Sou uma jovem esposa e mãe católica portuguesa. Neste blog partilho a minha caminhada em busca da santidade e o meu encontro com o amor misericordioso do Senhor. Espero que ele vos possa ajudar a encontrar a alegria do Evangelho!
Sou uma jovem esposa e mãe católica portuguesa. Neste blog partilho a minha caminhada em busca da santidade e o meu encontro com o amor misericordioso do Senhor. Espero que ele vos possa ajudar a encontrar a alegria do Evangelho!
O início da Quaresma leva-nos, com Jesus, ao deserto.
Uma vez baptizado, Jesus saiu da água e eis que se rasgaram os céus, e viu o Espírito de Deus descer como uma pomba e vir sobre Ele. E uma voz vinda do Céu dizia: «Este é o meu Filho muito amado, no Qual pus todo o Meu agrado.» Então, o Espírito conduziu Jesus ao deserto, a fim de ser tentado pelo diabo. (Mt 3,16-17; 4,1)
O momento em que os céus se rasgaram e o Espírito Santo desceu sobre a terra, parece ter sido um momento marcante e decisivo na caminhada de Jesus, em direcção ao pleno conhecimento da vontade do Pai. Parece ter sido o momento em que Cristo recebeu uma confirmação total acerca da missão a que o Pai O chamava, assim como das suas implicações, ou seja, a redenção de toda a humanidade através do Seu sacrifício de amor na Cruz.
Ao ler estes versículos, impressiona-me como Jesus, após um acontecimento com tanta glória e louvor, obedecendo voluntariamente à doce voz do Espírito, abandona todas as consolações e presenças humanas e Se retira sozinho para o deserto. Para aí passar pela prova de ser tentado por Satanás.
Fala-se cada vez menos de Satanás nos dias de hoje e isto é algo que muito lhe convêm e que ele deseja que permaneça assim. Porque, nós não tentaremos combater aquilo que desconhecemos sequer que existe. E, assim, permitimos que ele continue a manipular-nos e a manipular as nossas vidas, como tanto se observa na nossa sociedade de hoje em dia, sem haver qualquer resistência da nossa parte ...
Contudo, também não podemos cair no espectro oposto, de lhe atribuir poder e capacidades que ele, na verdade, não tem. Ele bem gosta de o fingir, para que acreditemos que ele é muito poderoso e capaz e que nós somos impotentes perante o seu aparente poder. Por exemplo, Satanás, sendo um anjo (se puderem voltem a ler este post sobre os anjos), ainda que decaído, desconhece o futuro - isso só Deus conhece - e apenas conhece o presente à mesma velocidade que nós, assistindo e vivendo o acontecer de cada coisa e acontecimento tal como nós. É verdade, ele conhece o passado, porque o viveu também, e, nesse aspecto, ele é perito em fazer-nos recordar o nosso passado - mas apenas as partes que lhe dão jeito, na sua constante tentativa de nos manipular ....
Diz-nos o Arcebispo Fulton Sheen que, enquanto Deus é pura verdade, definindo-Se a Si mesmo como "Aquele que é", a essência de Satanás é a mentira, podendo ser definido como "Aquele que não é". Ele é o tentador, o mentiroso, o enganador, o fingido por excelência. Uma das poucas capacidades que ele realmente tem é de ser extremamente perspicaz. Ele sabe identificar muito bem os nossos pontos fracos, está atento a cada uma das nossas reacções, sabe estudar bem as nossas tendências, os nossos padrões de comportamento e de pecado. Ele adapta-se astuciosamente a cada circunstância e a cada personalidade, falando-nos sempre através de meias-verdades, com declarações e sugestões parcialmente verdadeiras, mas sempre distorcidas e fraudulentas. E com que objectivo? Sempre na tentativa de nos afastar total e definitivamente do amor do Senhor e de nos arrastar com ele para o Inferno, onde ele próprio está já eternamente condenado.
Podemos comprovar tudo isto, se acompanharmos Jesus ao ser tentado no deserto pelo Demónio. São Mateus conta-nos que "o Tentador aproximou-se" de Jesus (Mt 4,3a). A sua astúcia e capacidade de manipulação é de tal modo que Satanás tenta Jesus fingindo que O tentava ajudar a descobrir a resposta à questão, que tinha sido gerada no Seu coração e na Sua mente após ter sido Baptizado: Como poderia Ele cumprir mais perfeitamente a Sua missão de redenção entre os homens?
Tinha sido para descobrir a resposta a esta pergunta que Jesus tinha-Se retirado sozinho para o deserto, para aí jejuar e orar durante 40 dias e 40 noites, escutando a voz do Pai e deixando-Se moldar por Ele. Mas, se o problema estava em como Jesus poderia "ganhar" e converter o coração dos homens, então o Diabo tinha umas quantas sugestões a dar-Lhe.
Todas elas envolviam - adivinhem só - um espécie de bypass, um atalho, à expiação dos nossos pecados através da Cruz. Deus Pai tinha-Lhe dito, nestes 40 dias de oração no deserto, que esta era a única maneira. Satanás tenta persuadi-Lo de que não, de que há outras maneiras. Hmm, onde é que eu já vi isto acontecer?
A serpente era o mais astuto de todos os animais selvagens e disse à mulher: «É verdade ter-vos Deus proibido comer o fruto de alguma árvore do jardim?»A mulher respondeu-lhe: «Podemos comer o fruto das árvores do jardim;mas, quanto ao fruto da árvore que está no meio do jardim, Deus disse: ‘Nunca o deveis comer, nem sequer tocar nele, pois, se o fizerdes, morrereis'. A serpente retorquiu à mulher: ‘Não, não morrereis; porque Deus sabe que, no dia em que o comerdes, abrir-se-ão os vossos olhos e sereis como Deus, ficareis a conhecer o bem e o mal‘.» (Gn 3,1-5)
Sim, nas tentações de Jesus no deserto veremos uma repetição das tentações de Adão (e de Eva) no Jardim do Éden. Mas, enquanto os nossos primeiros pais cederam à tentação, Jesus saiu vitorioso, vencendo cada uma delas.
Recordemos: qual era o objectivo, qual era a missão primordial de Deus para Adão e Eva? Viverem e participarem plenamente no Seu reino de amor, como Seus filhos muito amados, e como colaboradores do Seu poder Criador. Tal como o Catecismo da Igreja Católica nos resume na resposta à pergunta: "Para que fomos criados? Para conhecer, amar e servir a Deus" - uma resposta aparentemente simples mas tão poderosa e transformadora, se meditarmos bem nela ...
A serpente, contudo, tenta desviá-los desse objectivo e dessa missão, à semelhança do que tentará fazer com Jesus no deserto. O Diabo tenta distraí-los. Cria e fomenta uma falsa vontade nos seus corações, uma falsa necessidade, suscitando-lhes uma curiosidade que se revelará mortífera. Ele elabora uma mentira e tenta persuadi-los de que é verdade.
Os nossos pais acreditam nesta mentira, cedem sem aparente resistência, e pecam gravemente, rejeitando o amor de Deus e expulsando-se a si mesmos da Sua presença e do Seu reino. Grande foi a alegria de Satanás naquele dia ...
Agora, Satanás tentará fazer o mesmo com Jesus. As suas tentações tentam distrair Jesus da Sua missão de salvação do género humano. O Diabo tenta convencer Jesus de que há outras maneiras de alcançar a desejada Redenção da humanidade. Tenta persuadi-Lo e pô-Lo a duvidar da real necessidade da Sua entrega à vontade do Pai, através do Seu sacrifício voluntário na Cruz. Em vez de ser pela dolorosa e humilhante Cruz, Satanás tenta sugerir-Lhe três outras maneiras, uma espécie de três atalhos que, aparentemente, prometiam alcançar o mesmo fim - a salvação das almas.
