Sou uma jovem esposa e mãe católica portuguesa. Neste blog partilho a minha caminhada em busca da santidade e o meu encontro com o amor misericordioso do Senhor. Espero que ele vos possa ajudar a encontrar a alegria do Evangelho!
Sou uma jovem esposa e mãe católica portuguesa. Neste blog partilho a minha caminhada em busca da santidade e o meu encontro com o amor misericordioso do Senhor. Espero que ele vos possa ajudar a encontrar a alegria do Evangelho!
O Senhor levou-me a viver inúmeras aventuras, com Ele, neste ano de 2018, ano esse que agora termina para dar lugar a um novo ano - cheio de possibilidades, oportunidades, sonhos, conquistas e lições ....
Neste ano de 2018,iniciei a minha profissão como médica, passando por diversos serviços e áreas, passando da teoria abstrata, impessoal e indiferente para a prática real, imperfeita, humana, personalizada. Agora, neste ano de 2019, iniciarei a minha formação específica para me tornar médica de família, um processo que será, sem dúvida, díficil e muito trabalhoso, e que durará pelo menos 4 anos ...
Neste ano de 2018,consolidei a minha vocação como catequista na minha paróquia, oferecendo-me verdadeiramente de corpo e alma, aceitando (uns dias melhores que outros) todas as contrariedades e dificuldades que foram surgindo pelo caminho, e aceitando desafios que outrora jamais teria tido a coragem de o fazer ...
Neste ano de 2018,assumi publicamente (no meu coração, já o tinha feito há muito tempo...) o meu compromisso com o movimento das Famílias de Caná, após um (demasiado longo) período de discernimento acerca do meu papel, como leiga solteira, dentro do movimento, e assim tornei-me numa activa Jovem de Caná - à semelhança de Nossa Senhora quando ainda solteira....
Neste ano de 2018,passei também por um intenso processo de discernimento vocacional, após ter aumentado, a passinhos de bebé (mas sempre aumentando, graças a Deus!), a minha vida de oração, e agora encontro-me num estado de maior claridade, desapego e entrega à vontade de Deus para a minha vida ...
Por fim, neste ano de 2018,tomei a difícil e custosa decisão de sair da casa dos meus pais, para vir viver sozinha numa casinha, bem juntinho da casa de Jesus, e, com esta última decisão, as pequenas portas e janelas que ainda pudessem estar a impedir a ação do Espírito Santo, foram finalmente escancaradas e plenamente abertas às Suas infinitas Graças (até ao dia em que eu voltar a fechar alguma, novamente - convosco também é assim?)
Houve, sem dúvida, outros acontecimentos marcantes e significantes que podia referir, mas penso que estes servirão para explicar, pelo menos em parte, como cheguei às pequenas reflexões que hoje queria partilhar convosco. São anotações soltas que eu fui escrevendo ao longo do ano, no meu caderno espiritual. Todas elas partiram de situações difíceis, em que o meu orgulho e egoísmo desmedidos tiveram de morrer (aos bocadinhos, claro) - autênticas lições de humildade que Deus, tão carinhosa e pacientemente, me tem vindo a ensinar....
~
O ano de 2018, para mim, podia ter perfeitamente como tema e título - "Crescer em intimidade com Deus": crescer mesmo quando custa e dói, sem medo das mudanças, das transformações, daquilo que se perde e que tem de morrer, para algo melhor e mais santo poder germinar, nascer, crescer e florir; intimidade - um dos desejos mais profundos do nosso coração - com Deus, por Deus, em Deus ...
~
Neste ano, compreendi finalmente (de coração) que o nome que melhor revela a vocação da mulher é maternidade, é ser mãe; e que o verbo que melhor define a vocação da mulher é receber e estarsempre aberta à vida ... Esta vocação está profundamente enraizada no nosso coração, por mais que a neguemos ou tentemos fugir dela, e apenas encontraremos a felicidade verdadeira, plena, permanente, eterna e inalterável, independentemente das circunstâncias da vida, se a aceitarmos de braços abertos - à semelhança de Maria.
