Sou uma jovem esposa e mãe católica portuguesa. Neste blog partilho a minha caminhada em busca da santidade e o meu encontro com o amor misericordioso do Senhor. Espero que ele vos possa ajudar a encontrar a alegria do Evangelho!
Sou uma jovem esposa e mãe católica portuguesa. Neste blog partilho a minha caminhada em busca da santidade e o meu encontro com o amor misericordioso do Senhor. Espero que ele vos possa ajudar a encontrar a alegria do Evangelho!
No primeiro dia da semana, Maria Madalena foi ao túmulo logo de manhã, ainda escuro, e viu retirada a pedra que o tapava. (Jo 20,1)
Recentemente, por inspiração dum querido padre, tive a oportunidade de olhar com novos olhos para aquele que é um dos meus episódios favoritos em toda a Bíblia.
Conta-nos São João, o discípulo tão amado pelo Senhor
Maria estava junto ao túmulo, da parte de fora, a chorar. Sem parar de chorar, debruçou-se para dentro do túmulo,e contemplou dois anjos vestidos de branco, sentados onde tinha estado o corpo de Jesus, um à cabeceira e o outro aos pés.Perguntaram-lhe: «Mulher, porque choras?» E ela respondeu: «Porque levaram o meu Senhor e não sei onde O puseram.» Dito isto, voltou-se para trás e viu Jesus, de pé, mas não se dava conta que era Ele.E Jesus disse-lhe: «Mulher, porque choras? Quem procuras?» Ela, pensando que era o jardineiro, disse-lhe: «Senhor, se foste tu que O tiraste, diz-me onde O puseste, que eu vou buscá-Lo.»
Disse-lhe Jesus: «Maria!» Ela, aproximando-se, exclamou em hebraico: «Rabbuni!» - que quer dizer: «Mestre!» Jesus disse-lhe: «Não Me detenhas, pois ainda não subi para o Pai; mas vai ter com os Meus irmãos e diz-lhes: 'Subo para o Meu Pai, que é vosso Pai, para o Meu Deus, que é vosso Deus.'» Maria Madalena foi e anunciou aos discípulos: «Vi o Senhor!» E contou o que Ele lhe tinha dito.
Jo 20, 11-18
E se Maria Madalena, na verdade, não se enganou? E se ela viu, verdadeiramente, o divino Jardineiro?
Para perceber temos de voltar ao início, lá bem atrás no Génesis, do início da Criação, como nos mostrou tão belamente o Papa João Paulo II, ao oferecer-nos a todos o dom da revelação da Teologia do Corpo...
No início, Deus criou um jardim, rico em frutuosas virtudes e em belos actos de amor. Era o jardim mais bonito deste mundo - o coração unido dum homem e duma mulher. Feitos à imagem e semelhança de Deus - a Santíssima Trindade, plena comunhão de Amor - nada podia ser mais belo ou perfeito.
O homem, formado a partir da rudeza da terra, cumpria perfeitamente a sua vocação - ser aquele que providencia, que governa, que cuida e protege, que inicia o amor. A força, a firmeza e a segurança eram a sua própria essência.
Já a mulher, formada a partir da carne e do sangue, cumpria a sua própria vocação, diferente e complementar à do homem. Ela era aquela rica em sentimentos e emoções, aquela capaz de acolher no seu seio de mulher e mãe, capaz de receber o amor de Adão e de o frutificar, ao tornar o seu próprio ser num autêntico lar. O cuidar, o acarinhar, o compadecer-se, o ajudar a crescer e fortalecer era o seu chamamento.
Mas a serpente era esperta e matreira, e conseguiu descobrir, no meio de tantas virtudes, uma pequena brecha onde pudesse deitar - bastou umas meras gotas - do seu veneno mortal.
Sendo a mulher naturalmente mais notada a estar atenta aos outros e às suas necessidades - enquanto o homem tende a focar-se no dever, no trabalho, na conquista e na luta diária - e sendo ela a chave certeira para alcançar as profundezas do coração do homem, claro que a maldita serpente se dirigiu primeiramente a Eva. E assim, no coração da mulher, o diabo gerou pela primeira vez a dúvida e a suspeita....
«E se ...» E se eu ouvir só um bocadinho, esta voz que me sussurra ao ouvido? E se aquilo que a serpente diz for verdade? Porque não deseja Deus que nós comamos do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal? Estará Deus a esconder-nos alguma coisa? Se nos ama, porque não nos permite comer de todos os frutos? Porque não podemos ter tudo? E se, em vez de morrermos ao comer do fruto proibido, nos tornar-nos ainda melhores, mais sábios, mais belos, mais santos - afinal, é a árvore do conhecimento do bem e do mal ...
A cada novo pensamento o fruto proibido se tornava mais apetitoso, apeticível, desejável ... Se eu quero, se me apetece, se está aqui mesmo à mão, que me impede de o fazer? Não serei eu, porventura, livre? (é impressionante como esta linha de pensamento tem ressoado e ecoado até aos dias de hoje ...)
