Sou uma jovem esposa e mãe católica portuguesa. Neste blog partilho a minha caminhada em busca da santidade e o meu encontro com o amor misericordioso do Senhor. Espero que ele vos possa ajudar a encontrar a alegria do Evangelho!
Sou uma jovem esposa e mãe católica portuguesa. Neste blog partilho a minha caminhada em busca da santidade e o meu encontro com o amor misericordioso do Senhor. Espero que ele vos possa ajudar a encontrar a alegria do Evangelho!
EXCERTO: "Dois dados resultam claramente desta rápida visão sobre a concepção do «eros» na história e na actualidade. O primeiro é que entre o amor e o Divino existe qualquer relação: o amor promete o infinito, a eternidade — uma realidade maior e totalmente diferente do dia-a-dia da nossa existência. E o segundo é que o caminho para tal meta não consiste em deixar-se simplesmente subjugar pelo instinto. São necessárias purificações e amadurecimentos, que passam também pela estrada da renúncia. Isto não é rejeição do «eros», não é o seu «envenenamento», mas a cura em ordem à sua verdadeira grandeza."
Parte 2/10
EXCERTO: "Faz parte da evolução do amor para níveis mais altos, para as suas íntimas purificações, que ele procure agora o carácter definitivo, e isto num duplo sentido: no sentido da exclusividade — «apenas esta única pessoa» — e no sentido de ser «para sempre». O amor compreende a totalidade da existência em toda a sua dimensão, inclusive a temporal. Nem poderia ser de outro modo, porque a sua promessa visa o definitivo: o amor visa a eternidade. Sim, o amor é «êxtase»; êxtase, não no sentido de um instante de inebriamento, mas como caminho, como êxodo permanente do eu fechado em si mesmo para a sua libertação no dom de si e, precisamente dessa forma, para o reencontro de si mesmo, mais ainda para a descoberta de Deus."
Parte 3/10
EXCERTO: "(...) O eros está de certo modo enraizado na própria natureza do homem; Adão anda à procura e «deixa o pai e a mãe» para encontrar a mulher; só no seu conjunto é que representam a totalidade humana, tornam-se «uma só carne». Não menos importante é o segundo aspecto: numa orientação baseada na criação, o eros impele o homem ao matrimónio, a uma ligação caracterizada pela unicidade e para sempre; deste modo, e somente assim, é que se realiza a sua finalidade íntima. À imagem do Deus monoteísta corresponde o matrimónio monogâmico. O matrimónio baseado num amor exclusivo e definitivo torna-se o ícone do relacionamento de Deus com o seu povo e, vice-versa, o modo de Deus amar torna-se a medida do amor humano."
Parte 4/10
EXCERTO: "Na liturgia da Igreja, na sua oração, na comunidade viva dos crentes, nós experimentamos o amor de Deus, sentimos a sua presença e aprendemos deste modo também a reconhecê-la na nossa vida quotidiana. Ele amou-nos primeiro, e continua a ser o primeiro a amar-nos; por isso, também nós podemos responder com o amor. Deus não nos ordena um sentimento que não possamos suscitar em nós próprios. Ele ama-nos, faz-nos ver e experimentar o seu amor, e desta «antecipação» de Deus pode, como resposta, despontar também em nós o amor. No desenrolar deste encontro, revela-se com clareza que o amor não é apenas um sentimento. Os sentimentos vão e vêm. O sentimento pode ser uma maravilhosa centelha inicial, mas não é a totalidade do amor. Ao início, falámos do processo das purificações e amadurecimentos, pelos quais o eros se torna plenamente ele mesmo, se torna amor no significado cabal da palavra. É próprio da maturidade do amor abranger todas as potencialidades do homem e incluir, por assim dizer, o homem na sua totalidade."
Parte 5/10
EXCERTO: "O Espírito é também força que transforma o coração da comunidade eclesial, para ser, no mundo, testemunha do amor do Pai, que quer fazer da humanidade uma única família, em seu Filho. Toda a actividade da Igreja é manifestação dum amor que procura o bem integral do homem: procura a sua evangelização por meio da Palavra e dos Sacramentos, empreendimento este muitas vezes heróico nas suas realizações históricas; e procura a sua promoção nos vários âmbitos da vida e da actividade humana. Portanto, é amor o serviço que a Igreja exerce para acorrer constantemente aos sofrimentos e às necessidades, mesmo materiais, dos homens."
Vendo que Moisés demorava a descer do monte, o povo reuniu-se à volta de Aarão e disse-lhe: «Vamos! Façamos para nós um deus que caminhe à nossa frente, pois a Moisés, esse homem que nos persuadiu a sair do Egipto, não sabemos o que lhe terá acontecido.» Aarão respondeu-lhes: «Tirai as argolas de ouro das orelhas das vossas mulheres, dos vossos filhos e das vossas filhas, e trazei-mas.» Eles tiraram as argolas que tinham nas orelhas e levaram-nas a Aarão.