~
Neste ano, descobri que um dos maiores desejos do meu coração é receberAquele que mais quero amar, Aquele que mais me ama, Aquele que é o amor, Aquele que é o meu Amado ...
Receberé uma palavra maravilhosa e divina, mas também é uma palavra difícil e muito exigente. Para eu poder receber, tenho de estar disposta a sere estar vulnerável - oh, a vulnerabilidade de receber! - tenho de admitir e aceitar que tenho uma necessidade, que algo me falta, de que preciso de algo que não tenho e que não sou capaz ... Admitir e aceitar isto, pode ser assustador ao princípio, pode deixar-nos com medo e fazer-nos sentir ansiedade - e o mundo de hoje tem tantas formas apelativas de nos afastar desta realidade e de nos fazer esquecer estes sentimentos que, ao contrário do que popular e socialmente se propaga, não nos faz mal nenhum, antes pelo contrário - dá-nos vida e felicidade!
~
O que significa intimidade, Senhor? O que significa ser íntimo de alguém, mas especialmente de Ti?
É sentir-se plenamente "em casa" na presença de alguém. É aceitar ser-se perfeita, total e completamente conhecida tal como sou - cheia de vícios, defeitos e pecados, cheia de feridas abertas e outras em resolução, "cheia" de espaços vazios e de pedaços que faltam - e, ainda assim, aceitar ser-se amada ... por aquele Amor louco e infinito de Deus que, tal como um dilúvio, é capaz de nos encher até transbordar, de inundar completamente todos os buracos e espaços vazios, de limpar todas as feridas, de remover todas as minhas manchas e sujidades e de santificar e purificar todos os meus desejos ... Intimidadesignifica eu poder ser, livremente, quem sou - sem máscaras, sem medos, sem sentir necessidade de ser aprovada, nem de conseguir ser ou fazer algo ... para ser amada.
~
Mas, como se chega a essa intimidade - conTigo? Como podemos nos tornar íntimos?
Para se ser íntimo, é necessário confiar no outro. Em que se baseia a confiança?
Em promessas realizadas. Num amor que tenha sido comprovado e testado, que tenha sido posto à prova no fogo, por diversas vezes, e ainda assim subsistir - e até aumentar de intensidade - apenas um amor assim pode chegar a esse nível de intimidade que eu tanto desejo .... E, na minha vida, Deus já me deu mais do que provas suficientes do Seu amor....
~
É realmente um dos desejos mais profundos do nosso coração ser-se conhecido e amado: é alguém conhecer toda a nossa história de vida, todo o nosso ser e, ainda assim, aceitar-nos e amar-nos.
~
Se tivermos a coragem de olhar para o mais profundo do nosso coração, descobriremos que desejamos ser intimamente conhecidos; que desejamos permitir que possamos ser vistos, conhecidos e admirados; que desejamos permitir ser acarinhados e amados....
O maior desejo de Jesus (por inúmeras vezes e por inúmeras vozes Ele nos disse isto!) é oferecer-nos o Seu amor, é satisfazer e realizar todos estes nossos desejos mais profundos ... porque não O permitimos de vez?
Porque ainda tento eu fazer coisas, ser assim ou assado e, desta forma, "provar" a Deus que mereço o Seu amor...? Quem penso eu que sou? Merecer o amor de Deus? Como se fosse possível ... que heresia! Que pecado tão grande! Afinal, quem é para mim Jesus?....
~
Olho para Jesus na cruz - um dia, li algures que a cruz é o leito matrimonial de Jesus. Sim, leito matrimonial ...
Ali, Jesus encontra-se nu e sem qualquer proteção. Nada possui. Está completamente vulnerável e sem qualquer segurança a que se agarrar. Ali está Jesus - pregado, aberto, indefeso, vulnerável ...
E o Seu maior desejo é tornar-se Um connosco. É abraçar os nossos medos, inseguranças, traumas e dores. É amar-nos completa e infinitamente....
Jesus, na cruz, não se preocupa em proteger-se a Si mesmo - o que apenas deseja é oferecer-se a Si mesmo, é entregar-se - por nós ...
