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Uma Jovem Católica

Sou uma jovem esposa e mãe católica portuguesa. Neste blog partilho a minha caminhada em busca da santidade e o meu encontro com o amor misericordioso do Senhor. Espero que ele vos possa ajudar a encontrar a alegria do Evangelho!

Uma Jovem Católica

Sou uma jovem esposa e mãe católica portuguesa. Neste blog partilho a minha caminhada em busca da santidade e o meu encontro com o amor misericordioso do Senhor. Espero que ele vos possa ajudar a encontrar a alegria do Evangelho!

Leitura do "Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem" de S. Luís Maria Grignion de Montfort - parte 11 a 20

Parte 11: Ponto 83 a 89

EXCERTO: "Digamos ousadamente, com São Bernardo, que temos necessidade de um medianeiro junto do Medianeiro por excelência, e que Maria Santíssima é a única capaz de exercer esta função admirável. Por ela Jesus Cristo veio a nós, e por ela devemos ir a Ele."

 

Parte 12: Ponto 90 a 96

EXCERTO: "A Santa Igreja, como o Espírito Santo, bendiz primeiro a Santíssima Virgem e depois Jesus Cristo: “benedicta tu in mulieribus et benedictus fructus ventris tui Iesus”. Não porque a Santíssima Virgem seja mais ou igual a Jesus Cristo: seria uma heresia intolerável, mas porque, para mais perfeitamente bendizer Jesus Cristo, cumpre bendizer antes a Maria. Digamos, portanto, com todos os verdadeiros devotos de Maria, contra seus falsos e escrupulosos devotos: Ó Maria, bendita sois vós entre todas as mulheres e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus!"

 

Parte 13: Ponto 97 a 104

EXCERTO: "Cuidemos, portanto, de não pertencer ao número dos devotos críticos que em coisa alguma crêem e de tudo criticam; dos devotos escrupulosos que receiam ser demasiadamente devotos da Santíssima Virgem, por respeito a Jesus Cristo; dos devotos exteriores que fazem consistir toda a sua devoção em práticas exteriores; dos devotos presunçosos, que, sob o pretexto de sua falsa devoção continuam marasmados em seus pecados; dos devotos inconstantes que, por leviandade, variam suas práticas de devoção, ou as abandonam completamente à menor tentação; dos devotos hipócritas que se metem em confrarias e ostentam as insígnias da Santíssima Virgem a fim de passar por bons; e, enfim, dos devotos interesseiros, que só recorrem à Santíssima Virgem para se livrarem dos males do corpo ou obter bens temporais."

 

Parte 14: Ponto 105 a 114

EXCERTO: "[A] verdadeira devoção à Santíssima Virgem é constante, firma uma alma no bem, e ajuda-a a perseverar em suas práticas de devoção. Torna-a corajosa para se opor ao mundo em suas modas e máximas, à carne, em seus aborrecimentos e paixões, e ao demónio, em suas tentações. Assim, uma pessoa verdadeiramente devota da Santíssima Virgem não é volúvel, nem se deixa dominar pela melancolia, pelos escrúpulos ou pelos receios. Não quer isto dizer que não caia ou não mude, às vezes, na sensibilidade de sua devoção; mas, se cai, levanta-se logo, estende a mão à sua boa Mãe, e, se perde o gosto ou a devoção sensível, não se aflige irremediavelmente, pois o justo e devoto fiel de Maria vive da fé de Jesus e de Maria, e não nos sentimentos naturais."

 

Parte 15: Ponto 115 a 119

EXCERTO: "Depois de ler quase todos os livros que tratam da devoção à Santíssima Virgem e de conversar com as pessoas mais santas e instruídas destes últimos tempos, declaro firmemente que não encontrei nem aprendi outra prática de devoção à Santíssima Virgem semelhante a esta que vou iniciar, que exija de uma alma mais sacrifícios a Deus, que a despoje mais completamente de seu amor próprio, que a conserve com mais fidelidade na graça e a graça nela, que a una com mais perfeição e facilidade a Jesus Cristo, e, afinal, que seja mais gloriosa para Deus, santificante para a alma e útil ao próximo."

 

Parte 16: Ponto 120 a 125

EXCERTO: "A mais perfeita devoção é aquela pela qual nos conformamos, unimos e consagramos mais perfeitamente a Jesus Cristo, pois toda a nossa perfeição consiste em sermos conformados, unidos e consagrados a ele. Ora, pois que Maria é, de todas as criaturas, a mais conforme a Jesus Cristo, segue daí que, de todas as devoções, a que mais consagra e conforma uma alma a Nosso Senhor é a devoção à Santíssima Virgem, sua santa Mãe, e que, quanto mais uma alma se consagrar a Maria, mais consagrada estará a Jesus Cristo."

 

Parte 17: Ponto 126 a 134

EXCERTO: "Outros dirão, talvez: Se eu der à Santíssima Virgem todo o valor de minhas ações para que ela o aplique a quem quiser, terei de sofrer talvez muito tempo no purgatório. Esta objeção, produto do amor-próprio e da ignorância da liberalidade de Deus e de sua Mãe Santíssima, destrói-se por si mesmo. Uma alma cheia de fervor e generosa, que antepõe os interesses de Deus aos seus próprios, que tudo que tem dá a Deus inteiramente, sem reserva, que só aspira à glória e ao reino de Jesus Cristo por intermédio de sua Mãe Santíssima, e que se sacrifica completamente para obtê-lo, esta alma generosa, repito, e liberal, será castigada no outro mundo por ter sido mais liberal e desinteressada que as outras? Muito ao contrário, é a esta alma, como veremos a seguir, que Nosso Senhor e sua Mãe Santíssima se mostram mais generosos neste mundo e no outro, na ordem da natureza, da graça e da glória."