Recebeu-as das mãos deles, deitou-as num molde e fez um bezerro de metal fundido. Então exclamaram: «Israel, aqui tens o teu deus, aquele que te fez sair do Egipto» Vendo isso, Aarão construiu um altar diante do ídolo, e disse em voz alta: «Amanhã haverá festa em honra do Senhor.» No dia seguinte de manhã, ofereceram holocaustos e sacrifícios de comunhão. O povo sentou-se para comer e beber e depois levantou-se para se divertir. (Ex 32, 1-6)
De quantas formas diferentes este episódio poderia ser reescrito, com base em circunstâncias da minha vida? Poderia começar assim: "Vendo que o Senhor Se demorava a cumprir uma das Suas promessas, a impaciente Marisa, em vez de aguardar fielmente até que chegasse o momento certo e adequado, preparado com todo o carinho por Deus, reuniu todos os seus desejos e anseios, e disse: 'Vamos! Farei para mim um ídolo que caminhe à minha frente, que eu veja e toque, no qual eu possa mandar e assim fazer tudo consoante a minha vontade ..."
Conforta-me saber que não é só na minha vida que acontecem estes momentos de impaciência, de insegurança, de dúvida, de esquecimento das promessas do Senhor, de falta de Fé. A Fé, que é uma «resposta ao chamamento do Senhor», mas também um «exercício de memória», como explorámos num post anterior. O povo de Israel também caiu muitas vezes, como eu, na tentação da desconfiança das promessas do Senhor. E é nessas alturas que surge algo que é absolutamente contrário à Fé: a idolatria.
Algo está a acontecer, Moisés avisou-os de que o Senhor o tinha chamado a subir até ao topo do Monte Sinai, para lhe falar e ensinar as leis e os mandamentos, que trariam vida e paz a todo o povo no seu futuro na Terra Prometida. O povo vê a nuvem que passa a cobrir a montanha, Aarão vê a imagem do fogo no topo do Monte. Todos sabem que algo está a acontecer, naquele preciso momento das suas vidas, que Deus está a agir, que não está adormecido, nem Se esqueceu deles nem está ocupado com outra coisa...
E ainda assim, durante o período de quarenta dias e quarenta noites que "Moisés fica a falar com Deus no Sinai, o povo não suporta o mistério do Rosto Divino escondido, não suporta o tempo de espera". Com o passar do tempo, esquecem-se das promessas do Deus fiel, deixam que a dúvida e a suspeita comecem a entrar por entre brechas dos seus corações, como aconteceu com Adão e Eva no Éden, e tornam-se assim inseguros e impacientes. Da insegurança ao medo, acerca do presente e do futuro, é um saltinho. E o sentir medo aterroriza-os, porque leva-os a pensar e a reflectir, e sem a luz da Fé tudo parece tenebroso e incerto. Então o que fazem? Procuram a todo o custo "fazer festa", "comer e beber", "divertir-se", entreter-se, encher-se de outras coisas, para não terem que lidar com a realidade que vivem ...
"Por sua natureza, a Fé pede para se renunciar à posse imediata que a visão parece oferecer". É um convite ao respeito "pelo mistério próprio de um Rosto que Se pretende revelar", sim, mas apenas "no momento mais oportuno". Não conseguindo suportar este "ainda não" da parte do Senhor, o povo israelita procura não só anestesiar-se e embriagar-se com divertimentos e prazeres, mas também escolhe "adorar um ídolo cujo rosto se pode fixar e cuja origem é conhecida" porque foi feito pelas suas próprias mãos e à sua própria imagem.
Aliás, "diante deste ídolo, não se corre o risco de uma possível chamada" que os "faça sair" do seu conforto e segurança. Na verdade, a desconfiança, as dúvidas, o medo, a falta de Fé deste povo é de tal modo que, para o fabrico deste ídolo, eles aceitam até que lhes seja "tirada" as suas posses e bens, aceitam que os seus tesouros, que eram únicos e irrepetíveis, exclusivos de cada um, sejam conjuntamente despejados num molde uniforme, perdendo assim a sua originalidade e singularidade. Porque, um ídolo "é um pretexto para se colocar a si mesmo no centro da realidade", para a "adoração da obra das próprias mãos". E assim constroem altares para exaltarem a atenção própria, a exigência das suas "necessidades" e "direitos", o louvor do amor próprio...
Chama-me particularmente à atenção que o povo hebraico tenha caído neste pecado da idolatria exactamente quando já faltava tão pouco tempo para que a sua espera terminasse. Moisés já estava a caminho, já estava a preparar-se para começar a descer a montanha, e trazer-lhes as tábuas da salvação, que lhes indicaria o caminho e lhes garantiria um futuro feliz. Eles já se tinham esforçado e lutado, contra as tentações, durante tanto tempo de espera - estava quase, tão quase, só faltava um bocadinho mais ... Ah, como sou parecida com o povo hebreu.
Assim, "perdida a orientação fundamental que dá unidade à sua existência, o homem dispersa-se na multiplicidade dos seus desejos". Fragmenta-se, desintegra-se. Por isso, "a idolatria é sempre politeísmo, movimento sem meta de um senhor para outro. A idolatria não oferece um caminho, mas uma multiplicidade de veredas, que não conduzem a uma meta certa, antes se configuram como um labirinto". Deste modo, quem escolhe não "confiar-se a Deus", terá de ouvir "as vozes dos muitos ídolos que lhe gritam: «Confia-te a mim!»" Ininterruptamente, infindavelmente ...