Vendo a mulher que o fruto da árvore devia ser bom para comer, pois era de atraente aspecto e precioso para esclarecer a inteligência, agarrou do fruto, comeu, deu dele também a seu marido, que estava junto dela, e ele também comeu. (Gn 3,6)
Reparem: os nossos pais começaram por ver que o fruto proibido deveria ser bom paracomer,repararam no seu bom e atraente aspecto e concluíram que deveria ser bastante precioso e útil para lhes esclarecer a inteligência (e, assim, tornarem-se basicamente iguais a Deus e ocuparem o Seu lugar). Se meditarmos no assunto, perceberemos que o homem tende a ser tentado e tende a pecar de uma entre três principais maneiras (ou categorias): as que estão relacionadas com os prazeres da carne (pelos pecados da gula e da luxúria), as que estão relacionadas com o desejo de posse e o amor pelas coisas do mundo (pecado da ganância e da inveja) e as que estão relacionadas com o poder e a auto-idolatria (pecado do orgulho).
Da mesma forma, e pela mesma ordem, foi Jesus tentado no deserto pelo Demónio, para nos mostrar como podemos resistir e vencer estas tentações.
Então, o Espírito conduziu Jesus ao deserto, a fim de ser tentado pelo diabo. Jejuou durante quarenta dias e quarenta noites e, por fim, teve fome. O tentador aproximou-se e disse-Lhe: «Se Tu és o Filho de Deus, ordena que estas pedras se convertam em pães» (Mt 4,1-3)
A primeira tentação foi a da procura do conforto e do prazer dos sentidos. Que situação mais absurda - Deus a sentir fome! Onde é que isso já se viu? Como pode tal ser possível? Se Deus alimentou miraculosamente um povo tão numeroso durante 40 anos no deserto, porque é que agora não faz surgir um banquete para Si mesmo? Porque é que o próprio Deus se permite sofrer esta humilhação e passar por esta necessidade tão humana (apenas) para redimir as Suas criaturas? Parece loucura ...
Aliás, o Diabo parece prometer e sugerir-Lhe que, se Jesus usasse o Seu poder para alimentar todos os famintos deste mundo, então Ele ganharia os seus corações e, assim, a Cruz deixaria de ser necessária. Não parece um bom negócio?
Na verdade, Jesus recordará e passará novamente por esta tentação quando, pregado na Cruz em plena agonia, todos os que passarem por Ele Lhe disserem asperamente: «Salva-Te a Ti mesmo! Se és Filho de Deus, desce da cruz!»(Mt 27,40)
Respondeu-lhe Jesus: «Está escrito: Nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus.» (Mt 4,4).
Sim, Jesus passou realmente fome e sede no deserto. E, assim, uniu-Se a toda a humanidade sofredora, sedenta e faminta. Uniu-Se não só àqueles que têm falta de comida e de bebida, tão numerosos no tempo de Jesus como no nosso, mas também àqueles que têm sede e fome de Deus - e esses, sim, são muitíssimo mais numerosos hoje em dia, e encontram-se em quase todas as casas deste mundo.. O homem têm necessidades muitíssimo mais profundas do que aquelas que podem ser saciadas apenas com pão. São homens e mulheres que estão carentes duma felicidade muitíssimo maior do que ter apenas um estômago cheio. Foi para saciar tanto uma, como a outra fome, que Jesus encarnou, habitou entre nós e Se entregou, fazendo de Si mesmo e do Seu corpo o verdadeiro alimento, que nos dá a Vida Eterna.
A segunda tentação foi a da procura da posse e do controlo de todas as coisas: «Se Tu és o Filho de Deus, lança-Te daqui abaixo, que o Senhor Te sustentará» (Mt 4,6). Jesus tem perfeita noção que o caminho a que o Pai O chama terá poucos adeptos. Poucos Lhe darão ouvidos. Poucos O seguirão. Poucos se converterão. Não é um caminho fácil nem atraente aquele que Jesus nos proporá: «Se alguém quiser seguir-Me, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz, dia após dia, e siga-Me» (Lc 9,23) -
Nesta segunda tentação, o Diabo tentará persuadir Jesus a esquecer o caminho da Cruz e a substituí-lo por um caminho que demonstre chamativamente o Seu poder, que seja atractivo e cativante, a fim de tornar mais fácil que todos os homens O sigam.
Quase que oiço o Demónio a dizer-Lhe: 'Porque hás-de preferir um caminho longo e penoso, através do derramamento de sangue e de tanta dor, para converteres os homens? Porque hás-de preferir um caminho em que sejas desprezado, rejeitado e humilhado, enquanto podes escolher um caminho mais curto e eficaz se realizares um milagre vistoso e admirável? Pelo caminho da Cruz, serás como um fantoche nas mãos dos homens, farão de Ti o que eles quiseres, não poderás controlar nada - mas, se Tu quiseres, está aqui mesmo a Tua oportunidade de tomares controlo sobre tudo! Pelo caminho da Cruz, não saberás quantas pessoas conseguirás converter, mas se realizares maravilhas e feitos impossíveis prometo-Te que todos acreditarão! Se és realmente Filho de Deus, eu desafio-Te a fazeres algo heróico, para que todos possam testemunhar o Teu poder e assim acreditar!'
Então, o Diabo conduziu-O à cidade santa e, colocando-O sobre o pináculo do templo, disse-Lhe: «Se Tu és o Filho de Deus, lança-Te daqui abaixo, pois está escrito: 'Dará a Teu respeito ordens aos Seus anjos; eles suster-Te-ão nas suas mãos, para que os Teus pés não se firam nalguma pedra'» Disse-lhe Jesus: «Também está escrito: Não tentarás o Senhor teu Deus!» (Mt 4, 5-7)
Também mais tarde Jesus recordará esta tentação quando, à Sua volta, uma multidão se reunir exigindo-Lhe um milagre, qualquer que fosse, que provasse as Suas palavras e tornasse mais fácil para eles acreditarem plenamente. "As multidões afluíram em massa e [Jesus] começou a dizer: «Esta geração é uma geração perversa, [que] pede um sinal»" (Lc 11,29)
Realmente, se Jesus realizasse esses grandes e admiráveis feitos que O coagiam a fazer, multidões de homens O seguiriam. Mas, como é que isso os beneficiaria, se o pecado permanecesse incrustrado nas suas almas?
Responderá Jesus: «Não tentarás o Senhor teu Deus!» (Mt 4, 7). Não, não farei nada disso que Me pedem. Não farei a vossa vontade, que mal sabeis o que pedis ou o que precisais, mas farei, sim, e sempre, a vontade de Meu Pai. Só quando Me virem pregado numa Cruz se sentirão atraídos até Mim. Só através do Meu sacrifício, do pleno uso da Minha liberdade, da Minha entrega por amor é que, verdadeiramente, os homens se converterão e deixarão os seus maus caminhos.
E responderá Jesus às multidões que O tentam chantagear: «Esta geração é uma geração perversa; pede um sinal, mas não lhe será dado sinal algum, a não ser o de Jonas» (Lc 11, 29).Nenhum sinal vos será dado, a não ser o sinal de Alguém que será elevado aos Céus, após ter saído e vencido as profundezas das águas do abismo e da morte...
Por fim, a terceira tentação foi a da procura da própria glória e louvor: «Tudo isto [reinos e poderes do mundo] Te darei, se, prostrado, me adorares» (Mt 4,9). Satanás tenta, numa última e derradeira tentativa, distrair e desviar Jesus do caminho da Cruz. Se Jesus, tal como Ele próprio o diria mais tarde, veio a este mundo para estabelecer nele o Reino de Deus, porque não escolhia Ele um caminho mais rápido para alcançar tal? Porque não Se submetia Àquele que se apresentava como Senhor deste mundo?