 

Parte 18: Ponto 135 a 143

EXCERTO: "(...) nesta devoção, que apresento, damos sem reserva a Jesus e Maria todos os nossos pensamentos, palavras, ações e sofrimentos, e todos os momentos da vida: de sorte que, ou despertados ou adormecidos, bebendo ou comendo, nas ações as mais importantes como nas mais corriqueiras, pode-se sempre dizer em verdade que o fazemos, embora nem sequer nos ocorra a ideia, pertence a Jesus e Maria em virtude da nossa oferta (...)"

 

Parte 19: Ponto 144 a 151

EXCERTO: "Esta bondosa Senhora purifica, embeleza e torna aceitáveis a seu Filho todas as nossas boas obras, porque, por esta devoção, as damos todas a ele pelas mãos de sua Mãe Santíssima. 1º Ela as purifica de toda mancha de amor-próprio e do apego imperceptível à criatura, apego que se insinua insensivelmente nas melhores ações. (...) 2º Ela embeleza nossas boas ações ornando-as com seu méritos e virtudes."

Leitura do "Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem" de S. Luís Maria Grignion de Montfort - parte 1 a 10

Parte 1: Introdução + ponto 1 a 13

EXCERTO: "Foi pela Santíssima Virgem Maria que Jesus Cristo veio ao mundo, e é também por ela que deve reinar no mundo. (...) Maria é a obra-prima por excelência do Altíssimo, cujo conhecimento e domínio ele reservou para si. Maria é a Mãe admirável do Filho, a quem aprouve humilhá-la e ocultá-la durante a vida para lhe favorecer a humildade, tratando-a de mulher (Jo 2, 4; 19, 26), como a uma estrangeira, conquanto em seu Coração a estimasse e amasse mais que todos os anjos e homens. Maria é a fonte selada (Ct 4, 12) e a esposa fiel do Espírito Santo, onde só ele pode penetrar. Maria é o santuário, o repouso da Santíssima Trindade, em que Deus está mais magnífica e divinamente que em qualquer outro lugar do universo, sem excetuar seu trono sobre os querubins e serafins; e criatura algumas, pura que seja, pode aí penetrar sem um grande privilégio."

 

Parte 2: Ponto 14 a 26

EXCERTO: "Se examinarmos atentamente o resto da vida de Jesus, veremos que foi por Maria que Ele quis começar Seus milagres. Pela palavra de Maria Ele santificou São João no seio de Santa Isabel; assim que as palavras brotaram dos lábios de Maria, João ficou santificado, e foi este Seu primeiro e maior milagre de graça. Foi ao humilde pedido de Maria, que Ele, nas núpcias de Caná, mudou água em vinho, sendo este Seu primeiro milagre sobre a natureza. Ele começou e continuou Seus milagres por Maria, e por Maria os continuará até ao fim dos séculos."

 

Parte 3: Ponto 27 a 36

EXCERTO: "Pois que a graça aperfeiçoa a natureza e a glória aperfeiçoa a graça, é certo que Nosso Senhor continua a ser, no céu, tão Filho de Maria, como o foi na terra. Por conseguinte, Ele conserva a submissão e obediência do mais perfeito dos filhos para com a melhor das mães. Cuidemos, porém, de não atribuir a essa dependência o menor abaixamento ou imperfeição em Jesus Cristo. Maria está infinitamente abaixo de seu Filho, que é Deus, e, portanto, não lhe dá ordens, como uma mãe terrestre as dá a seu filho. Maria, porque está toda transformada em Deus pela graça e pela glória que, em Deus, transforma todos os santos, não pede, não quer, não faz a menor coisa contrário à eterna e imutável vontade de Deus."

 

Parte 4: Ponto 37 a 48

EXCERTO: "Só Maria achou graça diante de Deus (Lc 1, 30) sem auxílio de qualquer outra criatura. E todos, depois dela, que acharam graça diante de Deus, acharam-na por intermédio dela e é só por ela que acharão graça os que ainda virão. Maria era cheia de graça quando o arcanjo Gabriel a saudou (Lc 1, 28) e a graça superabundou quando o Espírito Santo a cobriu com sua sombra inefável (Lc 1, 35). E de tal modo ela aumentou essa dupla plenitude, de dia a dia, de momento a momento, que chegou a um ponto imenso e inconcebível de graça, de sorte que o Altíssimo a fez tesoureira de todos os Seus bens, dispensadora de Suas graças, para enobrecer, elevar e enriquecer a quem ela quiser, para fazer entrar quem ela quiser no caminho estreito do céu, para deixar passar, apesar de tudo, quem ela quiser pela porta estreita da vida eterna."

