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Uma Jovem Católica

Sou uma jovem esposa e mãe católica portuguesa. Neste blog partilho a minha caminhada em busca da santidade e o meu encontro com o amor misericordioso do Senhor. Espero que ele vos possa ajudar a encontrar a alegria do Evangelho!

Uma Jovem Católica

Sou uma jovem esposa e mãe católica portuguesa. Neste blog partilho a minha caminhada em busca da santidade e o meu encontro com o amor misericordioso do Senhor. Espero que ele vos possa ajudar a encontrar a alegria do Evangelho!

Novena de preparação para o Matrimónio - através do Terço

Hoje partilho convosco a última das três Novenas que ofereci ao meu marido durante o nosso Noivado. É ligeiramente diferente das outras: em vez de ter 1 oração por cada dia, pensei em escrever pequenas orações inspiradas em cada um dos Mistérios do Terço. Assim, nos dias desta Novena, ao rezarmos juntos o Santo Terço, no início da invocação de cada Mistério, liamos também as meditações/orações que escrevi. 

Novena 1 Terço.jpgPara fazer o download, basta clicar aqui (ou na imagem)

 

Espero que a partilha destas Novenas possa abençoar o vosso tempo de namoro, noivado e matrimónio! Amén

Novena de preparação para o Matrimónio - com S. Josémaria Escrivá

Como continuação do post anterior, hoje partilho convosco outra Novena do nosso tempo de Noivado. Encontrei esta Novena no site internacional da Opus Dei, escrita em inglês e da autoria do Rev. James Socias, que eu gostei tanto que tomei a liberdade de a traduzir (de forma livre e amadora, claro - não se esqueçam que o fiz como presente de Natal para o meu marido). Para cada dia da Novena, há um pequeno excerto do livro "Cristo que Passa", de S. Josémaria Escrivá, assim como uma pequena oração, sempre muito bela e profunda. 

 

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Novena de preparação para o Matrimónio

Escrevo-vos este post a poucos dias de celebrarmos o nosso 1º aniversário de Casamento, no próximo dia 10 de Abril. Que ano inacreditável! Que ano tão frutuoso! Que ano tão abençoado pelo Senhor! A Ele, glória eterna!

 

A oração sempre teve um papel primordial tanto na minha vida como na do meu marido. Assim, pouco tempo depois de termos começado a namorar, começámos a rezar o Terço em conjunto, todos os dias. Eu já o rezava diariamente desde 2014 (graças às Famílias de Caná), o que incentivou o Tiago a querer acompanhar-me neste hábito. Este é um dos melhores frutos dum bom namoro e dum bom casamento - o incentivo mútuo a crescer cada vez mais em santidade, adquirindo os bons hábitos do outro!

Sempre que podíamos, tentávamos rezar o Terço ao mesmo tempo, às vezes juntos e presencialmente, outras vezes por telefone ou por Skype, ou então separados mas estabelecendo horários de oração semelhantes. Nem sempre foi fácil, claro, foi preciso vencer muitas vezes a preguiça e a tentação de deixar para depois, e fazer o esforço diário de nos lembrar deste nosso compromisso a dois (independentemente do quão ocupados estivéssemos naquele dia). Mas - rapidamente nos apercebemos - quase tudo feito a dois se tornava mais fácil e acessível!

Pouco tempo depois de termos ficado noivos, decidimos acrescentar um novo hábito de oração em conjunto: rezarmos uma Novena por mês. Começámos com a Novena da Natividade de Nossa Senhora em Setembro, depois pelas almas do Purgatório em Outubro-Novembro, e por fim a Novena para a Imaculada Conceição em Dezembro. Nesse Natal, pensei em presentear o Tiago com mais 3 Novenas - elaboradas por mim - para os últimos 3 meses antes do dia do nosso Matrimónio. 

 

Hoje partilho convosco a primeira dessas Novenas! Para esta Novena, escrevi as orações de cada dia tendo por base as diversas Cartas do Apóstolo S. Paulo que podem ser escolhidas do Ritual do Matrimónio. Espero que ela vos possa abençoar tanto como nos abençoou a nós!

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Acompanhando Jesus no Jardim das Oliveiras

Depois de cantarem os salmos, saíram para o Monte das Oliveiras. (Mt 26,30)

Acompanhemos Jesus no início da Sua Paixão. Sempre achei curioso que esta fosse a única ocasião em que os Evangelhos nos dizem que Jesus cantou. Ele sabia de antemão tudo o que ía acontecer e, ainda assim, cantou. Junto dos discípulos por Ele amados, Ele cantou as maravilhas do Deus que salva. Louvou e adorou o Senhor, Deus de Israel, cantando-Lhe, agradecido, todos os Seus feitos maravilhosos até aquela altura - e, mais ainda, todas as Suas Obras a partir daquele momento, para sempre memorável.

Jesus saiu com os discípulos para o outro lado da torrente do Cédron, onde havia um horto, e ali entrou com os Seus discípulos. Judas, aquele que O ia entregar, conhecia bem o sítio, porque Jesus Se reunia ali frequentemente com os discípulos. (Jo 18, 1-2)

Estamos em plena noite, após a Última Ceia no Cenáculo, em que Jesus Se ofereceu como verdadeiro Alimento, o Pão Vivo descido do Céu, que nos promete dar acesso à Vida Eterna do amor de Deus. É de noite, mas o caminho é conhecido, tanto por Jesus, como pelos discípulos. Já o fizeram antes várias vezes. Sabem que têm primeiro que descer, até passarem perto da casa do Sumo Sacerdote Caifás, e depois começar a subir. Os discípulos não podiam adivinhar, mas Jesus sabia perfeitamente que, horas mais tarde, no início do novo dia, seria trazido pelos soldados até àquela casa, algemado e maltratado pelo caminho, para aí ser julgado e condenado pelos judeus. 

Mas, por agora, é tempo de subir a rua e passar a grande ponte que, naquela altura, ligava a zona principal da cidade de Jerusalém até ao Monte das Oliveiras, na direção de Betânia, onde era a casa dos irmãos Lázaro, Maria e Marta, a 3km de distância. 

