Sou uma jovem esposa e mãe católica portuguesa. Neste blog partilho a minha caminhada em busca da santidade e o meu encontro com o amor misericordioso do Senhor. Espero que ele vos possa ajudar a encontrar a alegria do Evangelho!
Sou uma jovem esposa e mãe católica portuguesa. Neste blog partilho a minha caminhada em busca da santidade e o meu encontro com o amor misericordioso do Senhor. Espero que ele vos possa ajudar a encontrar a alegria do Evangelho!
Naquele tempo, disse Jesus: «Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas, porque fechais aos homens o Reino dos Céus: vós não entrais nem deixais entrar os que o desejam.
Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas, porque devorais as casas das viúvas, com o pretexto de prolongadas orações. Por isso, sereis mais rigorosamente julgados.
Ai de vós, guias cegos, que dizeis: "Quem jurar pelo santuário a nada se obriga; mas quem jurar pelo ouro do santuário tem de cumprir". Insensatos e cegos! Que vale mais: o ouro ou o santuário que santifica o ouro?" (Mt 23, 13-14. 16-17)
Ao longo desta 21ª Semana do Tempo Comum, se acompanharmos as leituras do Evangelho, veremos Jesus a reprovar, repetidas vezes, os fariseus e os escribas, acusando-os de hipocrisia. Jesus utiliza palavras e imagens muito fortes, (excessivamente?) duras até. Chama-lhes hipócritas, insensatos, devoradores de viúvas, cheios de maldade, autênticos cegos que provocam também a cegueira de outros homens. Compara-os a sepulcros caiados, belos por fora mas podres por dentro, e a pedras de tropeço, causadores de quedas irrecuperáveis para muitos.
"Oh pobres fariseus e escribas" - penso eu, tantas vezes, suspirando e revirando os olhos - "sempre tão arrogantes e convencidos ... " Mas será realmente assim, Marisa? Terão sido eles sempre assim? Será que era apenas esse - a arrogância, a hipocrisia, a cegueira - o problema que Jesus lhes apontava? Será que Jesus queria apenas apontar-lhes o dedo, nomeando os seus pecados?
Mas o Senhor alguma vez quererá apenas isso? Alguma vez Deus desejaria apenas criticar, apontar o dedo, denunciar, tornar público o pecado pessoal de cada um deles? Para que serviria isso, Marisa? Qual o bem disso? Acaso Deus comportar-se-ia como um mero denunciador - "Vejam todos como eles são maus!"? Acaso Deus não é amor? Acaso poderá ter havido algum instante da vida de Jesus - Ele que é verdadeiramente Deus, verdadeiramente Homem - em que Ele, falando ou agindo, não estaria a amar a pessoa à Sua frente, a obra das Suas mãos?
Talvez Marisa, a questão seja mais profunda do que te parece à primeira vista.
Lembra-te do que ouviste recentemente numa homilia: os escribas eram autênticos guardiões da Lei e dos Escritos Sagrados, copiando-os cuidadosa e rigorosamente, garantindo que nenhum erro se propagasse nem que se perdesse no tempo uma só palavra de Deus; já os fariseus eram um grupo recente na altura de Jesus, formados pela necessidade de reavivar o judaísmo daquela altura e impedir que se perdesse a beleza das Escrituras, da cultura e da religião judaica ou que o povo fosse corrompido pelos pensamentos, filosofia e estilos de vida pagãos, tanto da parte dos gregos como dos romanos.
Permitam-me o atrevimento de dizer: Jesus era muito parecido com os fariseus. Eles conheciam a Lei e os Profetas de trás para a frente, como se fosse a palma das suas mãos, tal como Jesus conhecia. Eles dedicavam todo seu tempo, toda a sua vida, à leitura, ao conhecimento, à interpretação e à propagação da beleza da Lei e dos Profetas, tal como Jesus o fez também. Eles eram praticantes exemplares da Lei, tal como Jesus o era. Eles eram amantes da Palavra de Deus, tal como Jesus a amava.
O problema dos fariseus foi que rapidamente caíram na tentação do poder e da auto-suficiência. Deixaram-se sucumbir em escrúpulos. Quiseram tornar-se donos da Lei e dos Profetas, autoridades irrepreensíveis, acima de qualquer outra - até acima de Deus. E esqueceram-se que eram meros homens, pó da terra, servos do Senhor. ..
Pobres fariseus - o bom e o belo que poderíeis ter sido, que o Senhor desejava que vos tivésseis tornado, que Deus vos chamava a ser ...
Em vez disso, escolheram esconder as suas misérias - até de si mesmos - e colocar máscaras para outros verem. Desejaram ser admirados e assim escolheram fingir - ser mais e melhor do que, realmente, eram.
Escolheram fingir, esconder as suas misérias, fugir de si mesmos. E assim impedir deliberadamente que a graça santificante de Deus possa actuar nas suas almas. Fingindo, escondendo-se, fugindo - impediram assim que Deus os habitasse, os renovasse, os curasse, os perdoasse. Talvez seja por isso que Jesus não tolera a sua hipocrisia.
Além disso, é como se declarassem explicitamente que Deus não os criou correctamente, que não os gerou bem, que eles deveriam ser diferentes do que são. No fundo, que Deus errou e fez algo mal - mas que eles fariam melhor.
Pobres escribas e fariseus - que por vezes sou eu mesma. Tão amantes e zelosos da Palavra de Deus, que tentavam tornar-se seus donos e senhores. Tentavam almejar uma perfeição diferente daquela a que Deus os (e nos) chama e convida. Lembrem-se quem são, de quem são, donde vieram, para onde querem ir. Reconheçam as vossas misérias. Não as tentem esconder - de si mesmos e de Deus. Não fujam - de vocês próprios nem da misericórdia do Senhor. Não tentem fingir ser o que não são - o Senhor ama-vos. E vós, aceitais o Seu amor? Aceitais ser amados?
Que o Senhor possa dizer de mim, um dia, tal como disse do Apóstolo Bartolomeu
«Eis um verdadeiro israelita, em quem não há fingimento. Em verdade, em verdade vos digo: vereis o Céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do homem.» (Mt 23, 47. 51)
O jovem Samuel servia o Senhor sob a direcção de Eli. O Senhor, naquele tempo, falava raras vezes e as visões não eram frequentes. Ora certo dia aconteceu que Eli estava deitado, pois os seus olhos tinham enfraquecido e mal podia ver. A lâmpada de Deus ainda não se tinha apagado e Samuel repousava no templo do Senhor, onde se encontrava a Arca de Deus. (1Sm 3,1-3)
O profeta Eli estava no final dos seus dias. Tinha sido escolhido pelo Senhor, para ser Seu profeta e sacerdote, para ensinar o povo a interpretar os sinais dos tempos e os sinais de Deus, e para servir e louvar o próprio Deus no Seu templo sagrado. Mas Eli não fez nem uma coisa, nem outra. Deixou-se corromper, permitiu que o pecado grave e mortal entrasse na sua casa, no seio da sua família, e se entranhasse no povo de Deus, o qual tinha prometido proteger, guardar e orientar. Todos sabiam dos seus pecados, dos seus maus caminhos, das suas más decisões, não só em relação a si próprio mas especialmente em relação aos seus filhos, que criou com "rédea solta", sem os educar no amor e nos caminhos do Senhor, como era seu dever de pai e chefe de família. Sem limites ou regras, e sem exemplos inspiradores, os seus filhos cresceram entregues às suas próprias paixões e desejos... e o resultado estava à vista de todos.
