Sou uma jovem esposa e mãe católica portuguesa. Neste blog partilho a minha caminhada em busca da santidade e o meu encontro com o amor misericordioso do Senhor. Espero que ele vos possa ajudar a encontrar a alegria do Evangelho!
Sou uma jovem esposa e mãe católica portuguesa. Neste blog partilho a minha caminhada em busca da santidade e o meu encontro com o amor misericordioso do Senhor. Espero que ele vos possa ajudar a encontrar a alegria do Evangelho!
"Nisto chegaram os Seus discípulos e ficaram admirados de Ele estar a falar com uma mulher". (Jo 4, 27)
Jesus transgride vários costumes em vigor naquela época: ousa falar a uma mulher, a sós, num lugar público, e ainda por cima uma mulher samaritana (e não judia) e além disso pecadora afamada. Tudo isto seriam razões suficientes para alguém ficar espantado com o comportamento de Jesus. Mas, do ponto de vista dos discípulos, esta não era nem a primeira vez, nem viria a ser a última vez, que viam o seu Mestre a falar com uma mulher pecadora. Porque então se mostram tão admirados, tão em choque com o que veem, como até o texto salienta?
Porque, aquilo que eles veem – Jesus sentado à beira dum poço, o poço de Jacob, em terra estrangeira, a sós com uma mulher – parecia a cena dum pedido de casamento!
Durante toda a Quaresma, diariamente as leituras da Santa Missa mostram-nos a tripla missão de Jesus, o perfeito e eterno Profeta, Rei e Sacerdote. Esta tripla missão é especialmente visível nas leituras do julgamento de Jesus.
O Sumo Sacerdote voltou a interrogar [Jesus]: «És Tu o Messias, o Filho do Deus Bendito?» Jesus respondeu: «Eu sou. E vereis o Filho do Homem sentado à direita do Poder e vir sobre as nuvens do céu.» O Sumo Sacerdote rasgou, então, as suas vestes e disse: «Que necessidade temos ainda de testemunhas?Ouvistes a blasfémia! Que vos parece?» E todos sentenciavam que Ele era réu de morte. (Mc 14, 61b-64)
Perante o povo judeu, representado por Caifás, o Sumo Sacerdote do templo de Jerusalém naquele ano, foi julgado Cristo-Profeta. Profeta é alguém que se coloca em escuta atenta da Palavra de Deus e que depois a transmite a cada um de nós, ajudando-nos a interpretá-la e a pô-la em prática, retirando-nos as máscaras e as vendas dos nossos olhos - que insistimos em colocar, tanto em nós, como nos outros - auxiliando-nos a reconhecer o nosso pecado e as nossas culpas e indicando-nos o caminho seguro a seguir. Quem foi o mais perfeito Profeta, se não Jesus Cristo?
E qual a razão da condenação de Cristo-Profeta? Jesus ter-Se declarado Filho de Deus, o Messias há muito prometido e desejado. Mas os judeus consideraram-n'O demasiado "terreno", demasiado humano e parecido connosco, para poder ser verdadeiramente Filho de Deus. E, assim, condenaram o Verbo de Deus por blasfémia.
Cristo-Profeta foi ridicularizado ao vendarem-Lhe os olhos e questionando-O se conseguia adivinhar quem era que Lhe batia no rosto - um rosto que, apesar dos inúmeros golpes, lhes oferecia sempre a outra face...
Cuspiam-Lhe no rosto e batiam-Lhe. Outros esbofeteavam-n'O, dizendo: «Profetiza, Messias: quem foi que Te bateu?» (Mt 26, 67-68)
[Pilatos] chamou Jesus e perguntou-Lhe: «Tu és Rei dos judeus?» Respondeu-lhe Jesus: «Tu perguntas isso por ti mesmo, ou porque outros to disseram de Mim? (...) A Minha realeza não é deste mundo» Disse-Lhe Pilatos: «Logo, Tu és Rei!» Respondeu-lhe Jesus: «É como dizes: Eu sou Rei! Para isto nasci, para isto vim ao mundo: para dar testemunho da Verdade».(Jo 18, 33-34. 36a. 37)
Perante os gentios, representados pela figura de Pilatos, foi julgado Cristo-Rei. Rei é alguém que tem uma justa e suprema autoridade sobre o seu reino e sobre cada pessoa que lhe pertence. Uma vez que o rei é responsável por cada pessoa que lhe é confiada, ele tem o dever de as proteger dos perigos e de garantir o seu bem estar. Assim, por causa desse dever paternal, cada súbdito lhe deve a devida reverência.
Os soldados do governador conduziram Jesus para o pretório e reuniram toda a coorte à volta Dele. Despiram-n'O e envolveram-n'O com um manto escarlate. Tecendo uma coroa de espinhos, puseram-Lha na cabeça, e uma cana na mão direita. Dobrando o joelho diante Dele, escarneciam-n'O, dizendo: «Salve! Rei dos Judeus!» (Mt 27, 27-29)
Cristo-Rei foi humilhado ao ser despido das Suas vestes e ao ser coberto por um manto cor de sangue; ao ser coroado com uma coroa de espinhos; ao receber como trono uma cruz, como ceptro uma cana e como jóias três longos cravos, que O prenderam na Cruz.