Então, o que poderemos fazer? Escolher a Fé. "A fé, enquanto ligada à conversão, é o contrário da idolatria: é separação dos ídolos para voltarao Deus vivo, através de um encontro pessoal". Voltemos. Façamos memória, do passado e do futuro, e acreditemos "na Sua capacidade de endireitar os desvios da nossa história". Deixemo-nos "incessantemente transformar" ao passo do chamamento do Senhor, que nos convida a sair do nosso egoísmo e do nosso pecado, para nos encontrar-nos com Ele. E, deste modo, iremos descobrir que, "paradoxalmente, é neste voltar-se continuamente para o Senhor, o homem encontra uma estrada segura, que o liberta do movimento dispersivo a que o sujeitam os ídolos."
O jovem Samuel servia o Senhor sob a direcção de Eli. O Senhor, naquele tempo, falava raras vezes e as visões não eram frequentes. Ora certo dia aconteceu que Eli estava deitado, pois os seus olhos tinham enfraquecido e mal podia ver. A lâmpada de Deus ainda não se tinha apagado e Samuel repousava no templo do Senhor, onde se encontrava a Arca de Deus. (1Sm 3,1-3)
O profeta Eli estava no final dos seus dias. Tinha sido escolhido pelo Senhor, para ser Seu profeta e sacerdote, para ensinar o povo a interpretar os sinais dos tempos e os sinais de Deus, e para servir e louvar o próprio Deus no Seu templo sagrado. Mas Eli não fez nem uma coisa, nem outra. Deixou-se corromper, permitiu que o pecado grave e mortal entrasse na sua casa, no seio da sua família, e se entranhasse no povo de Deus, o qual tinha prometido proteger, guardar e orientar. Todos sabiam dos seus pecados, dos seus maus caminhos, das suas más decisões, não só em relação a si próprio mas especialmente em relação aos seus filhos, que criou com "rédea solta", sem os educar no amor e nos caminhos do Senhor, como era seu dever de pai e chefe de família. Sem limites ou regras, e sem exemplos inspiradores, os seus filhos cresceram entregues às suas próprias paixões e desejos... e o resultado estava à vista de todos.
Mas o Senhor, ao contrário de nós, é sempre rico em misericórdia. Na verdade, a "lâmpada de Deus ainda não se tinha apagado" e continuava a dar novas oportunidades a Eli para se redimir dos seus pecados. Já na sua velhice, já com os olhos "enfraquecidos", que "mal podiam ver" a luz da Fé, o Senhor entrega nas suas mãos o cuidado pelo coração dum jovem. Este jovem, gerado não por obra do próprio Eli, mas através dum milagre do Senhor numa mulher, Ana, até então estéril, é oferecido imerecidamente a Eli para que o adoptasse como seu.
Apesar de todos os seus erros, pecados e maus caminhos, será só a partir do reconhecimento de Eli, que o jovem Samuel saberá identificar a voz de Deus na sua vida.
O Senhor chamou Samuel e ele respondeu: «Eis-me aqui.» Samuel correu para junto de Eli e disse-lhe: «Aqui estou, pois me chamaste.» Disse-lhe Eli: «Não te chamei, meu filho; volta a deitar-te.» (1 Sm 3, 3b-5)
Neste último Domingo, na sua homilia, o nosso pároco explicou-nos que este episódio da vida de Samuel poderia assemelhar-se a uma circunstância, nas nossas próprias vidas, pela qual já todos passámos: recebemos uma chamada no nosso telefone, cujo número desconhecemos, e portanto não sabemos quem é; atendemos e não conseguimos reconhecer, logo pelas primeiras palavras, quem está a falar connosco; e por fim, vemo-nos obrigados a questionar - quem está a falar?
Para podermos identificar o número que nos está a ligar, habitualmente, é necessário que já tenhamos ligado antes para esse número e que, por isso, o tenhamos guardado na memória do nosso telefone associado a um nome. Mas, para reconhecermos, imediatamente, a voz de quem nos fala, é preciso haver vários diálogos prévios, é preciso haver intimidade, é preciso haver uma história com aquela pessoa. Só assim podemos reconhecê-la imediatamente: Sim, sei exactamente de quem é esta voz!
O Senhor voltou a chamar Samuel. Samuel levantou-se, foi ter com Eli e disse: «Aqui estou, porque me chamaste». Eli respondeu: «Não te chamei, meu filho; torna a deitar-te». Samuel ainda não conhecia o Senhor, porque, até então, nunca se lhe tinha manifestado a palavra do Senhor. (1Sm 3,6)
Por três vezes Samuel é chamado pelo Senhor; por três vezes Samuel acorda do seu sono, tranquilo e sereno, sem refilar nem resmungar; por três vezes Samuel aceita levantar-se da sua cama, quentinha e confortável como a nossa; por três vezes atravessa o templo do Senhor, correndo com santa pressa, para ir ter com Eli que ele julgava que o tinha chamado; por três vezes apresenta-se junto de Eli e comunica-lhe a vontade do seu coração: "Eis-me aqui. Aqui estou. Chamaste-me e eu vim. E vim para fazer a tua vontade".
