Sou uma jovem esposa e mãe católica portuguesa. Neste blog partilho a minha caminhada em busca da santidade e o meu encontro com o amor misericordioso do Senhor. Espero que ele vos possa ajudar a encontrar a alegria do Evangelho!
Sou uma jovem esposa e mãe católica portuguesa. Neste blog partilho a minha caminhada em busca da santidade e o meu encontro com o amor misericordioso do Senhor. Espero que ele vos possa ajudar a encontrar a alegria do Evangelho!
Nas primeiras vezes que fui visitar a minha filha recém-nascida à Neonatologia tive de ser levada numa cadeira de rodas. Durante vários dias, só conseguia andar devagarinho, com uma mão na barriga e outra apoiada na parede, por curtas distâncias de cada vez, curvada sobre mim mesma, impossibilitada de me erguer, por causa das dores e das limitações físicas causadas pela cesariana.
Nesses dias, lembrei-me da história da mulher encurvada, que nos é contada no Evangelho de S. Lucas:
"Num dia de sábado, ensinava Jesus numa sinagoga. Estava lá certa mulher doente por causa de um espírito, há 18 anos: andava curvada e não podia endireitar-se completamente. Ao vê-la, Jesus chamou-a e disse-lhe: «Mulher, estás livre da tua enfermidade.» E impôs-lhe as mãos. No mesmo instante, ela endireitou-se e começou a dar glória a Deus.
Mas o chefe da sinagoga, indignado por ver que Jesus fazia uma cura ao sábado, disse à multidão: «Seis dias há, durante os quais se deve trabalhar. Vinde, pois, nesses dias, para serdes curados e não em dia de sábado.»
Replicou-lhe o Senhor: «Hipócritas, não solta cada um de vós, ao sábado, o seu boi ou o seu jumento da manjedoura e o leva a beber? E esta mulher, que é filha de Abraão, presa por Satanás há 18 anos, não devia libertar-se desse laço, a um sábado?» Dizendo isto, todos os seus adversários ficaram envergonhados, e a multidão alegrava-se com todas as maravilhas que Ele realizava.". (Lc 13, 10-17)
Não sei se sabiam mas, no tempo de Jesus, as mulheres tinham de ficar na parte de trás das sinagogas, separadas dos homens por uma vedação ou gradeamento (tal como acontecia com os gentios, que também não podiam ter acesso às zonas restritas e mais sagradas dos judeus, no interior do Templo ou das sinagogas). Elas só podiam, caso assim quisessem, ouvir a leitura e o estudo das Sagradas Escrituras se permanecessem sentadas lá atrás, bem no fundo do grande salão.
Assim, neste dia de Sábado, lá atrás na sinagoga, encontrava-se uma mulher - que não só era mulher e tinha de estar lá atrás, como, ainda por cima, era encurvada, o que a tornava ainda menos visível. Esta mulher, diz-nos o Evangelho, estava doente por causa dum “espírito de enfermidade” ou dum “espírito de fraqueza” (dependendo das traduções), que a obrigava a viver encurvada desde há 18 anos. Uma vez, explicaram-me que a palavra grega usada neste texto significava que esta mulher vivia “dobrada sobre si mesma” e “impedida de erguer a cabeça”.
Apesar de tudo isto, Jesus vê-a. Para Ele não há barreiras nem separações. Na Sua presença, todas as grades, reais ou simbólicas, caem por terra.
O Evangelho não especifica se Jesus a chamou até junto de Si ou se foi ter com ela. Mas Jesus interpela-a directamente, coloca as Suas mãos sobre o dorso da mulher e declara-lhe: “Mulher, estás livres da tua enfermidade”, ou “Mulher, estás livre dos laços da tua fraqueza” noutras traduções. E ela imediatamente endireitou-se e começou a dar glória a Deus.