Por fim, unindo-se pela primeira vez judeus e gentios (só Jesus poderia usar uma situação tão horrível, como a Sua crucifixão, para unir antigos inimigos), condenaram Cristo-Sacerdote. O sacernote serve de ponte medianeira entre Deus e os homens. O sacerdote apresenta ao Senhor os nossos sacrifícios mas também as nossas preces e necessidades. Assim, Jesus é o mais perfeito e eterno Sacerdote.
Os que passavam injuriavam-n'O e, abanando a cabeça, diziam: «Olha o que destrói o templo e o reconstrói em três dias! Salva-Te a Ti mesmo, descendo da cruz!» Da mesma forma, os sumos sacerdotes e os doutores da Lei troçavam Dele entre si: «Salvou os outros mas não pode salvar-Se a Si mesmo!» (Mc 15, 29-31)
Judeus e gentios, juntos, escarneceram de Cristo crucificado, desafiando-O a salvar-Se a Si mesmo e a descer da Cruz. Mas este eterno Cristo-Sacerdote já Se tinha oferecido a Si mesmo como a mais perfeita vítima de holocausto, através da Qual todos nós recebemos o perdão dos nossos incontáveis pecados.
Em resumo, o Sinédrio dos judeus desprezou e ridicularizou Cristo-Profeta; o Império Romano dos gentios julgou e escarneceu de Cristo-Rei; por fim, ambos se juntaram para condenar e crucificar Cristo-Sacerdote. Que paradoxo tão grande - Caifás, aquele que era Sumo Sacerdote por apenas um ano, desprezou o Eterno Sumo Sacerdote do Deus Altíssimo. E Aquele que Se revelou como o Caminho e a Vida é condenado ao caminho do Calvário e à morte...
Mas nós sabemos muito bem que a história não acaba aqui. Nem a morte, nem o demónio, nem o pecado, nem as dificuldades têm a última palavra - mas sim Cristo, o alfa e o ómega, o princípio e o fim, o primeiro e o último, o nosso Salvador.
Quando Jesus se preparava para voltar para o Reino dos Céus, no dia da Sua Ascenção, Ele distribuiu estas três dimensões pelos Seus Apóstolos: o serviço profético ou de ensino, ao prometer-Lhes que lhes enviaria o Espírito da Verdade, que os ajudaria a recordar e a compreender tudo o que Ele lhes tinha ensinado; o serviço real, ao dar-lhes as chaves do Reino de Deus, com o dever de defender e cuidar deste Reino e de cada pessoa que nele habitará; e, por fim, o serviço sacerdotal, para que fizessem memória contínua da Sua entrega Eucarística e conferindo-lhes o poder de perdoar os nossos pecados.
Aproximando-Se deles, Jesus disse-lhes: «Foi-Me dado todo o poder no Céu e na Terra. Ide, pois, fazei discípulos de todos os povos, baptizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a cumprir tudo quanto vos tenho mandado. E sabei que Eu estarei sempre convosco até ao fim dos tempos.» (Mt 28, 18-20)
Não posso deixar de sorrir ao pensar que, neste ano 2021, a Quinta-feira da Ascensão do Senhor será a 13 de Maio - quem melhor do que Nossa Senhora para nos transmitir as graças do Senhor neste dia e para sempre?
Depois de cantarem os salmos, saíram para o Monte das Oliveiras. (Mt 26,30)
Acompanhemos Jesus no início da Sua Paixão. Sempre achei curioso que esta fosse a única ocasião em que os Evangelhos nos dizem que Jesus cantou. Ele sabia de antemão tudo o que ía acontecer e, ainda assim, cantou. Junto dos discípulos por Ele amados, Ele cantou as maravilhas do Deus que salva. Louvou e adorou o Senhor, Deus de Israel, cantando-Lhe, agradecido, todos os Seus feitos maravilhosos até aquela altura - e, mais ainda, todas as Suas Obras a partir daquele momento, para sempre memorável.
Jesus saiu com os discípulos para o outro lado da torrente do Cédron, onde havia um horto, e ali entrou com os Seus discípulos. Judas, aquele que O ia entregar, conhecia bem o sítio, porque Jesus Se reunia ali frequentemente com os discípulos. (Jo 18, 1-2)
Estamos em plena noite, após a Última Ceia no Cenáculo, em que Jesus Se ofereceu como verdadeiro Alimento, o Pão Vivo descido do Céu, que nos promete dar acesso à Vida Eterna do amor de Deus. É de noite, mas o caminho é conhecido, tanto por Jesus, como pelos discípulos. Já o fizeram antes várias vezes. Sabem que têm primeiro que descer, até passarem perto da casa do Sumo Sacerdote Caifás, e depois começar a subir. Os discípulos não podiam adivinhar, mas Jesus sabia perfeitamente que, horas mais tarde, no início do novo dia, seria trazido pelos soldados até àquela casa, algemado e maltratado pelo caminho, para aí ser julgado e condenado pelos judeus.