Levando-O a um lugar alto, o Diabo mostrou-Lhe, num instante, todos os reinos do universo e disse-Lhe: «Dar-Te-ei todo este poderio e a sua glória, porque me foi entregue e dou-o a quem me aprouver. Se Te prostrares diante de mim, tudo será Teu.» (Lc 4, 5-7)
Será que o mundo foi-lhe realmente dado? Será que o mundo realmente lhe pertence? A contínua escolha dos homens pelo pecado parece corroborar esta afirmação. Por voto e vontade da maioria dos homens, comprovado pelas suas acções e escolhas diárias, não haveria dúvidas de que todo o mundo lhe pertencia ... em especial nos dias e na sociedade de hoje.
Mas não, isso não é verdade. Pode-nos parecer, por vezes, sim. Mas lembrem-se que Satanás é o príncipe da mentira e do fingimento! O Diabo promete que Jesus poderia ficar com tudo o que existe no mundo, desde que Ele não o tentasse mudar. Poderia ficar com os corações de toda a humanidade, desde que Ele prometesse não os tentar salvar e redimir.
Respondeu-lhe Jesus: «Vai-te, Satanás, pois está escrito: Ao Senhor, teu Deus, adorarás e só a Ele prestarás culto.» (Mt 4, 10)
Jesus responder-lhe-á: 'Vai-te Satanás! Adorar-te é servir-te e servir-te é ser escravo do pecado. Foi exactamente para tornar a humanidade livre das garras do pecado que Eu vim. Eu não desejo nada deste mundo enquanto eles estiverem presos nas amarras da maldade e da culpa. Primeiro, Eu irei vencer a maldade e a conscupiscência no coração dos homens, e então depois conquistarei o mundo e serei coroado Rei de todo o Universo! Eu prefiro perder e abdicar de tudo o que existe neste mundo, do que perder uma só alma para o Reino de amor do Meu Pai!'
Então, o Diabo deixou-O e chegaram os anjos e serviram-n'O. (Mt 4,11)
Por agora, a vitória foi alçancada. Ao contrário do primeiro Adão, o novo e eterno Adão, Jesus, vence as grandes tentações que continuamente assaltam a humanidade. O Diabo deixa-l'O-á mas não será por muito tempo. Uns capítulos à frente, leremos como o Tentador conseguirá apoderar-se momentaneamente do coração de Pedro. Ele, o primeiro entre os discípulos a reconhecer o Messianismo de Jesus, proferindo no versículo 16 do capítulo 16: «Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo», dirá também logo no versículo 22 desse mesmo capítulo: «Deus Te livre, Senhor! Isso nunca Te há-de acontecer!», quando Jesus lhes anuncia que a glória da Ressurreição só é possível através do caminho humilhante e penoso da Cruz.
Nos próximos posts, se Deus o permitir e me ajudar, continuaremos a caminhar com Jesus, nesse caminho de Cruz, em direção à plena obediência à vontade do Pai. Por agora, meditemos no nosso coração, acerca das tentações de Jesus, no seu significado, de como foi possível Ele vencer cada uma delas.
Foi através deste "primeiro treino" no deserto, através destes testes e provações, que Jesus Se fortaleceu para a "grande prova". Pela graça de Deus, nós estamos em plena Quaresma, nos exercícios de "treino" por excelência, para as grandes "provas" das nossas vidas. E a maior "prova" da minha vida começará dentro de pouquíssimo tempo, nesta mesma Páscoa ...
Post escrito após a leitura do livro "Life of Christ" do Arcebispo Fulton Sheen, 1958, pág 59 a 69
O início do 3º dia da Criação relembra-nos a travessia do Mar Vermelho a pé enxuto pelo povo hebreu, fugindo da escravatura do Egipto e dirigindo-se para o grande deserto a que o Senhor os chamava a atravessar.
"Recorda-te de todo esse caminho que o Senhor, teu Deus, te fez percorrer durante quarenta anos pelo deserto, a fim de te tornar humilde, para te experimentar, para conhecer o teu coração" (Dt 8,2)
Também Jesus, após ter sido baptizado nas margens do rio Jordão, foi conduzido pelo Espírito Santo ao deserto - para nos mostrar a Sua humildade, para nos mostrar a pureza do Seu coração - como estava prefigurado na segunda parte do relato do 3º dia da Criação.
Deus disse: «Que a terra produza verdura, erva com semente, árvores frutíferas que dêem fruto sobre a terra, segundo as suas espécies, e contendo semente.» E assim aconteceu. A terra produziu verdura, erva com semente, segundo a sua espécie, e árvores de fruto, segundo as suas espécies, com a respectiva semente. Deus viu que isto era bom. Assim, surgiu a tarde e, em seguida, a manhã: foi o terceiro dia. (Gn 1,11-13)
Foram 3 os tipos de plantas que Deus fez brotar da terra seca recém criada, à semelhança das 3 tentações pelas quais Cristo passou nos 40 dias e 40 noites em que jejuou no deserto. Por 3 vezes, Satanás tentou que Jesus cedesse e se afastasse da Sua missão de Redenção da humanidade. Por 3 vezes, Satanás tentou reproduzir, na vida e figura de Jesus, a falta de confiança demonstrada neste deserto pelo povo hebreu, na Providência Divina e nas promessas do Senhor.
A primeira tentação foi a da procura do conforto e do prazer dos sentidos:«Se Tu és o Filho de Deus, ordena que estas pedras se convertam em pães» (Mt 4,3) - à semelhança do povo hebreu que murmurou contra Moisés e, assim, contra o Senhor, com medo de morrerem à fome no deserto. Mas Jesus relembra-nos que «Nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus» (Mt 4,4).
A segunda tentação foi a da procura do poder e do controlo:«Se Tu és o Filho de Deus, lança-Te daqui abaixo, que o Senhor Te sustentará» (Mt 4,6) - relembrando a ocasião em que o povo israelita, mais uma vez, duvidou das promessas do Senhor e exigiu um milagre, uma prova, do Seu amor e do Seu cuidado paternal. Mas não teria Deus já dado provas suficientes? Quão curta pode ser a nossa memória?
Por fim, a terceira tentação foi a da procura da própria glória e louvor: «Tudo isto [reinos e poderes do mundo] Te darei, se, prostrado, me adorares» (Mt 4,9) - Ah, a procura incessante do ser humano em ser adorado, admirado e glorificado. Como parece que queremos ser, sempre, fortes, grandes e importantes. Jesus, pelo contrário, aceitou tornar-se pequeno e humano, para chegar até junto de nós. Aceitou tornar-se escravo por amor, cordeiro sacrificial para nos salvar. «Ao Senhor, teu Deus, adorarás e só a Ele prestarás culto.» (Mt 4,10) Tudo o que somos, tudo o que possuímos, tudo o que conseguimos, tudo isto é por graça e amor do Senhor.
Também nós, no nosso Baptismo, à semelhança de Cristo, somos chamados a renunciar a estas 3 tentações: ao conforto da nossa Carne, ao desejo de controlo sobre o Mundo e ao orgulho favorecido pelo Diabo.
No deserto, o povo israelita deixou-se vencer pelo seu pecado e pela sua concupiscência, escolhendo esquecer-se e afastar-se do amor do Senhor. Jesus, pela Sua humildade, conseguiu restituir a infidelidade cometida, por mim e por ti, ao amor oferecido por Deus. E Jesus venceu, sem fazer nenhum feito extraordinário, sem fazer nenhum milagre. Ele venceu todas as tentações puramente através da sua humanidade, recitando de memória as promessas que o próprio Senhor tinha feito, ao longo dos tempos, ao seu povo escolhido e muito amado.
A vitória de Jesus sobre as tentações no deserto antecipa, desde já, a Sua vitória também na Paixão, o mais supremo acto de obediência ao amor do Pai.
Sabem qual é uma das coisas que mais me lembro da Galileia? Do vento! Sim, do vento!
Desde criança que eu sempre gostei muito de vento, mas o vento da Galileia parecia ser ainda mais especial ...
Ah, só de me lembrar do vento da Galileia ....