Às vezes, como sabem que é o meu hábito, ponho-me a imaginar como seria este episódio se fosse eu no lugar do pequeno Samuel. Seria certamente algo como: "O Senhor chamou a Marisa a meio da noite. E das duas uma: ou ela nem sequer acordou; ou então, acordou, refilou - Hã? Que foi? Isto são horas? - virou-se para o outro lado e voltou a adormecer. No dia seguinte, ao pequeno-almoço, a Marisa continuou a resmungar pela interrupção inconveniente dessa mesma noite - E tu nunca mais me faças uma dessas, hã?"
O Senhor chamou Samuel pela terceira vez. Ele levantou-se, foi ter com Eli e disse: «Aqui estou, porque me chamaste». Então Eli compreendeu que era o Senhor que chamava pelo jovem. Disse Eli a Samuel: «Vai deitar-te; e, se te chamarem outra vez, responde: "Falai, Senhor, que o vosso servo escuta"». Samuel voltou para o seu lugar e deitou-se. O Senhor veio, aproximou-Se e chamou como das outras vezes: «Samuel, Samuel!». E Samuel respondeu: «Falai, Senhor, que o vosso servo escuta». (1 Sm 3, 6-10)
Fora de brincadeiras.
Ao ler esta passagem no Domingo passado, a minha atenção ficou presa nestas últimas palavras: "O Senhor veio, aproximou-Se e chamou como das outras vezes". O escritor sagrado constrói uma frase com 3 verbos - "veio", "aproximou-Se" e "chamou", à semelhança da actuação do jovem Samuel, também ela constituída por 3 etapas: "levanta-se", "vai ter com" e "diz". Não me parece ser ao acaso essa construção gramatical.
Deus veioaté nós, como ainda há pouco celebrávamos no tempo de Natal, para que nos possamos levantar, pela Sua graça e força. Deus aproximou-Sede nós, meras criaturas humanas, decaídas e perdidas no nosso pecado, para que pudéssemos iniciar o caminho que nos levará, um dia, até junto d'Ele, para que fosse possível irmos ter com Ele. Por fim, o Senhor chamou-nos, dizendo: "Vocês são os Meus filhos muito amados. Venham, deixem-se amar por Mim!"
E Ele continua a chamar-nos, uma, duas, três vezes, as que forem precisas e necessárias. Ele nunca Se cansará de nos chamar; nós é que muitas e muitas vezes nos cansamos de Lhe responder, de O ouvir, de O escutar, de seguir a Sua voz, de nos apresentar-nos ao serviço a que Ele nos chama. É preciso fazer como as crianças e aprender a ter um coração jovem como o delas: pedir, pedir, pedir sem cessar a graça para responder ao Senhor; convidar-nos uns a outros, uma e outra vez, vamos, vamos de novo, outra vez, outra vez!; sem refilar ou resmungar pela repetição, mas escolhendo ser alegres de coração; correndo quando necessário, com a santa pressa de fazer a vontade do Senhor no momento em que Ele nos chama e não depois, mais tarde, mais logo ... Ah, tanto a aprender!
Hoje se escutardes a voz do Senhor, não fecheis os vossos corações (Heb 3,7b-8)
Depois de terem ouvido o rei, os magos puseram-se a caminho. E a estrela que tinham visto no Oriente ia adiante deles, até que, chegando ao lugar onde estava o Menino, parou. Ao ver a estrela, sentiram imensa alegria; e, entrando na casa, viram o Menino com Maria, Sua mãe. Prostrando-se, adoraram-n'O; e, abrindo os cofres, ofereceram-Lhe presentes: ouro, incenso e mirra. (Mt 2, 9-11)
Penso que já todos estão familiarizados com o profundo significado dos três presentes que os Reis Magos trouxeram consigo, desde o Oriente até Belém, para oferecer ao Deus que Se fez Menino. Existem inúmeras passagens do Antigo Testamento que nos mostram o significado de cada oferenda: o ouro simboliza a Realeza de Jesus, o esperado descendente do Rei David, que seria Rei eterno de todas as nações; o incenso anuncia-nos que Jesus é, verdadeiramente, o Divino Filho do Deus Altíssimo; e por fim a mirra, a resina proveniente duma planta muito espinhosa, usada para embalsamar o corpo dos mortos, revela-nos a Sua igualmente verdadeira Humanidade. E, assim, de uma só vez, os sábios Magos comunicam-nos que Jesus é verdadeiro Deus, verdadeiro Homem, eterno Rei ... Seremos também nós capazes de O reconhecer como tal, nas nossas vidas?
No verão em que fui à Terra Santa, lembro-me de ter achado muito curioso, ao folhear o livro do Êxodo, para aprender mais sobre o uso da acácia nos objectos sagrados da Arca da Aliança, que, num mesmo capítulo (cf Ex 30), se falava tanto do ouro, como do incenso, como da mirra - para adornar, perfumar e ungir tanto a Arca da Aliança e os seus objectos, como Aarão e os outros sacerdotes ... Hmm, curioso: este deve ser o único livro da Bíblia a falar destes três presentes juntos! ...