Esta mulher vivia encurvada sobre si mesma, ou seja, os outros olha-la-iam – tanto de forma literal como figurativa – de cima para baixo. O próprio olhar desta mulher estava preso no chão. O seu olhar estava limitado. Os seus horizontes eram estreitos, sujos, pedregosos - como o solo que constantemente fitava.
Jesus é a primeira pessoa, na vida naquela mulher, que não a olha de cima para baixo; antes, a eleva, até Si, permitindo-lhe olhar, olhos nos olhos, com o próprio Deus, contemplando-a e permitindo que ela O contemplasse também, alargando os horizontes do seu olhar e, assim, da sua vida.
Na sociedade do tempo de Jesus (tal como vemos retratado noutros episódios evangélicos), as pessoas acreditavam que as doenças mais graves e debilitantes - como a condição desta mulher - eram uma forma de castigo divino, por alguma culpa ou pecado grave cometido, ou por si ou por familiares próximos. Assim, quanta vergonha não sentiria esta mulher, de cada vez que necessitava de aparecer em público, para comprar comida ou rezar ao Deus de Israel na sinagoga, naquele estado físico, que dava tanto nas vistas ...
Esta mulher tinha um corpo imperfeito, doente, permanentemente dobrado e encurvado sobre si mesmo, que lhe roubaria toda a auto-estima e amor próprio. Talvez até a fizesse viver numa profunda tristeza e solidão. Mas foi com este mesmo corpo, imperfeito e deformado, que ela se permitiu ser olhada, chamada e tocada por Jesus. Sem sentir qualquer vergonha ou medo, talvez pela primeira vez na sua vida. Ao endireita-la, ao levantá-la, Jesus devolve-lhe toda a dignidade que anteriormente tinha perdido.
Jesus identifica-nos claramente que o “espírito de enfermidade” ou o “espírito de fraqueza”, que a impedia de se manter direita, provinha da acção de Satanás, o Adversário, o Inimigo da humanidade desde o Génesis. Assim, fica claro que a condição desta mulher era muitíssimo mais profunda do que só uma maleita física.
No final deste milagre, o chefe da sinagoga critica Jesus por o ter realizado em dia de sábado, dia em que não seria suposto realizar-se qualquer tipo de trabalho, segundo os costumes judaicos. É curioso reparar como todas as curas sabáticas de Jesus, descritas nos Evangelhos, têm algo em comum: nenhuma dessas curas foi “solicitada” a Jesus; em nenhuma delas veio alguém, ou algum intermediário, ter com Jesus, pedindo ou implorando a sua cura ou a cura de outrem. Aliás, se repararmos com atenção, todos os milagres de Jesus em dia de sábado partiram da Sua própria iniciativa, foram voluntariamente concedidos por Si, sem que o doente Lho tenha pedido – como é o caso do milagre desta mulher encurvada.
Assim se manifesta claramente a iniciativa de Deus em nos salvar, Ele que é o “Senhor do Sábado”. Desta forma, Cristo relembra-nos a intenção primordial, o propósito, do dia de sábado, o Shabat, o dia de descanso do Senhor: este seria o dia da semana dedicado e consagrado ao encontro, a nível pessoal, familiar e comunitário, com o Senhor; em que o povo deveria permitir-se descansar e usufruir da Obra da Criação; em que os judeus deveriam relembrar e comemorar a libertação da escravatura do Egipto e da vitória do grande Êxodo, e assim louvar a Deus por todos os Seus dons e bênçãos.
Jesus usa palavras duras e chama-lhes de hipócritas. Se os judeus podiam soltar os seus animais, no dia de sábado, para os levar a beber, quão mais adequado não seria que esta mulher bebesse da verdadeira Água Viva, no dia do Senhor, e assim readquirisse a sua dignidade perdida de filha de Deus? Aquela mulher foi reerguida através do seu encontro com Jesus e imediatamente se pôs a louvar o Deus que a tinha salvo - cumpriu-se na perfeição o propósito do dia do Shabat ....