Mas o Senhor, ao contrário de nós, é sempre rico em misericórdia. Na verdade, a "lâmpada de Deus ainda não se tinha apagado" e continuava a dar novas oportunidades a Eli para se redimir dos seus pecados. Já na sua velhice, já com os olhos "enfraquecidos", que "mal podiam ver" a luz da Fé, o Senhor entrega nas suas mãos o cuidado pelo coração dum jovem. Este jovem, gerado não por obra do próprio Eli, mas através dum milagre do Senhor numa mulher, Ana, até então estéril, é oferecido imerecidamente a Eli para que o adoptasse como seu.
Apesar de todos os seus erros, pecados e maus caminhos, será só a partir do reconhecimento de Eli, que o jovem Samuel saberá identificar a voz de Deus na sua vida.
O Senhor chamou Samuel e ele respondeu: «Eis-me aqui.» Samuel correu para junto de Eli e disse-lhe: «Aqui estou, pois me chamaste.» Disse-lhe Eli: «Não te chamei, meu filho; volta a deitar-te.» (1 Sm 3, 3b-5)
Neste último Domingo, na sua homilia, o nosso pároco explicou-nos que este episódio da vida de Samuel poderia assemelhar-se a uma circunstância, nas nossas próprias vidas, pela qual já todos passámos: recebemos uma chamada no nosso telefone, cujo número desconhecemos, e portanto não sabemos quem é; atendemos e não conseguimos reconhecer, logo pelas primeiras palavras, quem está a falar connosco; e por fim, vemo-nos obrigados a questionar - quem está a falar?
Para podermos identificar o número que nos está a ligar, habitualmente, é necessário que já tenhamos ligado antes para esse número e que, por isso, o tenhamos guardado na memória do nosso telefone associado a um nome. Mas, para reconhecermos, imediatamente, a voz de quem nos fala, é preciso haver vários diálogos prévios, é preciso haver intimidade, é preciso haver uma história com aquela pessoa. Só assim podemos reconhecê-la imediatamente: Sim, sei exactamente de quem é esta voz!
O Senhor voltou a chamar Samuel. Samuel levantou-se, foi ter com Eli e disse: «Aqui estou, porque me chamaste». Eli respondeu: «Não te chamei, meu filho; torna a deitar-te». Samuel ainda não conhecia o Senhor, porque, até então, nunca se lhe tinha manifestado a palavra do Senhor. (1Sm 3,6)
Por três vezes Samuel é chamado pelo Senhor; por três vezes Samuel acorda do seu sono, tranquilo e sereno, sem refilar nem resmungar; por três vezes Samuel aceita levantar-se da sua cama, quentinha e confortável como a nossa; por três vezes atravessa o templo do Senhor, correndo com santa pressa, para ir ter com Eli que ele julgava que o tinha chamado; por três vezes apresenta-se junto de Eli e comunica-lhe a vontade do seu coração: "Eis-me aqui. Aqui estou. Chamaste-me e eu vim. E vim para fazer a tua vontade".
Às vezes, como sabem que é o meu hábito, ponho-me a imaginar como seria este episódio se fosse eu no lugar do pequeno Samuel. Seria certamente algo como: "O Senhor chamou a Marisa a meio da noite. E das duas uma: ou ela nem sequer acordou; ou então, acordou, refilou - Hã? Que foi? Isto são horas? - virou-se para o outro lado e voltou a adormecer. No dia seguinte, ao pequeno-almoço, a Marisa continuou a resmungar pela interrupção inconveniente dessa mesma noite - E tu nunca mais me faças uma dessas, hã?"
O Senhor chamou Samuel pela terceira vez. Ele levantou-se, foi ter com Eli e disse: «Aqui estou, porque me chamaste». Então Eli compreendeu que era o Senhor que chamava pelo jovem. Disse Eli a Samuel: «Vai deitar-te; e, se te chamarem outra vez, responde: "Falai, Senhor, que o vosso servo escuta"». Samuel voltou para o seu lugar e deitou-se. O Senhor veio, aproximou-Se e chamou como das outras vezes: «Samuel, Samuel!». E Samuel respondeu: «Falai, Senhor, que o vosso servo escuta». (1 Sm 3, 6-10)
Fora de brincadeiras.
Ao ler esta passagem no Domingo passado, a minha atenção ficou presa nestas últimas palavras: "O Senhor veio, aproximou-Se e chamou como das outras vezes". O escritor sagrado constrói uma frase com 3 verbos - "veio", "aproximou-Se" e "chamou", à semelhança da actuação do jovem Samuel, também ela constituída por 3 etapas: "levanta-se", "vai ter com" e "diz". Não me parece ser ao acaso essa construção gramatical.
Deus veioaté nós, como ainda há pouco celebrávamos no tempo de Natal, para que nos possamos levantar, pela Sua graça e força. Deus aproximou-Sede nós, meras criaturas humanas, decaídas e perdidas no nosso pecado, para que pudéssemos iniciar o caminho que nos levará, um dia, até junto d'Ele, para que fosse possível irmos ter com Ele. Por fim, o Senhor chamou-nos, dizendo: "Vocês são os Meus filhos muito amados. Venham, deixem-se amar por Mim!"
E Ele continua a chamar-nos, uma, duas, três vezes, as que forem precisas e necessárias. Ele nunca Se cansará de nos chamar; nós é que muitas e muitas vezes nos cansamos de Lhe responder, de O ouvir, de O escutar, de seguir a Sua voz, de nos apresentar-nos ao serviço a que Ele nos chama. É preciso fazer como as crianças e aprender a ter um coração jovem como o delas: pedir, pedir, pedir sem cessar a graça para responder ao Senhor; convidar-nos uns a outros, uma e outra vez, vamos, vamos de novo, outra vez, outra vez!; sem refilar ou resmungar pela repetição, mas escolhendo ser alegres de coração; correndo quando necessário, com a santa pressa de fazer a vontade do Senhor no momento em que Ele nos chama e não depois, mais tarde, mais logo ... Ah, tanto a aprender!
Hoje se escutardes a voz do Senhor, não fecheis os vossos corações (Heb 3,7b-8)
Continuamos a explorar a líndissima igreja recém terminada na cidade de Magdala, uma cidade com tanta importância nas Sagradas Escrituras para nós, mas que esteve perdida e escondida debaixo da areia durante séculos e séculos ...
O nome desta Igreja, em latim, 'Duc In Altum', consagrada em 2014 pelo Patriarca de Jerusalém, foi inspirado nas palavras que Jesus disse aos Seus primeiros Apóstolos, entre eles Simão Pedro, após uma noite de pesca infrutífera. Depois de ter ensinado uma multidão inteira, Jesus diz-lhes
"Lançai [as redes] para as profundezas"
ou "Duc in altum" (Lc 5,4)
E eles assim fizeram, eles assim obedeceram, apesar de algo hesitantes. O resultado? Bem, nada menos que uma rede de pesca quase a rasgar-se com o peso de tal pescaria extraordinária ...
Na verdade, toda a construção desta bela igreja (cujas fotos partilhei já convosco no post anterior) serve para nos relembrar e inspirar a não ter medo de confiar nestas palavras de Jesus, nosso Mestre, que nos incentiva a lançar-nos nas profundezas do Seu tremendo e infinito amor... Ouçamos, confiemos, obedeçamos e lancemo-nos - sem qualquer medo ou receio. Jesus estará lá - sempre - connosco e Ele promete-nos que os frutos de tal acto de coragem serão - sempre - imensamente numerosos ...