Amar ~ Oferecer ~ Receber ~ Confiar ~ Amar
"Bendiz o Senhor, ó minha alma.
A minha única alegria encontra-se no Senhor.
Ao Senhor, glória eterna! Aleluia!"
Salmo 103
Um abençoado ano novo para todos! Que aceitem o convite de Deus, para crescerem em intimidade com Ele, ao longo deste ano ...
Estávamos a poucos dias do fim da Quaresma, a poucos dias da Semana Santa.
No Evangelho de São Marcos, capítulo 10, leio que Jesus dirigia-se em subida para Jerusalém, a Cidade Santa, para aquela que seria a Páscoa da Sua cruz e ressurreição. Na berma da estrada estava sentado um mendigo, cego, chamado Bartimeu. Ao saber que Jesus se encontrava perto, ele põe-se a gritar: «Jesus, Filho de David, tem misericórdia de mim!», sem cessar. Jesus convida-o a aproximar-se. O cego suplica-Lhe «Mestre, que eu veja!» e Jesus responde «Vai, a tua fé te salvou!». Bartimeu recuperou a vista «e seguiu Jesus pelo caminho» (Mc 10, 47-52)
Vai.
Escolham um Evangelho para ler e analisem as palavras de Jesus a cada pessoa que se encontrava com Ele pelo caminho. Vão encontrar quase sempre esta resposta de Jesus - Vai. Agora que já te encontraste Comigo, agora que já Me conheceste - Vai.
Não é possível ter um verdadeiro encontro com Jesus e permanecer na mesma. É impossível que a nossa vida permaneça na mesma. Se permanecer, quer apenas dizer que afinal não O encontrámos realmente, que não O chegámos a conhecer.
Vai, mexe-te. Vaie conta a toda a gente acerca de Mim, da Minha misericórdia, do Meu infinito amor. Vaie vive a tua nova vida que Eu te dei. Vai, por Mim. Vai, Comigo.
Quem tenta seguir Jesus mas sem querer perder nada deste mundo, desta sociedade ... na verdade, está a perder tudo, porque não está a seguir Jesus. É simplesmente impossível ter as duas coisas. É preciso escolher. E todas as escolhas, todas, implicam perdas. Ao escolhermos algo, estamos a dizer não a tudo o resto.
É difícil? É...Vai.
Vêm poucas pessoas por este caminho? Sim .... Vai.
Estamos na Semana Maior, na semana mais importante de todo o ano!
Chegou depressa este ano - parece que esta Quaresma passou a correr...
São sempre tantas as lições que cada Quaresma me ensina, que me faz finalmente ver e verdadeiramente compreender ... que ás vezes é difícil escolher qual a mais importante, qual a que teve maior impacto na minha vida.
Hoje, queria contar-vos uma das lições desta Quaresma.
Não sei se já deram a Deus essa oportunidade, mas se sim, já descobriram que Deus gosta muito de nos "trocar as voltas". Deus gosta de vento! Deus gosta muito de baralhar e de bagunçar aquilo que nós tínhamos tão cuidadosamente planeado. Mas Deus é assim - Ele não deseja o nosso conforto nem a nossa comodidade, mas sim a nossa santidade.
Ora, para esta Quaresma, eu tinha planeado uma série de pequenas penitências, renúncias e actividades, após várias semanas (achava eu) a rezar e a meditar no assunto.
Deus, aparentemente, tinha outras ideias... e, quando me apercebi, dei por mim perante situações muito pouco usuais, particularmente desconfortáveis ... mas que, lá me apercebi um dia, após muito refilar delas, eu podia usar como mortificações nesta Quaresma!
Refiro-me a coisas simples mas que, para mim, são bastante difíceis: esforçar-me para ser mais sociável na paróquia; tentar começar conversas com pessoas que eu já tinha visto mas nunca tinha tido a coragem de falar; tentar conhece-las, ouvir as suas histórias, e deixar que elas me conheçam; ficar um pouco (ou muito) mais depois da missa; estar presente em actividades que eu normalmente não estaria, como na ceia antes da via sacra que a nossa paróquia organiza.