Recentemente, apercebi-me que não. Aliás, estes três presentes juntos parecem ter ainda um outro simbolismo, igualmente profundo e belo. O livro dos Cânticos dos Cânticos é outro livro das Sagradas Escrituras que nos falam de ouro, incenso e mirra - juntos. São referidos em várias passagens, ao longo de todo este livro; mas, em todas as passagens, estes três itens são, duma forma ou de outra, sempre associados ao Esposo do Cântico! Sim, ao Esposo!
No site das Famílias de Caná encontram um maravilhoso ensinamento em vídeo, gravado durante um retiro em 2019, acerca do importantíssimo simbolismo de Jesus como Esposo: vêmo-lo presente desde o primeiro ao último livro da Bíblia, nas palavras dos Profetas e dos Salmos, no testemunho de S. João Baptista e nas parábolas de Jesus...
João declarou: «Um homem não pode tomar nada como próprio, se isso não lhe for dado do Céu. Vós mesmos sois testemunhas de que eu disse: "Eu não sou o Messias, mas apenas o enviado à sua frente". O Esposo é Aquele a quem pertence a esposa; mas o amigo do Esposo, que está ao Seu lado e O escuta, sente muita alegria com a voz do Esposo. Pois esta é a minha alegria! E tornou-se completa! Ele é que deve crescer e eu diminuir». (Jo 3, 27-30)
Terminámos os dias do tempo de Natal e em breve entraremos já no tempo da Quaresma, no tempo de preparação mais intensa para recebermos a entrega do Divino Noivo.
A meio da noite, ouviu-se um brado: 'Aí vem o Noivo, ide ao Seu encontro!' (Mt 25,6)
Chegou - esta foi a primeira palavra que surgiu na minha mente ao acordar. A promessa do Senhor chegou, cumpriu-se, está continuamente a cumprir-se. Estou a um passo mais perto do grande dia. Chegou e continua a chegar. Eis que Ele vem. Eis que já chegou ...
Se deixar de lado as dificuldades, as limitações e as lágrimas (tudo coisas que o Senhor amorosamente me enviou na tentativa de me tornar um pouquinho mais santa), dou por mim a pensar que o ano de 2020 foi o ano das promessas cumpridas (mais uma vez) na minha vida. E tudo, por obra e graça do Senhor.
Sim, foi um ano de espera (mais uma vez), um ano para aprender a dobrar a minha vontade e a escolher a vontade do Senhor (mais uma vez), um ano com todas as possibilidades para me tornar santa (adivinhem? mais uma vez também). E essa tarefa tanto trabalho tem dado ao Senhor ...
2021 será um ano particularmente especial para mim. Irá mudar (literalmente) toda a minha vida e todo o meu futuro. Exactamente 10 anos depois da minha conversão, direi o meu Sim perpétuo (o meu Fiat, à semelhança da nossa Mãe, cuja solenidade hoje celebramos) à vocação de amor a que o Senhor me chamou.
Será um ano duma vida nova, sim, mas, também por isso, desconhecida. E o desconhecido, pelo menos a mim, mete-me medo. Tanta coisa pode acontecer, e se...? E se acontecer isto ou aquilo? E se eu não conseguir? E se eu falhar?
Sim, eu irei falhar, muitas vezes. Sim, eu não vou conseguir, muitas vezes. Mas ficará tudo bem, sim, porque Deus não falha. Deus vence sempre. Deus sustenta-nos quando não conseguirmos. Deus orientar-nos-á e guiar-nos-á quando não soubermos o caminho ou não o consigamos ver.
Desde Abraão, nosso pai na Fé, que o Senhor nos diz isto continuamente. À semelhança de Abraão, também a mim, também a ti, «o Senhor nos dirige pessoalmente a Sua Palavra» e Se revela como um Deus que é capaz de tudo, para fazermos parte da Sua família, da Sua comunhão de amor. «A Fé é a nossa resposta a esta Palavra que nos interpela».
Como a Abraão, também a mim, também a ti, «a Palavra do Senhor transmite-nos um chamamento e uma promessa». Chama-nos a «sair de nós próprios», convida a abrir-nos a uma nova vida, provoca em nós um autêntico «êxodo», desde as terras da escravatura do pecado e do amor-próprio em que nos quisemos perder, e põe-nos a caminho da Terra Prometida, a terra do amor saciante, da infinita paz de espírito e de corpo, da alegria perpétua, da eterna comunhão ...
Mas como tal será possível? Parece algo tão grande e imenso, absolutamente impossível ... Na verdade, Abraão descobre, e cada um de nós é chamado também a descobrir e a experienciar, nas situações concretas das nossas vidas, que «a Fé vê na medida em que caminha».
O Senhor chama-nos e convida-nos, nós escutamos a Sua voz, nós permitimos que Ela chegue ao nosso coração, acreditamos nas Suas promessas e tomamos o pequeno passo de nos virarmos na Sua direcção. No preciso instante deste movimento, «a Fé», transmitindo-nos a graça super-abundante do Senhor, «permite-nos ver» - o suficiente, e nada mais que isso - «para darmos o próximo passo».
E como pôde Abraão, como podemos nós, acreditar nesta Palavra, nesta promessa do Senhor? Vem, Eu estou sempre contigo! Vem, Eu sustentar-te-ei, Eu acompanhar-te-ei, Eu serei tudo para ti.
