pecado, atrevo-me a dizer, é aquilo que impulsiona o homem para que, a pouco e pouco, se afaste do plano de Deus e que se faça de si mesmo o arquitecto do seu destino.
Desta maneira, quando pretendemos iniciar um caminho seguro de conversão, as nossas acções tendem apenas a corrigir ou a curar os sintomas duma realidade que está deteriorada desde o interior da suaestrutura. Quando arrancamos os frutos de má qualidade duma árvore, mas não fazemos nada para corrigir a doença que essa planta tem, o resultado desta acção é que continuaremos a colher novos frutos de má qualidade no futuro.
É por isso que costuma acontecer que, na confissão, quando fazemos o nosso exame de consciência, ficamo-nos apenas pelos nossos próprios actos, sem irmos à raiz daquilo que os gerou. Assim, o que fazemos é simplesmente uma poda. Confissão após confissão, repetimos os mesmos pecados uma e outra vez, pecados estes que são produzidos por uma árvore que não pode gerar outra coisa diferente, uma vez que existe uma doença que a afecta desde o seu interior.
A acção curativa e redentora de Cristo no Sacramento da Reconciliação não é apenas capaz de arrancar os frutos de má qualidade – ela é capaz de curar a própria origem do mal. Para isso é necessário que nós reconheçamos o que é que gera as mesmas acções. Toda a acção tem a sua origem numa atitude e “os pecados” têm na verdade a sua génese no “Pecado”.
Jesus vem para destruir o “Pecado” do mundo, Pecado este que se apodera dos indivíduos na forma de “pequenos pecados”. Mas nós não compreendemos isto. Assim, não é estranho que aconteça que confessemos continuamente os frutos duma vida que vem a inclinar-se para o mal há muito tempo, sem deixarmos que a luz da Graça de Deus chegue até à raiz do problema. Se os sacerdotes e os penitentes continuarem apenas a arrancar os maus frutos, o Inimigo voltará a regar a planta que simplesmente brotará igual.
Perante Jesus, não basta expormos os nossos pecados, mas sim o mais íntimo da nossa consciência e da nossa vontade rebelde, que só quer fazer o que mais lhe agrada. A teimosia do nosso coração e o “endeusamento” que fazemos de nós mesmo, fazem-nos esquecer que dependemos completamente do Ser Absoluto que é Deus. Tentamos dar a vida a nós mesmos quando, na verdade, o que nos estamos a dar é apenas a morte.
A minha proposta diante desta realidade é que o exame de consciência que façamos aponte para a análise da origem de todos esses males que cometemos, para assim podermos buscar em Cristo a cura total das nossas doenças, e não só a analgesia para os seus sintomas.
A exposição da nossa vontade rebelde perante o Senhor, fará finalmente que Ele não arranque apenas os maus frutos, mas que inicie um processo de restituição da planta inteira.