 

Parte 5: Ponto 49 a 53

EXCERTO: "Deus quer, portanto, nesses últimos tempos, revelar-nos e manifestar Maria, a obra-prima de suas mãos: (...) pois que é o meio seguro e o caminho reto e imaculado para se ir a Jesus Cristo e encontrá-Lo plenamente, é por ela que as almas, chamadas a brilhar em santidade, devem encontrá-Lo. Quem encontrar Maria encontrará a vida (cf. Prov 8, 35), isto é, Jesus Cristo, que é o caminho, a verdade e a vida (Jo 14, 6). Mas não pode encontrar Maria quem não a procura; quem não a conhece, e ninguém procura nem deseja o que não conhece. É preciso, portanto, que Maria seja, mais do que nunca, conhecida, para maior conhecimento e maior glória da Santíssima Trindade."

 

Parte 6: Ponto 54 a 59

EXCERTO: "Deus quer, finalmente, que sua Mãe Santíssima seja agora mais conhecida, mais amada, mais honrada, como jamais o foi. E isto acontecerá, sem dúvida, se os predestinados puserem em uso, com o auxílio do Espírito Santo, a prática interior e perfeita que lhes indico a seguir. E, se a observarem com fidelidade, verão, então, claramente, quanto lho permite a fé, esta bela estrela do mar, e chegarão a bom porto, tendo vencido as tempestades e os piratas."

 

Parte 7: ponto 60 a 66

EXCERTO: "Se estabelecermos, portanto, a sólida devoção à Santíssima Virgem, teremos contribuído para estabelecer com mais perfeição a devoção a Jesus Cristo, teremos proporcionado um meio fácil e seguro de achar Jesus Cristo. Se a devoção à Santíssima Virgem nos afastasse de Jesus Cristo, seria preciso rejeitá-la como uma ilusão do demônio."

 

Parte 8: ponto 67 a 71

EXCERTO: "Do que Jesus é para nós, concluímos que não nos pertencemos, como diz o apóstolo (1Cor 6, 19), e sim a Ele, inteiramente, como Seus membros e Seus escravos, comprados que fomos por um preço infinitamente caro, o preço de Seu sangue. Antes do Batismo, o demónio nos possuía como escravos, e o Batismo nos transformou em escravos de Jesus Cristo e só devemos viver, trabalhar e morrer para produzir frutos para o Homem-Deus (Rom 7, 4), glorificá-Lo em nosso corpo e fazê-Lo reinar em nossa alma, pois somos Sua conquista, Seu povo adquirido, Sua herança."

 

Parte 9: ponto 72 a 77

EXCERTO: "Só a escravidão, entre os homens, põe uma pessoa na posse e dependência completa de outra. Nada há, do mesmo modo, que mais absolutamente nos faça pertencer a Jesus Cristo e à Sua Mãe Santíssima do que a escravidão voluntária, conforme o exemplo do próprio Jesus Cristo, que, por nosso amor, tomou a forma de escravo: “Formam servi accipiens” (Filip 2, 7), e da Santíssima Virgem, que se declarou a escrava do Senhor (Lc 1, 38). O apóstolo honra-se várias vezes em suas epístolas com o título de “servus Christi”. A própria Sagrada Escritura chama muitas vezes os cristãos de “servi Christi” (...)"

 

Parte 10: ponto 78 a 82

EXCERTO: "Nossas melhores ações são ordinariamente manchadas e corrompidas pelo fundo de maldade que há em nós. Quando se despeja água limpa e clara em uma vasilha suja, que cheira mal, ou quando se põe vinho em uma pipa cujo interior está azedado por outro vinho que aí antes se depositara, a água límpida e o vinho bom adquirem facilmente o mau cheiro e o azedume dos recipientes. Do mesmo modo, quando Deus põe no vaso de nossa alma, corrompido pelo pecado original e pelo pecado atual, Suas graças e orvalhos celestiais manchados pelo mau germe e mau fundo que o pecado deixou em nós; nossas ações, até as mais sublimes virtudes, disto se ressentem. É, portanto, de grande importância, para adquirir a perfeição, que só se consegue pela união com Jesus Cristo (...)"

Façamos espaço

Por aqueles dias, saiu um édito da parte de César Augusto para ser recenseada toda a terra. Este recenseamento foi o primeiro que se fez, sendo Quirino governador da Síria.
Todos iam recensear-se, cada qual à sua própria cidadeTambém José, deixando a cidade de Nazaré, na Galileia, subiu até à Judeia, à cidade de David, chamada Belém, por ser da casa e linhagem de David, a fim de se recensear com Maria, sua esposa, que se encontrava grávida. (Lc 2,1-5)

São José é chamado a ir recensear-se na sua terra natal, em Belém, nos últimos tempos da gravidez de Maria. Por esta altura, já deviam ter tudo preparado para a chegada de Jesus na sua casa: berço, roupas, fraldas, a ajuda necessária da comunidade de Nazaré ... Tudo estaria pronto e preparado.

Contudo, inesperadamente, Deus chama-os a abandonar o conforto do seu lar e a abdicar do apoio dos vizinhos da aldeia, para viajarem até Belém, a 200km de distância de casa. Como já reflectimos anteriormente, os Evangelhos não nos explicam os motivos que levaram Nossa Senhora a acompanhar S. José até Belém - não era preciso que ela fosse até lá, mas Maria insistiu em ir também. 

Bem - deverá ter pensado São José - ao menos em Belém haverá familiares que nos possam receber nas suas casas. Pensei muito neste aspecto ao longo deste tempo de Natal. Todos os elementos da família de São José, por mais próximos ou afastados que fossem, tinham sido chamados a apresentarem-se em Belém. Quando Maria e José chegaram finalmente a Belém, após cinco ou seis dias duma dura viagem, ao passo modesto dum burrinho carregando uma mulher grávida, a maioria dos seus familiares também já lá estariam ... e já estava tudo cheio.