Estas situações podem parecer insignificantes aos vossos olhos. Mas para mim, que sou tão tímida e envergonhada e introvertida ... para mim, pareciam autênticas aventuras, rumo ao desconhecido, sem saber o que iria acontecer a seguir.
A verdade é que, esta Quaresma, como todas as outras, não é minha, não me pertence - é do Senhor e deve ser sempre Ele a decidir o que acontece e como acontece ... e não eu. Ele sabe, melhor que eu, qual o caminho que devo seguir para alcançar a santidade e tornar-me na santa que só eu posso ser.
Este Tríduo Pascal vai ter algo muito especial - vou viver uma aventura com Jesus!
Depois, conto-vos tudo Vemo-nos depois do 1º dia da Páscoa!
Nós somos chamados a sermos uma luz - como uma pequena chama duma velinha branca - num mundo que está cheio de luz artificial eléctrica.
Quem vive no conforto da luz artificial não consegue ver a nossa luzinha de vela; aqueles que até a conseguem ver, não percebem para que serve ou não compreendem porque insistimos em mantê-la acesa - num mundo cheio de luz artificial. Para quê? Porquê?
No meu trabalho no hospital, quando alguém descobre que eu sou catequista, não é costume ouvir nenhum comentário entusiástico nem incentivador. Não é adequado um médico ter religião ... porque pode interferir.
Os meus colegas não compreendem porquê é que eu haveria de gastar o meu tempo com essas coisas.... eu devia era sair, viajar, gastar o meu ordenado em jantares e prendas e aproveitar a vida.
A minha família pergunta-me várias vezes porque é que eu passo tanto tempo na igreja, envolvida em tantas coisas? Missas e missas e missas, reuniões, encontros, actividades, catequese, vias sacras ... para quê? perguntam-me sempre.
Para ser sincera, eu própria às vezes me pergunto se todas as horas que eu invisto em preparar a catequese terá algum valor ... Tantas horas a desenvolver ideias para que as catequeses sejam estimulantes, que ensinem pelo exemplo, que toquem os corações de todos os meninos, que os façam não só saber mas compreender e querer viver ...
Aqueles meninos de 7 anos nunca se vão lembrar de mim quando forem adultos. Não se vão lembrar de grande parte das coisas que eu lhes tentei ensinar.
Que posso fazer eu, quando os pais não vêm à missa, não querem saber da igreja, e só põem os filhos na catequese como se fosse outra actividade extra-curricular como a natação ou o ballet? Ou apenas para poderem fazer a primeira comunhão?
Que diferença farei eu nas suas vidas? Que diferença faz aquilo que eu faço?...
Há dias difíceis, em que me deixo engolir por essas vozes e pensamentos, em que apetece desistir de tudo. Sim, há dias assim; poucos dias, pela graça de Deus, mas existem.
Nestas alturas, Deus tem sempre o enorme carinho de me enviar um anjo, na forma duma pessoa, que me incentiva, que me anima, que me compreende e que partilha comigo situações parecidas. Ou então descubro uma reflexão de alguém no facebook ou em algum site ou num livro, que reflecte as minhas duvidas e que me ajuda a encontrar soluções.
Sim, aquilo que eu faço, aos olhos do mundo, não é quase nada. Não tem qualquer valor. É insignificante. É tempo mal gasto. Não me faz ganhar nada, aliás, só me faz perder....
Não consigo deixar de sorrir ao escrever este texto. As pessoas não compreendem nada! Não compreendem o que verdadeiramente tem valor!
"Perante um mundo fragmentado, (...) perante a experiência dolorosa da nossa própria fragilidade, torna-se necessário e urgente, atrever-me-ia mesmo a dizer imprescindível, aprofundar a oração e a adoração. Ela nos ajudará a unificar o nosso coração e nos dará «entranhas de misericórdia», para sermos homens de encontro e comunhão, que assumem como vocação própria tomarem a seu cargo a ferida do irmão (...) dando testemunho de um Deus tão próximo, tão Outro: Pai, Irmão e Espírito; Pão, Companheiro de Caminho e dador de Vida (...)