Mas, por agora, é tempo de subir a rua e passar a grande ponte que, naquela altura, ligava a zona principal da cidade de Jerusalém até ao Monte das Oliveiras, na direção de Betânia, onde era a casa dos irmãos Lázaro, Maria e Marta, a 3km de distância.
O local do Getsemani, ou o Monte das Oliveiras, devia o seu nome ao extenso olival que ali tinha sido plantado, séculos antes. Era, assim, um jardim de oliveiras - o que, claro, me faz lembrar do jardim do Éden. Jesus é o novo e eterno Adão. Em vez do velho Adão, que se deixou levar pelo pecado de rebelia contra a vontade expressa de Deus - comendo do fruto proibido que lhe trouxe a morte e, através dele, a toda a humanidade - Jesus, o novo Adão, vencerá o pecado, escolhendo fazer, com toda a liberdade que só o verdadeiro amor pode exercer, a Divina vontade do Senhor - e assim redimir, a partir daquele momento, todo o género humano - passado, presente e futuro.
No centro desse jardim das oliveiras encontrava-se uma prensa que permitia fazer o azeite a partir das azeitonas, à semelhança da árvore do conhecimento do bem e do mal localizada no centro do jardim do Éden. Na altura certa do ano, depois de terem sido arrancadas dos ramos das árvores, as azeitonas eram lançadas nessa prensa, para primeiro serem moídas e trituradas e depois prensadas. Sobre elas era colocado um enorme peso, que ía ficando cada vez mais e mais forte, apertado, constritivo. Até que, por fim, desse processo asfixiante, acontecia um autêntico "milagre" do "martírio" das pobres azeitonas: um líquido dourado, de aroma intenso e textura suave, o azeite. Este azeite, além de ser usado para cozinhar e assim alimentar todo o povo, também era usado na cicatrização das feridas, na iluminação das casas se colocado em candeias, ou usado para purificar, abençoar e ungir tanto coisas como pessoas ao serviço do Senhor no Templo de Jerusalém.
Podia o Senhor ter usado um local melhor para nos ensinar o que estava a acontecer a Jesus, naquele jardim de agonia?
Jesus chegou com os Seus discípulos a um lugar chamado Getsémani e disse-lhes: «Sentai-vos aqui, enquanto Eu vou além orar.» E, levando consigo Pedro e os dois filhos de Zebedeu, começou a entristecer-Se e a angustiar-Se. Disse-lhes, então: «A Minha alma está numa tristeza de morte; ficai aqui e vigiai Comigo.» (Mt 26, 36-38)
A oração de Jesus no Monte das Oliveiras é de tal importância e teve tão grande impacto nas primeiras comunidades cristãs, que dela temos, até hoje, 5 versões, uma por cada Evangelista e ainda outra pelo autor da Carta aos Hebreus.
Diz-nos o papa Bento XVI, acerca da angústia que assalta Jesus neste momento:
"É a perturbação particular d'Aquele que é a própria Vida diante do abismo de todo o poder da destruição, do mal, daquilo que se opõe a Deus e que agora Lhe cai directamente em cima, que Ele de modo imediato deve agora tomar sobre Si, aliás deve acolher dentro de Si até ao ponto de ser pessoalmente «feito pecado» (cf 2 Cor 5,21).
Precisamente porque é o Filho, vê com extrema clareza toda a amplitude da maré imunda do mal, todo o poder da mentira e da soberba, toda a astúcia e a atrocidade do mal, que se apresenta com a máscara da vida mas serve continuamente a destruição do ser, a deturpação e o aniquilamento da vida. Precisamente porque é o Filho, sente profundamente o horror, toda a imundície e perfíria que deve beber naquele «cálice» que Lhe está destinado - todo o poder do pecado e da morte. Ele tem de acolher tudo isso dentro de Si mesmo, para que n'Ele fique despojado do poder e superado."
Livro do Papa Bento XVI, "Jesus de Nazaré", pág. 130 e 131
Uma das imagens que melhor representa o que Jesus viveu na agonia do Getsemani - imagem retirada daqui
Cheio de angústia, [Jesus] pôs-Se a orar incessantemente e o suor tornou-Se-lhe como grossas gotas de sangue, que caíam na terra. (Lc 22,44)
Os Apóstolos deviam estar habituados ao estado sempre sereno de Jesus, mesmo perante discussões com os fariseus, ou perseguições dos habitantes das aldeias da Judeia, ou até mesmo durante as violentas tempestades em pleno mar da Galileia. Esta deverá ter sido a primeira vez que os discípulos O viram tão transtornado, tão desfigurado, tão esmagado pela dor e o peso do pecado do mundo. Nem mesmo naquela outra vez, em que Jesus revirou as mesas dos comerciantes dentro do Templo sagrado do Senhor, usando um chicote para os expulsar da casa do Seu Pai - nem mesmo dessa vez, O tinham visto como agora.