Para ouvir esta ou outras catequeses, sobre os encontros de Jesus com algumas das mulheres dos Evangelhos,
«Uma mulher, de nome Marta, recebeu [Jesus] em sua casa. Tinha ela uma irmã, chamada Maria, a qual, sentada aos pés do Senhor, escutava a Sua palavra. Marta, porém, andava atarefada com muitos serviços.» (Lc 10, 38-40)
Tanto Marta como Maria parecem ser jovens mulheres solteiras, que tomaram a decisão de dedicarem a sua vida a Jesus, o Seu Amado. Assim, alguns vêem-nas como protótipo dos 2 grandes ramos de vida religiosa – Marta, numa vida mais activa, em constante serviço dos irmãos e necessitados, pondo os seus talentos a render, e Maria, tendencialmente mais orante, intercessora e contemplativa ...
Os doutores da Lei e os fariseus trouxeram [a Jesus] certa mulher apanhada em adultério, colocaram-na no meio e disseram-Lhe: «Mestre, esta mulher foi apanhada a pecar em flagrante adultério. Moisés, na Lei, mandou-nos matar à pedrada tais mulheres. E Tu que dizes?» (Lc 8,3-4)
Imagino os fariseus e doutores da Lei a esfregarem as mãos e a dizerem entre si: “Está no papo! Apanhámo-Lo bem! Desta não escapa!”. Jesus só parece ter 2 opções: ou afirma que “sim, Eu concordo com o que está escrito na Lei de Moisés” e o povo que está a assistir ficará desiludido com Jesus, e assim apenas a face “julgatória” de Deus será revelada; ou, então, “provará” que não é realmente um Profeta e dirá, “não, eu discordo da Lei de Moisés”, “provando” assim que Ele não vem realmente de Deus.
A mulher, pelo contrário, não parece ter qualquer hipótese .... Parece estar condenada à morte desde o momento em que alguém a descobriu no seu pecado.
A parábola da dracma perdida surge no contexto de outras 2 parábolas contadas por Jesus, bastante mais conhecidas – a parábola da ovelha perdida e do filho pródigo. Todas estas parábolas falam-nos de bens preciosos que foram perdidos, e acerca da busca incessante de alguém para os reencontrar e resgatar. Um pormenor importante da parábola da dracma perdida, e que a distingue das outras duas, é que o bem precioso foi perdido dentro da própria casa … e o que o fez perder-se não parece ser algum acontecimento fora do comum, mas apenas as coisas aparentemente simples e banais do dia a dia, à quais tendemos a dar pouca importância ...
[Jesus] entrou em casa do fariseu, e pôs-Se à mesa. Ora certa mulher, conhecida naquela cidade como pecadora, ao saber que Ele estava à mesa em casa do fariseu, trouxe um frasco de alabastro com perfume. Colocando-se por detrás Dele e chorando, começou a banhar-Lhe os pés com lágrimas; enxugava-os com os cabelos e beijava-os, ungindo-os com perfume. (Lc 7, 36-38)
Esta mulher, apesar de pecadora, demonstra desde cedo uma enorme fé, que lhe suscita uma coragem e audácia impressionante: atreve-se a ir até à casa do fariseu Simão, a entrar na sala das refeições cheia de homens e talvez convidados ilustres, a “interromper” – de certa forma – a sua refeição e diálogo, para oferecer a Jesus um dos seus bens mais preciosos. A sua fé parece dar-lhe a capacidade de vencer a vergonha e o medo do desprezo alheio, de correr o risco de poder ser repelida como impura ou pecadora ...
Só o Evangelho segundo S. Lucas nos fala sobre a profetisa Ana. Ana tende a passar tão despercebida entre as linhas do Evangelho como também deve ter passado despercebida ao longo da sua própria vida. À semelhança de Nossa Senhora, também a vida de Ana sofreu uma grande e inesperada reviravolta quando, tragicamente, perdeu o seu amado marido, sendo ainda muito nova, após um feliz mas dolorosamente curto matrimónio. Imagino-a a pensar: E agora, o que devo fazer? Sem filhos e sem família ... Quem cuidará de mim? Quem me protegerá? Quem me amará?
