Sou uma jovem esposa e mãe católica portuguesa. Neste blog partilho a minha caminhada em busca da santidade e o meu encontro com o amor misericordioso do Senhor. Espero que ele vos possa ajudar a encontrar a alegria do Evangelho!
Sou uma jovem esposa e mãe católica portuguesa. Neste blog partilho a minha caminhada em busca da santidade e o meu encontro com o amor misericordioso do Senhor. Espero que ele vos possa ajudar a encontrar a alegria do Evangelho!
«Vai, toma por mulher uma prostituta, e gera filhos de prostituição, porque a nação não cessa de se prostituir, afastando-se do Senhor.» (Os 1,2)
Deus chama Oseias e diz-lhe para se casar com uma prostituta, Gomer, uma mulher que viria a traí-lo mais tarde. Mas ele continuará a amá-la e a ser-lhe fiel: uma vocação desafiante para este profeta!
Oseias tornar-se-á, assim, imagem de Deus, que ama o Seu povo fielmente e que lhe perdoa as suas numerosas traições. Já Gomer, a esposa de Oseias, tornar-se-á imagem de Israel, a esposa infiel, que trai o seu marido; Israel adúltera e prostituta mas, ainda assim, amada e perdoada por Deus.
Oseias não é só um profeta: ele encarnará a sua mensagem e a sua vida tornar-se-á uma profecia. A partir daquela situação da sua vida - de amor, traição e perdão - Deus falará com ele e, através dele, com o Seu povo e com cada um de nós.
"Nisto chegaram os Seus discípulos e ficaram admirados de Ele estar a falar com uma mulher". (Jo 4, 27)
Jesus transgride vários costumes em vigor naquela época: ousa falar a uma mulher, a sós, num lugar público, e ainda por cima uma mulher samaritana (e não judia) e além disso pecadora afamada. Tudo isto seriam razões suficientes para alguém ficar espantado com o comportamento de Jesus. Mas, do ponto de vista dos discípulos, esta não era nem a primeira vez, nem viria a ser a última vez, que viam o seu Mestre a falar com uma mulher pecadora. Porque então se mostram tão admirados, tão em choque com o que veem, como até o texto salienta?
Porque, aquilo que eles veem – Jesus sentado à beira dum poço, o poço de Jacob, em terra estrangeira, a sós com uma mulher – parecia a cena dum pedido de casamento!
No primeiro dia da semana, Maria Madalena foi ao túmulo logo de manhã, ainda escuro, e viu retirada a pedra que o tapava. (Jo 20,1)
Recentemente, por inspiração dum querido padre, tive a oportunidade de olhar com novos olhos para aquele que é um dos meus episódios favoritos em toda a Bíblia.
Conta-nos São João, o discípulo tão amado pelo Senhor
Maria estava junto ao túmulo, da parte de fora, a chorar. Sem parar de chorar, debruçou-se para dentro do túmulo,e contemplou dois anjos vestidos de branco, sentados onde tinha estado o corpo de Jesus, um à cabeceira e o outro aos pés.Perguntaram-lhe: «Mulher, porque choras?» E ela respondeu: «Porque levaram o meu Senhor e não sei onde O puseram.» Dito isto, voltou-se para trás e viu Jesus, de pé, mas não se dava conta que era Ele.E Jesus disse-lhe: «Mulher, porque choras? Quem procuras?» Ela, pensando que era o jardineiro, disse-lhe: «Senhor, se foste tu que O tiraste, diz-me onde O puseste, que eu vou buscá-Lo.»
Disse-lhe Jesus: «Maria!» Ela, aproximando-se, exclamou em hebraico: «Rabbuni!» - que quer dizer: «Mestre!» Jesus disse-lhe: «Não Me detenhas, pois ainda não subi para o Pai; mas vai ter com os Meus irmãos e diz-lhes: 'Subo para o Meu Pai, que é vosso Pai, para o Meu Deus, que é vosso Deus.'» Maria Madalena foi e anunciou aos discípulos: «Vi o Senhor!» E contou o que Ele lhe tinha dito.
Jo 20, 11-18
E se Maria Madalena, na verdade, não se enganou? E se ela viu, verdadeiramente, o divino Jardineiro?
Para perceber temos de voltar ao início, lá bem atrás no Génesis, do início da Criação, como nos mostrou tão belamente o Papa João Paulo II, ao oferecer-nos a todos o dom da revelação da Teologia do Corpo...
No início, Deus criou um jardim, rico em frutuosas virtudes e em belos actos de amor. Era o jardim mais bonito deste mundo - o coração unido dum homem e duma mulher. Feitos à imagem e semelhança de Deus - a Santíssima Trindade, plena comunhão de Amor - nada podia ser mais belo ou perfeito.
