Sou uma jovem esposa e mãe católica portuguesa. Neste blog partilho a minha caminhada em busca da santidade e o meu encontro com o amor misericordioso do Senhor. Espero que ele vos possa ajudar a encontrar a alegria do Evangelho!
Sou uma jovem esposa e mãe católica portuguesa. Neste blog partilho a minha caminhada em busca da santidade e o meu encontro com o amor misericordioso do Senhor. Espero que ele vos possa ajudar a encontrar a alegria do Evangelho!
Há algum tempo que penso em escrever este post, mas tenho vindo a adiar e adiar ... sempre na esperança de que a situação vai melhorar em breve ... mas na verdade, não vai.
O meu avô (aquele com quem nós vivemos) foi diagnosticado com doença de Alzheimer há cerca de 1 ano e meio. O diagnóstico não foi surpresa nenhuma para nós, já conhecíamos os sintomas-chave da doença e estavam todos presentes há algum tempo ... o facto dos diversos exames estarem (quase) normais vieram apenas confirmar este diagnostico (que é sempre de exclusão). Concomitantemente, suspeita-se que o avô tenha também uma demência vascular (que é mais frequente que a doença de Alzheimer) que basicamente acaba por ter os mesmos efeitos... só acelera ainda mais o processo ...
Na semana antes de ir para a Missão País, o estado físico do avô agravou num ápice. Ele vinha a envelhecer bastante fisicamente ao longo do último ano, perdendo rapidamente a mobilidade e a força muscular, principalmente a nível dos membros inferiores. Nessa semana, ele praticamente deixou de conseguir andar. E estava a piorar tanto e tão depressa que, por alguns dias, pensávamos que ele poderia morrer a qualquer momento... Eu estive muito perto de não ir à Missão País - acabei por ir, mas com o coração bastante pesado e na promessa de voltar para casa ao menor sinal de qualquer contrariedade...
O avô neste momento está acamado e continua a definhar a cada dia que passa... e nós perguntamo-nos se ele ainda estará connosco no próximo mês, para celebrarmos os seus 81 anos no dia 3 de Maio ...
Esta situação tem sido especialmente difícil para a avó que, além de ser a principal enfermeira e empregada, de dia e de noite, tem também de ver o seu companheiro de há mais de 50 anos a perder-se e a esquecer-se de tudo e de todos ... e a situação piora a cada dia ... e tem sido tão, tão difícil, tanto física como mentalmente, para os quatro cá em casa, lidarmos com tudo ... É sempre preciso muita ajuda para tratar do avô. Dá imenso trabalho. E além disso, passámos a ter que fazer as imensas tarefas que a avó fazia diariamente... sim, tem sido muito, muito, muito difícil....
Porque escrevo eu isto? Também não sei ...
Achei que estava na hora de vos contar porque, apesar de tentar que este blogue seja um local onde qualquer pessoa possa sair daqui a sentir-se melhor, mais alegre, com mais esperança e fé.... na verdade, esta é a minha vida real - confusa, difícil, imperfeita, dolorosa, cheia de frustrações e de dores de cabeça e de lágrimas e ....
O nosso mundo, tal como o conhecíamos, está a desabar. Já nada será como ontem. Aguarda-nos um futuro desconhecido e imprevisível e que nos mete tanto medo ...
Se não fosse o Senhor... ai, se não fosse pelo Senhor.... Com certeza, todas as pessoas desta casa já tinham desabado ....
Ai se não fosse o Senhor a segurar-nos ...
Louvado seja o Senhor! Louvado seja o Senhor, para sempre!
Só por acção da Divina Providência poderia acontecer que, num dia de especial dor e tristeza cá em casa, tenha literalmente chovido emails, cartas, telefonemas e mensagens de apoio inesperadas de todo o lado! Obrigado Senhor, oh, muito obrigado!
Um destes dias, ainda a propósito do dia de Todos os Santos e do dia dos Fiéis Defuntos, o sr. novo padre (lembram-se dele?) disse-nos algo que me pôs a pensar muito.