[Jesus] disse-lhes: «Orai, para que não entreis em tentação.» Depois afastou-Se deles (...) e, pondo-Se de joelhos, começou a orar, dizendo: «Pai, se quiseres, afasta de Mim este cálice; contudo, não se faça a Minha vontade, mas a Tua.» (Lc 22, 40-42)
Disse-lhes então [Jesus]: «A Minha alma está numa tristeza de morte; ficai aqui e vigiai Comigo.» E, adiantando-Se um pouco mais, caiu com a face por terra, orando e dizendo: «Meu Pai, se é possível, afaste-se de Mim este cálice. No entanto, não seja como Eu quero, mas como Tu queres.» (Mt 26, 38-39)
É a primeira vez, nos Evangelhos, que nos é descrita a posição que Jesus adopta ao rezar. Põe-se primeiro de joelhos, numa postura de vulnerabilidade e pequenez, e depois prostra-Se no chão duro e frio, com o rosto por terra. Assim, o Seu rosto enche-se de pó, transformado em lama pela mistura com as gotas de suor e sangue. Pó da terra - como tu e eu e toda a humanidade. Abaixando-Se em infinito, humilhando-Se, Jesus chega até nós, mero pó da terra, para mais tarde nos erguer Consigo (no ano passado, escrevi um post sobre esta analogia). Não há como os Apóstolos não compreenderem que, aquele momento na vida de Jesus, é absolutamente importante, decisivo e cheio de significado. Tanto para Ele, como para nós ...
Interior da Igreja da Agonia, em Jerusalém (2019), erguida sobre o exacto local da agonia de Jesus. É uma igreja (adequadamente) muito escura e silenciosa. A pedra sobre a qual Jesus terá passado a noite em oração, encontra-se imediatamente à frente do altar, e está rodeada duma escultura com a forma duma coroa de espinhos, com um cálice no centro.
Jesus disse aos discípulos: «Ficai aqui enquanto Eu vou orar.» Tomando consigo Pedro, Tiago e João, começou a sentir pavor e a angustiar-Se. (Mc 14, 32-33)
Era necessário que todos os díscipulos O acompanhassem e vivessem o que ía acontecer naquela noite e naquela madrugada, para mais tarde o testemunharem. Mas apenas Pedro, Tiago e João podiam experienciar de forma detalhada, próxima e íntima, aquilo que estava prestes a acontecer com Jesus. Porquê?
Porque eram os únicos que podiam compreender - realmente compreender - o que ía a acontecer. Eram os únicos que tinham sido preparados e fortalecidos, ao longo daqueles três anos de ministério de Jesus, para o que iam ver, sentir e viver naquela noite do início da nossa Redenção. Pedro, Tiago e João tinham sido os únicos a poderem estar presentes naquele dia extraordinário em que Jesus trouxe de novo à vida a filha de Jairo. A sua ressurreição era um sinal do que ia acontecer com Jesus e, através Dele, com a Igreja.
Mais tarde, no topo de outro monte, como o qual se encontram nesta noite, Pedro, Tiago e João tinham testemunhado a Transfiguração de Jesus, o Seu rosto brilhante como a luz do sol e as Suas vestes brancas como a maior pureza de sempre. Tinha sido a manifestação plena da Sua Divindade. Agora iriam testemunhar a manifestação plena da Sua Humanidade. Nesta noite interminável, eles voltarão a ver outra tranfiguração de Jesus - Seu rosto modificado pela dor e pelo suor de sangue, as Suas vestes rasgadas e manchadas de sangue pela Sua paixão. Mais tarde, em apenas três dias, tal como Jesus tinha prometido, voltarão a vê-Lo mais uma vez transfigurado, desta vez com uma alegria eterna no rosto e um glorioso corpo ressuscitado.
Como deve ter sido grande a desilusão de Jesus, naquela noite. Estes três discípulos tinham sido amorosamente escolhidos e preparados para O acompanharem naquele momento, mas até eles falecem e adormecem, até eles sucumbem aos poderes da carne e do mundo. Até eles O abandonam ... Nunca Jesus Se sentiu tão só como naquela noite ...
Voltando para junto dos discípulos, [Jesus] encontrou-os a dormir e disse a Pedro: «Nem sequer pudeste vigiar uma hora Comigo! Vigiai e orai, para não cairdes em tentação. O espírito está pronto, mas a carne é débil.»
Afastou-Se, pela segunda vez, e foi orar, dizendo: «Meu Pai, se este cálice não pode passar sem que Eu o beba, faça-Se a Tua vontade!»
Depois voltou e encontrou-os novamente a dormir, pois os seus olhos estavam pesados. Deixou-os e foi orar de novo pela terceira vez, repetindo as mesmas palavras. (Mt 26, 40-44)
Por três vezes Jesus pede-lhes (implora-lhes!) que rezem, que vigiem e que O acompanhem naquele momento de agonia. Faz-me lembrar das três tentações pelas quais Jesus passa no deserto, sendo tentado por Satanás. Também aqui volta a sê-Lo. Uma vez ouvi alguém dizer que, na primeira parte da noite, Jesus viveu a agonia de todos os pecados e maldades que já tinham sido cometidos no passado; na segunda parte, pelos pecados e iniquidades que estavam a ser cometidos naquele momento da História e, por fim, já de madrugada, por todos os pecados que viriam a ser cometidos no futuro (como os meus e os teus).