Nós avançamos também, explorando esta bela e ampla igreja, construída para receber multidões de peregrinos ... mas quase só estamos aqui nós, os 40 peregrinos vindos de Portugal. E eu lembro-me das outras palavras de Jesus
Como é estreita a porta e quão apertado é o caminho que conduz à vida,
e como são poucos os que o encontram!
Mt 7,14
Encontramo-nos sob o manto de Nossa Senhora de Guadalupe (cuja festa celebramos esta semana, a 12 de Dez!), pintado no tecto da igreja - e que nos faz sentir quase como se, também nós, à semelhança de Jesus neste período de Advento, estivéssemos dentro do ventre desta querida Mãe, que nos acolhe e protege com a sua perpétua oração e intercessão...
A nossa guia indica-nos que devemos seguir através duma porta estreita. Porque sorris tanto Marisa? - perguntam-me os outros peregrinos. Oh, Deus tem cá um sentido de humor! .
Esta porta estreita leva-nos, tão adequadamente, até às profundezas desta igreja e, bem, até às profundezas do meu coração quando, através dum quadro nesta modesta e simples capela, chamada Capela do Encontro, sem qualquer aviso, Jesus me leva às lágrimas...
[Havia uma ] certa mulher, vítima de um fluxo de sangue havia doze anos, que sofrera muito nas mãos de muitos médicos e gastara todos os seus bens sem encontrar nenhum alívio, antes piorava cada vez mais ...
Mc 5, 25-26
Começo eu a recitar esta parábola de Jesus que, talvez, mais que qualquer outra, eu sei quase de cor, de tantas e tantas vezes que a li e reli e reli ... E de tantas vez que a cantei - graças a uma das minhas músicas favoritas da Danielle Rose - If I touch Him (se eu Lhe tocar).
Estava escrito no livro do Levítico que
«Quando uma mulher tiver o fluxo de sangue que corre do seu corpo, permanecerá durante sete dias na sua impureza. Quem a tocar ficará impuro até à tarde. Todo o objecto sobre o qual ela se deitar, durante a sua impureza, ficará impuro; tudo aquilo em que se sentar, ficará impuro. Quem tocar no seu leito, deverá lavar as vestes, banhar-se-á em água e ficará impuro até à tarde. Quem tocar em qualquer objecto em que ela tenha estado sentada lavará as vestes, banhar-se-á em água e ficará impuro até à tarde. Quem tocar nalguma coisa que estiver sobre a cama ou sobre o móvel em que ela se sentou, ficará impuro até à tarde. Se um homem coabitar com ela e a sua impureza o atingir, ficará impuro durante sete dias, e todo o leito em que se deitar ficará impuro.
Quando uma mulher tiver um fluxo de sangue durante vários dias, fora do tempo normal de impureza, isto é, se o fluxo se prolongar para além do tempo da sua impureza, ficará impura durante todo o tempo desse fluxo, como no tempo da sua impureza. Durante todo o tempo desse fluxo, todo o leito em que se deitar será para ela como o leito em que se deitava durante a sua impureza; qualquer móvel sobre o qual se sentar ficará impuro, como no tempo da sua impureza; quem os tocar ficará impuro; deverá lavar as suas vestes, banhar-se-á em água e ficará impuro até à tarde. Quando terminar o fluxo de sangue, contará sete dias e, depois, ficará pura.»
Lev 15, 19-28
Conseguem imaginar o profundo e intenso sofrimento desta mulher, que há 12 anos mantinha este fluxo de sangue?
Há 12 anos que não podia tocar em ninguém, nem ninguém lhe podia tocar. Teria ela uma família, um marido e filhos? Meu Deus, imaginar 12 anos sem lhes poder tocar... Oh, quanto desejava fazê-lo ... Mas ela sabia que, se o fizesse, os tornaria impuros ... E o amor de mãe e o amor de esposa é muitíssimo maior que este desejo - então, por amor aos outros, lutando contra os desejos do seu próprio coração, mantinha-se firme na resolução de não tornar os outros impuros, de não levar os outros a pecar ...
Ela tinha procurado ajuda em tudo quanto fosse lugar, tinha gasto tudo o que tinha, tinha-se colocado nas mãos de todos os que eram chamados de sábios e de médicos ... e nada, absolutamente nada, era capaz de sarar aquela ferida aberta, aquela profunda ferida aberta, que lentamente, gota por gota, lhe retirava toda a vida ...
Até que surgiu Jesus. É sempre assim, também nas nossas vidas - chega Jesus e nunca nada é o mesmo!
Tendo ouvido falar de Jesus, veio por entre a multidão e tocou-lhe, por detrás, nas vestes, pois dizia: «Se ao menos tocar nem que seja as Suas vestes, ficarei curada.»
Mc 5, 27-28
Ela tinha-se tentado esconder por entre a multidão. Já estava tão habituada a isso ... Durante anos tinha vivido com intensos sentimentos de vergonha e de culpa. Durante anos tinha-se sentido suja .... Terá sido, muito provavelmente, expulsa de muitos locais pela sua situação. Oh, o que aconteceria se alguém a reconhesse? Oh, se alguém descobrisse que ela se tinha atrevido a estar no meio duma multidão! ...
Pela primeira vez, ao fim de tantos e tantos anos, um sentimento mais forte que a culpa e a vergonha tinha surgido na sua vida - a Fé. Sim, apenas Ele a poderia salvar, oferecendo-lhe o amor misericordioso que ela tanto procurava. A Fé que tem origem no amor de Deus torna-nos corajosos e audazes...
♫ Se ao menos eu Lhe tocar, Ele curará o meu coração que sangra
Se eu Lhe tocar, Ele dar-me-á tudo o que eu preciso
Se apenas esticar a minha mão e Lhe tocar na orla das Suas vestes
Eu acredito que serei tornada inteira novamente ... ♪
Apreciem bem todo o realismo desta pintura belíssima do artista Daniel Cariola ...
De facto, no mesmo instante se estancou o fluxo de sangue, e sentiu no corpo que estava curada do seu mal. Imediatamente Jesus, sentindo que saíra Dele uma força, voltou-se para a multidão e perguntou: «Quem tocou as minhas vestes?»
Os discípulos responderam: «Vês que a multidão te comprime de todos os lados, e ainda perguntas: ‘Quem me tocou?’» Mas Ele continuava a olhar em volta, para ver aquela que tinha feito isso.
Mc 5, 29-32
Oh, o poder dum simples toque ...
Jesus tinha acabado de ser chamado, à pressa, para ir acudir a filha de Jairo, uma menina de 12 anos, que estava à beira da morte ... Também esta mulher tinha estado a morrer, esvaindo-se em sangue que brotava do seu corpo e da profunda ferida aberta da sua alma, nos últimos 12 anos ....
À filha de Jairo, Jesus segurará na sua mão e ressuscita-la-á dos mortos ... Também a esta mulher bastará um simples toque, único e especial, incomparável a qualquer outro, para a trazer de novo à vida ...
Num instante toda a vergonha, toda a culpa, toda a imundice, toda a solidão, toda a dor, oh tão forte e profunda, desapareceu ... terminou ... para sempre!