Sempre que passo por uma altura na minha vida, em que Deus me pede para esperar por algo, o Senhor sabe que eu preciso de conhecer e meditar em histórias de vida que me inspirem a levar avante o meu combate diário pela virtude da paciência e da humildade. E assim, um dia, Deus falou-me ao coração através da história de Isabel, prima da Virgem Maria, esposa do sacerdote Zacarias e mãe de João Baptista. Isabel promete ser alguém muito especial, ou não fosse ela logo chamada, juntamente com o seu marido, como sendo «justa diante de Deus» (Lc 1,6), um título apenas atribuído também a São José ...
O início da Quaresma leva-nos, com Jesus, ao deserto.
Uma vez baptizado, Jesus saiu da água e eis que se rasgaram os céus, e viu o Espírito de Deus descer como uma pomba e vir sobre Ele. E uma voz vinda do Céu dizia: «Este é o meu Filho muito amado, no Qual pus todo o Meu agrado.» Então, o Espírito conduziu Jesus ao deserto, a fim de ser tentado pelo diabo. (Mt 3,16-17; 4,1)
O momento em que os céus se rasgaram e o Espírito Santo desceu sobre a terra, parece ter sido um momento marcante e decisivo na caminhada de Jesus, em direcção ao pleno conhecimento da vontade do Pai. Parece ter sido o momento em que Cristo recebeu uma confirmação total acerca da missão a que o Pai O chamava, assim como das suas implicações, ou seja, a redenção de toda a humanidade através do Seu sacrifício de amor na Cruz.
Ao ler estes versículos, impressiona-me como Jesus, após um acontecimento com tanta glória e louvor, obedecendo voluntariamente à doce voz do Espírito, abandona todas as consolações e presenças humanas e Se retira sozinho para o deserto. Para aí passar pela prova de ser tentado por Satanás.
Fala-se cada vez menos de Satanás nos dias de hoje e isto é algo que muito lhe convêm e que ele deseja que permaneça assim. Porque, nós não tentaremos combater aquilo que desconhecemos sequer que existe. E, assim, permitimos que ele continue a manipular-nos e a manipular as nossas vidas, como tanto se observa na nossa sociedade de hoje em dia, sem haver qualquer resistência da nossa parte ...
Contudo, também não podemos cair no espectro oposto, de lhe atribuir poder e capacidades que ele, na verdade, não tem. Ele bem gosta de o fingir, para que acreditemos que ele é muito poderoso e capaz e que nós somos impotentes perante o seu aparente poder. Por exemplo, Satanás, sendo um anjo (se puderem voltem a ler este post sobre os anjos), ainda que decaído, desconhece o futuro - isso só Deus conhece - e apenas conhece o presente à mesma velocidade que nós, assistindo e vivendo o acontecer de cada coisa e acontecimento tal como nós. É verdade, ele conhece o passado, porque o viveu também, e, nesse aspecto, ele é perito em fazer-nos recordar o nosso passado - mas apenas as partes que lhe dão jeito, na sua constante tentativa de nos manipular ....
Diz-nos o Arcebispo Fulton Sheen que, enquanto Deus é pura verdade, definindo-Se a Si mesmo como "Aquele que é", a essência de Satanás é a mentira, podendo ser definido como "Aquele que não é". Ele é o tentador, o mentiroso, o enganador, o fingido por excelência. Uma das poucas capacidades que ele realmente tem é de ser extremamente perspicaz. Ele sabe identificar muito bem os nossos pontos fracos, está atento a cada uma das nossas reacções, sabe estudar bem as nossas tendências, os nossos padrões de comportamento e de pecado. Ele adapta-se astuciosamente a cada circunstância e a cada personalidade, falando-nos sempre através de meias-verdades, com declarações e sugestões parcialmente verdadeiras, mas sempre distorcidas e fraudulentas. E com que objectivo? Sempre na tentativa de nos afastar total e definitivamente do amor do Senhor e de nos arrastar com ele para o Inferno, onde ele próprio está já eternamente condenado.