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Getsemani na actualidade - foto tirada em 2019, na minha viagem à Terra Santa

O local do Getsemani, ou o Monte das Oliveiras, devia o seu nome ao extenso olival que ali tinha sido plantado, séculos antes. Era, assim, um jardim de oliveiras - o que, claro, me faz lembrar do jardim do Éden. Jesus é o novo e eterno Adão. Em vez do velho Adão, que se deixou levar pelo pecado de rebelia contra a vontade expressa de Deus - comendo do fruto proibido que lhe trouxe a morte e, através dele, a toda a humanidade - Jesus, o novo Adão, vencerá o pecado, escolhendo fazer, com toda a liberdade que só o verdadeiro amor pode exercer, a Divina vontade do Senhor - e assim redimir, a partir daquele momento, todo o género humano - passado, presente e futuro. 

No centro desse jardim das oliveiras encontrava-se uma prensa que permitia fazer o azeite a partir das azeitonas, à semelhança da árvore do conhecimento do bem e do mal localizada no centro do jardim do Éden. Na altura certa do ano, depois de terem sido arrancadas dos ramos das árvores, as azeitonas eram lançadas nessa prensa, para primeiro serem moídas e trituradas e depois prensadas. Sobre elas era colocado um enorme peso, que ía ficando cada vez mais e mais forte, apertado, constritivo. Até que, por fim, desse processo asfixiante, acontecia um autêntico "milagre" do "martírio" das pobres azeitonas: um líquido dourado, de aroma intenso e textura suave, o azeite. Este azeite, além de ser usado para cozinhar e assim alimentar todo o povo, também era usado na cicatrização das feridas, na iluminação das casas se colocado em candeias, ou usado para purificar, abençoar e ungir tanto coisas como pessoas ao serviço do Senhor no Templo de Jerusalém. 

Podia o Senhor ter usado um local melhor para nos ensinar o que estava a acontecer a Jesus, naquele jardim de agonia? 

Jesus chegou com os Seus discípulos a um lugar chamado Getsémani e disse-lhes: «Sentai-vos aqui, enquanto Eu vou além orar.» E, levando consigo Pedro e os dois filhos de Zebedeu, começou a entristecer-Se e a angustiar-Se. Disse-lhes, então: «A Minha alma está numa tristeza de morte; ficai aqui e vigiai Comigo.» (Mt 26, 36-38)

A oração de Jesus no Monte das Oliveiras é de tal importância e teve tão grande impacto nas primeiras comunidades cristãs, que dela temos, até hoje, 5 versões, uma por cada Evangelista e ainda outra pelo autor da Carta aos Hebreus. 

Diz-nos o papa Bento XVI, acerca da angústia que assalta Jesus neste momento: 

"É a perturbação particular d'Aquele que é a própria Vida diante do abismo de todo o poder da destruição, do mal, daquilo que se opõe a Deus e que agora Lhe cai directamente em cima, que Ele de modo imediato deve agora tomar sobre Si, aliás deve acolher dentro de Si até ao ponto de ser pessoalmente «feito pecado» (cf 2 Cor 5,21).

Precisamente porque é o Filho, vê com extrema clareza toda a amplitude da maré imunda do mal, todo o poder da mentira e da soberba, toda a astúcia e a atrocidade do mal, que se apresenta com a máscara da vida mas serve continuamente a destruição do ser, a deturpação e o aniquilamento da vida. Precisamente porque é o Filho, sente profundamente o horror, toda a imundície e perfíria que deve beber naquele «cálice» que Lhe está destinado - todo o poder do pecado e da morte. Ele tem de acolher tudo isso dentro de Si mesmo, para que n'Ele fique despojado do poder e superado."

Livro do Papa Bento XVI, "Jesus de Nazaré",  pág. 130 e 131

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Uma das imagens que melhor representa o que Jesus viveu na agonia do Getsemani - imagem retirada daqui

Cheio de angústia, [Jesus] pôs-Se a orar incessantemente e o suor tornou-Se-lhe como grossas gotas de sangue, que caíam na terra. (Lc 22,44)

Os Apóstolos deviam estar habituados ao estado sempre sereno de Jesus, mesmo perante discussões com os fariseus, ou perseguições dos habitantes das aldeias da Judeia, ou até mesmo durante as violentas tempestades em pleno mar da Galileia. Esta deverá ter sido a primeira vez que os discípulos O viram tão transtornado, tão desfigurado, tão esmagado pela dor e o peso do pecado do mundo. Nem mesmo naquela outra vez, em que Jesus revirou as mesas dos comerciantes dentro do Templo sagrado do Senhor, usando um chicote para os expulsar da casa do Seu Pai - nem mesmo dessa vez, O tinham visto como agora.

[Jesus] disse-lhes: «Orai, para que não entreis em tentação.» Depois afastou-Se deles (...) e, pondo-Se de joelhos, começou a orar, dizendo: «Pai, se quiseres, afasta de Mim este cálice; contudo, não se faça a Minha vontade, mas a Tua.» (Lc 22, 40-42)

Disse-lhes então [Jesus]: «A Minha alma está numa tristeza de morte; ficai aqui e vigiai Comigo.» E, adiantando-Se um pouco mais, caiu com a face por terra, orando e dizendo: «Meu Pai, se é possível, afaste-se de Mim este cálice. No entanto, não seja como Eu quero, mas como Tu queres.» (Mt 26, 38-39)

É a primeira vez, nos Evangelhos, que nos é descrita a posição que Jesus adopta ao rezar. Põe-se primeiro de joelhos, numa postura de vulnerabilidade e pequenez, e depois prostra-Se no chão duro e frio, com o rosto por terra. Assim, o Seu rosto enche-se de pó, transformado em lama pela mistura com as gotas de suor e sangue. Pó da terra - como tu e eu e toda a humanidade. Abaixando-Se em infinito, humilhando-Se, Jesus chega até nós, mero pó da terra, para mais tarde nos erguer Consigo (no ano passado, escrevi um post sobre esta analogia). Não há como os Apóstolos não compreenderem que, aquele momento na vida de Jesus, é absolutamente importante, decisivo e cheio de significado. Tanto para Ele, como para nós ... 