E, quando eles ali se encontravam, completaram-se os dias de ela dar à luz e teve o seu filho primogénito, que envolveu em panos e recostou numa manjedoura, por não haver lugar para eles na hospedaria. (Lc 2,6-7)

Ao reflectir nesta passagem do Evangelho de São Lucas, não tendo a ficar com a impressão de que os habitantes de Belém, a família de Jesus, não quiseram recebê-Lo, mas sim que já não havia espaço. Já estava tudo cheio - as suas vidas, as suas casas, os seus dias, o seu presente e futuro - já estava tudo cheio, já não havia espaço para acolher a Sagrada Família e deixar que Jesus nascesse nos seus corações. Não me parece que não quisessem propriamente recebê-Lo, mas já estavam cheios de outras coisas, de outras pessoas, de outros problemas e preocupações deste mundo. Estavam tão cheios deste mundo e das coisas deste mundo (que só enchem, mas nunca preenchem!), que já não havia espaço para Deus nas suas vidas.... 

 

José e Maria, se quisessem, talvez ainda coubessem num cantinho da casa de alguém, desde que não incomodassem ninguém e não chamassem muito à atenção dos seus moradores, que tão concentrados estavam nas suas vidas ocupadas ... Oh, não tenderemos nós a fazer por vezes o mesmo, em certas alturas das nossas vidas?

E, assim, Jesus foi nascer numa gruta aberta e sem porta - porque todos estávamos convidados a ir recebê-Lo; que servia de abrigo e descanso merecido aos pobres animais de trabalho e transporte, como a vaca e o burro, e que, mesmo no seu cansaço, O acolheram; foi enrolado em panos, como se fazia ao cordeiro sacrificial da Páscoa judia, e colocado numa manjedoura transformada em altar de entrega e doação do verdadeiro Pão que nos sacia...

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Imagem retirada daqui

Mas Deus, que é rico em misericórdia e em amor, não perde uma única hipótese de nos oferecer uma nova oportunidade, de nos redimir, para que possamos tentar fazer o bem uma vez mais ...

Depois de ter ouvido o rei, os magos puseram-se a caminho. E a estrela que tinham visto no Oriente ia adiante deles, até que, chegando ao lugar onde estava o Menino, parou. Ao ver a estrela, sentiram imensa alegria; e, entrando na casa, viram o Menino com Maria, sua mãe. E prostrando-se, adoraram-No. (Mt 2,9-11)

Afinal, parece que alguém - não sabemos se uma família, uma viúva, um sacerdote, um tio ou primo de José - mas alguém arrependeu-se, reflectiu, deixou-se tocar e incomodar pelo mistério do Deus Menino, e fez espaço na sua casa, para O acolher. Para Deus, nunca - nunca! até ao derradeiro momento da nossa morte (a partir daí, só Deus saberá) - é tarde de mais. Há sempre tempo para o arrependimento, para tentarmos novamente, para fazermos melhor, ainda que pouco, a seguir. 

Quem sabe se demorou algumas horas ou dias ou até semanas para isso acontecer; mas alguém arrependeu-se, pensou melhor novamente, e aceitou abrir, tanto as portas da sua casa, como do seu coração, como da sua vida, ao amor do Senhor. Quanta humildade e misericórdia Jesus nos demonstra e ensina, desde já, e Ele ainda mal nasceu ... 

 

Gaudete, Gaudete, Christus est natus!

 

Na presença do sol, da lua e das estrelas (ainda o 4º dia da Criação)

Deus fez dois grandes luzeiros: o maior para presidir ao dia, e o menor para presidir à noite; fez também as estrelasDeus colocou-os no firmamento dos céus para iluminarem a Terra, para presidirem ao dia e à noite, e para separarem a luz das trevas. E Deus viu que isto era bom. Assim, surgiu a tarde e, em seguida, a manhã: foi o quarto dia. (Gn 1,14-19)

A narração do 4º dia da Criação leva-me a pensar em todos os episódios das Escrituras em que vemos simultaneamente presente o sol, Jesus, e a lua, Maria, mas também as diversas estrelas que os acompanham.

 

Penso na Anunciação do anjo Gabriel, a primeira estrela luminosa a aparecer no céu da Nova Criação, e no primeiro encontro terreno entre este sol e esta lua, fruto do "sim" humano mais importante na nossa História.

Penso na Visitação de Nossa Senhora, em Isabel e Zacarias, autênticas estrelas cintilantes de esperança, e na canção de louvor que brotou do coração de Maria, magnificando de forma incomparável a luz do Senhor.

Penso no nascimento de Jesus em Belém e no mistério da Encarnação. Deus que Se fez Homem, num corpo pequenino e frágil dum bebé, para que a Sua luz, tão forte e resplandecente, que facilmente seria capaz de nos cegar pela Sua grandeza, não nos assustasse nem por um segundo. Antes, fez-Se débil e vulnerável, de forma a nos atrair até junto de Si, para que pudéssemos ver, mais de perto, como é maravilhosa a luz que a lua, Maria, reflecte tão admiravelmente desde essa noite. E quantas estrelas não se juntaram no céu da Nova Criação nesse momento? José, o silencioso guia e protector da Sagrada Família; os humildes pastores, os últimos que se tornam em primeiros, e que tanto se alegraram com a glória do Senhor; os sábios magos, prudentes e conhecedores, tanto da direcção dos planos de Deus como das intenções do coração humano...