O homem, formado a partir da rudeza da terra, cumpria perfeitamente a sua vocação - ser aquele que providencia, que governa, que cuida e protege, que inicia o amor. A força, a firmeza e a segurança eram a sua própria essência.
Já a mulher, formada a partir da carne e do sangue, cumpria a sua própria vocação, diferente e complementar à do homem. Ela era aquela rica em sentimentos e emoções, aquela capaz de acolher no seu seio de mulher e mãe, capaz de receber o amor de Adão e de o frutificar, ao tornar o seu próprio ser num autêntico lar. O cuidar, o acarinhar, o compadecer-se, o ajudar a crescer e fortalecer era o seu chamamento.
Mas a serpente era esperta e matreira, e conseguiu descobrir, no meio de tantas virtudes, uma pequena brecha onde pudesse deitar - bastou umas meras gotas - do seu veneno mortal.
Sendo a mulher naturalmente mais notada a estar atenta aos outros e às suas necessidades - enquanto o homem tende a focar-se no dever, no trabalho, na conquista e na luta diária - e sendo ela a chave certeira para alcançar as profundezas do coração do homem, claro que a maldita serpente se dirigiu primeiramente a Eva. E assim, no coração da mulher, o diabo gerou pela primeira vez a dúvida e a suspeita....
«E se ...» E se eu ouvir só um bocadinho, esta voz que me sussurra ao ouvido? E se aquilo que a serpente diz for verdade? Porque não deseja Deus que nós comamos do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal? Estará Deus a esconder-nos alguma coisa? Se nos ama, porque não nos permite comer de todos os frutos? Porque não podemos ter tudo? E se, em vez de morrermos ao comer do fruto proibido, nos tornar-nos ainda melhores, mais sábios, mais belos, mais santos - afinal, é a árvore do conhecimento do bem e do mal ...
A cada novo pensamento o fruto proibido se tornava mais apetitoso, apeticível, desejável ... Se eu quero, se me apetece, se está aqui mesmo à mão, que me impede de o fazer? Não serei eu, porventura, livre? (é impressionante como esta linha de pensamento tem ressoado e ecoado até aos dias de hoje ...)
Então a mulher toma a iniciativa - não era essa a vocação de Adão? - pega no fruto e come. E onde está Adão? Porque não está ele a cumprir a sua vocação e a proteger o seu bem mais precioso, a sua esposa e irmã, formada a partir do seu próprio coração? Oh, a ele já não era preciso que uma serpente o seduzisse e enganasse, pois ele próprio já se tinha deixado levar pelo mundo que o rodeava, focado nos seus próprios projetos de conquista de todo o mundo ....
Ambos comeram do fruto proibido, porque ambos almejavam tornar-se como deuses. E assim, os olhos de ambos, que antes apenas viam o amor sincero e verdadeiro, o bom e o belo, tornaram-se capazes de contemplar aquilo que eles próprios tinham construído - o pecado, a desconfiança, o medo, a vergonha, a maldade.
Porque não me protegeste? Eu confiava em ti!A culpa é dele!- diz Eva a Adão e ao Senhor.
Porque me ofereceste algo que me levou à morte? Eu confiava em ti!A culpa é dela! - diz Adão a Eva e ao Senhor.
E assim, as nossas próprias escolhas, o nosso próprio pecado - a recusa e a desconfiança no amor que Deus e o outro tem para nos dar - levam-nos do belo jardim ao mais inóspito deserto, onde vagueamos sem cessar, à procura da verdadeira fonte de água vida e do verdadeiro maná que vem do céu ...
É assim que a vou seduzir: ao deserto a conduzirei, para lhe falar ao coração (Os 2,16)
Deus é incapaz de suportar esta separação, esta divisão, este abismo enorme que nós próprios cavámos. É o próprio Deus, qual divino Jardineiro, que vem dar uma nova vida ao deserto do coração humano:
Eis que venho renovar todas as coisas (Ap 21,5)
Jesus, como novo Adão, demonstrou na Cruz o seu perfeito amor - livre, total, fiel e fecundo - capaz de dar a própria vida para proteger a Sua amada - cada um de nós.
No sítio em que [Jesus] tinha sido crucificado havia um jardim e, no jardim, um túmulo novo, onde ainda ninguém tinha sido sepultado. (Jo 19,41)
Jesus é o divino Jardineiro, capaz de transformar o coração de cada homem e mulher dum deserto hostil e árido num autêntico jardim cheio de vida, luz e cor - a nova Jerusalém celeste, santa e imaculada, tal como nos promete o último livro da Bíblia.