O Senhor é tão rico em provas e em promessas cumpridas, como é rico em demonstrações de amor e de misericórdia. Olhemos com atenção para a nossa vida, olhemos para a vida do povo de Israel, olhemos para a vida da nossa família, do nosso país, da nossa era. Olhemos com atenção e rapidamente veremos como o Senhor tem sido rico em provas e em demonstrações. Algumas delas serão grandes e grandiosas, outras pequenas e humildes, muitas delas serão tão íntimas que só mesmo nós conseguimos vê-las e reconhecê-las como tal.
A Fé é uma «resposta ao chamamento do Senhor», mas é também um «exercício de memória».Lembra-te Israel, lembra-te Marisa, de tudo o que o Senhor fez e continua a fazer por ti, por amor a ti... E escuta-O, porque Ele promete-te que ainda fará mais!
Não era preciso, tudo o que aconteceu já era mais do que suficiente. Mas o amor não conhece limites! O amor nunca diz chega! E por isso, o Senhor, na sua infinita Bondade, continua a querer fazer-nos mais promessas! A essência da Sua promessa é só uma - Eu amar-te-ei para sempre! - mas torna-se concreta e real hoje mesmo, nas circunstâncias da nossa vida presente.
Assim, a Fé de Abraão, a minha Fé, a tua Fé, torna-se não só uma «resposta a uma Palavra que nos precede e nos interpela», mas também um «acto de memória», de «memória duma promessa», de «memória dum futuro», e que por isso se torna capaz de «iluminar cada novo passo do nosso caminho».
E se, como a Abraão, como a mim, este convite do Senhor vos assusta, de tão grande e belo que é, não nos esqueçamos que «a Palavra de Deus, embora traga consigo novidade e surpresa, não é de forma alguma alheia à experiência» de vida de cada um de nós. «Na voz que Se lhe dirige, Abraão reconhece um apelo profundo, desde sempre inscrito no mais íntimo do seu ser».
Se a promessa do Senhor vos assusta: não temais, não tenhais medo! O medo vem sempre do Maligno e a coragem de Deus! Cada um de vós foi preparado, desde o início da Criação, e tem sido continuamente moldado para poder cumprir a promessa a que o Senhor vos chama. Ele não nos faria aspirar a algo que não nos desse a Sua graça para cumprir, já Santa Teresinha nos testemunhava.
As palavras dos homens, estas mesmo que eu escrevo, são «efémeras e passageiras», fracas em si mesmo, insuficientes para cumprirem a realidade que anunciam. Mas quando esta «Palavra é pronunciada por Deus», Aquele que é fiel, «torna-se no que mais seguro e inabalável possa haver, possibilitando a continuidade do nosso caminho». A Palavra do Senhor é a «rocha segura, sobre a qual se pode construir com alicerces firmes» e duradouros, eternos aliás.
Não é por acaso que, tanto em hebraico como em grego como em latim, a palavra «Fé» deriva do verbo «sustentar» e é usada na Bíblia tanto para «significar a fidelidade de Deus» como a «fé do homem». Assim, «o homem fiel recebe a sua força do confiar-se nas mãos do Deus fiel». Vejam bem a dignidade do cristão, «que recebe o mesmo nome de Deus: ambos são chamados fiéis» (palavras de São Cirilo de Jerusalém, Doutor da Igreja)
E outro Doutor da Igreja, Santo Agostinho, nos explica que: «O homem fiel é aquele que crê no Deus que promete. O Deus fiel é aquele que concede o que prometeu ao homem».
É esta a minha oração, ao raiar deste dia: Ouçamos a voz do Senhor, no início deste novo ano e todos os dias da nossa vida. Ouçamos com atenção e façamos ressonância dentro de nós, façamos memória do futuro, acreditemos nas Suas promessas, sejamos corajosos, tenhamos Fé, sejamos fiéis, como Ele é fiel.
Seja louvado nosso Senhor Jesus Cristo - para sempre seja louvado com Sua Mãe, Maria Santíssima!
Deus disse: «Haja luzeiros no firmamento dos céus, para separaro dia da noite e servirem de sinais, determinando as estações, os dias e os anos; servirão também de luzeiros no firmamento dos céus, para iluminarema Terra.» E assim aconteceu.
Deus fez dois grandes luzeiros: o maior para presidir ao dia, e o menor para presidir à noite; fez também as estrelas. Deus colocou-os no firmamento dos céus para iluminarem a Terra, para presidirem ao dia e à noite, e para separarem a luz das trevas. E Deus viu que isto era bom. Assim, surgiu a tarde e, em seguida, a manhã: foi o quarto dia. (Gn 1,14-19)
Um grande luzeiro, maior que qualquer outro, para presidir e guiar o nosso dia, para iluminar toda a terra e a separar das trevas ...
Se pensarmos no Senhor como o sol, podemos começar a delinear uma frutuosa analogia a partir destas palavras do livro do Génesis acerca do 4º dia da Criação. É em redor do sol que todos os planetas, asteróides e cometas giram. O sol encontra-se bem no centro do nosso Sistema Solar, chegando a dar-lhe um nome - Solar - e, assim, uma filiação e identidade única. Também o Senhor deseja encontrar-se no centro das nossas vidas, em redor do Qual nós nos movimentamos e direccionamos, de tal modo que possamos ser chamados de Seus filhos muito amados.