Então, a mulher, cheia de medo e a tremer, sabendo o que lhe tinha acontecido, foi prostrar-se diante Dele e disse toda a verdade.
Disse-lhe Ele: «Filha, a tua fé salvou-te; vai em paz e sê curada do teu mal.»
Mc 5, 33-34
Como é grande o amor de Deus por nós! Tão grande e belo e imenso, que nos tira o fôlego e faz tremer o nosso corpo com toda a Sua intensidade! Que nos leva a desejar colocar-nos de joelhos diante d'Aquele que nos dá uma nova vida ...
♬ Então a criança dentro da minha alma, que eu pensava que tinha morrido há tanto tempo atrás
Foi ressuscitada de novo à vida e eu senti uma alegria até nos meus ossos.
Então eu fui a correr contar - aos cegos, aos coxos, aos que andavam de coração partido, aos que sentiam vergonha
Aos ricos, aos pobres, aos jovens, aos velhos - a verdade que precisa de ser proclamada! ♪
♪ Se tu Lhe tocares, Ele curará o teu coração que sangra,
Se tu Lhe tocares, Ele te dará tudo o que tu precisas,
Se tu ao menos esticares as tuas mãos e tocares no Pão do Céu,
Acreditas que Ele será capaz de te tornar inteiro novamente? ♫
Neste Domingo tão especial, em que celebramos a Divina Misericórdia de Jesus, gostava de partilhar convosco algumas reflexões e ensinamentos que aprendi e experimentei nos 3 dias de vivência do Tríduo Pascal, junto das Escravas do Sagrado Coração de Jesus, em Palmela. São pequenas notas dispersas ... mas desejo sinceramente que elas vos possam abençoar e tocar o coração de algum modo ...
"Sem Mim, nada podeis fazer..." (Jo 15,5)
Palavras duras de Jesus. Parece quase um Mandamento - "Sem Mim, nada podeis fazer..."
Palavras difíceis de ouvir ... e ainda mais difíceis de reconhecer como verdadeiras - porque o são, de facto - mas custa, custa tanto admitir ... Posso fazer muita coisa, sozinha, à minha maneira, pelas minhas próprias mãos e inteligência e projectos ... mas, na realidade, sem Jesus, nada posso fazer que tenha verdadeiro valor, que seja rico em amor, que seja realmente significativo, que tenha valor eterno ...
Sim, "sem Mim, nada podeis fazer", é verdade meu Jesus, é a mais pura das verdades. Mas, com estas palavras, pelo Teu grande e infinito amor, também nos dizes que "conTigo, tudo poderemos fazer... " ... ah, que doce e terna verdade - "conTigo, tudo poderemos fazer... " - tudo, tudo, tudo ....
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Quinta-feira Santa - dia da Última Ceia do Senhor - dia da instituição da divina Eucaristia
Que dia este que celebramos todos juntos em Igreja, um dia tão rico em ensinamentos - tão importantes e tão profundos - numa comunhão infindável entre os acontecimentos do Antigo Testamento e o seu pleno cumprimento e significado na vida e morte e ressurreição de Jesus ...
A Ceia Pascal hebraica - que nos chama, a cada um de nós, a trazer à memória e a dar testemunho...
Trazer à memória ... Lembra-te, povo de Israel, da Minha salvação, lembra-te de como vos salvei da escravatura do Egipto, onde éreis escravo do pecado. Eu vos salvei tantas e tantas vezes, e vocês continuaram a adorar outros deuses - uns de ouro, outros de carne, outros de dinheiro ou sucesso ou reconhecimento, outros - pior de tudo - fizeram de vós próprios o "deus" das vossas vidas... Lembra-te, povo Meu, que Me pertences - paguei por vós um preço tão elevado: todo o amor e sangue e misericórdia do Meu próprio coração, por vós entreguei, para que tenhais vida e vida em abundância.... Façam memória - de Mim, da nossa história e da nossa História - mas uma memória viva, presente, contínua ...
Dêem testemunho - contem aos outros tudo o que Eu fiz por vocês, por cada um de vocês; partilhem e transmitam esta memória - que é tua, que é vossa, que é Nossa - para que todos possam celebrar, connosco, junto de nós, estes dias de festa - alegrai-vos e exultai, porque é eterno o Meu amor ...
Nesta Última Ceia - um acontecimento de tal modo importante que está descrito nos 4 Evangelhos - Jesus dá um especial simbolismo ao pão ázimo - entrego-vos a Minha pessoa - e ao vinho - entrego-vos a Minha vida....
O sangue, simbolizado nesta Ceia pelo vinho, para os judeus, era algo tão sagrado, tão puro, que apenas podia pertencer a Deus. Por isso, ninguém podia tocar em sangue; por isso a carne tinha de ser tão bem cozinhada. Mas - quanta admiração, quanto espanto! - é Deus, o próprio Deus, que oferece o Seu sangue; que, com o Seu sangue, nos toca, que toca a nossa vida - tornando-a pura e sagrada também. Quanta humildade a de Jesus - permitir-nos tocar no Seu sangue, tão precioso e puro e sagrado, na santa Eucaristia ...
O cordeiro que era servido nesta Ceia Pascal estava sujeito a uma série de exigências, cheias de sentido profético, como certamente entenderão - o cordeio devia ser macho, sem qualquer defeito, devia ser assado num espeto em forma de cruz e nenhum osso deveria ser quebrado ... oh, Jesus, que vieste cumprir perfeitamente todas as Sagradas Escrituras ....
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Durante a noite da Quinta-feira Santa, lemos o Evangelho de São Mateus e de São João que nos contam o seguinte acerca dos acontecimentos da Última Ceia de Jesus:
"Enquanto comiam, disse [Jesus]: «Em verdade vos digo: Um de vós Me há-de entregar.» Profundamente entristecidos, começaram a perguntar-Lhe, cada um por sua vez: «Porventura serei eu, Senhor?»" (Mt 26, 21-22)
"Jesus perturbou-se interiormente e declarou: «Em verdade, em verdade vos digo que um de vós Me há-de entregar!» Os discípulos olhavam uns para os outros, sem saberem a quem se referia. Um dos discípulos, aquele que Jesus amava, estava à mesa reclinado no seu peito. Simão Pedro fez-lhe sinal para que Lhe perguntasse a quem se referia. Então ele, apoiando-se naturalmente sobre o peito de Jesus, perguntou: «Senhor, quem é?»" (Jo 13, 21-25)
Eu fiquei absolutamente chocada nessa noite! Claro que esta não foi nem a primeira, nem a segunda, nem talvez a décima vez que li e ouvi esta passagem do Evangelho, mas nunca, nunca me tinha apercebido que os Apóstolos não faziam a mínima ideia de que seria Judas Iscariotes a trair Jesus. A nenhum deles ocorreu a ideia de poder ser Judas! Antes, começaram a perguntar-se a si mesmos. Não faziam a mínima ideia ...
Pedro chega ao cúmulo de ter de pedir a João para perguntar a Jesus, quem poderia ser ... ninguém suspeitou de Judas, ninguém .... absolutamente incrível!
Judas nunca se tinha mostrado nem revelado, realmente, a nenhum dos seus companheiros. Apesar de tudo o que passaram juntos, Judas tinha sempre usado uma máscara perante os seus "amigos", ocultando os verdadeiros desejos do seu coração.... oh, Judas, porque o fizeste?