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Imagem retirada daqui

Penso na Apresentação de Jesus no Templo, na luz proveniente deste pequeno sol, feito Menino de colo, a ser reflectido e espelhado na face de Sua Mãe, permitindo que Simeão e Ana, quais estrelas puras e expectantes, soubessem exactamente o caminho até bem junto de Deus.

Penso na Fuga repentina da Sagrada Família para o Egipto, na tentativa dos homens deste mundo de exterminarem qualquer raio de luz de amor ou misericórdia que possam vislumbrar. Como é verdade que, pensando no protector São José, é na noite mais escura, que melhor se vê a luz das estrelas...

Penso na Perda e no Reencontro de Jesus no Templo e em todas as vezes em que eu própria perdi de vista a luz e o calor do Senhor, para O reencontrar sempre no mesmo lugar em que O deixei, sozinho e para trás. Se ao menos eu, como a lua, Maria, demonstrou nesse dia, vivesse a mesma ânsia e angústia pela terrível separação com a sua primordial fonte de luz e vida ... Benditas sejam as estrelas, como São José, que nos acompanham nessa busca de novo pelo nosso sol perdido.

Penso nas Bodas de Caná, naquele que é talvez o exemplo mais perfeito para se compreender o papel do sol, Jesus, fonte de vida, a lua, Maria, conhecedora e reflectora da luz do Senhor, e das estrelas, como os Apóstolos, que começaram a acreditar no messianismo de Jesus a partir daquele dia, e assim começaram a ganhar coragem para difundirem a sua própria luz, oferecida pelo Senhor. 

Penso, por fim, no Calvário, no supremo e total derramamento do amor e misericórdia do Senhor, que a todos dá uma nova vida. Penso na Sua ternura, ao pedir a cada um de nós, Suas estrelas, para que cuidassemos da sua lua, a nossa professora exemplar na arte de magnificar e reflectir a luz do sol.

 

Não houve um só episódio em que o sol, Jesus, e a lua, Maria, estivessem juntos, sem estarem também presentes outras estrelas, numa maravilhosa escola de santidade para cada um de nós. E Deus desejou que assim fosse, desde o início da Criação ... 

O Sol e a Lua (o 4º dia da Criação)

Deus disse: «Haja luzeiros no firmamento dos céus, para separar o dia da noite e servirem de sinais, determinando as estações, os dias e os anos; servirão também de luzeiros no firmamento dos céus, para iluminarem a Terra.» E assim aconteceu. 

Deus fez dois grandes luzeiros: o maior para presidir ao dia, e o menor para presidir à noite; fez também as estrelas. Deus colocou-os no firmamento dos céus para iluminarem a Terra, para presidirem ao dia e à noite, e para separarem a luz das trevas. E Deus viu que isto era bom. Assim, surgiu a tarde e, em seguida, a manhã: foi o quarto dia. (Gn 1,14-19)

Um grande luzeiro, maior que qualquer outro, para presidir e guiar o nosso dia, para iluminar toda a terra e a separar das trevas ...

Se pensarmos no Senhor como o sol, podemos começar a delinear uma frutuosa analogia a partir destas palavras do livro do Génesis acerca do 4º dia da Criação. É em redor do sol que todos os planetas, asteróides e cometas giram. O sol encontra-se bem no centro do nosso Sistema Solar, chegando a dar-lhe um nome - Solar - e, assim, uma filiação e identidade única. Também o Senhor deseja encontrar-se no centro das nossas vidas, em redor do Qual nós nos movimentamos e direccionamos, de tal modo que possamos ser chamados de Seus filhos muito amados

É pela vontade do Senhor, à semelhança da energia que provém do sol, que tudo se move e ganha vida à Sua volta. Cristo é a verdadeira fonte de luz, através da Qual nós podemos ver todas as coisas exactamente como elas são, em vez de estarmos cegos na escuridão. Ele é a origem de toda a nossa vida. Tal como, sem a luz e o calor do sol, não poderia haver uma vida fértil e frutuosa na terra, assim também, sem o amor e a misericórdia do Senhor, não poderia haver tantos frutos e graças na nossa vida. 

Mesmo quando a terra se tenta esconder da luz do sol, virando-lhe as costas e abraçando a escuridão que a rodeia, mesmo assim a luz deste sol continua a brilhar, tão quente e acolhedora como sempre. Nós até podemos - e tentamos muitas vezes - esconder-nos desta luz, mas ela irá permanecer sempre lá, pronta para nos acolher no novo amanhecer do perdão.

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Imagem retirada daqui

Por outro lado, podemos pensar na lua como representando Maria. A lua parece ser um astro muito brilhante durante a noite, mas isto apenas ocorre porque ela reflecte, de forma extraordinária, a luz que lhe é transmitida pelo sol. Assim, à semelhança da lua, também Nossa Senhora reflecte, de forma extraordinária, a luz que irradia do seu Filho.

Apesar de a lua parecer que brilha intensamente - mais que qualquer outro astro - durante a noite, nem por isso rouba, por um só segundo sequer, o brilho da luz que provém do grande e belo sol, que ilumina o nosso dia e a nossa vida. O mesmo acontece com Maria e Jesus. 