Oportunidade única e inesquecível de poder tocar nesta pedra e de rezar neste local sagrado (foto gentilmente tirada por outro peregrino, na altura sem eu me aperceber) - peregrinação à Terra Santa 2019.
Reunindo-Se finalmente aos discípulos, disse-lhes [Jesus]: «Continuai a dormir e a descansar! Já se aproxima a hora, e o Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos pecadores. Levantai-vos, vamos! Já se aproxima aquele que Me vai entregar.» (Mt 26, 45-46)
Como fico sempre que o leio, estas palavras surpreendem-me. Então Jesus? É para continuar a dormir e descansar, ou é para nos levantarmos com pressa? Ambos. Paradoxalmente, é para fazermos ambos. Por um lado, devemos, sim, ter uma santa pressa em seguir Jesus e em pôr em prática aquilo que Ele nos pede e partilha connosco durante a nossa oração. Devemos ter pressa em servir, em obedecer, em fazer a vontade do Senhor. Mas devemos fazê-lo de forma tranquila, serena, confiantes no poder do Deus que nos chama e na Sua infinita graça, capaz de alcançar tudo em nós. Lembra-te, Marisa, que é assim que deverá sempre viver um cristão ...
Depois de terem ouvido o rei, os magos puseram-se a caminho. E a estrela que tinham visto no Oriente ia adiante deles, até que, chegando ao lugar onde estava o Menino, parou. Ao ver a estrela, sentiram imensa alegria; e, entrando na casa, viram o Menino com Maria, Sua mãe. Prostrando-se, adoraram-n'O; e, abrindo os cofres, ofereceram-Lhe presentes: ouro, incenso e mirra. (Mt 2, 9-11)
Penso que já todos estão familiarizados com o profundo significado dos três presentes que os Reis Magos trouxeram consigo, desde o Oriente até Belém, para oferecer ao Deus que Se fez Menino. Existem inúmeras passagens do Antigo Testamento que nos mostram o significado de cada oferenda: o ouro simboliza a Realeza de Jesus, o esperado descendente do Rei David, que seria Rei eterno de todas as nações; o incenso anuncia-nos que Jesus é, verdadeiramente, o Divino Filho do Deus Altíssimo; e por fim a mirra, a resina proveniente duma planta muito espinhosa, usada para embalsamar o corpo dos mortos, revela-nos a Sua igualmente verdadeira Humanidade. E, assim, de uma só vez, os sábios Magos comunicam-nos que Jesus é verdadeiro Deus, verdadeiro Homem, eterno Rei ... Seremos também nós capazes de O reconhecer como tal, nas nossas vidas?
No verão em que fui à Terra Santa, lembro-me de ter achado muito curioso, ao folhear o livro do Êxodo, para aprender mais sobre o uso da acácia nos objectos sagrados da Arca da Aliança, que, num mesmo capítulo (cf Ex 30), se falava tanto do ouro, como do incenso, como da mirra - para adornar, perfumar e ungir tanto a Arca da Aliança e os seus objectos, como Aarão e os outros sacerdotes ... Hmm, curioso: este deve ser o único livro da Bíblia a falar destes três presentes juntos! ...
Recentemente, apercebi-me que não. Aliás, estes três presentes juntos parecem ter ainda um outro simbolismo, igualmente profundo e belo. O livro dos Cânticos dos Cânticos é outro livro das Sagradas Escrituras que nos falam de ouro, incenso e mirra - juntos. São referidos em várias passagens, ao longo de todo este livro; mas, em todas as passagens, estes três itens são, duma forma ou de outra, sempre associados ao Esposo do Cântico! Sim, ao Esposo!
No site das Famílias de Caná encontram um maravilhoso ensinamento em vídeo, gravado durante um retiro em 2019, acerca do importantíssimo simbolismo de Jesus como Esposo: vêmo-lo presente desde o primeiro ao último livro da Bíblia, nas palavras dos Profetas e dos Salmos, no testemunho de S. João Baptista e nas parábolas de Jesus...
João declarou: «Um homem não pode tomar nada como próprio, se isso não lhe for dado do Céu. Vós mesmos sois testemunhas de que eu disse: "Eu não sou o Messias, mas apenas o enviado à sua frente". O Esposo é Aquele a quem pertence a esposa; mas o amigo do Esposo, que está ao Seu lado e O escuta, sente muita alegria com a voz do Esposo. Pois esta é a minha alegria! E tornou-se completa! Ele é que deve crescer e eu diminuir». (Jo 3, 27-30)
Terminámos os dias do tempo de Natal e em breve entraremos já no tempo da Quaresma, no tempo de preparação mais intensa para recebermos a entrega do Divino Noivo.
A meio da noite, ouviu-se um brado: 'Aí vem o Noivo, ide ao Seu encontro!' (Mt 25,6)
A preparação do novo ano catequético, que se inicia este fim-de-semana na minha paróquia, leva-me a ler e a desfolhar as primeiras páginas da Bíblia, acerca do relato da Criação do mundo em 7 dias. No primeiro dia a luz é criada, no segundo dia ocorre a separação das águas, no terceiro a terra seca surge no meio das águas ...