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Interior da Igreja da Agonia, em Jerusalém (2019), erguida sobre o exacto local da agonia de Jesus. É uma igreja (adequadamente) muito escura e silenciosa. A pedra sobre a qual Jesus terá passado a noite em oração, encontra-se imediatamente à frente do altar, e está rodeada duma escultura com a forma duma coroa de espinhos, com um cálice no centro. 

Jesus disse aos discípulos: «Ficai aqui enquanto Eu vou orar.» Tomando consigo Pedro, Tiago e João, começou a sentir pavor e a angustiar-Se. (Mc 14, 32-33)

Era necessário que todos os díscipulos O acompanhassem e vivessem o que ía acontecer naquela noite e naquela madrugada, para mais tarde o testemunharem. Mas apenas Pedro, Tiago e João podiam experienciar de forma detalhada, próxima e íntima, aquilo que estava prestes a acontecer com Jesus. Porquê? 

Porque eram os únicos que podiam compreender - realmente compreender - o que ía a acontecer. Eram os únicos que tinham sido preparados e fortalecidos, ao longo daqueles três anos de ministério de Jesus, para o que iam ver, sentir e viver naquela noite do início da nossa Redenção. Pedro, Tiago e João tinham sido os únicos a poderem estar presentes naquele dia extraordinário em que Jesus trouxe de novo à vida a filha de Jairo. A sua ressurreição era um sinal do que ia acontecer com Jesus e, através Dele, com a Igreja. 

Mais tarde, no topo de outro monte, como o qual se encontram nesta noite, Pedro, Tiago e João tinham testemunhado a Transfiguração de Jesus, o Seu rosto brilhante como a luz do sol e as Suas vestes brancas como a maior pureza de sempre. Tinha sido a manifestação plena da Sua Divindade. Agora iriam testemunhar a manifestação plena da Sua Humanidade. Nesta noite interminável, eles voltarão a ver outra tranfiguração de Jesus - Seu rosto modificado pela dor e pelo suor de sangue, as Suas vestes rasgadas e manchadas de sangue pela Sua paixão. Mais tarde, em apenas três dias, tal como Jesus tinha prometido, voltarão a vê-Lo mais uma vez transfigurado, desta vez com uma alegria eterna no rosto e um glorioso corpo ressuscitado.

Como deve ter sido grande a desilusão de Jesus, naquela noite. Estes três discípulos tinham sido amorosamente escolhidos e preparados para O acompanharem naquele momento, mas até eles falecem e adormecem, até eles sucumbem aos poderes da carne e do mundo. Até eles O abandonam ... Nunca Jesus Se sentiu tão só como naquela noite ... 

Voltando para junto dos discípulos, [Jesus] encontrou-os a dormir e disse a Pedro: «Nem sequer pudeste vigiar uma hora Comigo! Vigiai e orai, para não cairdes em tentação. O espírito está pronto, mas a carne é débil.»

Afastou-Se, pela segunda vez, e foi orar, dizendo: «Meu Pai, se este cálice não pode passar sem que Eu o beba, faça-Se a Tua vontade!» 

Depois voltou e encontrou-os novamente a dormir, pois os seus olhos estavam pesados. Deixou-os e foi orar de novo pela terceira vez, repetindo as mesmas palavras. (Mt 26, 40-44)

Por três vezes Jesus pede-lhes (implora-lhes!) que rezem, que vigiem e que O acompanhem naquele momento de agonia. Faz-me lembrar das três tentações pelas quais Jesus passa no deserto, sendo tentado por Satanás. Também aqui volta a sê-Lo. Uma vez ouvi alguém dizer que, na primeira parte da noite, Jesus viveu a agonia de todos os pecados e maldades que já tinham sido cometidos no passado; na segunda parte, pelos pecados e iniquidades que estavam a ser cometidos naquele momento da História e, por fim, já de madrugada, por todos os pecados que viriam a ser cometidos no futuro (como os meus e os teus). 

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Oportunidade única e inesquecível de poder tocar nesta pedra e de rezar neste local sagrado (foto gentilmente tirada por outro peregrino, na altura sem eu me aperceber) - peregrinação à Terra Santa 2019.

Reunindo-Se finalmente aos discípulos, disse-lhes [Jesus]: «Continuai a dormir e a descansar! Já se aproxima a hora, e o Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos pecadores. Levantai-vos, vamos! Já se aproxima aquele que Me vai entregar.» (Mt 26, 45-46)

Como fico sempre que o leio, estas palavras surpreendem-me. Então Jesus? É para continuar a dormir e descansar, ou é para nos levantarmos com pressa? Ambos. Paradoxalmente, é para fazermos ambos. Por um lado, devemos, sim, ter uma santa pressa em seguir Jesus e em pôr em prática aquilo que Ele nos pede e partilha connosco durante a nossa oração. Devemos ter pressa em servir, em obedecer, em fazer a vontade do Senhor. Mas devemos fazê-lo de forma tranquila, serena, confiantes no poder do Deus que nos chama e na Sua infinita graça, capaz de alcançar tudo em nós. Lembra-te, Marisa, que é assim que deverá sempre viver um cristão ... 

 

Sejamos luz, sejamos sal, sejamos fermento

Queridos leitores, queridos amigos

Este texto é um rascunho, um texto em construção, escrito à pressa e saído do coração. Escrevo-vos estas palavras, em parte, como médica de família que sou - mas, principalmente e acima de tudo, como cristã

Temos vivido dias difíceis e turbulentos, tanto aqui em Portugal, como por todo o mundo. Existe uma ameaça que a todos nós poderá afectar e sobre a qual sabemos muito pouco... Vive-se por todo o lado um clima de perigo, de medo, de ansiedade, de incerteza ... que parece estar a ser muitíssimo mais contagiante na nossa sociedade do que o próprio vírus. 

Não posso deixar de reparar que toda esta situação tem surgido, pelo menos aqui na Europa, em plena época Quaresmal, em que Deus, através da Igreja, nos convida a crescer em santidade, a arrependermo-nos dos nossos pecados, a crescer em amor pelos irmãos e pelo Senhor, ao deixarmo-nos amar pelo próprio Amor. Não podia acontecer numa altura mais adequada ... - dou por mim a pensar.