Na verdade, se a lua não tivesse esta capacidade de reflectir tão perfeitamente a luz que lhe é oferecida pelo sol, não passaria de outro astro qualquer, sem especial valor. Mas é exactamente esta capacidade de reflectir, de magnificar, de glorificar a luz do Senhor, que distingue a Virgem Maria de qualquer outra estrela, de qualquer outro santo ou santa ... 

Tal como a lua passa todos os momentos da sua existência a girar à volta da terra, assim também Nossa Senhora aceitou dedicar-se por completo aos filhos que recebeu, das mãos de Jesus, junto à Cruz. Ela acompanha-nos em todas as etapas da nossa viagem em direção ao sol. Ela rodeia-nos, em todos os instantes, com carinhos e cuidados, preces e intercessões. 

Por fim, tal como a lua nos ajuda a regular a passagem das semanas, a compreender a melhor altura de plantar e de colher, a orientar a nossa migração e a acolher o movimento das marés, também Nossa Senhora nos ajuda e ensina a regular a nossa vida à imagem de Deus, a procurar a verdadeira sabedoria e a acolher as adversidades como oportunidades para crescermos em amor e santidade.

 

Sê, Senhor, o sol da minha vida, que tudo salva e vivifica.

E ensina-me, minha Mãe, a reflectir, a magnificar, a luz do amor do Senhor.

Amén!

Deus disse: «Faça-se luz» (o 1ºdia da Criação)

A preparação do novo ano catequético, que se inicia este fim-de-semana na minha paróquia, leva-me a ler e a desfolhar as primeiras páginas da Bíblia, acerca do relato da Criação do mundo em 7 dias. No primeiro dia a luz é criada, no segundo dia ocorre a separação das águas, no terceiro a terra seca surge no meio das águas ...

Hmm ... - dou por mim a pensar - isto parece-me familiar ... sim, isto faz-me mesmo lembrar de ...

 

Apercebo-me então que cada dia do relato da Criação parece querer prefigurar um episódio específico da vida de Jesus, da Encarnação ao Calvário. Na verdade, parece que o Divino Autor das Sagradas Escrituras tentou anunciar-nos a total restauração que Cristo nos viria oferecer, por amor, logo desde as primeiras páginas ... 

No princípio, Deus disse: «Faça-se luz.» E a luz foi feita. Deus viu que a luz era boa e separou a luz das trevas. Deus chamou dia à luz, e às trevas, noite. Assim, surgiu a tarde e, em seguida, a manhã: foi o primeiro dia. (Gn 1,3-5)

Jesus, Luz dos homens, estava presente antes de qualquer outra coisa existir. Deste modo, esta Luz tomou parte, tornou-Se parte, de todas as coisas que foram criadas depois Dela. Nada foi criado que não A possuísse, que não A tivesse em si. Esta Luz, esta Vida, estava, assim, presente em todas as coisas...

Até surgir o pecado.

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Imagem retirada daqui

No princípio existia o Verbo;
o Verbo estava em Deus;
e o Verbo era Deus.

No princípio Ele estava em Deus.
Por Ele é que tudo começou a existir;
e sem Ele nada veio à existência.

Nele é que estava a Vida
de tudo o que veio a existir.
E a Vida era a Luz dos homens.

A Luz brilhou nas trevas,
mas as trevas não A receberam.

(Jo 1,1-5)

Através do pecado, prefigurado pela história de Adão e Eva no jardim do Éden, o homem renunciou a esta Luz, a esta Vida, presente em todas as coisas criadas pelo Senhor. Ao escolher o pecado, ao escolher o amor próprio, o egoísmo, o desejo de se tornar como Deus, o homem renunciou ao amor do Senhor, que estava intrinsecamente presente em tudo o que existia, desde o primeiro dia da criação do mundo.

Deus não aceitou esta separação. Então planeou uma nova criação, uma nova humanidade, através do mistério da Redenção de Cristo Jesus.

«Eis que venho renovar todas as coisas.» (Ap 21,5a)

Foi assim o primeiro dia da Nova Criação: Deus disse «Faça-se Luz». E a luz foi feita.

«Maria, hás-de conceber no teu seio e dar à luz um filho, ao qual porás o nome de Jesus»

«Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra.» (Lc 1,31.38)

Com o mistério da Encarnação, Jesus colocou toda a Sua divindade dentro duma célula minúscula, dentro do ventre de Maria, que a acolheu e nutriu, como ninguém alguma vez poderia ter feito. Deus, o Criador, entra assim dentro da Sua própria criação ... E se, antes, havia uma parte da Luz do Senhor em cada coisa criada, Maria tornou-se a primeira criatura a ser plena e totalmente possuída pela Luz, pela Vida, de Deus. 

O Verbo era a Luz verdadeira,
que, ao vir ao mundo,
a todo o homem ilumina.

E o Verbo fez-Se homem
e veio habitar connosco.
E nós contemplámos a Sua glória

(Jo 1,9. 14)

Ensina-me, Mãe, a deixar-me também possuir, totalmente, por essa Luz da Vida ...

Esperando por (e com) Deus

Ninguém gosta de esperar. 

Esperar parece uma autêntica perda de tempo. Porquê esperar? Para quê? Não seria melhor se tudo acontecesse - já?! De que serve esperar?... Ai, o desejo impaciente de passar o mais rapidamente possível da situação em que me encontro para aquela que eu queria tanto estar ou ter ou fazer ou ser - e já!