Um vento que nos chamava a rir, ao brincar com o nosso cabelo e as nossas roupas; um vento que nos chamava a dançar, como se fosse uma criança a puxar por nós; um vento que nos refrescavao corpo cansado da viagem; um vento que nos sussurravaao ouvido acerca do tremendo amor e misericórdia de Deus; um vento que surgia de repente, aparentemente do nada, e que "bagunçava" a nossa vida, tirando-nos do nosso conforto e comodismo, à semelhança do Espírito Santo; um vento que nos impeliaa avançar, sempre, em frente ...
Também nós avançamos na nossa viagem, até uma linda capela ao ar livre, que parecia esperar por nós, escondida entre as árvores, as flores e as plantas - como se sempre estivesse estado ali desde o tempo de Jesus, como se aquele sempre tivesse sido o seu devido lugar ...
Foto tirada por outro peregrino na nossa viagem - obrigado pela partilha!
Pela graça de Deus, temos oportunidade de celebrar a Santa Missa neste preciso local - a nossa primeira Eucaristia celebrada na Terra Santa, depois de termos celebrado uma no Egipto e outra na Jordânia. Estamos a 9 de Agosto de 2019 e eu não posso deixar de sorrir e sorrir e sorrir quando me apercebo que a primeira leitura do dia é uma das minhas leituras favoritas e mais queridas do meu coração ...
É assim que a vou seduzir:
ao deserto a conduzirei, para lhe falar ao coração.
Dar-lhe-ei então as suas vinhas
e o Vale de Acor será como porta de esperança.
Aí, ela responderá como no tempo da sua juventude,
como nos dias em que subiu da terra do Egipto.
Naquele dia – oráculo do Senhor –
ela me chamará: «Meu marido»
e nunca mais: «Meu Baal.»
Tirarei da sua boca os nomes de Baal,
de modo que tais nomes não voltem a ser recordados.
Farei em favor dela, naquele dia,
uma aliança com os animais selvagens,
com as aves do céu e com os répteis da terra;
farei desaparecer da terra o arco, a espada e a guerra,
e farei com que eles repousem em segurança.
Então, te desposarei para sempre;
desposar-te-ei conforme a justiça e o direito,
com amor e misericórdia.
Desposar-te-ei com fidelidade,
e tu conhecerás o Senhor.
Oseias 2,16-22
Foto tirada por outro peregrino na nossa viagem - obrigado pela partilha!
Não consigo ler esta passagem sem me recordar sempre da belíssima música que a Danielle Rose compôs, cantou e tocou - como já tinha partilhado convosco no início deste ano. Esta foi uma das músicas que mais me acompanhou durante os primeiros 6 meses deste ano de 2019, uma altura da minha vida que, devido a uma grande conjugação de factores, se veio a revelar tão espiritualmente difícil para mim ...
Ao trazer estas memórias de volta ao coração e ao reflectir naquilo que vivi e experienciei naquela bela manhã de Missa campal, consigo finalmente compreender uma última coisa que o Senhor desejava dizer-me, através daquele vento especial da Galileia ... É que aquele vento, novo e rejuvenescedor, era também um vento de mudança, de muitas mudanças, que se sucederiam, umas a seguir às outras, mal eu chegasse de volta a Portugal, cada uma mais bela e maravilhosa que a anterior ...
Oh, louvado sejas, Senhor meu, para todo o sempre!
Foto tirada por outro peregrino na nossa viagem - obrigado pela partilha!
O povo hebreu tem andado pelo deserto desde há 40 anos ... e parece que nunca mais chega à Terra Prometida. Ainda se lembram de quantas pessoas é que saíram do Egipto?
Durante 40 anos, depois de tirar o povo do Egipto, Deus tem tentado tirar o Egipto do coração, da mente, da alma e do corpo daquele povo que tanto amava, a fim de os tornar verdadeiramente livres.
Não tem sido tarefa fácil para o Senhor ... volta e meia (ou melhor dizendo, a cada nova página do livro do Êxodo, dos Números e do Deuteronómio) o povo revolta-se e começa a murmurar contra o Senhor e contra as circunstâncias que o próprio povo escolheu e aceitou...
Então o povo começou a murmurar contra Moisés, inquirindo: “Que haveremos de beber?
Ex 15,24
Ali o povo teve sede de água, e murmurou contra Moisés, dizendo: «Porque nos fizeste subir do Egipto para nos fazer morrer à sede, a nós, aos nossos filhos e ao nosso gado?»
Ex 17, 3
Os filhos de Israel puseram-se a chorar, dizendo: «Quem nos dará carne para comer? Lembramo-nos do peixe que comíamos de graça no Egipto, dos pepinos, dos melões, dos alhos porros, das cebolas e dos alhos. Agora, a nossa garganta está seca; não há nada diante de nós senão maná.»
Nm 11, 4b-6
Levantou-se toda a assembleia a gritar e o povo chorou toda essa noite. Murmuraram contra Moisés e contra Aarão todos os filhos de Israel, dizendo consigo toda a assembleia: «Antes tivéssemos morrido na terra do Egipto ou mesmo neste deserto. Porque nos fez sair o Senhor para esta terra a fim de nos matar à espada? As nossas mulheres e as nossas crianças serão humilhadas. Não nos seria melhor voltar para o Egipto?»
Nm 14, 1-3
Do monte Hor, os israelitas partiram pelo caminho do Mar dos Juncos para contornar a terra de Edom, mas cansaram-se na caminhada. O povo falou contra Deus e contra Moisés: «Porque nos fizestes subir do Egipto? Foi para morrer no deserto, onde não há pão nem água, estando enjoados com este pão levíssimo?»
Nm 21, 4-5
Talvez por também eu ser refilona, tendo a simpatizar com os "refilanços" do povo hebreu.
Na verdade, as suas murmurações parecem-me legítimas - passam por locais onde não há água, não há pão, não há carne nem peixe; caminham quilómetros e quilómetros com os seus filhos, as suas tendas e todos os seus pertencem às costas, sem saberem bem o caminho, nem que perigos os esperam do outro lado dos montes que vão percorrendo; passam 40 anos a comer o mesmo tipo de pão, o maná (pois claro que já não o podiam ver à frente!); passam por diversas terras onde os habitantes os tentam matar e apoderar-se das suas poucas posses ...
Jesus dirá e ensinar-nos-á, séculos e séculos mais tarde
Pedi e ser-vos-á dado; procurai e achareis; batei e abrir-se-vos-á; porque todo aquele que pede, recebe; quem procura, encontra, e ao que bate, abrir-se-á.
Lc 11, 9-10
A diferença, é que há formas e formas de pedir ...
Todos os "filhos de Israel" que saíram do Egipto foram morrendo ao longo da sua longa peregrinação pelo deserto. Nenhum deles chegou a entrar na Terra Prometida - nem mesmo Moisés. Estes 40 anos foram importantes para que ocorresse uma nova geração neste povo, que novas crianças nascessem e crescessem, longe do poder e da influência do Egipto. Serão estas crianças, agora adultas e com as suas próprias famílias, que lutarão por chegarem, finalmente, à Terra Prometida pelo Senhor, Deus de Abrãao, de Isaac, de Jacob, de Moisés ...
E, tal como ao povo hebreu, também a nossa peregrinação nos leva até ao topo do Monte Nebo
Moisés subiu das planícies de Moab ao monte Nebo, ao cimo do Pisga, que está em frente de Jericó. O Senhor mostrou-lhe toda a terra, desde Guilead até Dan, todo o Neftali, o território de Efraim e de Manassés, todo o território de Judá até ao mar ocidental, o Négueb, o Quicar, no vale de Jericó, cidade das Palmeiras, até Soar.
O Senhor disse-lhe: «Esta é a terra que jurei dar a Abraão, Isaac e Jacob. Dá-la-ei à vossa descendência. Viste-a com os teus olhos, mas não entrarás nela.»