Hoje, mais do que nunca, é necessário adorar para tornar possível a "proximidade" que reclamam estes tempos de crise. Só na contemplação do mistério do Amor que vence distâncias e se torna perto encontraremos a força para não cair na tentação de seguir de longe, sem nos determos no caminho... (...)
Também nós, perante esta nova invasão pseudocultural que nos apresenta os novos rostos pagãos dos «baalins» do passado, experimentamos a desproporção de forças e a pequenez do enviado. Mas é justamente a partir da experiência da própria fragilidade que se evidencia a força do alto, a presença d'Aquele que é o nosso garante e a nossa paz.
Por isso, quero convidar-vos (...) a que reconheçais na vossa fragilidade o tesouro escondido, que confunde os soberbos e derruba os poderosos. Hoje, o Senhor convida-nos a abraçar a nossa fragilidade como fonte de um grande tesouro evangelizador. (...)
Porque só aquele que se reconhece vulnerável é capaz de uma acção solidária. Pois comovermo-nos («movermo-nos com»), compadecermo-nos («padecermos com») de quem está caído à beira do caminho são atitudes de quem sabe reconhecer no outro a sua própria imagem, mescla de terra e tesouro, e por isso não a rejeita. Pelo contrário, ama-a, aproxima-se dela e, sem o procurar, descobre que as feridas que cura no irmão são unguento para as suas. A compaixão converte-se em comunhão, em ponte que aproxima e estreita laços. (...)
Não tenhais medo de cuidar da fragilidade do irmão com a vossa própria fragilidade: a vossa dor, o vosso cansaço, as vossas perdas; Deus transforma-os em riqueza, unguento, sacramento. (...) Há uma fragmentação que permite, no gesto terno do dar, alimentar, unificar, dar sentido à vida. (...) Que possais, em oração, apresentar ao Senhor os vossos cansaços e fadigas, bem como o das pessoas que o Senhor colocou no vosso caminho e deixai que o Senhor abrace a vossa fragilidade, o vosso barro, para o transformar em força evangelizadora e em fonte de fortaleza. (....)
É na fragilidade que somos chamados a ser catequistas. A vocação não seria plena se excluísse o nosso barro, as nossas quedas, os nossos fracassos, as nossas lutas quotidianas: é nela que a vida de Jesus se manifesta e se faz anúncio salvador. Graças a ela descobrimos as dores do irmão como sendo nossas."
Palavras do Papa Francisco, numa carta aos catequistas da diocese de Buenos Aires,
Agosto de 2003 (retirado do livro - O Verdadeiro Poder é Servir, da editora Nascente)
Não importa que ninguém veja aquilo que fazemos. Não importa se parece insignificante e sem valor. Deus vê tudo o que fazemos e vê, principalmente, o amor com que o fazemos.
Mantenhamos a nossa pequena chama acesa, num local onde todos a possam sempre ver. Sempre que a luz artificial se apague nas vidas das outras pessoas, como tantas vezes acontece, que elas possam sempre ver e contar com a nossa pequena luz, para as iluminar e lhes dar de novo vida.
É engraçado que eu tenha passado da "menina com medo de conduzir" para aquela que mais quilómetros faz de carro por dia aqui em casa. Há 2 anos que faço (e continuarei a fazer este ano também) quase 80 km por dia, cerca de 1 hora e meia a conduzir, para ir e vir do Hospital de Setúbal. Deus é realmente curioso ...
Mas, se ao início custava um pouquinho - tanto tempo, tantos quilómetros, tantos carros, tanto trânsito, tanta confusão - hoje, já quase nem dou pelo tempo passar e Setúbal parece que é já ali. E, além disso, passar tanto tempo sozinha, dá-me a oportunidade de rezar o Terço no caminho para o trabalho e de fazer muitas outras orações e meditações no caminho de volta para casa. Que bênção tem sido!
