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Uma Jovem Católica

Sou uma jovem esposa e mãe católica portuguesa. Neste blog partilho a minha caminhada em busca da santidade e o meu encontro com o amor misericordioso do Senhor. Espero que ele vos possa ajudar a encontrar a alegria do Evangelho!

Uma Jovem Católica

Sou uma jovem esposa e mãe católica portuguesa. Neste blog partilho a minha caminhada em busca da santidade e o meu encontro com o amor misericordioso do Senhor. Espero que ele vos possa ajudar a encontrar a alegria do Evangelho!

Abre-te

Alegro-me nos sofrimentos que suporto por vós e completo na minha carne o que falta às tribulações de Cristo, pelo Seu Corpo, que é a Igreja. (Cl 1,24)

 

A nossa filha Isabel teve de nascer através duma cesariana urgente a meio da noite. Este não foi, decididamente, o tipo de parto que nós tinhamos imaginado, nem preparado para ter, ao longo de toda a nossa gravidez. Mas foi a via de parto que o Senhor escolheu.

Durante alguns dias, tive a tentação de pensar que tinha falhado, para com a minha filha e o meu marido; que esta circunstância me tornaria menos mãe e menos mulher do que as outras, que tinham tido partos naturais; que, através deste meu primeiro parto, tinha perdido uma óptima oportunidade para me unir à Paixão de Cristo e de oferecer o sacrifício das minhas dores em expiação pelos pecados do mundo e por tantas intenções de oração que tinha vindo a reunir para este dia ... O Tentador é muito hábil a fazer-nos acreditar nisto: que falhámos, que perdemos, que somos fracos e que aquilo que fazemos (ou somos) é absolutamente inútil e ridículo. 

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Mas, pela luz do Espírito Santo, pude ver a beleza santificante deste meu primeiro parto, ao reflectir nas suas semelhanças com a Paixão de Jesus. No início, tal como Jesus, também eu implorei a Deus: «Pai, se quiseres, afasta de mim este cálice; contudo, não se faça a minha vontade, mas a Tua.» (Lc 22, 42). Depois, como Jesus no Horto das Oliveiras, também eu tive de aprender a render-me à vontade do Senhor, aceitando e permitindo de coração que se cumprisse, em mim e na nossa vida, aquela que era a Sua vontade. Jesus foi levado ao Cálvario; eu, ao bloco operatório. À semelhança de Jesus na Sua Paixão, também eu tive de passar pela "flagelação" da colocação do catéter epidural, aguentando a passagem de diversos choques elétricos pelas minhas pernas, sem me puder mexer. Tal como Jesus, também eu fui totalmente despida das minhas vestes, deitada numa mesa fria incapaz de me mexer, com os braços estendidos, um para cada lado, numa autêntica forma de cruz. A Jesus abriram-Lhe o peito com uma lança; a mim, cortaram-me ao meio ... para que daí nascesse uma nova vida.

É este o Meu mandamento: que vos ameis uns aos outros como Eu vos amei. Ninguém tem mais amor do que quem dá a vida pelos seus amigos. (Jo 15, 12-13)

Agora, sou capaz de sorrir, olhando para as minhas feridas, as minhas chagas, à semelhança de Cristo Ressuscitado. Agora sei que o meu corpo transformou-se num verdadeiro altar, onde o meu sacrifício de imolação foi capaz de gerar uma nova vida.

Agora - sorrio - já estou mais parecida conTigo, Jesus!

Cristo, o nosso eterno Profeta, Rei e Sacerdote

Durante toda a Quaresma, diariamente as leituras da Santa Missa mostram-nos a tripla missão de Jesus, o perfeito e eterno Profeta, Rei e Sacerdote. Esta tripla missão é especialmente visível nas leituras do julgamento de Jesus. 

O Sumo Sacerdote voltou a interrogar [Jesus]: «És Tu o Messias, o Filho do Deus Bendito?» Jesus respondeu: «Eu sou. E vereis o Filho do Homem sentado à direita do Poder e vir sobre as nuvens do céu.» O Sumo Sacerdote rasgou, então, as suas vestes e disse: «Que necessidade temos ainda de testemunhas? Ouvistes a blasfémia! Que vos parece?» E todos sentenciavam que Ele era réu de morte. (Mc 14, 61b-64)

Perante o povo judeu, representado por Caifás, o Sumo Sacerdote do templo de Jerusalém naquele ano, foi julgado Cristo-Profeta. Profeta é alguém que se coloca em escuta atenta da Palavra de Deus e que depois a transmite a cada um de nós, ajudando-nos a interpretá-la e a pô-la em prática, retirando-nos as máscaras e as vendas dos nossos olhos - que insistimos em colocar, tanto em nós, como nos outros - auxiliando-nos a reconhecer o nosso pecado e as nossas culpas e indicando-nos o caminho seguro a seguir. Quem foi o mais perfeito Profeta, se não Jesus Cristo?

E qual a razão da condenação de Cristo-Profeta? Jesus ter-Se declarado Filho de Deus, o Messias há muito prometido e desejado. Mas os judeus consideraram-n'O demasiado "terreno", demasiado humano e parecido connosco, para poder ser verdadeiramente Filho de Deus. E, assim, condenaram o Verbo de Deus por blasfémia.

Cristo-Profeta foi ridicularizado ao vendarem-Lhe os olhos e questionando-O se conseguia adivinhar quem era que Lhe batia no rosto - um rosto que, apesar dos inúmeros golpes, lhes oferecia sempre a outra face...