É pela vontade do Senhor, à semelhança da energia que provém do sol, que tudo se move e ganha vida à Sua volta. Cristo é a verdadeira fonte de luz, através da Qual nós podemos ver todas as coisas exactamente como elas são, em vez de estarmos cegos na escuridão. Ele é a origem de toda a nossa vida. Tal como, sem a luz e o calor do sol, não poderia haver uma vida fértil e frutuosa na terra, assim também, sem o amor e a misericórdia do Senhor, não poderia haver tantos frutos e graças na nossa vida.
Mesmo quando a terra se tenta esconder da luz do sol, virando-lhe as costas e abraçando a escuridão que a rodeia, mesmo assim a luz deste sol continua a brilhar, tão quente e acolhedora como sempre. Nós até podemos - e tentamos muitas vezes - esconder-nos desta luz, mas ela irá permanecer sempre lá, pronta para nos acolher no novo amanhecer do perdão.
Por outro lado, podemos pensar na lua como representando Maria. A lua parece ser um astro muito brilhante durante a noite, mas isto apenas ocorre porque ela reflecte, de forma extraordinária, a luz que lhe é transmitida pelo sol. Assim, à semelhança da lua, também Nossa Senhora reflecte, de forma extraordinária, a luz que irradia do seu Filho.
Apesar de a lua parecer que brilha intensamente - mais que qualquer outro astro - durante a noite, nem por isso rouba, por um só segundo sequer, o brilho da luz que provém do grande e belo sol, que ilumina o nosso dia e a nossa vida. O mesmo acontece com Maria e Jesus.
Na verdade, se a lua não tivesse esta capacidade de reflectir tão perfeitamente a luz que lhe é oferecida pelo sol, não passaria de outro astro qualquer, sem especial valor. Mas é exactamente esta capacidade de reflectir, de magnificar, de glorificar a luz do Senhor, que distingue a Virgem Maria de qualquer outra estrela, de qualquer outro santo ou santa ...
Tal como a lua passa todos os momentos da sua existência a girar à volta da terra, assim também Nossa Senhora aceitou dedicar-se por completo aos filhos que recebeu, das mãos de Jesus, junto à Cruz. Ela acompanha-nos em todas as etapas da nossa viagem em direção ao sol. Ela rodeia-nos, em todos os instantes, com carinhos e cuidados, preces e intercessões.
Por fim, tal como a lua nos ajuda a regular a passagem das semanas, a compreender a melhor altura de plantar e de colher, a orientar a nossa migração e a acolher o movimento das marés, também Nossa Senhora nos ajuda e ensina a regular a nossa vida à imagem de Deus, a procurar a verdadeira sabedoria e a acolher as adversidades como oportunidades para crescermos em amor e santidade.
Sê, Senhor, o sol da minha vida, que tudo salva e vivifica.
E ensina-me, minha Mãe, a reflectir, a magnificar, a luz do amor do Senhor.
O início do 3º dia da Criação relembra-nos a travessia do Mar Vermelho a pé enxuto pelo povo hebreu, fugindo da escravatura do Egipto e dirigindo-se para o grande deserto a que o Senhor os chamava a atravessar.
"Recorda-te de todo esse caminho que o Senhor, teu Deus, te fez percorrer durante quarenta anos pelo deserto, a fim de te tornar humilde, para te experimentar, para conhecer o teu coração" (Dt 8,2)
Também Jesus, após ter sido baptizado nas margens do rio Jordão, foi conduzido pelo Espírito Santo ao deserto - para nos mostrar a Sua humildade, para nos mostrar a pureza do Seu coração - como estava prefigurado na segunda parte do relato do 3º dia da Criação.
Deus disse: «Que a terra produza verdura, erva com semente, árvores frutíferas que dêem fruto sobre a terra, segundo as suas espécies, e contendo semente.» E assim aconteceu. A terra produziu verdura, erva com semente, segundo a sua espécie, e árvores de fruto, segundo as suas espécies, com a respectiva semente. Deus viu que isto era bom. Assim, surgiu a tarde e, em seguida, a manhã: foi o terceiro dia. (Gn 1,11-13)
Foram 3 os tipos de plantas que Deus fez brotar da terra seca recém criada, à semelhança das 3 tentações pelas quais Cristo passou nos 40 dias e 40 noites em que jejuou no deserto. Por 3 vezes, Satanás tentou que Jesus cedesse e se afastasse da Sua missão de Redenção da humanidade. Por 3 vezes, Satanás tentou reproduzir, na vida e figura de Jesus, a falta de confiança demonstrada neste deserto pelo povo hebreu, na Providência Divina e nas promessas do Senhor.
A primeira tentação foi a da procura do conforto e do prazer dos sentidos:«Se Tu és o Filho de Deus, ordena que estas pedras se convertam em pães» (Mt 4,3) - à semelhança do povo hebreu que murmurou contra Moisés e, assim, contra o Senhor, com medo de morrerem à fome no deserto. Mas Jesus relembra-nos que «Nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus» (Mt 4,4).