Um dia destes, ao meditar no 2º Mistério Gozoso - a visitação de Nossa Senhora à sua prima Santa Isabel - dei comigo a pensar quantos quilómetros seriam e quanto tempo demoraria a ir de Nazaré, da casa de Maria, até Jerusalém (onde algures seria a casa de Isabel). E este pensamento depressa escalou - quantos quilómetros seriam de Belém a Jerusalém, e daí ao Egipto .... quanto tempo demoraria? e...
Claro que fui procurar respostas na internet na primeira oportunidade que tive!
Encontrei um óptimo artigo - em inglês, escrito por um pastor protestante que aparentemente dedicou a sua vida a percorrer o globo inteiro, a pé, de terra em terra, de país em país, a fim de propagar a mensagem do Evangelho. Ainda assim, é um artigo que eu recomendo todos a lerem - é muito comprido, é verdade, mas ensina-nos muitas coisas acerca de como era a vida no tempo de Jesus, em especial, acerca das suas deslocações e das suas viagens.
É com base neste artigo que escrevo o texto de hoje (principalmente para saber as distâncias entre as cidades). É preciso ter em atenção que o autor desse artigo é Protestante e que, portanto, os seus cálculos e informações não têm em conta aquilo que a Tradição da Igreja Católica nos transmite que realmente aconteceu (que eu explicarei mais à frente).
O meio de transporte mais usado no tempo de Jesus era, admirem-se, andar a pé!
Quem podia, viajava sobre um burro ou usava uma carroça para transportar cargas mais pesadas, mas a maior parte das viagens, e pensando especialmente no caso da Sagrada Família, eram feitas a pé. Naquela altura, os romanos ainda não tinham construído muitas estradas em Israel e assim, a maior parte dos caminhos ainda eram muito rudes e agrestes. Um percurso entre Nazaré e Belém envolvia passar por zonas montanhosas, vales, rios, zonas de deserto e até regiões mais selvagens e com poucas casas. Imaginem dias e dias a andar, sob diversas temperaturas - muito calor durante o dia e frio durante a noite. Imaginem a poeira e a sujidade. Imaginem o cansaço.... É verdade, existiam pousadas e outros locais, como celeiros e grutas, que se podiam alugar para passar a noite - mas nas zonas mais desertas, às vezes a única hipótese era montar uma tenda ou dormir ao relento. Também não havia casas de banho, nem banheiras para tomar um banho quentinho, nem restaurantes com a comida pronta. E os perigos eram abundantes, desde animais selvagens a ladrões escondidos ao longo do caminho. Eram dias difíceis na estrada, e uma viagem nunca era encarada de ânimo leve ...
Proponho-vos tentarmos fazer uma estimativa de quantas viagens e de quantos quilómetros percorreram Nossa Senhora e Jesus ao longo das suas vidas, com base nas informações que a Bíblia nos fornece, associadas às da Tradição da Igreja Católica (e por causa deste ponto, os meus cálculos vão ser diferentes dos cálculos do artigo que vos mencionei). Comecemos com Nossa Senhora!
É um óptimo mapa, aproveitem-no para localizarem outras cidades por onde Jesus passou - Caná, Bethsaida, Cesareia ...
Quanto andou Nossa Senhora ao longo da sua vida?
Maria terá nascido em Nazaré e, segundo a Tradição, terá sido entregue ao Templo de Jerusalém por volta dos 2-3 anos idade. Sendo ainda tão pequena, vou supor que alguém, a mãe ou o pai, a terá levado ao colo na maior parte da viagem, e portanto não vou incluir esta primeira viagem nos meus cálculos.
Maria terá ficado a viver no Templo de Jerusalém até aos seus 14-15 anos, altura em que terá voltado para Nazaré, tendo ficado noiva de São José. São Lucas diz-nos explicitamente que a anunciação do anjo Gabriel a Nossa Senhora ocorreu em Nazaré (Lc 1,26-27) - uma pequena cidade no norte de Israel, na região da Galileia, como podem observar no mapa. Uma viagem de Jerusalém até Nazaré (como vou explicar mais à frente) são cerca de 190 km. Considerando que uma pessoa possa andar cerca de 30km por dia, uma viagem de Jerusalém a Nazaré constituía cerca de 5-6 dias de viagem.