Se, ao menos, Judas tivesse dado a antever aquilo que iria fazer nessa noite ... se, ao menos, algum dos discípulos estivesse atento e compreendesse o que estava a acontecer dentro do coração de Judas ... estou certa de que teria feito de tudo para o impedir, para o convencer do contrário - não só por amor e protecção de Jesus, seu adorado Mestre e Senhor, mas também por amor fraterno ao próprio Judas ... oh, Judas, porque nunca te deste a conhecer? - sim, pecador, grande pecador ... mas ainda assim ... porque não permitiste que alguém te pudesse ajudar?
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A agonia no Getsemani
Jesus sente uma angústia terrível, incomparável ... e simplesmente pede aos seus amigos que fiquem com Ele, que O acompanhem naquele momento, em que Ele mais precisa do seu apoio ... mas acaba sozinho ...
Jesus abre-nos o Seu coração - que, naquele momento, está cheio de sentimentos de «pavor, angústia e tristeza de morte» - e partilha connosco o que está a passar ... Jesus apenas nos pede: «Ficai aqui e velai comigo» ... acompanhem-Me ... estejam Comigo ... não vos fecheis, não fujais, não vos deixeis abater ... não ponhais a vossa força naquilo que é passageiro nem em vos mesmos, mas sim em Deus ... «Ficai aqui e velai comigo» ....
Contudo, no final, quando O vêem prender ... apercebemo-nos que "fugiram todos"... naquela noite, não foi apenas Judas que traiu Jesus ... mas também Pedro e João e todos os discípulos, também tu e também eu ...
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O julgamento e condenação de Jesus
"Pilatos convocou os sumos sacerdotes, os chefes e o povo, e disse-lhes: «Trouxestes este homem à minha presença como agitador do povo.»" (Lc 23, 13)
Agitador do povo....
Jesus é apresentado como agitador; Ele que toda a Sua vida tinha levado, semeado e propagado a paz, aquela paz transformadora e inexplicável que vem de Deus ...
Julgado por quem não O conhece ... abandonado e traído pelos Seus amigos ... oh, Jesus, que Te fiz eu? ....
Mas, apesar de tudo, Jesus confia; apesar de tudo, Jesus sabia-se profundamente acompanhado pelo Pai; e por isso não procura fazer justiça pelas suas próprias mãos e meios.... pelo contrário, Jesus deixa que as coisas aconteçam naturalmente e a seu tempo, que é o tempo de Deus ... E fá-lo com a simplicidade e humildade de quem confia em Deus Pai e O deixa agir, deixando que Deus seja Deus.... o tempo de Deus ... deixando que Se faça ...
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Via Sacra
Recordemos a paixão de Jesus... Recordar, que significa 'voltar a passar pelo coração' ...
E reconheçamos o nosso lugar ao pé da cruz de Jesus - qual o lugar que me pertence? que só pode ser meu? que só eu posso preencher e ocupar? Sejamos valentes e descubramos ...
Pilatos lava as mãos. Não quer estar do lado dos que condenam Jesus, mas também não se coloca ao lado de Jesus. O silêncio de Pilatos não tem nada a ver com o silêncio de Jesus: o silêncio de Pilatos mata; o silêncio de Jesus é pura misericórdia....
Os soldados colocam uma capa escarlate e uma coroa de espinhos em Jesus - pensam saber o que Ele procurava: poder, riqueza e honra ... Mas ao longo da Sua vida na terra, Jesus sempre respondeu à honra com a humildade, à riqueza com a pobreza e o poder com o serviço ...
Mesmo sentindo o peso da Cruz nas Suas costas, Jesus não abdica de escolher o bem.... cada passo, cada silêncio, cada gesto, cada palavra deste percurso são Suas escolhas sucessivas, são a demonstração do Seu contínuo e infinito amor ... Jesus não perde qualquer tempo, não perde nenhum segundo e toma nas Suas mãos o tempo que ainda tem, para continuar a amar e dar a conhecer o Pai. Até ao fim, até ao extremo ....
Apesar de tudo, Jesus não caminha sozinho neste percurso até ao Calvário - Jesus deixou-se ajudar por Simão de Cirene que, sem contar, vê-se numa situação difícil; Simão que, sem contar, é chamado a acompanhar Alguém durante a Sua dor e a partilhar o peso da Sua cruz.... Simão também não caminha sozinho; e aceita partilhar - ainda que por alguns momentos - a dor de Jesus.
Verónica não tem força para carregar a cruz de Jesus mas pode, com a sua presença carinhosa e compassiva, aliviar um pouco, um pouco que seja, o Seu sofrimento. Enxuga o sangue, o suor, a dor. Consola, da forma que pode, e tenta aliviar o sofrimento - por um pouco que seja ....
Crucificado. Não, não são os pregos que seguram Jesus na cruz - mas sim o Seu amor, que O faz permanecer. O mundo não compreende ... mesmo pregado na cruz, Jesus continua a ter escolha, continua a ser livre para amar e fazer o bem, mesmo nas circunstâncias em que se encontra ...
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Libertei-te do Egipto ... e tu preparaste-me uma Cruz, preparaste uma Cruz ao teu Salvador.
Libertei-te das velhas cadeias que te atavam, ajudei-te a vencer os medos que te oprimiam .... e tu não me reconheceste como teu grande Amigo, como teu Salvador ....
Ó Meu povo, que te fiz, em que te ofendi? Responde-me ...
Guiei-te pelo deserto durante quarenta anos, alimentei-te com o maná e fiz-te chegar a uma terra muito boa ... e tu preparaste uma Cruz para o teu Salvador ....
Guiei-te durante todo o teu processo de crescimento até chegares aqui, alimentei-te com o pão da Minha palavra e do Meu corpo, dei-te a Minha vida e fui-te envolvendo na Minha intimidade ... e tu viraste-Me as costas ....
Ó Meu povo, que te fiz, em que te ofendi? Responde-me ...
Que mais devo fazer e não fiz?
Fui Eu que te plantei como a mais bela das vinhas, a Minha escolhida ... e tu tornaste-te amarga para Mim; saciaste a Minha sede com vinagre e com uma lança abriste o peito do teu Salvador ...
Que mais devia fazer e não fiz?
Fui Eu quem fez de ti o que és hoje e o Meu amor por ti não conhece limites ... e tu tornaste-te ingrata para Mim; preferiste outros "amores" que te afastam de Mim e destroçaste o Meu coração ao recusares o Amor do teu Salvador ....
Ó Meu povo, que te fiz, em que te ofendi? Responde-me ...
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Sábado Santo - dia de deserto ....
Uma vida sem Ti ... uma vida em que Tu deixasses de existir .... pedem-nos para imaginarmos como os discípulos terão vivido estes dias .... e eu não consigo. Pedem-nos para imaginarmos uma vida sem Ti; pedem-nos para imaginarmos como seria, como nos sentiríamos, o que faríamos - se Tu deixasses de existir nas nossas vidas ... e eu simplesmente não consigo imaginar. Seria um vazio tão grande, tão grande ... seria uma vazio absolutamente indescritível ...
Penso na minha vida passada, antes de ser cristã, penso na dor e no sofrimento, na superficialidade, na ausência de rumo, na ausência de amor ... mas até nessa altura da minha vida eu consigo reconhecer a Tua mão a guiar-me, o Teu carinho disfarçado, o Teu chamamento incessante - volta, volta para casa, para Mim - o Teu amor e misericórdia infinita ...