E assim, no meio deste caos, deste medo, desta ansiedade, desta incerteza toda que nos rodeia, escrevo-vos esta pequena exortação, este pequeno apelo - para que nos atrevamos a ser luz e sal e fermento neste mundo, como Jesus nos pediu. 

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O Senhor não podia usar uma situação mais perfeita do que esta para nos incentivar ao exercício das virtudes cristãs! Ao longo da Quaresma, somos chamados a ter o jejum, a esmola e a oração como "companheiros desta nossa viagem" (como o Papa Francisco nos disse) de conversão, de mudança de coração.

Exerçamos a virtude da paciência (esmola): tenhamos paciência uns com os outros, com os da nossa casa, com a nossa família, com os nossos vizinhos, com os nossos colegas, com as pessoas com que contactamos na rua e no trabalho. Tenhamos paciência com todos os profissionais de saúde, médicos, enfermeiros, auxiliares, técnicos, investigadores - nenhum de nós tem, neste momento, as respostas a todas as perguntas que nos inquietam o coração ... Ninguém sabe o porquê, nem o como, nem o onde, nem o quando, nem o quanto - para a maioria das perguntas que nos fazem constantemente. Nós não sabemos ... É excruciantemente difícil viver nesta incerteza, eu sei, eu sei muito bem... Mas somos cristãos, nós sabemos em Quem pomos a nossa esperança, a nossa segurança, a nossa confiança - transmitamos isso, no dia a dia, a todos os que nos rodeiam. 

Exerçamos a virtude da obediência (jejum): cumpramos rigorosamente todas (TODAS!) as recomendações que as autoridades nos façam, por mais pequenas ou maiores que sejam. Sejamos obedientes e não rebeldes: mesmo que não compreendamos porquê, mesmo que não concordemos, mesmo que nos pareça desnecessário - cumpram! Façam esse esforço e incentivem os outros a fazerem o mesmo.

Exerçamos a virtude da correção fraterna (esmola): aceitemos ser corrigidos e ajudados, uns pelos outros. Utilizemos esta oportunidade para aprendermos a corrigir os irmãos com simpatia, com delicadeza, com respeito, mas nunca deixando de corrigir se algo está mal.

Exerçamos a virtude da caridade pelo próximo (jejum e esmola): estejamos dispostos a fazer pequenos (ou grandes) sacrifícios, pelo bem e segurança dum maior número de pessoas. Sim, mesmo se acharmos que elas não merecem! Pensemos na nossa família, sim, e tentemos protegê-la tanto quanto conseguirmos; mas pensem também nas outras famílias e nas outras pessoas. 

Mais importante que tudo - rezem! Oh, por favor, rezem!! Intercedam por nós, que tentamos combater e controlar este perigo. Intercedam por todas as pessoas e famílias afectadas pelo vírus, mas sem nunca esquecer todas as outras pessoas e famílias que têm outras doenças, muito mais numerosas, a quem nem sempre estamos a dar tanta atenção e dedicação como deveríamos... Rezem por todas as pessoas que têm a difícil tarefa de tomar decisões em nome de todos, para que as façam inspirados pelo Espírito Santo. Rezem por paciência, por sabedoria, por discernimento - para todos! Peçam, incessantemente, a paz do Senhor, a confiança, a esperança, a fé, o amor - que nós não temos, a não ser que o Senhor nos ofereça - porque tudo (TUDO!) o que há de bom neste mundo vem Dele, única e exclusivamente Dele.

Atrevamo-nos a ser cristãos no meio desta sociedade, que parece estar desnorteada com tanto medo. Somos todos chamados, sem excepção: peguemos na nossa Bíblia e no nosso Terço e atrevamo-nos a ser luz, a ser sal, a ser fermento.... 

Jordânia, a terra que nos lembra de rezar

  †   Peregrinação: do EGIPTO à TERRA SANTA ~  2019   †  

 ~  Egipto - Jordânia - Israel - Palestina  ~ 

 

Tanto o nosso 4º como 5º dia de peregrinação estão bastante enublados na minha memória, principalmente devido à valente gastroenterite que nos assolou ... Foram os dias em que saímos do Egipto, atravessámos a fronteira e entrámos na Jordânia. Eu sinceramente só me lembro das náuseas, do mal estar geral, das cólicas intensas, da diarreia interminável e do calor, oh o calor húmido, tão intenso e difícil de suportar, que quase não nos permitia respirar ... Sim, foram dias bem difíceis... 

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Apesar disso, na Jordânia, fomos calorosamente recebidos pelo nosso novo guia jordaniano, Luai, que tinha um maravilhoso sentido de humor. Oh, Deus abençoou-nos muito com todos os guias que escolheu para a nossa peregrinação!

Ao longo dos dias e das viagens, o Luai, além de partilhar muito do seu conhecimento arqueológico, histórico, cultural e político, foi-nos abrindo aos poucos o seu coração e contando a sua história de vida.

Ele nasceu numa família muçulmana praticante mas a sua juventude levou-o a afastar-se bastante da sua religião ... o que não correu nada bem, claro. Com a idade (e com as dificuldades da vida), aos poucos o Luai foi-se aproximando de novo do Deus a que ele chama Alá e da religião dos seus pais e irmãos, o Islão, que hoje vive em pleno.

 

Sabem, eu nunca tinha ouvido um muçulmano falar de Jesus. Não estava, de todo, preparada para o enorme respeito e admiração com que o Luai nos falaria de Jesus - um dos Profetas mais importantes no Islamismo, pelo o que ele nos contou - e muito menos de Maria! Sim, pelos vistos, as mães são muitíssimo valorizadas na religião Islã, e a Mãe de um dos principais Profetas não é excepção... 

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Com a ajuda e as explicações do Luai, foi possível aprender e compreender bastante acerca do Islão - que é talvez uma das poucas religiões que eu não tinha explorado na minha própria juventude...

 

Mas, apesar de tudo, parece-me que o Islão, tal como o Judaísmo, é daquelas religiões que apenas percebeu uma parte da mensagem de Deus à humanidade por Ele criada e tão, tão amada ... Sim, parece que não a compreenderam por completo, em pleno, na totalidade... Deixaram "escapar" muitas coisas importantes e uma delas, parece-me, é que Deus não deseja ser conhecido como o Deus da Vitória, nem do Poder, nem do Sucesso, nem da Glória, nem da Vingança ... mas quer, sim, ser conhecido (intimamente conhecido, por cada um de nós) como o Deus que é Amor, Misericórdia, Bondade,  Humildade, Perdão ...