E Moisés, o servo de Deus, morreu ali, na terra de Moab, por determinação do Senhor. Foi sepultado num vale da terra de Moab, defronte de Bet-Peor, mas ninguém até hoje soube do lugar da sua sepultura. Moisés tinha cento e vinte anos quando morreu; a sua vista nunca enfraqueceu e o seu vigor nunca se esgotou.
Dt 34, 1-7
Terá sido neste vale, que se vê do cimo do Monte Nebo, que o corpo de Moisés foi sepultado, mas até hoje, por mais escavações que têm sido feitas, ninguém ainda o encontrou...
O Monte Nebo é o local onde Moisés pôde avistar, pela primeira e última vez, a Terra Prometida por Deus, a terra onde correria leite e mel (de tâmaras)...
A primeira igreja aqui construída terá sido por volta do séc. IV d.C., exactamente por este ter sido o local onde Moisés viu a Terra Prometida e onde pode finalmente repousar após o seu longo êxodo. Os restos desta igreja foram descobertos apenas em 1933 e têm sido lentamente recuperados pelos Franciscanos responsáveis pela Custódia da Terra Santa.
Logo à entrada deste local sagrado, somos recebidos por um escultura bastante peculiar. Ora, digam-me lá o que veem? O que vos parece ser?
Conseguem ver o contorno dum rosto de homem, talvez Moisés, sim?
Mas se chegarmos mais perto, veremos que, de outra perspectiva, começa a parecer-nos um livro aberto...
E vemos os bustos de Abrãao, Isaac, Jacob, assim como de profetas como Isaías e Jeremias, por cima do nome de diversos livros do Antigo Testamento...
Logo ali ao lado, encontramos uma grande rocha, em tempos usada para tapar a entrada dum túmulo aqui nas terras da Jordânia, que conseguiu permanecer inteira até aos dias de hoje. Esta rocha deverá ser bastante semelhante àquela que foi colocada à entrada do túmulo de Jesus - conseguem perceber quão grande é? É enorme! Deve ser pesadíssima ...
Bem que ficaram todos tão espantados quando viram a pedra deslocada no terceiro dia após a morte de Jesus e o Seu túmulo vazio (que, em apenas alguns dias, também nós veríamos!!)
Estava eu a imaginar a cena da descoberta do túmulo vazio, quando os meus olhos captam algo que eu não estava nada à espera de encontrar ... O que é aquilo? Parece-me ... poderá ser? Sim, é mesmo!
Do monte Hor, os israelitas partiram pelo caminho do Mar dos Juncos para contornar a terra de Edom, mas cansaram-se na caminhada. O povo falou contra Deus e contra Moisés: «Porque nos fizestes subir do Egipto? Foi para morrer no deserto, onde não há pão nem água, estando enjoados com este pão levíssimo?»
Mas o Senhor enviou contra o povo serpentes ardentes, que mordiam o povo, e por isso morreu muita gente de Israel.
O povo foi ter com Moisés e disse-lhe: «Pecámos ao protestarmos contra o Senhor e contra ti. Intercede junto do Senhor para que afaste de nós as serpentes.» E Moisés intercedeu pelo povo.
O Senhor disse a Moisés: «Faz para ti uma serpente de bronze e coloca-a num poste. Sucederá que todo aquele que tiver sido mordido, se olhar para ela, ficará vivo.»
Moisés fez, pois, uma serpente de bronze e fixou-a sobre um poste. Quando alguém era mordido por uma serpente e olhava para a serpente de bronze, vivia.
Num 21, 4-9
Mesmo quando veio sobre eles a terrível fúria das feras,
e pereciam pela mordedura das serpentes sinuosas,
a Tua ira não durou até ao fim.
Para sua correcção, foram atribulados por pouco tempo,
mas tinham um Sinal de salvação
para lhes recordar os mandamentos da Tua Lei.
Quem se voltava para ela [serpente de bronze] era curado,
não pelo que via,
mas por Ti, Salvador de todos.
Sb 16, 5-7
Acreditem, eu fiquei largos minutos, de boca aberta, simplesmente a contemplar esta escultura, que tanto me falou ao coração ...
Disse Jesus: «Ninguém subiu ao Céu a não ser aquele que desceu do Céu, o Filho do Homem. Assim como Moisés ergueu a serpente no deserto, assim também é necessário que o Filho do Homem seja erguido ao alto, a fim de que todo o que Nele crê tenha a vida eterna.
Tanto amou Deus o mundo, que lhe entregou o Seu Filho Unigénito, a fim de que todo o que Nele crê não se perca, mas tenha a vida eterna. De facto, Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele.»
Jo 3, 13-17
Nem a história das serpentes venenosas e da serpente de bronze, nem este discurso de Jesus, se passaram exactamente neste local, mas eu fiquei absolutamente extasiada ao ver esta enorme escultura de metal - que não é propriamente bonita, eu sei, mas é tão significativa! - ao ver a maneira como o artista italiano, Giovanni Fantoni, conseguiu entrelaçar tão bem estas passagens, que sempre me falaram tanto ao coração!
Também nós, quando nos deixamos levar pelo veneno do pecado, basta que levantemos os olhos, apesar da dor e da vergonha, e olhemos para Aquele que nos quis voluntariamente dar todo o Seu Amor e Perdão, para que nós fossemos curados e salvos e assim vivêssemos, junto d'Ele, para todo o sempre...
Está na hora da missa. Jesus está mesmo ali, à nossa espera, para nos dar uma nova vida.
O Santuário, erguido sobre as ruínas da primeira igreja do séc. IV d.C., serve simultaneamente de igreja e de museu, e é ali mesmo que temos oportunidade de celebrar uma das Eucaristias mais simples mas mais bonitas e transformadoras que eu alguma vez tinha tido a oportunidade de participar ...
Ali estávamos nós, um grupo de portugueses, a falar uma língua diferente, num canto do Santuário a celebrar a Santa Missa. E, quando damos por isso, quase todos os turistas tinham parado a meio a sua visita das descobertas arqueológicas ali expostas e tinham-se sentado nos bancos, assistindo e participando na Missa connosco! Oh, louvado seja Deus!
Continuamos o nosso caminho pelo deserto em direcção ao Monte Sinai. Já atravessámos o Mar Vermelho, tal como o povo hebreu; e para traz de nós ficaram os cavalos e os cavaleiros do Egipto. A parte mais fácil do trabalho de Deus - tirar o povo hebreu do Egipto - já está feita.
Agora sim vem a parte mais complicada e mais demorada desta tarefa a que Deus se propõe - tirar o Egipto de dentro do coração, da mente, da alma e do corpo do povo hebreu... Isto sim, dará imenso trabalho! Não demorará apenas alguns meses, como foi para tirar o povo hebreu do Egipto ... Deus Todo Poderoso, que criou o Céu e a Terra em apenas 6 dias, precisará de levar aquele povo - "de dura cerviz", como o próprio Moisés confessa - através do deserto durante 40 anos para tal conseguir ....
Moisés fez partir Israel do Mar dos Juncos, e saíram para o deserto de Chur. Caminharam três dias no deserto e não encontraram água. Chegaram a Mara, mas não puderam beber a água de Mara, porque era amarga. Por isso se chamou àquele lugar Mara.
O povo murmurou contra Moisés, dizendo: «Que beberemos?»
E ele clamou ao Senhor, e o Senhor indicou-lhe um tronco que ele lançou à água; e a água tornou-se doce.
Ex 15, 22-25
Chegamos a Mara, local onde ocorreu este pequeno episódio bíblico. Este pequeno relato facilmente passa despercebido quando seguimos a história do povo hebreu ao longo do livro do Êxodo - eu não me lembrava de alguma vez o ter lido até este dia!
O povo hebreu e todo o seu rebanho está cheio de sede. Andaram 3 dias pelo deserto sem encontrar nenhuma fonte de água. Toda a água que traziam, tirada do Mar dos Juncos, ou seja, do Mar Vermelho, esgotou-se. E agora, o que fazer? Voltar para trás? Continuar caminho? Morreremos todos à sede?