Penso na minha vida actual e tento, como me pedem, imaginar uma vida sem Ti - mas eu não consigo. A dor é demasiado grande, incomparável; o vazio seria colossal, infinito ... como posso eu imaginar uma vida sem Ti, sem Aquele que mais amo, Aquele que transforma continuamente em amor todas as coisas na minha vida, tanto grandes como pequenas, Aquele por quem eu faço (quase) tudo - simplesmente não consigo imaginar, não consigo ...
Consigo imaginar uma vida sem a mãe, sem o pai, sem os avós, sem os meus mais queridos amigos; consigo imaginar uma vida em que já não seria médica de família; consigo imaginar uma vida sem a minha casinha e a minha independência; consigo até imaginar uma vida sem saber ler, ou sem ver ou sem andar .... mas uma vida em que Tu deixasses de existir?... impossível... não consigo, não consigo sequer imaginar como seria ....
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O nosso Deus é um Deus que faz história com cada um de nós e que faz parte da nossa História; um Deus que Se faz, tal como Se fez e tal como continuará a fazer, história - connosco.
Oh, não percamos a nossa memória ... lembra-te Israel, lembra-te Marisa, que o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor, amarás o Senhor com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças, e ao próximo como a ti mesmo, faz isto e serás feliz (Lc 10, 27-28).
É preciso fazer memória continuamente - todos os dias e, alguns momentos da nossa vida, duma forma ainda mais profunda - memória de todo o bem que o Senhor fez nas nossas vidas, de todo o Amor transbordante, de todas as aventuras, de todas as lágrimas e dores, de todos os sorrisos mais sinceros e profundos, de todas as bênçãos e graças recebidas, de toda a misericórdia, oh, de toda a misericórdia imerecida ... Não nos esqueçamos de Quem é Deus, de Quem Ele foi na nossa vida e de Quem Ele nos prometeu que sempre será. Não percamos a memória, recordemos - passemos de volta pelo coração - sim, é nosso dever estar sempre a re-avivar a nossa memória ...
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Vigília Pascal
Os primeiros cristãos celebravam a Vigília Pascal iniciando a celebração ao pôr do sol de Sábado Santo, continuando por toda a noite adentro, até à chegada do novo dia, Domingo de Páscoa - o que pretendia simbolizar a nossa morte com Cristo, a morte do homem velho com coração de pedra, para podermos ressuscitar também com Cristo, já como homens de coração novo, de carne....
Na verdade, ainda hoje, se estivermos bem atentos, conseguiremos reparar que as diversas partes da nossa Vigília Pascal pretendem transmitir esta ideia maravilhosa e transformadora, ora vejamos:
1) Liturgia da Luz
O lume ou fogo novo como símbolo da vida nova, iluminada. O fogo como lugar de encontro e de alegria. Neste lume novo acendemos o Círio Pascal, que permanecerá aceso até ao dia de Pentecostes.
Seguimos em procissão, todos juntos, no escuro da noite, atrás do Círio Pascal nas mãos do sacerdote, a luz de Cristo que ilumina as nossas vidas - relembrando-nos da longa viagem do povo de Israel em direcção à Terra Prometida ...
2) Liturgia da Palavra
O vento como símbolo do novo alento, da nova vida, inspirada, que Jesus nos oferece. A Palavra de Deus é proclamada, em voz alta e por vezes cantada, em 7 leituras diferentes provenientes do Antigo Testamento, intercaladas com cânticos dos Salmos e 2 passagens do Novo Testamento.
Escuta Israel, escuta povo de Deus ...
3) Liturgia Baptismal
A água como símbolo da libertação e da purificação. Cantamos a ladainha dos Santos, pedindo a Sua intercessão para que ajudem a purificar a água com a qual seremos benzidos. É o dia por excelência para alguém ser baptizado e todos somos convidados a renovar as nossas próprias promessas baptismais.
Ao sermos aspergidos com a água baptismal, é como se estivéssemos a recordar (a passar de novo pelo coração) o nosso baptismo e, assim, a renovar e a reactivar, a pôr de novo em acção, todas as bênçãos e graças recebidas no dia do nosso baptismo.
4) Liturgia Eucarística
A comunhão - alimenta-me, Senhor, porque sem Ti não consigo fazer nada...
Durante o ofertório, entregamos (de volta) todas as coisas que fazem parte da nossa vida (e que Deus livremente nos ofereceu), mas entregamos em especial tudo aquilo que ainda precisa de ser transformado.
Na fracção do pão, vemos Jesus que Se dá a conhecer, que Se oferece por inteiro, abrindo-Se a cada um de nós, permitindo-Se ser partido ao meio, para poder a ficar a morar no mais fundo do nosso ser.
E, assim, quando o sacerdote nos enviar "ide e fazei discípulos de todos os povos", sabemos que não iremos sozinhos, mas com o próprio Deus dentro de nós.
Sem Mim,nada podeis fazer ... Comigo, tudo podereis fazer!
Um abençoado Domingo da Divina Misericórdia para todos!
O Senhor levou-me a viver inúmeras aventuras, com Ele, neste ano de 2018, ano esse que agora termina para dar lugar a um novo ano - cheio de possibilidades, oportunidades, sonhos, conquistas e lições ....
Neste ano de 2018,iniciei a minha profissão como médica, passando por diversos serviços e áreas, passando da teoria abstrata, impessoal e indiferente para a prática real, imperfeita, humana, personalizada. Agora, neste ano de 2019, iniciarei a minha formação específica para me tornar médica de família, um processo que será, sem dúvida, díficil e muito trabalhoso, e que durará pelo menos 4 anos ...
Neste ano de 2018,consolidei a minha vocação como catequista na minha paróquia, oferecendo-me verdadeiramente de corpo e alma, aceitando (uns dias melhores que outros) todas as contrariedades e dificuldades que foram surgindo pelo caminho, e aceitando desafios que outrora jamais teria tido a coragem de o fazer ...
Neste ano de 2018,assumi publicamente (no meu coração, já o tinha feito há muito tempo...) o meu compromisso com o movimento das Famílias de Caná, após um (demasiado longo) período de discernimento acerca do meu papel, como leiga solteira, dentro do movimento, e assim tornei-me numa activa Jovem de Caná - à semelhança de Nossa Senhora quando ainda solteira....
Neste ano de 2018,passei também por um intenso processo de discernimento vocacional, após ter aumentado, a passinhos de bebé (mas sempre aumentando, graças a Deus!), a minha vida de oração, e agora encontro-me num estado de maior claridade, desapego e entrega à vontade de Deus para a minha vida ...
Por fim, neste ano de 2018,tomei a difícil e custosa decisão de sair da casa dos meus pais, para vir viver sozinha numa casinha, bem juntinho da casa de Jesus, e, com esta última decisão, as pequenas portas e janelas que ainda pudessem estar a impedir a ação do Espírito Santo, foram finalmente escancaradas e plenamente abertas às Suas infinitas Graças (até ao dia em que eu voltar a fechar alguma, novamente - convosco também é assim?)
Houve, sem dúvida, outros acontecimentos marcantes e significantes que podia referir, mas penso que estes servirão para explicar, pelo menos em parte, como cheguei às pequenas reflexões que hoje queria partilhar convosco. São anotações soltas que eu fui escrevendo ao longo do ano, no meu caderno espiritual. Todas elas partiram de situações difíceis, em que o meu orgulho e egoísmo desmedidos tiveram de morrer (aos bocadinhos, claro) - autênticas lições de humildade que Deus, tão carinhosa e pacientemente, me tem vindo a ensinar....