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Uma das coisas que eu ouvia os outros peregrinos a comentarem, ao longo da nossa viagem, era o quanto lhes incomodava ouvirem, cinco vezes ao longo do dia, o bem audível chamamento religioso das mesquitas locais (o Salat)...

Até hoje, continuo sem saber dizer bem se vi mais mesquitas no Egipto ou na Jordânia (a meu ver, havia uma em cada esquina em ambos!), mas nestes dois países, este longo e audível chamamento estava sempre presente, onde quer que fossemos, aonde quer que tivéssemos...

 

O primeiro chamamento do dia ocorria bem antes do sol nascer, o que, nestes países, acontecia por volta das quatro e meia da manhã e depois às cinco e meia (e garanto-vos que acordava toda a gente!). O segundo, ao meio dia; o terceiro, por volta das quatro da tarde; o quarto pelas dezoito ou dezanove horas e o último, uma hora e meia depois do pôr do sol, ou seja, por volta das vinte e duas horas. 

 

Para mim, este chamamento era bastante bem-vindo - porque lembrava-me sempre da principal razão da minha peregrinação - rezar!

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Mar Morto, lado jordaniano

 

A minha maior admiração foi, contudo, descobrir que a maioria dos peregrinos não fazia ideia que também nós, católicos, somos chamados a rezar várias vezes por dia, seguindo a Liturgia das Horas (ou Ofício Divino). Sim, é mesmo verdade: também nós somos chamados a largar, por breves momentos, a nossa cama quentinha e fofa, o nosso trabalho diário, as nossas refeições, as nossas tarefas, a nossa noite; e elevar o nosso coração, nem que por breves instantes, até junto de Deus, agradecendo-Lhe e louvando-O por todas as bênçãos que continuamente recebemos, e pedindo-Lhe o auxílio necessário para fazermos santamente todas as actividades da nossa vida - tal como vemos acontecer logo no livro dos Actos dos Apóstolos!

 

Chamam-se Laudes - a primeira oração da manhã, em que oferecemos o nosso novo dia ao Senhor; Hora Intermédia - a oração a meio do nosso dia de trabalho, para nos fazer lembrar da verdadeira razão pela qual fazemos tudo; Vésperas - a oração do final da tarde, em que agradecemos ao Senhor pelo nosso dia; e, por fim, Completas - a oração da noite, antes mesmo de ir para a cama, fazendo o nosso exame de consciência.

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Mar Morto, lado jordaniano

Também estas devem ser orações públicas e comunitárias, tal como ainda hoje acontece nos conventos, nos mosteiros e em diversas igrejas, tanto grandes como pequeninas, espalhadas pelo mundo ... mas, como isso raramente é possível nas nossas vidas agitadas, a Igreja permite-nos que façamos estas orações duma forma mais isolada e interiormente. 

 

E as orações que somos convidados a ir fazendo ao longo do dia, têm de ser sempre fixas e estruturadas e lidas dum livro? Oh, claro que não!

Pode ser qualquer oração que o vosso coração faça ou precise, naquele momento; pode ser um cântico; pode ser um pequeno Nós, Jesus... ou um Senhor, obrigado ... um Por Ti, meu Deus ... um Senhor ofereço-te ... um Jesus ajuda-me ... um Espírito Santo inspira-me ... um Maria, sê minha mãe também ... 

Como sabem, as Famílias de Caná são peritas neste tipo de mini-orações 

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Mar Morto, lado jordaniano

 

É verdade, podemos não ter exactamente alguém a cantar ao microfone às horas certinhas e altifalantes espalhados pela cidade (como os países muçulmanos têm), ou então belos sinos a tocar (como nos conventos) que nos relembrem de parar e rezar.

Mas temos sim, se o nosso coração estiver disposto a ouvir, outros tipos de "chamamentos" - o despertador a tocar, as buzinas dos carros no trânsito ou o apito do comboio ou metro, a campainha da escola, a pausa do almoço, o filho que quer insistentemente lanchar, a fila no supermercado, a campainha do microondas ou do forno a dizer-nos que o jantar está pronto, o suspiro ao deitar finalmente a cabeça na almofada, o choro do bebé que nos vai acordando ao longo da noite ... que nos lembram de parar e rezar ....

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Mar Morto, lado jordaniano

 

Talvez uma das perguntas que mais me fazem no trabalho, quando descobrem que eu sou uma médica católica, é perguntar: porque é que vocês católicos rezam tanto?

Ora, eu desafio-vos a escolherem um Evangelho, a abrirem uma página ao calhas e a tentarem descobrir uma única página onde não exista uma referência de Jesus a rezar ou a dizer-nos insistentemente para o fazer! 

Vá, tentem lá descobrir, se conseguirem, e eu até vos dou um rebuçado! 

 

Para nós, cristãos e católicos, rezar devia ser tão essencial e presente como respirar ...

 

Para quem quiser aprender um pouco mais sobre a Liturgia das Horas, pode ler aqui.

 

  †   Peregrinação: do EGIPTO à TERRA SANTA ~  2019   †  

 ~  Egipto - Jordânia - Israel - Palestina  ~ 

A subida até ao topo do Monte Sinai

  †   Peregrinação: do EGIPTO à TERRA SANTA ~  2019   †  

 ~  Egipto - Jordânia - Israel - Palestina  ~ 

 

Chegamos, bem ao final da tardinha, a Santa Catarina, no Sinai. E ninguém consegue esconder o seu sorriso bem aberto. Chegámos ao Monte Sinai! Chegámos ao Monte Sinai! 

Na terceira Lua-nova depois da saída dos filhos de Israel da terra do Egipto, naquele mesmo dia, chegaram ao deserto do Sinai. Partiram de Refidim e chegaram ao deserto do Sinai e acamparam no deserto. Israel acampou lá, diante da montanha.