Vi, então, um novo céu e uma nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra tinham desaparecido e o mar já não existia. E vi descer do céu, de junto de Deus, a cidade santa, a nova Jerusalém, já preparada, qual noiva adornada para o seu esposo.
E ouvi uma voz potente que vinha do trono e dizia: «Esta é a morada de Deus entre os homens». (Ap 21,1-3)
Mostrou-me, depois, um rio de água viva, resplendente como cristal, que saía do trono de Deus e do Cordeiro.No meio da praça da cidade e nas margens do rio está a árvore da Vida que produz doze colheitas de frutos; em cada mês o seu fruto, e as folhas da árvore servem de remédio para as nações. (Ap 22,1-2)
Ah, Maria Madalena, a primeira a ser chamada para entrar no jardim aberto por Jesus ...
Talvez, no final das contas, Maria Madalena tenha tido razão ao identificar Jesus Ressucitado como o divino Jardineiro, que a todos traz a vida e a vida em abundância ...
Sabem qual é uma das coisas que mais me lembro da Galileia? Do vento! Sim, do vento!
Desde criança que eu sempre gostei muito de vento, mas o vento da Galileia parecia ser ainda mais especial ...
Ah, só de me lembrar do vento da Galileia ....
Um vento que nos chamava a rir, ao brincar com o nosso cabelo e as nossas roupas; um vento que nos chamava a dançar, como se fosse uma criança a puxar por nós; um vento que nos refrescavao corpo cansado da viagem; um vento que nos sussurravaao ouvido acerca do tremendo amor e misericórdia de Deus; um vento que surgia de repente, aparentemente do nada, e que "bagunçava" a nossa vida, tirando-nos do nosso conforto e comodismo, à semelhança do Espírito Santo; um vento que nos impeliaa avançar, sempre, em frente ...
Também nós avançamos na nossa viagem, até uma linda capela ao ar livre, que parecia esperar por nós, escondida entre as árvores, as flores e as plantas - como se sempre estivesse estado ali desde o tempo de Jesus, como se aquele sempre tivesse sido o seu devido lugar ...
Foto tirada por outro peregrino na nossa viagem - obrigado pela partilha!
Pela graça de Deus, temos oportunidade de celebrar a Santa Missa neste preciso local - a nossa primeira Eucaristia celebrada na Terra Santa, depois de termos celebrado uma no Egipto e outra na Jordânia. Estamos a 9 de Agosto de 2019 e eu não posso deixar de sorrir e sorrir e sorrir quando me apercebo que a primeira leitura do dia é uma das minhas leituras favoritas e mais queridas do meu coração ...
É assim que a vou seduzir:
ao deserto a conduzirei, para lhe falar ao coração.
Dar-lhe-ei então as suas vinhas
e o Vale de Acor será como porta de esperança.
Aí, ela responderá como no tempo da sua juventude,
como nos dias em que subiu da terra do Egipto.
Naquele dia – oráculo do Senhor –
ela me chamará: «Meu marido»
e nunca mais: «Meu Baal.»
Tirarei da sua boca os nomes de Baal,
de modo que tais nomes não voltem a ser recordados.
Farei em favor dela, naquele dia,
uma aliança com os animais selvagens,
com as aves do céu e com os répteis da terra;
farei desaparecer da terra o arco, a espada e a guerra,
e farei com que eles repousem em segurança.
Então, te desposarei para sempre;
desposar-te-ei conforme a justiça e o direito,
com amor e misericórdia.
Desposar-te-ei com fidelidade,
e tu conhecerás o Senhor.
Oseias 2,16-22
Foto tirada por outro peregrino na nossa viagem - obrigado pela partilha!
Não consigo ler esta passagem sem me recordar sempre da belíssima música que a Danielle Rose compôs, cantou e tocou - como já tinha partilhado convosco no início deste ano. Esta foi uma das músicas que mais me acompanhou durante os primeiros 6 meses deste ano de 2019, uma altura da minha vida que, devido a uma grande conjugação de factores, se veio a revelar tão espiritualmente difícil para mim ...
Ao trazer estas memórias de volta ao coração e ao reflectir naquilo que vivi e experienciei naquela bela manhã de Missa campal, consigo finalmente compreender uma última coisa que o Senhor desejava dizer-me, através daquele vento especial da Galileia ... É que aquele vento, novo e rejuvenescedor, era também um vento de mudança, de muitas mudanças, que se sucederiam, umas a seguir às outras, mal eu chegasse de volta a Portugal, cada uma mais bela e maravilhosa que a anterior ...
Oh, louvado sejas, Senhor meu, para todo o sempre!
Foto tirada por outro peregrino na nossa viagem - obrigado pela partilha!