Então a mulher toma a iniciativa - não era essa a vocação de Adão? - pega no fruto e come. E onde está Adão? Porque não está ele a cumprir a sua vocação e a proteger o seu bem mais precioso, a sua esposa e irmã, formada a partir do seu próprio coração? Oh, a ele já não era preciso que uma serpente o seduzisse e enganasse, pois ele próprio já se tinha deixado levar pelo mundo que o rodeava, focado nos seus próprios projetos de conquista de todo o mundo ....
Ambos comeram do fruto proibido, porque ambos almejavam tornar-se como deuses. E assim, os olhos de ambos, que antes apenas viam o amor sincero e verdadeiro, o bom e o belo, tornaram-se capazes de contemplar aquilo que eles próprios tinham construído - o pecado, a desconfiança, o medo, a vergonha, a maldade.
Porque não me protegeste? Eu confiava em ti!A culpa é dele!- diz Eva a Adão e ao Senhor.
Porque me ofereceste algo que me levou à morte? Eu confiava em ti!A culpa é dela! - diz Adão a Eva e ao Senhor.
E assim, as nossas próprias escolhas, o nosso próprio pecado - a recusa e a desconfiança no amor que Deus e o outro tem para nos dar - levam-nos do belo jardim ao mais inóspito deserto, onde vagueamos sem cessar, à procura da verdadeira fonte de água vida e do verdadeiro maná que vem do céu ...
É assim que a vou seduzir: ao deserto a conduzirei, para lhe falar ao coração (Os 2,16)
Deus é incapaz de suportar esta separação, esta divisão, este abismo enorme que nós próprios cavámos. É o próprio Deus, qual divino Jardineiro, que vem dar uma nova vida ao deserto do coração humano:
Eis que venho renovar todas as coisas (Ap 21,5)
Jesus, como novo Adão, demonstrou na Cruz o seu perfeito amor - livre, total, fiel e fecundo - capaz de dar a própria vida para proteger a Sua amada - cada um de nós.
No sítio em que [Jesus] tinha sido crucificado havia um jardim e, no jardim, um túmulo novo, onde ainda ninguém tinha sido sepultado. (Jo 19,41)
Jesus é o divino Jardineiro, capaz de transformar o coração de cada homem e mulher dum deserto hostil e árido num autêntico jardim cheio de vida, luz e cor - a nova Jerusalém celeste, santa e imaculada, tal como nos promete o último livro da Bíblia.
Vi, então, um novo céu e uma nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra tinham desaparecido e o mar já não existia. E vi descer do céu, de junto de Deus, a cidade santa, a nova Jerusalém, já preparada, qual noiva adornada para o seu esposo.
E ouvi uma voz potente que vinha do trono e dizia: «Esta é a morada de Deus entre os homens». (Ap 21,1-3)
Mostrou-me, depois, um rio de água viva, resplendente como cristal, que saía do trono de Deus e do Cordeiro.No meio da praça da cidade e nas margens do rio está a árvore da Vida que produz doze colheitas de frutos; em cada mês o seu fruto, e as folhas da árvore servem de remédio para as nações. (Ap 22,1-2)
Ah, Maria Madalena, a primeira a ser chamada para entrar no jardim aberto por Jesus ...
Talvez, no final das contas, Maria Madalena tenha tido razão ao identificar Jesus Ressucitado como o divino Jardineiro, que a todos traz a vida e a vida em abundância ...
Qual é a primeira imagem que se forma na vossa mente quando pensam em São José?
Provavelmente, pensarão, como eu, num homem de meia-idade, magro, com cabelos brancos e barba comprida, a olhar terna e carinhosamente para o Menino Jesus no seu colo e com um bonito lírio numa das mãos, como símbolo da sua pureza …
Bem, pelo menos, era essa a imagem que eu tinha de São José …. E vocês?
Um dia, quando estava a ler o Evangelho segundo São Mateus, deparo-me, no capítulo 13, versículo 54-55, com uma pergunta que me pôs a pensar:
“Tendo [Jesus] chegado à Sua terra, ensinava os habitantes na sinagoga, de modo que todos ficavam admirados e diziam: «De onde Lhe vem esta sabedoria e o poder de fazer milagres?
Eu tinha lido anteriormente que o povo Judeu tinha por tradição que, quando os rapazes chegavam aos 12 anos de idade, começavam a aprender o ofício dos pais [1]. Sem dúvida que na casa de Jesus, modelo de cumprimento das Sagradas Escrituras, não terá sido diferente! Assim, ensinado por São José, Jesus também terá aprendido o ofício da carpintaria e esse terá sido o Seu principal modo de subsistência durante a maior parte da Sua vida.
Mas o que é que os carpinteiros faziam exactamente naquela altura?
Lá fui eu, novamente, pesquisar nesse mar imensurável de informações a que chamamos internet. Querem saber o que descobri?