A segunda tentação foi a da procura do poder e do controlo:«Se Tu és o Filho de Deus, lança-Te daqui abaixo, que o Senhor Te sustentará» (Mt 4,6) - relembrando a ocasião em que o povo israelita, mais uma vez, duvidou das promessas do Senhor e exigiu um milagre, uma prova, do Seu amor e do Seu cuidado paternal. Mas não teria Deus já dado provas suficientes? Quão curta pode ser a nossa memória?
Por fim, a terceira tentação foi a da procura da própria glória e louvor: «Tudo isto [reinos e poderes do mundo] Te darei, se, prostrado, me adorares» (Mt 4,9) - Ah, a procura incessante do ser humano em ser adorado, admirado e glorificado. Como parece que queremos ser, sempre, fortes, grandes e importantes. Jesus, pelo contrário, aceitou tornar-se pequeno e humano, para chegar até junto de nós. Aceitou tornar-se escravo por amor, cordeiro sacrificial para nos salvar. «Ao Senhor, teu Deus, adorarás e só a Ele prestarás culto.» (Mt 4,10) Tudo o que somos, tudo o que possuímos, tudo o que conseguimos, tudo isto é por graça e amor do Senhor.
Também nós, no nosso Baptismo, à semelhança de Cristo, somos chamados a renunciar a estas 3 tentações: ao conforto da nossa Carne, ao desejo de controlo sobre o Mundo e ao orgulho favorecido pelo Diabo.
No deserto, o povo israelita deixou-se vencer pelo seu pecado e pela sua concupiscência, escolhendo esquecer-se e afastar-se do amor do Senhor. Jesus, pela Sua humildade, conseguiu restituir a infidelidade cometida, por mim e por ti, ao amor oferecido por Deus. E Jesus venceu, sem fazer nenhum feito extraordinário, sem fazer nenhum milagre. Ele venceu todas as tentações puramente através da sua humanidade, recitando de memória as promessas que o próprio Senhor tinha feito, ao longo dos tempos, ao seu povo escolhido e muito amado.
A vitória de Jesus sobre as tentações no deserto antecipa, desde já, a Sua vitória também na Paixão, o mais supremo acto de obediência ao amor do Pai.
Primeiro trevas, depois uma luz brilhante proveniente do Senhor, o sopro do vento sobre as águas, a terra seca a surgir enquanto as águas se separam ... Estarei eu a falar do 3º dia da Criação, ou do episódio da divisão do Mar Vermelho?
Bem, de ambos, na verdade.
Deus disse: «Reúnam-se as águas que estão debaixo dos céus, num único lugar, a fim de aparecer a terra seca.» E assim aconteceu. Deus chamou terra à parte sólida, e mar, ao conjunto das águas. E Deus viu que isto era bom. (Gn 1,9-10)
A imagem da divisão das águas - que representava o local do julgamento e da morte do homem - e do surgimento da terra seca - local seguro e estável, onde o homem poderia construir uma casa temporária, antes de chegar à sua Morada Eterna, no Reino dos Céus - foi uma imagem que permaneceu com o povo judeu durante muito tempo.
O povo hebreu não só viu, como experienciou na sua própria vida, esta imagem tão forte - a divisão das águas, inseguras e traiçoeiras, pelo poder do Senhor, e o surgir da terra seca, sólida e confiável. A indicação do caminho a seguir, preparado com a ternura dum Pai antes de todos os séculos ...
Moisés estendeu a sua mão sobre o mar e o Senhor fez recuar o mar com um vento forte do oriente toda a noite, e pôs o mar a seco. As águas dividiram-se, e os filhos de Israel entraram pelo meio do mar, por terra seca, e as águas eram para eles um muro à sua direita e à sua esquerda. (Ex 14,21-22)
Eis uma nova criação: um povo especialmente escolhido pelo Senhor. Cada hebreu recebeu um convite da parte do Senhor, um chamamento pessoal e único, para deixar o Egipto, a terra da escravatura, e a passar, através das águas do Mar Vermelho, pelo deserto das provações da vida, até chegar finalmente à Terra Prometida, onde então correria o mais puro leite e mel...
Neste deserto, Deus guiou e instruiu, alimentou e hidratou, curou e sarou o seu povo escolhido, dia após dia, tentando maravilhar e cativar os seus corações, durante 40 anos. O Senhor esforçou-se, enviando-lhes mil oportunidades por dia, para que o tempo passado no deserto, que as escolhas feitas por cada membro do Seu povo, lhes servissem para estabelecer qual o local da sua morada eterna - o Céu ou o Inferno.
Também hoje, na minha vida, o Senhor tenta proteger-me das águas enganadoras do pecado, levando-me por um caminho seguro, nesta passagem temporária pela terra, guiando-me e instruindo-me, alimentando-me e hidratando-me, curando-me e sarando-me, dia após dia. Também a mim, não me faltam oportunidades, todos os dias, a todo o instante, para me abrir à graça e ao amor de Deus, para me deixar moldar à Sua imagem e semelhança, para escolher o local da minha morada eterna - o Céu ou o Inferno.