Podemos comprovar tudo isto, se acompanharmos Jesus ao ser tentado no deserto pelo Demónio. São Mateus conta-nos que "o Tentador aproximou-se" de Jesus (Mt 4,3a). A sua astúcia e capacidade de manipulação é de tal modo que Satanás tenta Jesus fingindo que O tentava ajudar a descobrir a resposta à questão, que tinha sido gerada no Seu coração e na Sua mente após ter sido Baptizado: Como poderia Ele cumprir mais perfeitamente a Sua missão de redenção entre os homens?
Tinha sido para descobrir a resposta a esta pergunta que Jesus tinha-Se retirado sozinho para o deserto, para aí jejuar e orar durante 40 dias e 40 noites, escutando a voz do Pai e deixando-Se moldar por Ele. Mas, se o problema estava em como Jesus poderia "ganhar" e converter o coração dos homens, então o Diabo tinha umas quantas sugestões a dar-Lhe.
Todas elas envolviam - adivinhem só - um espécie de bypass, um atalho, à expiação dos nossos pecados através da Cruz. Deus Pai tinha-Lhe dito, nestes 40 dias de oração no deserto, que esta era a única maneira. Satanás tenta persuadi-Lo de que não, de que há outras maneiras. Hmm, onde é que eu já vi isto acontecer?
A serpente era o mais astuto de todos os animais selvagens e disse à mulher: «É verdade ter-vos Deus proibido comer o fruto de alguma árvore do jardim?»A mulher respondeu-lhe: «Podemos comer o fruto das árvores do jardim;mas, quanto ao fruto da árvore que está no meio do jardim, Deus disse: ‘Nunca o deveis comer, nem sequer tocar nele, pois, se o fizerdes, morrereis'. A serpente retorquiu à mulher: ‘Não, não morrereis; porque Deus sabe que, no dia em que o comerdes, abrir-se-ão os vossos olhos e sereis como Deus, ficareis a conhecer o bem e o mal‘.» (Gn 3,1-5)
Sim, nas tentações de Jesus no deserto veremos uma repetição das tentações de Adão (e de Eva) no Jardim do Éden. Mas, enquanto os nossos primeiros pais cederam à tentação, Jesus saiu vitorioso, vencendo cada uma delas.
Recordemos: qual era o objectivo, qual era a missão primordial de Deus para Adão e Eva? Viverem e participarem plenamente no Seu reino de amor, como Seus filhos muito amados, e como colaboradores do Seu poder Criador. Tal como o Catecismo da Igreja Católica nos resume na resposta à pergunta: "Para que fomos criados? Para conhecer, amar e servir a Deus" - uma resposta aparentemente simples mas tão poderosa e transformadora, se meditarmos bem nela ...
A serpente, contudo, tenta desviá-los desse objectivo e dessa missão, à semelhança do que tentará fazer com Jesus no deserto. O Diabo tenta distraí-los. Cria e fomenta uma falsa vontade nos seus corações, uma falsa necessidade, suscitando-lhes uma curiosidade que se revelará mortífera. Ele elabora uma mentira e tenta persuadi-los de que é verdade.
Os nossos pais acreditam nesta mentira, cedem sem aparente resistência, e pecam gravemente, rejeitando o amor de Deus e expulsando-se a si mesmos da Sua presença e do Seu reino. Grande foi a alegria de Satanás naquele dia ...