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O ano de 2018, para mim, podia ter perfeitamente como tema e título - "Crescer em intimidade com Deus": crescer mesmo quando custa e dói, sem medo das mudanças, das transformações, daquilo que se perde e que tem de morrer, para algo melhor e mais santo poder germinar, nascer, crescer e florir; intimidade - um dos desejos mais profundos do nosso coração - com Deus, por Deus, em Deus ...
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Neste ano, compreendi finalmente (de coração) que o nome que melhor revela a vocação da mulher é maternidade, é ser mãe; e que o verbo que melhor define a vocação da mulher é receber e estarsempre aberta à vida ... Esta vocação está profundamente enraizada no nosso coração, por mais que a neguemos ou tentemos fugir dela, e apenas encontraremos a felicidade verdadeira, plena, permanente, eterna e inalterável, independentemente das circunstâncias da vida, se a aceitarmos de braços abertos - à semelhança de Maria.
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Neste ano, descobri que um dos maiores desejos do meu coração é receberAquele que mais quero amar, Aquele que mais me ama, Aquele que é o amor, Aquele que é o meu Amado ...
Receberé uma palavra maravilhosa e divina, mas também é uma palavra difícil e muito exigente. Para eu poder receber, tenho de estar disposta a sere estar vulnerável - oh, a vulnerabilidade de receber! - tenho de admitir e aceitar que tenho uma necessidade, que algo me falta, de que preciso de algo que não tenho e que não sou capaz ... Admitir e aceitar isto, pode ser assustador ao princípio, pode deixar-nos com medo e fazer-nos sentir ansiedade - e o mundo de hoje tem tantas formas apelativas de nos afastar desta realidade e de nos fazer esquecer estes sentimentos que, ao contrário do que popular e socialmente se propaga, não nos faz mal nenhum, antes pelo contrário - dá-nos vida e felicidade!
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O que significa intimidade, Senhor? O que significa ser íntimo de alguém, mas especialmente de Ti?
É sentir-se plenamente "em casa" na presença de alguém. É aceitar ser-se perfeita, total e completamente conhecida tal como sou - cheia de vícios, defeitos e pecados, cheia de feridas abertas e outras em resolução, "cheia" de espaços vazios e de pedaços que faltam - e, ainda assim, aceitar ser-se amada ... por aquele Amor louco e infinito de Deus que, tal como um dilúvio, é capaz de nos encher até transbordar, de inundar completamente todos os buracos e espaços vazios, de limpar todas as feridas, de remover todas as minhas manchas e sujidades e de santificar e purificar todos os meus desejos ... Intimidadesignifica eu poder ser, livremente, quem sou - sem máscaras, sem medos, sem sentir necessidade de ser aprovada, nem de conseguir ser ou fazer algo ... para ser amada.
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Mas, como se chega a essa intimidade - conTigo? Como podemos nos tornar íntimos?
Para se ser íntimo, é necessário confiar no outro. Em que se baseia a confiança?
Em promessas realizadas. Num amor que tenha sido comprovado e testado, que tenha sido posto à prova no fogo, por diversas vezes, e ainda assim subsistir - e até aumentar de intensidade - apenas um amor assim pode chegar a esse nível de intimidade que eu tanto desejo .... E, na minha vida, Deus já me deu mais do que provas suficientes do Seu amor....
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É realmente um dos desejos mais profundos do nosso coração ser-se conhecido e amado: é alguém conhecer toda a nossa história de vida, todo o nosso ser e, ainda assim, aceitar-nos e amar-nos.
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Se tivermos a coragem de olhar para o mais profundo do nosso coração, descobriremos que desejamos ser intimamente conhecidos; que desejamos permitir que possamos ser vistos, conhecidos e admirados; que desejamos permitir ser acarinhados e amados....
O maior desejo de Jesus (por inúmeras vezes e por inúmeras vozes Ele nos disse isto!) é oferecer-nos o Seu amor, é satisfazer e realizar todos estes nossos desejos mais profundos ... porque não O permitimos de vez?
Porque ainda tento eu fazer coisas, ser assim ou assado e, desta forma, "provar" a Deus que mereço o Seu amor...? Quem penso eu que sou? Merecer o amor de Deus? Como se fosse possível ... que heresia! Que pecado tão grande! Afinal, quem é para mim Jesus?....
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Olho para Jesus na cruz - um dia, li algures que a cruz é o leito matrimonial de Jesus. Sim, leito matrimonial ...
Ali, Jesus encontra-se nu e sem qualquer proteção. Nada possui. Está completamente vulnerável e sem qualquer segurança a que se agarrar. Ali está Jesus - pregado, aberto, indefeso, vulnerável ...
E o Seu maior desejo é tornar-se Um connosco. É abraçar os nossos medos, inseguranças, traumas e dores. É amar-nos completa e infinitamente....
Jesus, na cruz, não se preocupa em proteger-se a Si mesmo - o que apenas deseja é oferecer-se a Si mesmo, é entregar-se - por nós ...
Amar ~ Oferecer ~ Receber ~ Confiar ~ Amar
"Bendiz o Senhor, ó minha alma.
A minha única alegria encontra-se no Senhor.
Ao Senhor, glória eterna! Aleluia!"
Salmo 103
Um abençoado ano novo para todos! Que aceitem o convite de Deus, para crescerem em intimidade com Ele, ao longo deste ano ...
Grandes poderes trazem sempre grandes responsabilidades, não é?
Não tem sido nada fácil para mim adaptar-me ao facto de que sou realmente médica e de que agora tenho a vida das outras pessoas nas minhas mãos. Tem sido realmente uma responsabilidade enormíssima!
Quando Deus nos coloca num cargo de poder e responsabilidade, podemos cair no pecado do orgulho e da (ilusória) auto-suficiência, ou então podemos encontrar (como eu desejo que seja o meu caso) uma estrada maravilhosa de humildade, de serviço e de confiança, não no nosso saber ou competência, mas de confiança em Deus, que está sempre connosco em todos os instantes, que guia (se O deixarmos) todos os nossos passos, que sabe o futuro e todos os "se's" de cada pequeno acto ou decisão, e que cuida de nós e dos nossos doentes como só um amoroso Pai o podia fazer...
Há um dizer antigo, uma frase que sinceramente não sei qual o autor, mas que diz algo parecido com:
Hoje tenho tanta coisa para fazer, que tenho de rezar o dobro para conseguir fazer tudo!
E eu tenho-me encontrado nessa situação desde que em Janeiro comecei a trabalhar como médica. Apercebi-me de que precisava, para o meu bem mas principalmente para o bem dos meus doentes e dos meus colegas, de estar em oração pelo menos o dobro do tempo que anteriormente.... mas, para isso, foi necessário fazer diversas renúncias, como já é habitual em todos os pedidos que Deus nos faz....
Lidar quase diariamente com a morte dum doente tem sido uma das partes mais difíceis... verdadeiramente difícil - especialmente difícil porque, em 6 meses de trabalho em enfermarias de medicina, nunca, nem uma única vez, tive um doente que aceitasse ou pedisse para chamar um padre, para se confessar, receber a Sagrada Unção e poder morrer indo directamente para o Céu, sem qualquer pecado que o separasse do amor de Deus ....