Até há pouco tempo, a nossa sociedade tinha um grande tabu: a sexualidade. Felizmente, hoje esse tabu desapareceu. Contudo, no seu lugar surgiu outro: a morte e a vida depois da morte. Ninguém quer falar no assunto! Que mau agoiro! Que maus pensamentos! Que ideias horríveis! Não é saudável pensar nisso! Deixem-se disso!
Bem, eu penso bastante na morte. Talvez porque é algo que começa a fazer parte do meu dia a dia, com muita pena minha. Não foi para lutar contra a morte que eu entrei em Medicina, foi precisamente para lutar pela vida.
A propósito da morte, hoje gostava de partilhar convosco uma carta. Uma carta muito especial e muito comovente.
Sabem quem é (ou foi) a Brittany Maynard, certo? Aquela jovem americana a quem foi diagnosticado um volumoso glioblastoma multiforme, um tumor cerebral comum, muito agressivo, mas bastante raro para a sua idade? Aquela jovem americana de 29 anos, que tinha acabado de casar, cheia de vida e cheia de sonhos? Aquela jovem americana a quem foi dado pelos médicos 6 meses de vida? Aquela jovem americana que se mudou para um outro Estado para poder realizar suicídio assistido? Aquela jovem americana que se matou no passado fim de semana?
Eu, infelizmente, só fiquei a saber da sua história depois de ela morrer. Fiquei muito perturbada com ela. Tocou-me e levou-me a reflectir bastante. Mas, apesar de tudo, não consigo, de forma nenhuma, concordar com a decisão que tomou.
Eu não aceito o suicídio assistido. Por questões religiosas. Por convicções pessoais. Pelo juramento de Hipócrates que fiz ao entrar na faculdade:
"Guardarei respeito absoluto pela Vida Humana desde o seu início, mesmo sob ameaça e não farei uso dos meus conhecimentos Médicos contra as leis da Humanidade."
A minha principal missão como cristã, como pessoa e como médica é valorizar, defender, proteger e preservar a vida, de todas as formas possíveis.
Os americanos estão a tentar popularizar que o nome para estes casos seja death-with-dignity (morte com dignidade). Um belo eufemismo na minha opinião, que pretende alterar a juízo das pessoas quanto a este assunto, criando uma falsa áurea de honra e de respeito à volta do suicídio. Estão assim a tentar que o termo Suicídio Assistido deixe de ser utilizado. Não soa bem, dizem eles. Talvez porque soa a verdade, suponho.
O suicídio não possui nada de dignificante nem de nobre! Centenas de grupos, instituições, especialistas, governos, todos desenvolvem ideias, iniciativas e apoios contra o suicídio. O suicídio é quase considerado hoje como uma epidemia. Olhem para as notícias, pais a matarem as famílias e a si próprios, jovens a assassinarem colegas e professores nas escolas e depois a si próprios, ….
O suicídio é algo que se deve combater. Não defender! Quer este seja ASSISTIDO ou não.
Andava eu nesta revolta interior, a lamentar mais uma alma que se perdia e mais umas quantas cabeças que se deixavam levar por este ponto de vista, quando descobri uma carta, escrita por um jovem seminarista americano, também ele com uma neoplasia cerebral em estadio terminal (neoplasia diferente da que teve a jovem americana, mas também ela muito agressiva).
Esta carta foi escrita por Philip G. Johnson a 22 de Outubro (ou seja, dias antes da Brittany se suicidar) e pretendia responder ao apelo que a jovem lançou ao mundo.
Leiam-na, por favor. E dêem-na a ler a todos os que conhecem. Ajudem a combater esta onda de pensamento, que só conduzirá a mais dor, a mais sofrimento e a mais tristeza no mundo.
"Quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas quem perder a sua vida por amor de Mim e do Evangelho, salvá-la-á. Pois que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro se perde a própria vida? O que um homem poderia dar em troca da própria vida?" Marcos 8:35-37