Logo após a Anunciação, Nossa Senhora parte, já grávida, em viagem até à casa da sua prima Isabel, a poucos quilómetros a sul da cidade de Jerusalém. Esta viagem de ida e volta até à casa de Isabel e Zacarias são cerca 390km (um total de 13 dias de viagem).
Já casada com São José, grávida de Jesus, Maria viaja novamente até Belém, para o recenseamento romano. De Nazaré até Belém são cerca de 210km. Ou seja, sabemos que Nossa Senhora andou, pelo menos, 600km grávida! Absolutamente impressionante ....
Maria e José terão ficado a viver em Belém durante algum tempo após o nascimento de Jesus, mas foram até Jerusalém uma vez para a apresentação do Menino no Templo e uma segunda vez, 40 dias depois do parto, para a purificação ritual de Maria - o que constitui 4 viagens de 10 km, ou seja, mais 40km.
De Belém, após um sonho de São José, partiram com o Menino para o Egipto - numa viagem de, pelo menos, 563km, ou seja, quase 19 dias até chegarem ao Egipto. Por aí ficaram a viver, escondidos, até ao dia em que José teve um novo sonho e finalmente puderam voltar para casa, em Nazaré. Do Egipto até Nazaré, utilizando a estrada mais curta, que segue o mar Mediterrâneo, são pelo menos 645 km, ou seja, quase 22 dias a caminhar com a "casa às costas"!
Tentam retomar a sua vida em Nazaré, tendo Jesus cerca de 3-5 anos. Maria viverá em Nazaré, pelo menos, até aos 30 anos de Jesus, quando Ele começa a pregar acerca do Reino de Deus.
O livro do Êxodo indica claramente que:
"Todos os homens deverão apresentar-se três vezes por ano, diante do Senhor, Deus de Israel." Êxodo 34,23
Ou seja, qualquer judeu devoto ía, pelo menos, três vezes por ano a Jerusalém, ao Templo do Senhor, celebrar as 3 maiores festas judaicas - a Páscoa, a Festa das Semanas e a Festa das Tendas ou dos Tabernáculos. Apesar disso, sabe-se que as famílias que viviam mais longe de Jerusalém, como poderá ter sido o caso da Sagrada Família em Nazaré (a quase 200km de Jerusalém), iam até ao Templo apenas na Páscoa (a celebração mais importante do ano inteiro).
Assim, Maria terá acompanhado São José e Jesus, pelo menos, uma vez por ano até Jerusalém, ou seja, 386km de ida e volta durante 25 a 27 anos, o que dá um total de cerca 10.000km.
Durante os 3 anos do ministério de Jesus, Maria tê-lo-á acompanhado a Jerusalém todos os anos, sendo que na 3ª e última vez, Jesus foi crucificado (ou seja, 2 viagens de ida e volta de Jerusalém + 1 ida a Jerusalém = 965km). Também sabemos que Maria estava presente nas bodas de Caná (ida e volta de Nazaré a Caná são cerca de 19 km). E sabemos também que Maria esteve presente, pelo menos uma vez, em Cafarnaum (ida e volta de Nazaré a Cafarnaum são cerca 96km).
Tudo isto somado, dá um total de, pelo menos, 13.118km percorridos ao longo de 47 anos de vida de Nossa Senhora (até à morte de Jesus), ou seja, mais de 437 dias em viagem (o que constitui 1 ano e 2 meses).
Impressionante não?
Agora passemos a Jesus.
Quanto andou Jesus ao longo da sua vida?
Jesus era muito pequeno na altura da fuga de São José e de Nossa Senhora para o Egipto. Assim, começo os meus cálculos pela viagem de volta do Egipto até Nazaré, altura em que Jesus já teria entre 3 e 5 anos, e portanto, faria a maior parte da viagem a pé (pelo menos 645 km, ou seja, quase 22 dias na estrada).
Vou considerar que Jesus terá acompanhado São José nas três idas por ano ao Templo de Jerusalém, como o livro do Êxodo diz. Ou seja, até aos 30 anos de vida, Jesus terá realizado, pelo menos, 30.000km (só em viagens de ida e volta de Jerusalém) ou seja, cerca de 1.000 dias a caminhar.