Agora, Satanás tentará fazer o mesmo com Jesus. As suas tentações tentam distrair Jesus da Sua missão de salvação do género humano. O Diabo tenta convencer Jesus de que há outras maneiras de alcançar a desejada Redenção da humanidade. Tenta persuadi-Lo e pô-Lo a duvidar da real necessidade da Sua entrega à vontade do Pai, através do Seu sacrifício voluntário na Cruz. Em vez de ser pela dolorosa e humilhante Cruz, Satanás tenta sugerir-Lhe três outras maneiras, uma espécie de três atalhos que, aparentemente, prometiam alcançar o mesmo fim - a salvação das almas.
Vendo a mulher que o fruto da árvore devia ser bom para comer, pois era de atraente aspecto e precioso para esclarecer a inteligência, agarrou do fruto, comeu, deu dele também a seu marido, que estava junto dela, e ele também comeu. (Gn 3,6)
Reparem: os nossos pais começaram por ver que o fruto proibido deveria ser bom paracomer,repararam no seu bom e atraente aspecto e concluíram que deveria ser bastante precioso e útil para lhes esclarecer a inteligência (e, assim, tornarem-se basicamente iguais a Deus e ocuparem o Seu lugar). Se meditarmos no assunto, perceberemos que o homem tende a ser tentado e tende a pecar de uma entre três principais maneiras (ou categorias): as que estão relacionadas com os prazeres da carne (pelos pecados da gula e da luxúria), as que estão relacionadas com o desejo de posse e o amor pelas coisas do mundo (pecado da ganância e da inveja) e as que estão relacionadas com o poder e a auto-idolatria (pecado do orgulho).
Da mesma forma, e pela mesma ordem, foi Jesus tentado no deserto pelo Demónio, para nos mostrar como podemos resistir e vencer estas tentações.
Então, o Espírito conduziu Jesus ao deserto, a fim de ser tentado pelo diabo. Jejuou durante quarenta dias e quarenta noites e, por fim, teve fome. O tentador aproximou-se e disse-Lhe: «Se Tu és o Filho de Deus, ordena que estas pedras se convertam em pães» (Mt 4,1-3)
A primeira tentação foi a da procura do conforto e do prazer dos sentidos. Que situação mais absurda - Deus a sentir fome! Onde é que isso já se viu? Como pode tal ser possível? Se Deus alimentou miraculosamente um povo tão numeroso durante 40 anos no deserto, porque é que agora não faz surgir um banquete para Si mesmo? Porque é que o próprio Deus se permite sofrer esta humilhação e passar por esta necessidade tão humana (apenas) para redimir as Suas criaturas? Parece loucura ...
Aliás, o Diabo parece prometer e sugerir-Lhe que, se Jesus usasse o Seu poder para alimentar todos os famintos deste mundo, então Ele ganharia os seus corações e, assim, a Cruz deixaria de ser necessária. Não parece um bom negócio?
Na verdade, Jesus recordará e passará novamente por esta tentação quando, pregado na Cruz em plena agonia, todos os que passarem por Ele Lhe disserem asperamente: «Salva-Te a Ti mesmo! Se és Filho de Deus, desce da cruz!»(Mt 27,40)
Respondeu-lhe Jesus: «Está escrito: Nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus.» (Mt 4,4).
Sim, Jesus passou realmente fome e sede no deserto. E, assim, uniu-Se a toda a humanidade sofredora, sedenta e faminta. Uniu-Se não só àqueles que têm falta de comida e de bebida, tão numerosos no tempo de Jesus como no nosso, mas também àqueles que têm sede e fome de Deus - e esses, sim, são muitíssimo mais numerosos hoje em dia, e encontram-se em quase todas as casas deste mundo.. O homem têm necessidades muitíssimo mais profundas do que aquelas que podem ser saciadas apenas com pão. São homens e mulheres que estão carentes duma felicidade muitíssimo maior do que ter apenas um estômago cheio. Foi para saciar tanto uma, como a outra fome, que Jesus encarnou, habitou entre nós e Se entregou, fazendo de Si mesmo e do Seu corpo o verdadeiro alimento, que nos dá a Vida Eterna.