Ex 19, 1-2

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Mosteiro de Santa Catarina, no sopé do Monte Sinai

 

Este local é tão importante que tem até diversos nomes - Monte Sinai, Monte Horeb, Jebel Musa, Monte ou Montanha de Moisés - tudo sinónimos para a mesma localização geográfica.

Aliás, o Sinai não é apenas um só monte, mas sim um conjunto de montanhas. A mais alta delas todas é chamada de Montanha de Santa Catarina (com cerca 2.600m de altura - é o ponto mais alto de todo o Egipto). A 2ª montanha mais alta é conhecida como a Montanha de Moisés (com cerca de 2.200m de altura) e é a esta que damos maior relevância. Mas porquê tanto alarido em relação a este Monte?

 

Bem, por um lado, o povo hebreu passou mais de 1 ano nesta região (como nos é dito em Nm 10, 11) durante a sua travessia do deserto. A partir do capítulo 19 até ao final do livro do Êxodo, todos os acontecimentos relatados passaram-se aqui. E qual o acontecimento mais importante?

A Aliança que o nosso Deus fez com o Seu povo escolhido, através de Moisés e dos Dez Mandamentos.

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Chegámos aqui mais tarde que o previsto (por causa do nosso banho no Mar Vermelho), já passa da hora de jantar e por isso temos apenas alguns minutos para apreciar este local ainda sob a luz do dia. Falamos pouco, estamos todos com fome e muito cansados da longa viagem de autocarro....

 

Mas eu só tentava olhar em todas as direcções, tentando captar na minha memória todas as imagens que conseguisse. Foi aqui! Foi mesmo aqui! Quem é que consegue pensar em comida? Pessoal, será que ninguém compreende a importância deste local?

Claro que sim, claro que compreendem, mas somos meros humanos e estamos muito, muito cansados da viagem ...

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Moisés subiu até junto de Deus. Da montanha o Senhor chamou-o, dizendo: «Assim dirás à casa de Jacob e declararás aos filhos de Israel:

'Vós vistes o que Eu fiz ao Egipto, como vos carreguei sobre asas de águia e vos trouxe até Mim. E agora, se escutardes bem a minha voz e guardardes a minha aliança, sereis para Mim uma propriedade particular entre todos os povos, porque é Minha a terra inteira. Vós sereis para Mim um reino de sacerdotes e uma nação santa.’

Estas são as palavras que transmitirás aos filhos de Israel.»

Moisés veio e chamou os anciãos do povo e pôs diante deles todas estas palavras, como o Senhor lhe tinha ordenado.

Ex 19, 3-7

Tal como ao povo hebreu, também a nós é feita um proposta: alguém quer subir, durante a noite, até ao topo do Monte Sinai? Até ao preciso local onde Moisés recebeu as tábuas com as Leis de Deus?

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Partiríamos por volta da meia noite, com um guia beduíno (porque sozinhos facilmente nos perderíamos) e lanternas nas mãos. Seriam cerca de 3h e meia a pé, sempre, sempre, sempre a subir, por terreno irregular, por vezes encostas, por vezes degraus improvisados, por vezes praticamente a escalar. Subiríamos 2.200 metros em altura mas andaríamos pelo menos 7km até lá chegar. Lá em cima, o ar tornar-se-ia mais rarefeito e seria mais difícil respirar. Quando estivéssemos quase bem lá em cima, no local onde Aarão e os 70 sábios esperaram por Moisés, esperar-nos-ia ainda mais 750 degraus, feitos pelos monges que em tempos ali viveram. E assim por fim chegaríamos ao topo da Montanha de Moisés.

Depois, bem, tínhamos de descer tudo outra vez, outras 3 horas de caminho e escalada, enquanto o novo dia estivesse a raiar. Quando finalmente chegássemos cá abaixo, seria altura de tomar o pequeno-almoço e seguir a nossa preenchida peregrinação, em direcção à Jordânia. 

Quem estiver interessado, que compareça à hora marcada na entrada do hotel...

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É loucura, dizem quase todos... Estamos demasiado cansados! 

É loucura sim ... 

Moisés subiu com Aarão, Nadab e Abiú, e setenta dos anciãos de Israel.

O Senhor disse a Moisés: «Sobe até Mim, ao alto da montanha; e fica ali para que Eu te dê as tábuas de pedra, com as leis e os mandamentos que nelas escrevi, para lhos ensinares.» 

 

Moisés partiu com Josué, seu servidor, e subiu ao monte de Deus. E aos anciãos ele disse: «Esperai aqui por nós até regressarmos para junto de vós. Eis que Aarão e Hur ficam convosco.»

E Moisés subiu à montanha. A nuvem cobria a montanha, e a glória do Senhor permaneceu sobre a montanha do Sinai, e a nuvem envolveu-o durante seis dias. No sétimo dia, o Senhor chamou por Moisés do meio da nuvem. Aos olhos dos filhos de Israel, a majestade do Senhor tinha o aspecto de um fogo devorador no cimo da montanha.

Moisés entrou pelo meio da nuvem e subiu à montanha, e ali esteve Moisés durante quarenta dias e quarenta noites.

Ex 24, 9; 12-14; 15-18

À hora marcada, aparecemos 6 peregrinos, sorrisos nervosos na cara, casacos vestidos que a noite prometia ser fria, lanternas e telemóveis na mão para nos guiar no caminho. E o mais importante? O coração cheio de orações...

E foi tudo exactamente como nos descreveram ... 

 

Para mim, mais parecia a subida do Calvário. Foi difícil, foi verdadeiramente difícil. Durante a subida, cada um de nós desejou desistir em algum momento - não é possível, já não consigo mais - mas uns minutinhos de descanso, muitas palavras de alento, espírito de equipa bem aceso, por vezes até uma anedota ou duas, e toca a continuar, todos juntos!

Durante a subida, ouvia-se da nossa boca algumas orações curtas (à boa moda das Famílias de Caná, pensei eu), intercortadas pela respiração forte e pelo esforço: Senhor, ajuda-me... Senhor ajuda-nos ... Jesus ... manso e humilde de coração ... tende piedade de nós pecadores ... e de todo o mundo ... Oh minha Mãe ... 

Eu rezava interiormente o Terço e tentava expressar todas as incontáveis intenções de oração que levava no coração, pedindo a intercessão de todos os Santos e Santas que conhecia ....