Um pormenor importante é que a distância exacta, em linha recta, entre Cafarnaum, Nazaré e Jerusalém são cerca de 144km. Contudo, para fazerem essa viagem, os judeus teriam de atravessar o território da Samaria; como havia uma rivalidade com os samaritanos, os judeus da Galileia seguiam sempre um percurso que contornava a Samaria. Além disso, este percurso, apesar de mais longo (193km), era mais fácil de atravessar (não era por terrenos tão montanhosos como seria pela Samaria) e era o que a maior parte dos judeus seguia. Eu assinalei-o no mapa para compreenderem melhor:
Durante os 3 anos do Ministério de Jesus, o Evangelho de São João indica-nos que Jesus esteve em Jerusalém:
pelo menos uma vez, para a Festa das Tendas (Jo 7,2)
pelo menos uma vez, na Festa da Dedicação do Templo (Jo 10,22)
pelo menos três vezes durante a Páscoa dos judeus (Jo 2,13 e 5,1 e 12,12)
O que dá um total de, pelo menos, cinco viagens da Galileia a Jerusalém durante esses 3 anos (3.669km). Se considerarmos ainda as outras viagens que nos são relatadas nos Evangelhos, por exemplo, as bodas em Caná, o baptismo no rio Jordão, a estadia em Cafarnaum na casa de Pedro .... totaliza-se (segundo o artigo que vos mencionei) 5.029km durante esses 3 anos de pregação (168 dias em viagem).
Tudo isto somado, dá um total de, pelo menos, 34.640km percorridos ao longo dos 33 anos de vida de Jesus, ou seja, mais de 1.155 dias em viagem (o que constitui mais de 3 anos e 2 meses).
Ainda mais impressionante, não é?
Não há um dia que passe, sem eu me admirar e espantar mais e mais, acerca de Jesus e da sua família!
Acho que não voltarei a refilar acerca das minhas inúmeras viagens, no conforto do meu querido carrinho ...
Este texto não pretende ser um artigo científico, nem um estudo exacto - eu quis apenas fazer uma estimativa acerca de quantos quilómetros fizeram cada elemento da Sagrada Família e de quantos dias em viagem que passaram, a fim de compreender melhor as suas vidas...
Esta semana gostava de partilhar convosco uma citação maravilhosa, capaz de encher o coração de fé e de esperança, para as pequenas coisas do nosso dia a dia .... porque serão principalmente essas pequeninas coisas que nos tornarão santos um dia!
As cruzes grandes assustam, mas são raras. As pequeninas acompanham-nos por toda a parte. Não damos um passo sem as encontrar. Uma palavrinha seca, um olhar indiferente, uma pequenina dor, um contratempo, uma pessoa importuna, a chuva, o vento, a falta de qualquer objecto, são tantas as pequeninas cruzes e aborrecimentos no curto espaço de um dia!
Porque havemos de nos impacientar com isso e aspirar a sofrimentos, grandes perseguições, etc., que talvez nunca teremos que experimentar?
Contentemo-nos com as cruzes pequeninas! Elas são preciosas. Santa Teresinha amava-as tanto!
"Longe de me querer igualar às grandes Almas que, desde a sua infância, praticam toda a espécie de macerações - escreve a Santinha - fiz com que as minhas penitências consistissem em quebrar a minha vontade, reter uma palavra de réplica, prestar pequenos serviços sem dar a entender que o faço e mil outras coisas deste género."
Não é um meio eficaz de santificação? Talvez custem mais estas cruzes pequeninas do que muitas das grandes. Desde o amanhecer até ao repouso da noite, encontramos no nosso caminho dezenas e até centenas de cruzes pequeninas. Aproveitemos essa riqueza! Sejamos avaros das coisas celestes. Quanta abnegação e espírito de sacrifício na prática da aceitação quotidiana das cruzes pequeninas!
Monsenhor Ascânio Brandão - O Breviário da Confiança