Eis que vislumbram um autêntico oásis: água, um poço de água! Rápido, venham todos beber!
Mas oh, que decepção! Que água tão amarga, impossível de beber....
O povo hebreu vira-se para um homem, à procura duma solução. O sábio Moisés sabe bem melhor para Quem se deve virar para pedir ajuda - Aquele que tudo pode, Aquele que prometera que estaria sempre com eles.
Deus pede a Moisés que jogue o tronco duma árvore para dentro do poço. Que pedido mais estranho!Estamos em pleno deserto, porque é que Deus não pediu a Moisés que jogasse uma pedra? Pedras há muitas por aqui ...
As árvores são tão raras aqui no deserto. Na periferia do deserto ainda era possível encontrar-se tamareiras; mas aqui, no meio do deserto, apenas é possível encontrar algumas acácias.... E, o mais provável, é que tenha sido essa a espécie de árvore que Moisés atirou para dentro do poço, tornando a água amarga em doce.
Conseguem acreditar que não me lembrei de tirar uma única foto duma acácia ao longo da peregrinação? Foto retirada daqui
As acácias foram quase sempre árvores pouco valorizadas por todos os povos que alguma vez aqui habitaram, no deserto. Sempre foram árvores desprezadas.... Crescem apenas nos lugares mais áridos e decididamente que não são árvores bonitas; são finas e tortuosas, cheias de nós e de espinhos - tudo características que as tornam imensamente difíceis de trabalhar e de fazer seja o que for com a sua madeira. Os Egípcios nunca gostaram de trabalhar com a madeira das acácias, preferiam mais os cedros do Líbano....
Apesar disso, se avançarmos no livro do Êxodo e se lermos com atenção as ordens do Senhor para a construção da Arca da Aliança e dos principais objectos da Tenda da Reunião (e posteriormente do Templo do Senhor) iremos reparar, com frequência, num pormenor muito curioso:
O Senhor falou a Moisés, dizendo-lhe: «Fala aos filhos de Israel. Fareis o santuário e todos os seus utensílios, de acordo com os modelos que vou mostrar-vos. Fareis uma Arca de madeira de acácia. Mandarás fazer varais de madeira de acácia revestidos de ouro; introduzirás os varais nas argolas, ao longo dos lados da Arca, a fim de servirem para a transportar.
Construirás em seguida uma mesa de madeira de acácia. Farás para a mesa quatro argolas de ouro e prendê-las-ás nas quatro extremidades, formadas pelos seus quatro pés. Estas argolas estarão colocadas frente a frente e por elas passarão varais destinados ao transporte da mesa. Farás os varais de madeira de acácia revestidos de ouro e servirão para transportar a mesa. Colocarás sobre esta mesa os pães da oferenda, que estarão permanentemente diante de mim.
Ex 25, 1; 9-10; 13; 23; 26-28; 30
Farás também para o santuário pranchas verticais de madeira de acácia. Assim construirás o santuário, conforme a norma que te mostrei neste monte.
Ex 26, 15; 30
Farás o altar de madeira de acácia. Farás, para o altar, varais de madeira de acácia, revestidos de cobre.
Ex 27, 1; 6
Também construirás um altar para queimar perfumes, e fá-lo-ás de madeira de acácia.
Ex 30,1
Deus pede ao povo hebreu que faça alguns dos objectos mais importantes da Tenda da Reunião usando a madeira da acácia, nomeadamente a própria Arca da Aliança, que conterá as sagradas tábuas com os 10 Mandamentos da Lei do Senhor.
Mas com Deus é sempre assim: tudo aquilo que tiver sido desprezado pelo mundo, Ele reconhece o seu devido valor e ainda o eleva acima das outras coisas ... Servimos um Deus tão bom, tão bom...
Para utilizar a madeira da acácia era preciso, primeiro, cortar os ramos em segmentos de pequeno tamanho (porque os ramos são tortuosos e pouco práticos de utilizar); depois, colocar os ramos em água, para ser possível retirar a sua casca; a seguir era preciso cortar os nós e os espinhos e tentar "endireitar" as angulações naturais destes ramos; e finalmente obtém-se um pedaço de madeira mais ou menos direitinho, mais ou menos pronto a ser usado para construir alguma coisa. Por fim, para que pudesse servir a construção da Arca da Aliança ou dos outros objectos da Tenda da Reunião, era ainda preciso revestir a madeira com uma camada de ouro ou de bronze ... quanta trabalheira!
Mas sabem que mais? A madeira da acácia, uma árvore capaz de resistir à vida difícil do deserto, quando assim trabalhada, torna-se numa das madeiras mais resistentes que se pode encontrar...
Na realidade, se pararmos para pensar um pouco, apercebemo-nos que nós próprios somos muito parecidos com as acácias ... Todos nós temos muitos "espinhos" e "nós" e "angulações", muitos erros e falhas e defeitos e características difíceis de lidar. Para trabalhar com a madeira duma acácia é necessário que se faça um longo e paciente processo de limpeza e tratamento, tentando endireitar ou suavizar ao máximo estes espinhos e nós. Também em nós o Senhor precisa fazer um longo e paciente processo de "limpeza e tratamento" a fim de nos tornar santos.
O primeiro passo neste processo consiste em mergulhar os ramos da acácia dentro de água, a fim de lhes retirar a casca; também nós precisamos de passar, primeiro e logo desde o princípio, pelas águas do Baptismo, a fim de nos retirar a carapaça do pecado original e assim podermos ser trabalhados pelas mãos do Santo dos Santos.
Mas o processo ainda não está completo; é ainda preciso que sejamos revestidos pelo Espírito Santo, tal como acontece no nosso Crisma - e agora sim, o pecado jamais conseguirá aceder e estragar definitivamente o íntimo da nossa natureza, o íntimo da nossa alma. Conseguirá sim, fazer uns riscos ou umas moças, sujar-nos e deixar-nos com algumas manchas ao longo das nossas vidas - mas nada disso será capaz de chegar até ao fundo do nosso coração, se trabalhado desta maneira por Deus. Esse precioso núcleo estará sempre protegido pelas próprias mãos do Senhor, estará sempre a salvo ...
Poço de Mara
Voltemos ao poço das águas de Mara e aos nossos poços, onde acumulamos os nossos problemas, medos, dúvidas, erros e asneiras. Por vezes parecem que estão cheios de água até cá acima, sim, mas cheios duma água amarga, incapaz de dar a vida a quem dela beba ...
Claro que não foi a árvore jogada dentro do poço que purificou aquela água; foi sim todo o trabalho que o povo hebreu teve ao tratar e transformar aquele tronco; foi a cruz de aceitar ter todo aquele trabalho; foi, em última instância, o trabalho que Deus teve no coração de cada um deles, em cada um de nós ...
Oh Senhor, trabalha em mim e no meu coração tanto quanto seja preciso! Amén
Continuamos o nosso caminho em direcção ao Monte Sinai - o local onde Moisés recebeu as tábuas com as leis de Deus. Espera-nos ainda algumas horas de viagem e, por isso, o Samuel, o nosso guia egípcio, aproveita este tempo para nos falar um pouco mais de Moisés e de nos ler a sua história nas Sagradas Escrituras. O Samuel é capaz de falar sobre Moisés como se falasse acerca dum querido amigo seu ...
(E falar sobre Jesus então? Quanta ternura e quanto conhecimento! Os cristãos coptas do Egipto, que correspondem apenas a uma pequena percentagem da população egípcia, têm sido perseguidos pela sua Fé quase desde a altura em que São Marcos veio evangelizar este território, por volta do ano 67 d.C. Apesar disso - ou será melhor dizer, devido a isso - eles têm-se mantido firmes e fortes na Fé, na propagação do Evangelho e na partilha generosa de todas as bênçãos e graças que recebem do Senhor. Estas famílias levam tão a sério o seu comprometimento cristão que fazem questão de tatuar uma pequena cruz na face interna do punho de todos os seus bebés, logo ao nascer!)