 

E a noite passou... Quando demos por isso, estávamos lá em cima no topo do Monte Sinai!

Oh, as expressões de louvor, as orações espontâneas, os cânticos ... e por fim o silêncio, oh o silêncio de quem tem o coração cheio de Deus e nada mais é necessário....

Aquilo que me lembro mais é do céu estrelado, um céu estrelado como eu nunca tinha visto, e de tantas, tantas estrelas cadentes ... Como Deus é bom!

Depois de ter acabado de falar a Moisés no monte Sinai, Deus entregou-lhe as duas tábuas do testemunho, tábuas de pedra, escritas com o Seu dedo.

Ex 31, 18

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Mas aquilo que é bom, realmente bom, termina depressa e é altura de começarmos a nossa descida ... 

Moisés desceu do monte Sinai, trazendo na mão as duas tábuas do testemunho.

Não sabia, enquanto descia o monte, que a pele do seu rosto resplandecia, depois de ter falado com Deus.

Ex 34, 29

Ao descermos, alegres e contentes, reanimados pelo Espírito Santo, encontramos outros grupos de peregrinos de outros países a subirem, com os rostos desfigurados pelo esforço e sofrimento.

E eu vou repetindo vezes e vezes sem conta: You are almost there! You can do it! May God bless you! You are almost there! You can do it!

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♪ Porque toda a Vida vem de Ti. Em Tua Luz, vejo a Luz!

Porque toda a Vida vem de Ti. E Tua Luz, faz-me ver a Luz! ♫

 

Ao descer, ainda temos tempo para um chá improvisado, contemplando o maravilhoso amanhecer que floresce à nossa frente, tal como as promessas de Deus a Moisés ... e também para uma imperiosa ida à casa de banho (o início daquela que seria a grande "praga" da nossa peregrinação, a valente gastroenterite que afectaria quase todo o nosso grupo de peregrinos durante o resto da nossa viagem ....) 

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O Senhor é a minha força, ao Senhor o meu canto.

Ele é nosso Salvador, n'Ele eu confio e nada temo

N'Ele eu confio e nada temo ♪

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♪ Deus precisa de mim

Muito mais que possas imaginar (bis)

Precisa de mim, muito mais que a terra

Precisa de mim, muito mais que o mar

Precisa de mim, muito mais que os astros

Precisa de mim (bis)

Deus precisa de ti .... 

Deus precisa de nós .... ♫

 

Olhem, pessoal, o que é aquilo? Eu só posso estar a sonhar! Estarei a ver bem?

Nem consigo acreditar, são mesmo codornizes!

Os filhos de Israel puseram-se a chorar, dizendo: «Quem nos dará carne para comer? Lembramo-nos do peixe que comíamos de graça no Egipto, dos pepinos, dos melões, dos alhos porros, das cebolas e dos alhos. Agora, a nossa garganta está seca; não há nada diante de nós senão maná.»

Levantou-se, entretanto, um vento enviado pelo Senhor, vindo do mar e trouxe codornizes. Todo o povo naquele dia e naquela noite e em todo o dia seguinte se pôs a apanhar codornizes.

Nm 11, 4-6;  31a;  32a

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Não fui a tempo de fotografar as codornizes, perdoem-me ... 

♫ Amor tão grande, profundo e sublime,

Esse é o Amor do meu Criador

Não há nada no mundo,

Que possa igualar-se

Ao terno Amor do meu Bom Jesus

 

Deus de Amor (Deus de Amor)

Oh, Deus de Amor (oh, Deus de Amor)

Tu és o único (Tu és o único)

Ó Deus de Amor.

Não há outro Deus (não, não há)

Fora de Ti (fora de Ti)

Fora de Ti (para mim) para mim (para mim)

Não há Amor! 

 

E querem saber uma coisa muito engraçada, que nenhum de nós tinha reparado no dia anterior?

O Monte Sinai é cor de rosa!! Sim, é mesmo cor de rosa!!

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Esta foto não captou bem a tonalidade do Monte Sinai, mas basta procurarem no google - é mesmo cor de rosa!

 

No sopé da montanha, o mundo começava a acordar, devagarinho ... e nós com tanto para contar!!!

Mas talvez seja uma boa ideia dormir no autocarro - só desta vez ... 

 

  †   Peregrinação: do EGIPTO à TERRA SANTA ~  2019   †  

 ~  Egipto - Jordânia - Israel - Palestina  ~ 

O esforço do nosso "Sim" diário à vontade de Deus

Nos últimos anos, tenho vivido um intenso processo de discernimento vocacional que, pela transbordante e imprescindível graça de Deus, parece que chegou finalmente a um único caminho. Assim, neste último ano, tenho vivido com a certeza da minha vocação, após anos e anos de oração, aconselhamento e exploração das diversas vocações que a Igreja nos oferece. Mas o tempo passa e passa e passa e ... nada acontece.

 

Porque é que esta minha vocação não se concretiza, finalmente, Senhor?

Senhor, se me chamas tão fortemente por este caminho, por esta vocação, porque é que nada acontece, porque é que ela não se realiza?

Se Tu colocaste este desejo tão grande e profundo no meu coração, porque não o cumpres? Porque é que não o completas? 

 

À minha volta, vejo diariamente as vocações das outras pessoas a serem cumpridas; vejo-as a serem chamadas e a dizerem o seu "sim", visível e definitivo, à sua vocação e à vontade de Deus nas suas vidas. Eu também o queria fazer. Eu também o desejava fazer....  

E facilmente (oh tão facilmente!...) caio na tentação de pensar: Senhor, acaso esqueceste-Te de mim?

 

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Oh, a cruz de não vivermos (ainda) a nossa vocação em pleno ...

Oh, a cruz de vivermos uma vida que desejaríamos tanto que fosse diferente.

 

O Tentador, contudo, não perde uma única oportunidade. Mal abrimos esta pequena fresta no nosso coração - Senhor, acaso esqueceste-Te de mim? - e ele fará de tudo para que continuemos a cair, para que nos afastemos do amor de Deus. Quando mal damos por isso, já caímos na tentação de duvidar do imenso amor de Deus por nós - Se me chamas a esta vocação e ela não se realiza, é porque não me amas Senhor ... 