 

Mas, se pensarmos bem, todos estamos permanentemente à espera. É raro, muito raro na verdade, não estarmos numa situação de espera - seja por algo ou por alguém. Às vezes, esperamos por coisas pequeninas, como esperar que nos respondam a um email, ficar preso no trânsito e nunca mais chegarmos onde queremos, estar na fila das compras (seja para entrar na loja ou para pagar), ou então esperar que chegue a hora de sair do trabalho ... Outras vezes, esperamos ansiosamente por coisas grandes e importantes, como saber que entrámos na faculdade dos nossos sonhos, discernir uma vocação, poder tomar o primeiro passo numa decisão importante ou esperar a resposta do outro ... 

 

Há poucos dias atrás, iniciei um novo ano de vida, o meu 27º ano. Se Deus quiser, e por uma graça absolutamente imerecida, será durante o decorrer deste ano que poderei declarar o meu "sim", total e eterno, à vocação de amor a que o Senhor me chama. Apesar dos longos anos de discernimento vocacional, esperar pela vontade e pelo tempo de Deus continua a ser uma batalha perene para mim. Oh, como gostava que esse dia glorioso, em que poderei oferecer toda a minha vida e todo o meu ser, chegasse depressa - ou, melhor ainda, fosse já amanhã!

 

Mas, se Deus nos coloca, tantas vezes, em situações de espera, não seria melhor aprender a esperar e a esperar santamente

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Imagem retirada daqui

A Bíblia está cheia de histórias de pessoas à espera. Às vezes, estão à espera de certas situações, outras vezes à espera umas das outras mas, principalmente, encontramos pessoas à espera de Deus.

Tomemos como exemplo as primeiras páginas dos Evangelhos. Zacarias e Isabel estão há anos à espera de ter um filho. Maria também espera o nascimento dum Filho, mas um que nunca pensara conceber. José está permanentemente à espera que Deus lhe diga o que deve fazer. Simeão e Ana passaram toda a sua vida à espera do dia em que veriam com os próprios olhos o Messias prometido. 

Todo o Evangelho parece iniciar-se com pessoas à espera. O que inclui o próprio Deus - aliás, ninguém passou mais tempo à espera do que Ele que, desde a queda de Adão e Eva no Jardim do Éden, aguardava ardentemente o momento perfeito para revelar-Se e demonstrar todo o Seu amor e misericórdia por cada homem e mulher.

Mas, tanto Zacarias como Isabel, Maria e José, Simeão e Ana, souberam esperar santamente porque a sua espera estava fundada numa promessa e numa esperança firmes.

«Não temas, Zacarias: a tua súplica foi atendida. Isabel, tua esposa, vai dar-te um filho e tu vais chamar-lhe João.» (Lc 1,13)

«Maria, não temas, pois achaste graça diante de Deus. Hás-de conceber no teu seio e dar à luz um Filho, ao qual porás o nome de Jesus. Será grande e vai chamar-se Filho do Altíssimo» (Lc 1,30-31)

«José, filho de David, não temas receber Maria, tua esposa, pois o que ela concebeu é obra do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, ao qual darás o nome de Jesus, porque Ele salvará o povo dos seus pecados.» (Mt 1,20-21)

Vivia em Jerusalém um homem chamado Simeão; era justo e piedoso e esperava a consolação de Israel. Tinha-lhe sido revelado pelo Espírito Santo que não morreria antes de ter visto o Messias do Senhor. (Lc 2,25-26)

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Zacarias, Isabel e Maria a admirarem João, o filho prometido pelo anjo do Senhor - Imagem retirada daqui

É a fé nas promessas do Senhor que permite a cada uma destas pessoas saber esperar santamente. Pela fé, acreditam desde já que possuirão, um dia, aquilo que o próprio Senhor lhes prometeu. Elas escolheram aceitar receber e aceitar acreditar nas promessas do Senhor. E, assim, aquilo que, a nós, nos parece futuro, para elas tornam-se, desde já, presente e real; torna-se, desde já, obtido. 

É como se recebessem uma semente da parte do Senhor, que crescerá e brotará na terra fértil da sua fé. São capazes de sorrir a cada novo amanhã (como é dito da mulher forte em Provérbios 31) porque sabem que, neste preciso momento em que vivem, a promessa de Deus está a ganhar forma, está a crescer, está a realizar-se. O segredo de esperar santamente é, assim, a fé de que Deus já plantou a semente, que algo já começou, de que algo está já a ocorrer. 

Esse algo está, quase sempre, escondido aos nossos olhos, sim; mas nem por isso deixa de acontecer ou ser real, porque, como nos disse Jesus: "O Meu Pai está sempre a trabalhar" (Jo 5,17)

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Olhemos uma vez mais para os Evangelhos, mas agora para as últimas páginas, para a paixão e ressurreição de Jesus. Uma das palavras mais usadas para descrever o que aconteceu a Jesus é "ser entregue".