É impressionante como a história de vida de Moisés pode assemelhar-se à história de vida de qualquer um de nós. Abençoado desde a nascença, rodeado de cuidados, protecção e riquezas, que reflectiam o amor e carinho de Deus por Moisés. Apesar de tudo isso, deixa-se levar pelo pecado (de tal modo que chega a cometer um assassínio) e é obrigado a fugir para o deserto, onde, arduamente e ao fim de longos anos, aprende a ser um homem bom. Bom, mas ainda não santo. E assim, a sua história não acaba aqui: Deus dá-Se a conhecer intimamente a Moisés e Moisés descobre que, sim, devemos amar a Deus acima de todas as coisas, mas também o próximo como a nós mesmos... e isso, bem, digamos assim, às vezes dá algum trabalho - como por exemplo guiar, ensinar e proteger mais de 2 milhões de pessoas, desde o Egipto, de volta à terra de Canaã. Coisinha pouca, claro
O livro do Êxodo indica-nos claramente que a vida de Moisés passou por estas 3 fases diferentes, cada uma delas levando cerca de 40 anos - ei, afinal não somos só nós que demoramos a aprender as lições de Deus, ahn?
Um homem da casa de Levi tomou por esposa uma filha de Levi. A mulher concebeu e deu à luz um filho. Viu que era belo, e escondeu-o durante três meses. Não podendo mantê-lo escondido por mais tempo, arranjou-lhe uma cesta de papiro, calafetou-a com betume e pez, colocou nela o menino, e foi pô-la nos juncos da margem do rio. A irmã dele colocou-se a uma certa distância para saber o que lhe sucederia.
Ora a filha do faraó desceu ao rio para tomar banho, enquanto as suas jovens acompanhantes caminhavam ao longo do rio. Viu a cesta no meio dos juncos e enviou a sua serva para a trazer. Abriu-a e viu a criança: era um menino que chorava. Compadeceu-se dele e disse: «Este é um dos filhos dos hebreus.»
Então a irmã dele disse à filha do faraó: «Queres que te vá chamar uma ama entre as mulheres dos hebreus, para te amamentar o menino?» «Vai», disse-lhe a filha do faraó. E a jovem foi chamar a mãe do menino. A filha do faraó disse-lhe: «Leva este menino e amamenta-mo, e dar-te-ei o teu salário.» A mulher levou o menino e amamentou-o.
O menino cresceu, e ela devolveu-o à filha do faraó. Foi para ela como um filho, e deu-lhe o nome de Moisés, dizendo: «Porque o tirei das águas.»
Ex 2, 1-10
O nascimento daquela criança era a última coisa que aquela família precisava ... Era o pior que podia ter acontecido. Quão inconveniente! Em quantos trabalhos os colocou! Já sob o jugo de trabalhos diários tão difíceis, vidas previamente já complicadas, dificultadas pela opressão do Faraó, que desejava diminuir a todo o custo aquele povo hebreu, que parecia ser cada vez mais numeroso (o mundo sempre teve medo das famílias grandes...) E nascer logo um rapaz ... pior era impossível. Ainda se fosse uma rapariga, o Faraó permitia que vivesse, mas um rapaz ... O nascimento daquela criança colocava aquela família em sério risco de vida. Se fossem descobertos, o que aconteceria?
O menino crescia, dia após dia, e já não era possível mais escondê-lo... Mas crescer para quê? Para que vivesse também ele uma vida de miséria? Viver assim não é viver, dizem ... Para viver assim, mais valia que morresse já ...
Mais de 3.000 anos separam-nos desta história, mas o raciocínio de pensamento parece que se mantém o mesmo na nossa sociedade ... Se uma vida promete ser difícil de viver, então não vale a pena... Se for diferente daquela que a gente pensa ser a ideal, então não vale a pena viver....
Uma última mamada e Moisés adormece no seu cestinho de papiro. O rio Nilo sempre foi conhecido pela sua abundância de crocodilos e de hipopótamos. Talvez, assim adormecido, não sinta sequer nada ...
A dor daquela mãe, daquela família, é real. É horrivelmente grande e real. É absurdamente grande, capaz de rasgar o peito e a alma ... O que poderia ter tornado as coisas diferentes? Talvez apenas fosse preciso uma mão de alguém, um gesto de apoio, um ombro amigo - em que desse não só para chorar, sim, mas também para pôr aquele bebé a arrotar ou para ajudar a carregar os pesados tijolos de barro, que diariamente tinham de ser feitos sob um sol abrasador ...
A irmã de Móises, Miriam, apesar de ser ainda criança, sabe que aquilo não está certo... Poderá não saber exactamente porquê, mas as crianças sabem muitíssimo bem discernir o que está certo e o que está errado, com uma clareza que é capaz de superar a de muitos adultos ...
A primeira filha do Faraó Ramessés II era infértil, o que significava que o poder do próximo reinado poderia passar para as mãos de outro ramo da família. A adopção daquele bebé foi uma enorme bênção para a família real. Deus é assim - em todas as circunstância, transforma o mal em bem. A (aparente) desgraça numa família muitas vezes corresponde à resposta das orações e súplicas mais intensas de outra família ...
E Deus oferece uma nova oportunidade àquela mãe, provavelmente já arrependida do que fez, talvez em estado de puro desespero e arrependimento, talvez já odiando-se profundamente pelo que tinha feito ... E Deus, não só perdoa, não só dá uma nova oportunidade, como ainda abençoa aquela mãe - que deve ser a única mulher na história da humanidade que foi paga para poder ficar em casa a cuidar do próprio filho! E esta, ah? Oh, quantas mulheres conheço que desejariam o mesmo ...
É provável que Moisés, sendo príncipe do Egipto, tenha sido enviado para as escolas da cidade de Mênfis, a famosa "cidade dos sábios", para estudar e aprender tudo o que precisava para se tornar, um dia, num grande líder. Mal ele imaginava o quanto as capacidades que aprenderia nesta fase da sua vida ser-lhe-iam tão úteis e necessárias no futuro ...
Entretanto, Moisés cresceu, foi ao encontro dos seus irmãos e viu os seus carregamentos. Viu também um egípcio que açoitava um dos seus irmãos hebreus.
Olhando para todos os lados e vendo que não havia ali ninguém, matou o egípcio e enterrou-o na areia.
Ex 2, 11-12
Caramba, Moisés devia ter um feitio terrível! Que exagero! Que reação desmedida!
Moisés escolhe uma solução absolutamente desproporcional às circunstâncias, mesmo após passar anos e anos na escola dos sábios de Mênfis, mesmo após aprender tanta "sabedoria" ... Pode ter aprendido muitas coisas, mas de certeza que não aprendeu o que é realmente importante ... Afinal, nem consegue sequer resolver coisas simples, como um mero conflito entre duas pessoas - como é suposto que saiba governar uma nação inteira? Oh, como eu por vezes me revejo nesta faceta de Moisés...
E Deus, querendo falar-lhe ao coração, leva-o então ao deserto, como faz também com cada um de nós ...
O faraó ouviu falar deste assunto e procurou matar Moisés. Mas Moisés fugiu da presença do faraó, foi residir na terra de Madian
Ex 2, 15
Passar pelo deserto é sempre difícil. Custa sempre - e muito, mesmo muito.
Mas é o local da escola Divina por excelência...
Moisés estava a apascentar o rebanho de Jetro, seu sogro, sacerdote de Madian. Conduziu o rebanho para além do deserto, e chegou à montanha de Deus, ao Horeb.
O anjo do Senhor apareceu-lhe numa chama de fogo, no meio da sarça. Ele olhou e viu, e eis que a sarça ardia no fogo mas não era devorada. E Deus chamou-o do meio da sarça: «Moisés! Moisés!» Ele disse: «Eis-me aqui!» E continuou: «Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacob.» Moisés escondeu o seu rosto, porque tinha medo de olhar para Deus.