Hmm ... - dou por mim a pensar - isto parece-me familiar ... sim, isto faz-me mesmo lembrar de ...
Apercebo-me então que cada dia do relato da Criação parece querer prefigurar um episódio específico da vida de Jesus, da Encarnação ao Calvário. Na verdade, parece que o Divino Autor das Sagradas Escrituras tentou anunciar-nos a total restauração que Cristo nos viria oferecer, por amor, logo desde as primeiras páginas ...
No princípio, Deus disse: «Faça-se luz.» E a luz foi feita.Deus viu que a luz era boa e separou a luz das trevas. Deus chamou dia à luz, e às trevas, noite. Assim, surgiu a tarde e, em seguida, a manhã: foi o primeiro dia. (Gn 1,3-5)
Jesus, Luz dos homens, estava presente antes de qualquer outra coisa existir. Deste modo, esta Luz tomou parte, tornou-Se parte, de todas as coisas que foram criadas depois Dela. Nada foi criado que não A possuísse, que não A tivesse em si. Esta Luz, esta Vida, estava, assim, presente em todas as coisas...
No princípio existia o Verbo; o Verbo estava em Deus; e o Verbo era Deus. No princípio Ele estava em Deus. Por Ele é que tudo começou a existir; e sem Ele nada veio à existência. Nele é que estava a Vida de tudo o que veio a existir. E a Vida era a Luz dos homens. A Luz brilhou nas trevas, mas as trevas não A receberam.
(Jo 1,1-5)
Através do pecado, prefigurado pela história de Adão e Eva no jardim do Éden, o homem renunciou a esta Luz, a esta Vida, presente em todas as coisas criadas pelo Senhor. Ao escolher o pecado, ao escolher o amor próprio, o egoísmo, o desejo de se tornar como Deus, o homem renunciou ao amor do Senhor, que estava intrinsecamente presente em tudo o que existia, desde o primeiro dia da criação do mundo.
Deus não aceitou esta separação. Então planeou uma nova criação, uma nova humanidade, através do mistério da Redenção de Cristo Jesus.
«Eis que venho renovar todas as coisas.» (Ap 21,5a)
Foi assim o primeiro dia da Nova Criação: Deus disse «Faça-se Luz». E a luz foi feita.
«Maria, hás-de conceber no teu seio e dar à luz um filho, ao qual porás o nome de Jesus»
«Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra.» (Lc 1,31.38)
Com o mistério da Encarnação, Jesus colocou toda a Sua divindade dentro duma célula minúscula, dentro do ventre de Maria, que a acolheu e nutriu, como ninguém alguma vez poderia ter feito. Deus, o Criador, entra assim dentro da Sua própria criação ... E se, antes, havia uma parte da Luz do Senhor em cada coisa criada, Maria tornou-se a primeira criatura a ser plena e totalmente possuída pela Luz, pela Vida, de Deus.
O Verbo era a Luz verdadeira, que, ao vir ao mundo, a todo o homem ilumina.
E o Verbo fez-Se homem e veio habitar connosco. E nós contemplámos a Sua glória
(Jo 1,9. 14)
Ensina-me, Mãe, a deixar-me também possuir, totalmente, por essa Luz da Vida ...
No primeiro dia da semana, Maria Madalena foi ao túmulo logo de manhã, ainda escuro, e viu retirada a pedra que o tapava. (Jo 20,1)
Recentemente, por inspiração dum querido padre, tive a oportunidade de olhar com novos olhos para aquele que é um dos meus episódios favoritos em toda a Bíblia.
Conta-nos São João, o discípulo tão amado pelo Senhor
Maria estava junto ao túmulo, da parte de fora, a chorar. Sem parar de chorar, debruçou-se para dentro do túmulo,e contemplou dois anjos vestidos de branco, sentados onde tinha estado o corpo de Jesus, um à cabeceira e o outro aos pés.Perguntaram-lhe: «Mulher, porque choras?» E ela respondeu: «Porque levaram o meu Senhor e não sei onde O puseram.» Dito isto, voltou-se para trás e viu Jesus, de pé, mas não se dava conta que era Ele.E Jesus disse-lhe: «Mulher, porque choras? Quem procuras?» Ela, pensando que era o jardineiro, disse-lhe: «Senhor, se foste tu que O tiraste, diz-me onde O puseste, que eu vou buscá-Lo.»
Disse-lhe Jesus: «Maria!» Ela, aproximando-se, exclamou em hebraico: «Rabbuni!» - que quer dizer: «Mestre!» Jesus disse-lhe: «Não Me detenhas, pois ainda não subi para o Pai; mas vai ter com os Meus irmãos e diz-lhes: 'Subo para o Meu Pai, que é vosso Pai, para o Meu Deus, que é vosso Deus.'» Maria Madalena foi e anunciou aos discípulos: «Vi o Senhor!» E contou o que Ele lhe tinha dito.
Jo 20, 11-18
E se Maria Madalena, na verdade, não se enganou? E se ela viu, verdadeiramente, o divino Jardineiro?