Primeiro, descobri que a palavra original nesses textos, em grego, “tekton”, teria sido melhor traduzida como artesão, em vez de carpinteiro, para englobar todo o seu significado. “Tekton” aparentemente indica um artífice que trabalha com madeira, mas também com pedra, ferro e cobre. [2]
Em segundo lugar, descobri (sem me admirar) que a profissão de carpinteiro (ou artesão, como preferirem) conferia à família uma posição social muito baixa na cultura Judaica e que os seus rendimentos seriam bastante pequenos e humildes. [2]
Depois, descobri que os principais objectos fabricados pelos carpinteiros naquela altura eram arados e jugos (ou juntas) de madeira (ouvem tocar algum sininho?), uma vez que grande parte dos hebreus eram agricultores e havia assim uma grande necessidade de juntas de bois e de arados para trabalharem nos campos. [1, 2]
Os carpinteiros também construíam objectos pequenos, como chaves e cadeados de madeira, e peças maiores, como portas e janelas, telhados, mesas, cadeiras e bancos, baús e outros móveis de arrumação. Além disso, eram frequentemente chamados para reparar objectos que se partiam ou que precisavam de novas peças. [1,2]
Que árvores eram usadas para fornecer a madeira? Principalmente ciprestes, carvalhos, freixos, sândalo e oliveiras ... ah, e claro, os cedros! A bíblia refere com frequência os famosos cedros do Líbano ... [1]
Quase todas estas árvores, como sabem, são árvores de grande porte. Os cedros, por exemplo, podem alcançar os 40 metros de altura …
E sabem quem eram os homens capazes de deitar abaixo estas grandes e pesadas árvores, cortá-las e transportá-las até à cidade? Sim, exactamente, os carpinteiros!
Ora, que tem esta conversa toda a ver com a imagem do velhinho São José??
Durante muitos séculos, foi defendida a ideia que São José teria cerca de 80 anos quando casou com a Virgem Maria. Porquê? Porque assim, com um marido idoso, seria mais fácil defender a Virgindade Perpétua de Maria. [3]
Actualmente, a maior parte dos investigadores-historiadores que se dedicam ao estudo das Sagradas Escrituras, da cultura judaica e dos acontecimentos históricos no tempo de Jesus, concordam entre si que, tal como a grande maioria das raparigas naquela altura, a Virgem Maria teria provavelmente cerca de 14 a 15 anos quando se casou com São José e foi mãe de Jesus. [3]
.... Agora, conseguem imaginar uma rapariga de 15 anos a casar livre e deliberadamente com um homem de 80 anos? Acham mesmo que Deus teria inspirado uma história de amor entre duas pessoas com idades tão díspares, para serem os pais terrenos do Seu Único Filho?
Eu pessoalmente não consigo imaginar que Deus tenha escolhido um velhote de 80 anos para defender e proteger a Sagrada Família … Não consigo imaginar que Deus tenha escolhido um homem já velho para percorrer todos aqueles quilómetros, que separam Nazaré de Belém, apenas para se apresentar e registar no censo do Imperador romano. Nem consigo imaginar como um idoso poderia fugir da ira do rei Herodes, às pressas e no meio da noite, desde Belém até ao Egipto! Nem como um homem assim poderia trabalhar como carpinteiro, carregando pesados troncos de árvores, serrando e partindo a madeira, construindo telhados e móveis, a fim de sustentar a sua esposa e o seu filho …
Na verdade, actualmente, os investigadores-historiadores já conseguiram comprovar que, naquela altura da História, a maioria dos homens judeus se casavam por volta dos 16 a 20 anos de idade, e que essa terá sido provavelmente a idade de São José quando se casou com Nossa Senhora. [3]
O falecido Arcebispo Fulton J. Sheen (que eu admiro particularmente, lembram-se dele?), já tinha escrito no seu livro “O Primeiro Amor do Mundo” (The World’s First Love, Ignatius Press) em 1952, que:
“S. José foi, provavelmente, um homem jovem, forte, viril, atlético, bonito, casto e disciplinado, o tipo de homem que se vê a trabalhar numa oficina de carpintaria. Em vez de ser um homem incapaz de amar, ele deve ter ardido interiormente com amor ... Naqueles dias, jovens raparigas como Maria, já faziam votos de dedicação e de amor perpétuo a Deus, tal como alguns jovens rapazes, entre os quais José, que se tornou digno de ser chamado de “o justo”. Em vez de ser como um fruto seco para ser servido sobre a mesa do Rei, ele terá sido como uma árvore florida de promessas e de força. Ele não estaria no entardecer da sua vida, mas sim na sua manhã, borbulhando de energia, força e controlada paixão.”
Para mim, esta imagem de São José, como um jovem alegre, fisicamente em forma, com a força e coragem e o ânimo necessário para aguentar todas aquelas provas de resiliência … mas, simultaneamente capaz de ser fiel e casto, protector e guarda, um homem de oração e de serviço, humilde e obediente aos desígnios do Senhor …. Esta imagem de São José tem, certamente, infinitamente mais mérito e ofereceria uma glória muitíssima maior a Deus.
São José - o maior exemplo terreno de masculinidade e de paternidade.
[3] Artigo do sr. Fr Michael D. Griffin, no site do canal americano EWTN, sobre a vida de São José e do seu importantíssimo papel na Salvação da Humanidade (que recomendo vivamente a ler!): https://www.ewtn.com/library/MARY/THEOINTR.HTM