Estando reunidos na Galileia, Jesus disse-lhes: «O Filho do Homem tem de ser entregue nas mãos dos homens, que o matarão; mas, ao terceiro dia, ressuscitará.» (Mt 22,22-23)

Então, Judas Iscariotes, um dos Doze, foi ter com os sumos sacerdotes para lhes entregar Jesus. Eles ouviram-no com satisfação e prometeram dar-lhe dinheiro. E Judas espreitava ocasião favorável para O entregar. (Mc 14,10-11)

Quando chegou a hora, pôs-Se à mesa e os Apóstolos com Ele. Tomou, então, o pão e, depois de dar graças, partiu-o e distribuiu-o por eles, dizendo: «Isto é o Meu corpo, que vai ser entregue por vós; fazei isto em memória de Mim.» (Lc 22,19)

Estas mesmas palavras serão depois usada por São Paulo, na sua carta aos Romanos, ao declarar que "[Deus] nem sequer poupou o seu próprio Filho, mas entregou-O por todos nós" (Rom 8,32)

É impressionante reparar como, logo a seguir a ser entregue às autoridades de Jerusalém, Jesus deixa de ser Aquele que faz e submete-se humildemente a ser Aquele a quem as coisas Lhe são feitas ...  Jesus é preso por outros; é levado até ao Sumo-Sacerdote; depois é levado até Pilatos; é coroado com espinhos e, por fim, preso na cruz. Tudo Lhe é feito, sem que Ele tenha qualquer controlo

Quando Jesus finalmente diz: "Tudo está consumado" (Jo 19,30), Ele não quer dizer "Eu fiz todas as coisas que queria fazer", mas sim "Eu permiti que Me fosse feito tudo o que era preciso, de modo a cumprir plenamente a Minha vocação." Na verdade, Jesus não cumpriu a Sua missão apenas de uma forma activa, ou seja, curando os doentes, fazendo milagres, anunciando o Reino de Deus; mas também de uma forma passiva (muitíssimo mais difícil de aceitar que aconteça, na minha opinião!) durante a sua longa Paixão, sabendo esperar santamente a realização do plano de Deus Pai. 

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Assim, de certa forma, a agonia de Jesus não será meramente a agonia da morte e do sofrimento, mas também a agonia de ter de esperar. É a agonia dum Deus que depende de nós para poder demonstrar a Sua divina presença entre nós; é a agonia dum Deus que, duma forma absolutamente misteriosa, permite-nos quase que decidir como Deus será Deus...

Descubro, assim, uma nova perspectiva de esperar - não apenas em esperar por Deus, mas também de participar na espera do próprio Deus ...

A Assunção de Maria

O Templo de Deus abriu-se no Céu e a Arca da Aliança foi vista no seu Templo. Apareceu no céu um sinal grandioso: uma mulher revestida de sol, com a lua debaixo dos pés e uma coroa de doze estrelas na cabeça.   (Ap 11,19a; 12,1)

É com este relato que se inicia hoje as leituras da Santa Missa, dia da Assunção de Nossa Senhora. Não sei se têm bem noção da natureza estrondosa, absolutamente chocante, desta afirmação do Apóstolo João: "a Arca da Aliança foi vista no seu Templo".

Na altura em que este relato foi escrito, a Arca da Aliança tinha sido vista pela última vez já há mais de 500 anos atrás. Por altura do exílio do povo judeu na Babilónia, o profeta Jeremias, inspirado pelo Senhor, tinha-a escondido numa gruta algures no Monte Sinai, para não mais voltar a ser encontrada "até que Deus reúna o seu povo e use com ele de misericórdia" (2 Mac 2,7)

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Esta promessa, nunca esquecida pelo povo judeu por mais anos que passassem, realizou-se nesta visão do Apóstolo S. João. Eis a nova Arca da Aliança - Maria, mãe de Jesus, o Salvador.

 

A antiga Arca da Aliança era revestida a ouro. A nova Arca, Maria, está "revestida de sol" como nos diz São João e como nos confirmam os Pastorinhos de Fátima dizendo que "era uma Senhora mais brilhante que o sol" .

A antiga Arca continha o cajado florido de Aarão, o primeiro sumo-sacerdote instituído pelo Senhor, enquanto o ventre de Maria contém dentro de si o Sumo-Sacerdote eterno.

A antiga Arca continha as tábuas com os 10 Mandamentos da Lei de Deus, que tinham sido escritas pelo próprio dedo do Senhor. Maria, a nova Arca, contém Jesus dentro de si, o Verbo de Deus. 

Por fim, a antiga Arca continha o maná, o alimento vindo do céu durante os 40 anos da travessia do deserto do povo hebreu. A nova Arca, Maria, contém o Pão Vivo, descido dos Céus, o verdadeiro alimento que nos dá a vida eterna.

Nossa Senhora da Eucaristia - imagem retirada daqui

[A mulher] estava para ser mãe e gritava com as dores e ânsias da maternidade. (Ap 12,2)

Com esta simples frase, o Apóstolo João confirma-nos aquilo que é dogma de Fé: no final da sua vida terrena, Maria foi levada, em corpo e em alma, para junto de Deus. Em parte, como primícias de toda a Igreja, como antecipação daquilo que acreditamos que nos acontecerá no Último Dia. Mas, por outro lado, Maria foi assupta aos Céus, ou seja, foi assumida por Deus, como culminar de toda a sua vivência terrena: Maria passou toda a sua vida a conformar a sua vontade com a do Senhor, mais perfeitamente a cada novo dia, de tal modo que, por altura da sua morte, era absolutamente impossível distinguir ou separar o coração de Maria com o coração de Deus...

 

Peçamos a Maria, neste dia tão especial, que nos ensine e ajude a conformar o nosso próprio coração, sempre tão rebelde e orgulhoso, com o coração e a vontade de Deus. Amén