A segunda tentação foi a da procura da posse e do controlo de todas as coisas: «Se Tu és o Filho de Deus, lança-Te daqui abaixo, que o Senhor Te sustentará» (Mt 4,6). Jesus tem perfeita noção que o caminho a que o Pai O chama terá poucos adeptos. Poucos Lhe darão ouvidos. Poucos O seguirão. Poucos se converterão. Não é um caminho fácil nem atraente aquele que Jesus nos proporá: «Se alguém quiser seguir-Me, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz, dia após dia, e siga-Me» (Lc 9,23) -
Nesta segunda tentação, o Diabo tentará persuadir Jesus a esquecer o caminho da Cruz e a substituí-lo por um caminho que demonstre chamativamente o Seu poder, que seja atractivo e cativante, a fim de tornar mais fácil que todos os homens O sigam.
Quase que oiço o Demónio a dizer-Lhe: 'Porque hás-de preferir um caminho longo e penoso, através do derramamento de sangue e de tanta dor, para converteres os homens? Porque hás-de preferir um caminho em que sejas desprezado, rejeitado e humilhado, enquanto podes escolher um caminho mais curto e eficaz se realizares um milagre vistoso e admirável? Pelo caminho da Cruz, serás como um fantoche nas mãos dos homens, farão de Ti o que eles quiseres, não poderás controlar nada - mas, se Tu quiseres, está aqui mesmo a Tua oportunidade de tomares controlo sobre tudo! Pelo caminho da Cruz, não saberás quantas pessoas conseguirás converter, mas se realizares maravilhas e feitos impossíveis prometo-Te que todos acreditarão! Se és realmente Filho de Deus, eu desafio-Te a fazeres algo heróico, para que todos possam testemunhar o Teu poder e assim acreditar!'
Então, o Diabo conduziu-O à cidade santa e, colocando-O sobre o pináculo do templo, disse-Lhe: «Se Tu és o Filho de Deus, lança-Te daqui abaixo, pois está escrito: 'Dará a Teu respeito ordens aos Seus anjos; eles suster-Te-ão nas suas mãos, para que os Teus pés não se firam nalguma pedra'» Disse-lhe Jesus: «Também está escrito: Não tentarás o Senhor teu Deus!» (Mt 4, 5-7)
Também mais tarde Jesus recordará esta tentação quando, à Sua volta, uma multidão se reunir exigindo-Lhe um milagre, qualquer que fosse, que provasse as Suas palavras e tornasse mais fácil para eles acreditarem plenamente. "As multidões afluíram em massa e [Jesus] começou a dizer: «Esta geração é uma geração perversa, [que] pede um sinal»" (Lc 11,29)
Realmente, se Jesus realizasse esses grandes e admiráveis feitos que O coagiam a fazer, multidões de homens O seguiriam. Mas, como é que isso os beneficiaria, se o pecado permanecesse incrustrado nas suas almas?
Responderá Jesus: «Não tentarás o Senhor teu Deus!» (Mt 4, 7). Não, não farei nada disso que Me pedem. Não farei a vossa vontade, que mal sabeis o que pedis ou o que precisais, mas farei, sim, e sempre, a vontade de Meu Pai. Só quando Me virem pregado numa Cruz se sentirão atraídos até Mim. Só através do Meu sacrifício, do pleno uso da Minha liberdade, da Minha entrega por amor é que, verdadeiramente, os homens se converterão e deixarão os seus maus caminhos.
E responderá Jesus às multidões que O tentam chantagear: «Esta geração é uma geração perversa; pede um sinal, mas não lhe será dado sinal algum, a não ser o de Jonas» (Lc 11, 29).Nenhum sinal vos será dado, a não ser o sinal de Alguém que será elevado aos Céus, após ter saído e vencido as profundezas das águas do abismo e da morte...