 

O Maligno é o príncipe da sedução e ele, mais que ninguém, sabe exactamente como nos seduzir com as suas mentiras - Porque me mostras, Senhor, tantos bons exemplos de vocações a serem cumpridas e realizadas, e a minha não? Porque me mostras tanto ouro na vida dos outros, e na minha nem sequer um pouco de ferro parece existir? Porque é que não permites que aconteça? Porque é que o impedes de acontecer? 

 

Oh, poderá Deus, alguma vez, impedir que se cumpra aquilo que Ele próprio mais deseja, mais ainda que qualquer um de nós - o cumprimento pleno da nossa vocação, através da qual nos santificaremos e assim viveremos para todo o sempre em profunda comunhão de amor com Ele ... 

 

Oh, que pecado tão grande o meu!

Não, não é assim que deve ser a minha postura perante esta situação. Não, não é assim que eu devo responder por este caminho que o Senhor me leva, que eu não compreendo e que eu não concordo que seja mesmo por aqui ... (Não podia ser mais rápido, Senhor? Tem mesmo de demorar assim tanto tempo a acontecer?)

 

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Noutros dias (numa nova tentativa do Príncipe da mentira e da discórdia), dou por mim a escolher evitar a todo o custo pensar sequer na minha vocação, não permitindo que este meu desejo profundo se manifeste no meu dia a dia. Escolho ignorá-lo, escolho escondê-lo, escolho evitá-lo, chegando até a negá-lo, chegando até a fingir que não o conheço e que ele não existe ... 

Oh, esta é um tipo de resposta muito fácil, muito confortável, que muitos escolhem.

Mas não, esta também não é a atitude correta...

 

Então, o que devo fazer? 

Aceita a Cruz. Aceita essa luta, diária. Aceita esses desejos, tão profundos, tão entranhados no teu coração; aceita-os, recebe-os, acolhe-os ... E aceita o facto de eles ainda não se terem cumpridos, de ainda não terem sido plenamente satisfeitos ou realizados.

Aceita esta tua necessidade, esta tua incompletude, aceita esta falta que tens - e permite que seja o próprio Deus a preencher e completar esse espaço (aparentemente) vazio.

Dói o peito? Chama o Senhor e pede-Lhe que te cure e alivie. 

Não aguentas mais? Pede a Deus pela fortaleza que não possuis.

Não sentes mais nada do que um enorme vazio? Oferece-o, vá, oferece-o ao Senhor, se é tudo o que pensas possuir....

 

Lembra-te, Marisa, das lições que Deus tão carinhosamente já te ensinou nestes anos. Se sentes tão fortemente este desejo, se hoje é um daqueles dias em que a não realização da tua vocação te custa tanto, se dói tanto que chega a arder no peito - então sabes (lembra-te!) que Deus está neste preciso momento a tentar dizer-te: Está na altura de passarmos algum tempo juntos, tu e Eu. Não, esta sede insaciável não é pela tua vocação; esta sede só Eu próprio posso saciar. Vem Comigo, então beberás e comerás e ficarás saciada ... 

 

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Sim, é uma cruz não vivermos (ainda) a nossa vocação em pleno ... - é libertador poder reconhecer esta verdade....

Sim, é uma luta e uma cruz, diária - a liberdade que surge ao admiti-lo....

É um caminho, cheio de bênçãos e graças mas também de muitas dores e lágrimas.

Sim, é uma luta dura e contínua, esta de viver com um desejo tão grande e tão forte no nosso coração que ainda não foi satisfeito.

Sim, é uma cruz que eu tenho de aceitar levar comigo todos os dias, em todos os instantes da minha vida.

Se é este o cálice que desejas que eu beba, Senhor, seja feita a Tua vontade - eu continuarei a beber diariamente deste cálice, eu escolho continuar a beber dele ... 

 

Mas sem dúvidas que há dias mais fáceis que outros. Há dias em que este cálice não parece ser tão amargo e insuportável como parece noutros dias... 

 

Para que serve, então, este tempo de espera? Este tempo em que nada parece acontecer?

Para poderes crescer em virtudes. Para poderes aprender e treinar todas aquelas virtudes que precisarás, diariamente, a partir do dia em que o Senhor te chamar a viver (concretamente) a tua vocação - fortaleza, mansidão, paciência, temperança, auto-doação total e voluntária, saber sofrer com alegria, saber oferecer todos os nossos sacrifícios por mais pequenos que aparentes ser, aprender a dizer "sim"s e "não"s pequeninos (mas ainda assim custosos e dolorosos) - para quando chegar o dia, em que o Senhor te perguntar: aceitas - completa e eternamente - este caminho? - então poderes dizer um verdadeiro e autêntico "sim".

 

Então eu escolho dizer-Te que sim, meu Deus e meu Senhor, neste preciso instante, àquela pequena coisa que me queres oferecer. Eu escolho acolher a Tua vontade, eu escolho acolher-Te. Eu escolho fazer a Tua vontade, neste momento. E daqui por uns instantes, meros segundos ou minutos, eu escolherei, novamente, dizer-te que sim, e depois e depois e depois ... 

 

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E se, pela graça de Deus, conseguirmos permanecer nesta atitude de acolhimento, de aceitação, com o coração aberto e disponível a ouvir a palavra e os desejos d'Aquele que mais nos ama, então conseguiremos compreender que viver este período de espera é exactamente o melhor plano de vida que Deus tem para nós. É a nossa melhor oportunidade para vivermos e crescermos em santidade.

A santidade é, afinal, a nossa vocação universal, aquela a que todos somos chamados. E estar, neste momento, neste período de espera, faz parte da minha vocação à santidade. Esta espera servirá para me tornar mais santa. Esta espera é o melhor caminho que a minha vida poderia assumir para me poder tornar santa

Passar por este período de espera fará de mim mais santa, duma forma mais rápida e eficaz, do que se já estivesse a viver em pleno a minha vocação. Deus assim o promete. 

 

Sim, eu estou, neste preciso momento da minha vida, no exacto lugar e situação que Deus deseja que eu esteja; na exacta fase do caminho que fará de mim santa ... a santa que só eu posso ser.