O Senhor disse: «Eu bem vi a opressão do meu povo que está no Egipto, e ouvi o seu clamor diante dos seus inspectores; conheço, na verdade, os seus sofrimentos. Desci a fim de o libertar da mão dos egípcios e de o fazer subir desta terra para uma terra boa e espaçosa, para uma terra que mana leite e mel. E agora, vai; Eu te envio ao faraó, e faz sair do Egipto o meu povo, os filhos de Israel.»
Moisés disse a Deus: «Quem sou eu para ir ter com o faraó e fazer sair os filhos de Israel do Egipto?»
Ex 3, 1-2; 4; 6-8; 10-11
Moisés foge, do Egipto para o deserto, por volta dos seus 40 anos de idade (o que quer representar apenas a sua juventude e inicio na idade adulta). É necessário que viva outros 40 anos (que representa o seu amadurecimento) até aprender, verdadeiramente, a virtude da humildade - aqui tão bem representada nesta resposta «Quem sou eu para ...?»
Anos mais tarde, os descendentes de Moisés escreverão acerca dele, dizendo que
Na realidade, Moisés era um homem muito humilde, mais que todos os homens que há sobre a face da terra
Nm 12,3
Outras versões da Bíblia dizem que "Moisés era um homem muito paciente" ou "muito manso". Pois, é que o deserto é também um óptimo local para desenvolver a virtude da paciência (que claramente Moisés não possuía, pelo seu comportamente explosivo no conflito entre o egípcio e o hebreu). Quem viu Moisés na sua juventude e quem o vir agora, perto dos 80 anos, ou seja, como adulto amadurecido e experienciado - quem diria que poderia vir a acontecer tal tranformação? Oh, só o Senhor pode operar milagres destes ...
Sim, a todos nós, seja apenas uma única vez, ou muitas vezes, Deus levar-nos-á ao deserto, para nos falar ao coração e para fazer de nós pessoas mais pacientes, mais humildes, mais resistentes, mais santas ...
Após este longo processo de amadurecimento, Moisés está pronto para uma nova fase, um novo desafio, uma nova aventura. Deus chama-o a guiar, organizar, pacificar e preocupar-se com a vida de mais de 2 milhões de pessoas ... como será tal possível?
Moisés disse a Deus: «Quem sou eu para ir ter com o faraó e fazer sair os filhos de Israel do Egipto?»
Este ano está a ser particularmente difícil e desafiante para mim ... por uma série de razões diferentes ... que, no seu conjunto, têm feito com que este ano esteja a ser muito, muito difícil para mim ...
Louvado seja Deus pela descoberta que fiz, há uns tempos atrás, e que me tem ajudado, em parte, a aceitar este período turbulento e incerto e que tanta dor me tem causado ...
Queria partilhar convosco o blog e em especial o podcast do querido Padre "da minha Faculdade de Medicina", o Pe António Pedro Monteiro....
Chama-se (tão adequadamente) Aquele que habita os Céus sorri - e não posso recomendar-vos o suficiente a escuta atenta e reflexiva deste podcast.... Vale tanto, tanto, tanto a pena!
Algumas das homilias que mais me tocaram, bem fundo, no coração, nos últimos tempos foram:
Jesus lifestyle - O coração de Jesus
Cabem todos e a rede não se rompe
A tarefa de renovar todas as coisas
Mas eu acho sinceramente que podia ter escolhido todas as homilias que já ouvi do nosso querido Padre António Pedro Monteiro - tanto estas, disponíveis em formato electrónico, como todas aquelas que me lembro de ter ouvido ao longo dos anos de faculdade ... e que tanto impacto tiveram em mim e na minha vida.
Louvado seja Deus pela graça de podermos ouvir estas palavras, que tanto nos (re)aquecem o coração!
Um abençoado fim-de-semana para todos
E se se lembrarem, nem que seja por um breve momento, por favor, rezem por mim ...
O Senhor levou-me ao deserto, uma vez mais. Até parece que estamos em plena Quaresma, não é?
Sabem, este ano, dei por mim a desejar que a Quaresma nunca mais chegasse. Adiei e adiei e adiei até ao máximo tudo o que pudesse ter a ver com a Quaresma. Eu não queria que a Quaresma chegasse...
Porquê? Porque a Quaresma dói, a Quaresma custa. Viver verdadeiramente uma Quaresma dói e custa.
Quaresma é tempo de mudança, de purificação, de morte - para o nosso homem velho, pecador, orgulhoso, auto-suficiente - para que um novo homem, humilde, livre das cadeias do pecado, ardente de amor por Deus e pelo próximo, possa nascer e crescer.
Racionalmente, eu sabia tudo isto. Mas deixei-me levar pela voz sedutora e mentirosa do Maldito, que me assegurava e convencia do quanto uma Quaresma é exigente e dura e sofrida ....
A graça e o amor de Deus, porém, vence tudo. E assim, após um período de arrependimento e reconciliação, deitei mãos e coração e cérebro a planear a Quaresma de 2019. Oh, ia ser perfeita - ia fazer isto e aquilo e o outro, abdicaria disto e daquilo, aprenderia a fortalecer esta e aquela virtude, venceria este e aquele vício e pecado com este e este método e ....
Claro, Deus - louvado seja - à primeira oportunidade, deitou os meus lindos planos pela janela e virou a minha vida do avesso. Louvado seja! Um Pai que não dá aos seus filhos aquilo que eles querem, mas sim aquilo que eles precisam e que é realmente melhor para eles.
Portanto, esta Quaresma, com todos os seus sacrifícios, alegrias, dores, milagres, bênçãos e graças, tem decorrido ao ritmo e ao sabor do nosso querido Salvador.
Ele é que tem escolhido as cruzes que me pede para levar - com Ele.
Ele é que tem escolhido as lições a aprender.
Ele é que tem escolhido as formas de eu amar o próximo.
Ele é que tem escolhido os pecados que precisam de ser redimidos e as virtudes que precisam de serem aprendidas e exercidas - aqui mesmo, neste exacto momento da minha vida, no meio desta tempestade que foge do meu controlo que tem sido a minha vida nos últimos tempos ...
Mas se queremos chegar à Terra Prometida, temos de passar primeiro pelo deserto. E assim Deus levou-me ao deserto, mais uma vez. Juntos, temos passado por períodos de intensa aridez; juntos, temos passado por períodos de dor - porque qualquer morte dói sempre - e esta Quaresma tem-me dado inúmeras oportunidades para o meu tremendo orgulho morrer, para a minha vontade egoísta morrer, para o meu desejo de controlar tudo à minha volta morrer, para as minhas inúmeras inseguranças e dúvidas e medos morrerem ...
In The Silence Of The Heart
(Hosea 2:16-17, 21-22)
"In the silence of the heart In the silence of the heart In the silence of the heart You speak
Thus says the Lord, “I will allure her I will lead her into the desert.
There she shall respond as in the days of her youth, When she came up from the land of Egypt.
I shall espouse you to me forever, In right and in justice, love and in mercy; I’ll espouse you in fidelity, And you shall know the Lord."
No Silêncio do Coração (Oseias 2:16-17, 21-22)
"No silêncio do coração No silêncio do coração No silêncio do coração Tu falas
Assim diz o Senhor: "Eu vou seduzi-la Eu vou levá-la para o deserto.
Lá ela responderá como nos dias da sua juventude, Quando ela veio da terra do Egipto.
Eu vou desposar-te para sempre, No direito e na justiça, amor e misericórdia; Eu esposar-te-ei em fidelidade E tu conhecerás o Senhor."
Não podia deixar passar a oportunidade de partilhar convosco mais uma das canções da minha cantora favorita - a Danielle Rose - cuja letra tem sido vivida tão intensamente por mim nesta Quaresma ...