Por fim, a terceira tentação foi a da procura da própria glória e louvor: «Tudo isto [reinos e poderes do mundo] Te darei, se, prostrado, me adorares» (Mt 4,9). Satanás tenta, numa última e derradeira tentativa, distrair e desviar Jesus do caminho da Cruz. Se Jesus, tal como Ele próprio o diria mais tarde, veio a este mundo para estabelecer nele o Reino de Deus, porque não escolhia Ele um caminho mais rápido para alcançar tal? Porque não Se submetia Àquele que se apresentava como Senhor deste mundo?
Levando-O a um lugar alto, o Diabo mostrou-Lhe, num instante, todos os reinos do universo e disse-Lhe: «Dar-Te-ei todo este poderio e a sua glória, porque me foi entregue e dou-o a quem me aprouver. Se Te prostrares diante de mim, tudo será Teu.» (Lc 4, 5-7)
Será que o mundo foi-lhe realmente dado? Será que o mundo realmente lhe pertence? A contínua escolha dos homens pelo pecado parece corroborar esta afirmação. Por voto e vontade da maioria dos homens, comprovado pelas suas acções e escolhas diárias, não haveria dúvidas de que todo o mundo lhe pertencia ... em especial nos dias e na sociedade de hoje.
Mas não, isso não é verdade. Pode-nos parecer, por vezes, sim. Mas lembrem-se que Satanás é o príncipe da mentira e do fingimento! O Diabo promete que Jesus poderia ficar com tudo o que existe no mundo, desde que Ele não o tentasse mudar. Poderia ficar com os corações de toda a humanidade, desde que Ele prometesse não os tentar salvar e redimir.
Respondeu-lhe Jesus: «Vai-te, Satanás, pois está escrito: Ao Senhor, teu Deus, adorarás e só a Ele prestarás culto.» (Mt 4, 10)
Jesus responder-lhe-á: 'Vai-te Satanás! Adorar-te é servir-te e servir-te é ser escravo do pecado. Foi exactamente para tornar a humanidade livre das garras do pecado que Eu vim. Eu não desejo nada deste mundo enquanto eles estiverem presos nas amarras da maldade e da culpa. Primeiro, Eu irei vencer a maldade e a conscupiscência no coração dos homens, e então depois conquistarei o mundo e serei coroado Rei de todo o Universo! Eu prefiro perder e abdicar de tudo o que existe neste mundo, do que perder uma só alma para o Reino de amor do Meu Pai!'
Então, o Diabo deixou-O e chegaram os anjos e serviram-n'O. (Mt 4,11)
Por agora, a vitória foi alçancada. Ao contrário do primeiro Adão, o novo e eterno Adão, Jesus, vence as grandes tentações que continuamente assaltam a humanidade. O Diabo deixa-l'O-á mas não será por muito tempo. Uns capítulos à frente, leremos como o Tentador conseguirá apoderar-se momentaneamente do coração de Pedro. Ele, o primeiro entre os discípulos a reconhecer o Messianismo de Jesus, proferindo no versículo 16 do capítulo 16: «Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo», dirá também logo no versículo 22 desse mesmo capítulo: «Deus Te livre, Senhor! Isso nunca Te há-de acontecer!», quando Jesus lhes anuncia que a glória da Ressurreição só é possível através do caminho humilhante e penoso da Cruz.
Nos próximos posts, se Deus o permitir e me ajudar, continuaremos a caminhar com Jesus, nesse caminho de Cruz, em direção à plena obediência à vontade do Pai. Por agora, meditemos no nosso coração, acerca das tentações de Jesus, no seu significado, de como foi possível Ele vencer cada uma delas.
Foi através deste "primeiro treino" no deserto, através destes testes e provações, que Jesus Se fortaleceu para a "grande prova". Pela graça de Deus, nós estamos em plena Quaresma, nos exercícios de "treino" por excelência, para as grandes "provas" das nossas vidas. E a maior "prova" da minha vida começará dentro de pouquíssimo tempo, nesta mesma Páscoa ...
Post escrito após a leitura do livro "Life of Christ" do Arcebispo Fulton Sheen, 1958, pág 59 a 69