Há já algum tempo que uma querida amiga me tinha falado do Terço da Divina Misericórdia e do seu especial poder com as pessoas que estão a morrer. Esta oração, vinda do próprio coração de Jesus, foi-nos transmitido por Santa Faustina e, graças a Deus, tem sido cada vez mais divulgado pelo mundo.
Eu não consigo rezá-lo durante o trabalho ao lado da pessoa que está a morrer, tal como nos é pedido - o serviço de urgência é absolutamente caótico e por cada pessoa que está a morrer, existem pelo menos outras cinco que precisam dos meus cuidados JÁ!! e nas enfermarias há tanto, tanto, tanto trabalho para fazer que nem sequer me lembro ...
Então, que solução encontrei? Passei a rezar o Terço da Divina Misericórdia todos as noites. Foi mais um processo de adaptação, com recuos e dificuldades (tal como tinha sido com o Santo Terço), mas com a nossa boa vontade, a Deus nada é impossível.
Mas afinal como se reza o Terço da Divina Misericórdia?
Usem um Terço normal e comecem por rezar um Pai-Nosso, uma Avé Maria e o Credo.
Depois, em cada conta grande (que corresponderia ao Pai Nosso no Rosário) rezem:
Eterno Pai, eu Vos ofereço o Corpo e o Sangue, a Alma e a Divindade
do Vosso diletíssimo Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo,
em expiação dos nossos pecados e dos do mundo inteiro.
Em cada conta pequenina (que corresponderia às Avés Marias no Rosário) rezem:
Pela Sua dolorosa Paixão, tende misericórdia de nós e do mundo inteiro.
Por fim, no final do Terço (que corresponderia às 3 Avés Marias em honra da pureza de Nossa Senhora) rezem por 3 vezes:
Deus Santo, Deus Forte, Deus Imortal, tende piedade de nós e do mundo inteiro.
Tal como no Rosário, pode-se adaptar um pouco esta oração de acordo com aquilo que o nosso coração nos diz. Para mim, faz todo o sentido rezar, no final de cada conta grande + das 10 contas pequeninas (que corresponderia ao Glória no Rosário), a formula de oração do Deus Santo, Deus Forte, Deus Imortal.
Também dou por mim às vezes a rezar "Pela Tua dolorosa paixão" em vez de "Sua" .... eu gosto mais de rezar para e com Jesus directamente, mas é apenas um gosto pessoal...
Existem, tal como no Rosário de Nossa Senhora, diversas promessas de graças especiais, que Jesus partilhou com Santa Faustina, para quem rezasse estas orações com verdadeiro amor. Vale a pena lê-las com atenção!
Esta é uma oração muito simples e muito rápida, que está ao alcance de todos. Durante o retiro de catequistas da Quaresma passada, houve uma pessoa, um executivo de sucesso, com uma vida particularmente agitada e com uma profissão muito exigente, que partilhou connosco que, diversas vezes ao longo do seu dia, saía no final de cada reunião em direção à casa de banho, e que lá encontrava os minutos, a paz e o silêncio necessário para poder rezar esta rápida mas extraordinariamente eficaz oração.
Como eu disse, quando há boa vontade, a Deus nada é impossível - e abençoada seja a criatividade com que Ele nos dotou!
Em pleno espírito de Páscoa, hoje quero partilhar convosco um filme maravilhoso que descobri recentemente. É um filme mexicano (realizado por Dos Corazones Films - com legendas em português), que se chama "O Grande Milagre" e explica-nos de forma belíssima o que acontece na missa e na confissão, assim como outros aspectos da fé católica.
O filme conta a história de 3 personagens que, por diferentes razões, se encontram em fases muito difíceis das suas vidas: a Mónica, uma jovem viúva, mãe dum menino de 9 anos, que faz tudo o que pode para sustentar sozinha o seu filho, tentando seguir em frente após a morte inesperada do marido. O Sr. Chema, o motorista dum autocarro, que recebe inesperadamente a notícia de que o seu filho corre perigo de vida. E a Sra. Cata, uma idosa que se prepara para o fim da sua vida.
Com um "empurrãozinho" dos seus Anjos da Guarda, as 3 personagens acabam por ir parar ao mesmo tempo a uma missa (numa igreja lindíssima!). E essa missa irá mudar as suas vidas para sempre!
Este filme ilustra a luta constante, nas nossas vidas e em todas as nossas acções, entre o bem e o mal, entre o desespero, o medo e as dificuldades do dia-a-dia e a fé, a esperança e a misericórdia que só o Senhor nos pode dar
É um filme de animação, é verdade, e pode ser visto em família, mas é especialmente direccionado para adolescentes e adultos. Este filme não é bom, É MUITISSIMO BOM! É maravilhoso e extraordinário! É, sem dúvida nenhuma, um dos melhores filmes que já vi!! Recomendo-o vivamente a todos!
Mais uma vez, encontro-me numa altura da minha vida em que tenho pouquíssimo tempo para escrever aqui no blog. Estou actualmente a fazer o meu estágio de Cirurgia Geral. A tese (graças a Deus!!) já está mais de metade feita. E o estudo para o exame final de Medicina está bem encaminhado.
Assim, apenas terei a oportunidade de ir partilhando convosco alguns pedacinhos da minha caminhada Quaresmal de 2017 - que, em meros 5 dias, já me ensinou ui! tanta coisa .... oh, há tantas, tantas coisas que precisam de ser trabalhadas no meu coração. Coisas pequeninas e coisas grandes ... que o Senhor me dê a graça de as ir descobrindo a cada dia e a coragem para as mudar.
«Eu vim chamar os pecadores, para que se arrependam»
Na Cruz, Cristo chama com grandes brados. Ele oferece a paz e dirige-Se a ti, desejando ver-te abraçar o amor: «Pensa só nisto, meu bem-amado! Eu, que sou o Criador sem limite, desposei a carne para poder nascer de uma mulher. Eu, que sou Deus, apresentei-Me aos pobres como seu companheiro: escolhi uma mãe humilde; comi com os publicanos; os pecadores nunca Me inspiraram aversão. Suportei os perseguidores, experimentei o chicote e humilhei-Me até à morte, e morte de cruz (Fil 2,8). Que mais deveria ter feito e não fiz? (Is 5,4) Abri o meu lado à lança. Olha a minha carne ensanguentada, presta atenção à minha cabeça inclinada (Jo 19,30). Aceitei que Me contassem no número dos condenados e eis que, submergido em sofrimentos, morro por ti, para que tu vivas para Mim. Se não fazes grande caso de ti mesmo, se não procuras libertar-te dos laços da morte, arrepende-te, pelo menos agora, por causa de Mim, que derramei por ti o bálsamo precioso do meu próprio sangue. Olha-Me a morrer e detém-te nessa encosta de pecado. Sim, deixa de pecar: custaste-Me tão caro!
Por ti encarnei, por ti nasci, por ti Me submeti à Lei, por ti fui batizado, esmagado de opróbrios, preso, amarrado, coberto de escarros, escarnecido, flagelado, ferido, pregado na cruz, embebedado com vinagre e, por fim, imolado. Por ti. O meu lado está aberto: agarra o meu coração. Corre, abraça-te ao meu pescoço: ofereço-te o meu beijo. Adquiri-te como minha parte da herança, por forma a que nenhum outro te tenha em seu poder. Entrega-te, pois, todo a Mim que Me entreguei totalmente por ti.»
Richard Rolle (c. 1300-1349), eremita inglês Cântico do Amor, 32