Para perceber temos de voltar ao início, lá bem atrás no Génesis, do início da Criação, como nos mostrou tão belamente o Papa João Paulo II, ao oferecer-nos a todos o dom da revelação da Teologia do Corpo...
No início, Deus criou um jardim, rico em frutuosas virtudes e em belos actos de amor. Era o jardim mais bonito deste mundo - o coração unido dum homem e duma mulher. Feitos à imagem e semelhança de Deus - a Santíssima Trindade, plena comunhão de Amor - nada podia ser mais belo ou perfeito.
O homem, formado a partir da rudeza da terra, cumpria perfeitamente a sua vocação - ser aquele que providencia, que governa, que cuida e protege, que inicia o amor. A força, a firmeza e a segurança eram a sua própria essência.
Já a mulher, formada a partir da carne e do sangue, cumpria a sua própria vocação, diferente e complementar à do homem. Ela era aquela rica em sentimentos e emoções, aquela capaz de acolher no seu seio de mulher e mãe, capaz de receber o amor de Adão e de o frutificar, ao tornar o seu próprio ser num autêntico lar. O cuidar, o acarinhar, o compadecer-se, o ajudar a crescer e fortalecer era o seu chamamento.
Mas a serpente era esperta e matreira, e conseguiu descobrir, no meio de tantas virtudes, uma pequena brecha onde pudesse deitar - bastou umas meras gotas - do seu veneno mortal.
Sendo a mulher naturalmente mais notada a estar atenta aos outros e às suas necessidades - enquanto o homem tende a focar-se no dever, no trabalho, na conquista e na luta diária - e sendo ela a chave certeira para alcançar as profundezas do coração do homem, claro que a maldita serpente se dirigiu primeiramente a Eva. E assim, no coração da mulher, o diabo gerou pela primeira vez a dúvida e a suspeita....
«E se ...» E se eu ouvir só um bocadinho, esta voz que me sussurra ao ouvido? E se aquilo que a serpente diz for verdade? Porque não deseja Deus que nós comamos do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal? Estará Deus a esconder-nos alguma coisa? Se nos ama, porque não nos permite comer de todos os frutos? Porque não podemos ter tudo? E se, em vez de morrermos ao comer do fruto proibido, nos tornar-nos ainda melhores, mais sábios, mais belos, mais santos - afinal, é a árvore do conhecimento do bem e do mal ...
A cada novo pensamento o fruto proibido se tornava mais apetitoso, apeticível, desejável ... Se eu quero, se me apetece, se está aqui mesmo à mão, que me impede de o fazer? Não serei eu, porventura, livre? (é impressionante como esta linha de pensamento tem ressoado e ecoado até aos dias de hoje ...)
Então a mulher toma a iniciativa - não era essa a vocação de Adão? - pega no fruto e come. E onde está Adão? Porque não está ele a cumprir a sua vocação e a proteger o seu bem mais precioso, a sua esposa e irmã, formada a partir do seu próprio coração? Oh, a ele já não era preciso que uma serpente o seduzisse e enganasse, pois ele próprio já se tinha deixado levar pelo mundo que o rodeava, focado nos seus próprios projetos de conquista de todo o mundo ....
Ambos comeram do fruto proibido, porque ambos almejavam tornar-se como deuses. E assim, os olhos de ambos, que antes apenas viam o amor sincero e verdadeiro, o bom e o belo, tornaram-se capazes de contemplar aquilo que eles próprios tinham construído - o pecado, a desconfiança, o medo, a vergonha, a maldade.
Porque não me protegeste? Eu confiava em ti!A culpa é dele!- diz Eva a Adão e ao Senhor.
Porque me ofereceste algo que me levou à morte? Eu confiava em ti!A culpa é dela! - diz Adão a Eva e ao Senhor.
E assim, as nossas próprias escolhas, o nosso próprio pecado - a recusa e a desconfiança no amor que Deus e o outro tem para nos dar - levam-nos do belo jardim ao mais inóspito deserto, onde vagueamos sem cessar, à procura da verdadeira fonte de água vida e do verdadeiro maná que vem do céu ...
É assim que a vou seduzir: ao deserto a conduzirei, para lhe falar ao coração (Os 2,16)
Deus é incapaz de suportar esta separação, esta divisão, este abismo enorme que nós próprios cavámos. É o próprio Deus, qual divino Jardineiro, que vem dar uma nova vida ao deserto do coração humano:
Eis que venho renovar todas as coisas (Ap 21,5)
Jesus, como novo Adão, demonstrou na Cruz o seu perfeito amor - livre, total, fiel e fecundo - capaz de dar a própria vida para proteger a Sua amada - cada um de nós.
No sítio em que [Jesus] tinha sido crucificado havia um jardim e, no jardim, um túmulo novo, onde ainda ninguém tinha sido sepultado. (Jo 19,41)
Jesus é o divino Jardineiro, capaz de transformar o coração de cada homem e mulher dum deserto hostil e árido num autêntico jardim cheio de vida, luz e cor - a nova Jerusalém celeste, santa e imaculada, tal como nos promete o último livro da Bíblia.
Vi, então, um novo céu e uma nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra tinham desaparecido e o mar já não existia. E vi descer do céu, de junto de Deus, a cidade santa, a nova Jerusalém, já preparada, qual noiva adornada para o seu esposo.
E ouvi uma voz potente que vinha do trono e dizia: «Esta é a morada de Deus entre os homens». (Ap 21,1-3)
Mostrou-me, depois, um rio de água viva, resplendente como cristal, que saía do trono de Deus e do Cordeiro.No meio da praça da cidade e nas margens do rio está a árvore da Vida que produz doze colheitas de frutos; em cada mês o seu fruto, e as folhas da árvore servem de remédio para as nações. (Ap 22,1-2)
Ah, Maria Madalena, a primeira a ser chamada para entrar no jardim aberto por Jesus ...
Talvez, no final das contas, Maria Madalena tenha tido razão ao identificar Jesus Ressucitado como o divino Jardineiro, que a todos traz a vida e a vida em abundância ...
Jesus, com um grito forte, expirou. E o véu do templo rasgou-se em dois, de alto a baixo (Mt 15, 38)
Com a morte de Jesus rasga-se o véu do templo de Jerusalém. Este véu localizava-se no interior do templo, à entrada do Santo dos Santos, o local mais sagrado para os judeus, onde apenas o Sumo Sacerdote podia entrar (e apenas uma só vez no ano) para estar na presença do Altíssimo e pronunciar o Seu Nome santo.
Este véu, ao contrário dos véus a que estamos habituados, não era de renda, nem de nenhum tecido fininho, transparente ou frágil. Era mais uma tapeçaria, um têxtil que apenas podia ser produzido pelo melhor artesão, sujeito a inúmeras regras, utilizando fios de lã de cor azul (simbolizando o Criador do mundo), de cor roxa (significando a realeza do Senhor dos Exércitos) e de cor escarlate (simbolizando o sangue dos sacrifícios) juntamente com fios do linho mais puro, pela pureza do Santo de Israel. Depois, tinha ainda de ser bordada a ouro, com a imagem de dois querubins, de dois anjos que guardavam, de dia e de noite, a porta que dava acesso ao Senhor. E o que se dizer das suas dimensões? Nada mais nada menos que 5m de largura, 5m de altura e 5cm de espessura de acordo com as Escrituras...
Com a morte de Jesus rasga-se o véu do templo de Jerusalém. Este véu espesso e forte, que impedia o acesso a Deus, é dividido em dois e rasgado de alto a baixo. O rosto de Deus, que sempre tinha estado, até aquele momento, escondido e velado - até mesmo de Moisés, que falava com o Senhor como se fosse um amigo - é então revelado a todos, judeus e pagãos.
É o próprio Deus que retira o véu e que Se mostra e releva livremente, como Aquele que ama até ao fim, Aquele que ama até dar a própria vida pelo ser amado...
O véu foi rasgado. A porta foi escancarada. O peito foi aberto. O acesso a Deus está livre!
No primeiro dia da semana, ao romper do dia, as mulheres foram ao sepulcro, levando os perfumes que tinham preparado. Encontraram removida a pedra da porta do sepulcro e, entrando, não acharam o corpo do Senhor Jesus. Apareceram-lhes dois homens em trajes resplandecentes, que lhes disseram: «Porque buscais entre os mortos Aquele que vive? Não está aqui: ressuscitou!» (Lc 24, 1-3.4b.5b)
Temos o azul do céu, o roxo dos perfumes, o escarlate das marcas do sangue e o branco da mortalha e das ligaduras. À entrada, dois anjos guardam a porta que dá acesso ao Senhor e a porta está completamente aberta ... Já nada, nem mesmo o pecado nem a morte, nos pode separar do amor de Deus!
Jesus é a Verdade. Deus é a Verdade. A Verdade é Deus.
Assim, o mundo torna-se cada vez mais verdadeiro na medida em que reflectir Deus - o amor de Deus e o Deus de amor. Assim, o mundo torna-se tanto mais verdadeiro quanto mais se aproximar de Deus e do Seu Reino de verdade, vida, liberdade, amor.
O homem torna-se cada vez mais verdadeiro, cada vez mais ele mesmo, cada vez mais parecido com o ser que deveria ser, quanto mais se conformar com o próprio Deus, quanto mais se tornar a Sua imagem e semelhança.
Deus é a realidade que nos confere a natureza e o sentido do nosso ser.
«Para isto nasci, para isto vim ao mundo: para dar testemunho da Verdade. (Jo 17,37)
Dar testemunho da Verdade significa então pôr Deus em realce, dar-Lhe o primeiro lugar em todos os instantes e em todos os aspectos da nossa vida. Dar testemunho da Verdade significa estar atento, colocar-nos em atitude constante de escuta e pôr em prática a Sua vontade.
«Para isto nasci, para isto vim ao mundo: para dar testemunho da Verdade. (Jo 17,37)
A Redenção que Cristo nos veio oferecer foi assim, de certo modo, o tornar a Verdade perfeitamente reconhecível, identificável, perceptível - para todos.