Cuspiam-Lhe no rosto e batiam-Lhe. Outros esbofeteavam-n'O, dizendo: «Profetiza, Messias: quem foi que Te bateu?» (Mt 26, 67-68)

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Imagem retirada daqui

[Pilatos] chamou Jesus e perguntou-Lhe: «Tu és Rei dos judeus?» Respondeu-lhe Jesus: «Tu perguntas isso por ti mesmo, ou porque outros to disseram de Mim? (...) A Minha realeza não é deste mundo» Disse-Lhe Pilatos: «Logo, Tu és Rei!» Respondeu-lhe Jesus: «É como dizes: Eu sou Rei! Para isto nasci, para isto vim ao mundo: para dar testemunho da Verdade».(Jo 18, 33-34. 36a. 37)

Perante os gentios, representados pela figura de Pilatos, foi julgado Cristo-Rei. Rei é alguém que tem uma justa e suprema autoridade sobre o seu reino e sobre cada pessoa que lhe pertence. Uma vez que o rei é responsável por cada pessoa que lhe é confiada, ele tem o dever de as proteger dos perigos e de garantir o seu bem estar. Assim, por causa desse dever paternal, cada súbdito lhe deve a devida reverência.

Os soldados do governador conduziram Jesus para o pretório e reuniram toda a coorte à volta Dele. Despiram-n'O e envolveram-n'O com um manto escarlateTecendo uma coroa de espinhos, puseram-Lha na cabeça, e uma cana na mão direita. Dobrando o joelho diante Dele, escarneciam-n'O, dizendo: «Salve! Rei dos Judeus!» (Mt 27, 27-29)

Cristo-Rei foi humilhado ao ser despido das Suas vestes e ao ser coberto por um manto cor de sangue; ao ser coroado com uma coroa de espinhos; ao receber como trono uma cruz, como ceptro uma cana e como jóias três longos cravos, que O prenderam na Cruz. 

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Imagem retirada daqui

Por fim, unindo-se pela primeira vez judeus e gentios (só Jesus poderia usar uma situação tão horrível, como a Sua crucifixão, para unir antigos inimigos), condenaram Cristo-Sacerdote. O sacernote serve de ponte medianeira entre Deus e os homens. O sacerdote apresenta ao Senhor os nossos sacrifícios mas também as nossas preces e necessidades. Assim, Jesus é o mais perfeito e eterno Sacerdote.

Os que passavam injuriavam-n'O e, abanando a cabeça, diziam: «Olha o que destrói o templo e o reconstrói em três dias! Salva-Te a Ti mesmo, descendo da cruz!» Da mesma forma, os sumos sacerdotes e os doutores da Lei troçavam Dele entre si: «Salvou os outros mas não pode salvar-Se a Si mesmo!» (Mc 15, 29-31)

Judeus e gentios, juntos, escarneceram de Cristo crucificado, desafiando-O a salvar-Se a Si mesmo e a descer da Cruz. Mas este eterno Cristo-Sacerdote já Se tinha oferecido a Si mesmo como a mais perfeita vítima de holocausto, através da Qual todos nós recebemos o perdão dos nossos incontáveis pecados.

 

Em resumo, o Sinédrio dos judeus desprezou e ridicularizou Cristo-Profeta; o Império Romano dos gentios julgou e escarneceu de Cristo-Rei; por fim, ambos se juntaram para condenar e crucificar Cristo-Sacerdote. Que paradoxo tão grande - Caifás, aquele que era Sumo Sacerdote por apenas um ano, desprezou o Eterno Sumo Sacerdote do Deus Altíssimo. E Aquele que Se revelou como o Caminho e a Vida é condenado ao caminho do Calvário e à morte...

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Mas nós sabemos muito bem que a história não acaba aqui. Nem a morte, nem o demónio, nem o pecado, nem as dificuldades têm a última palavra - mas sim Cristo, o alfa e o ómega, o princípio e o fim, o primeiro e o último, o nosso Salvador. 

Quando Jesus se preparava para voltar para o Reino dos Céus, no dia da Sua Ascenção, Ele distribuiu estas três dimensões pelos Seus Apóstolos: o serviço profético ou de ensino, ao prometer-Lhes que lhes enviaria o Espírito da Verdade, que os ajudaria a recordar e a compreender tudo o que Ele lhes tinha ensinado; o serviço real, ao dar-lhes as chaves do Reino de Deus, com o dever de defender e cuidar deste Reino e de cada pessoa que nele habitará; e, por fim, o serviço sacerdotal, para que fizessem memória contínua da Sua entrega Eucarística e conferindo-lhes o poder de perdoar os nossos pecados.

Aproximando-Se deles, Jesus disse-lhes: «Foi-Me dado todo o poder no Céu e na Terra. Ide, pois, fazei discípulos de todos os povos, baptizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a cumprir tudo quanto vos tenho mandado. E sabei que Eu estarei sempre convosco até ao fim dos tempos.» (Mt 28, 18-20)

Não posso deixar de sorrir ao pensar que, neste ano 2021, a Quinta-feira da Ascensão do Senhor será a 13 de Maio - quem melhor do que Nossa Senhora para nos transmitir as graças do Senhor neste dia e para sempre? 

Acompanhando Jesus no Jardim das Oliveiras

Depois de cantarem os salmos, saíram para o Monte das Oliveiras. (Mt 26,30)

Acompanhemos Jesus no início da Sua Paixão. Sempre achei curioso que esta fosse a única ocasião em que os Evangelhos nos dizem que Jesus cantou. Ele sabia de antemão tudo o que ía acontecer e, ainda assim, cantou. Junto dos discípulos por Ele amados, Ele cantou as maravilhas do Deus que salva. Louvou e adorou o Senhor, Deus de Israel, cantando-Lhe, agradecido, todos os Seus feitos maravilhosos até aquela altura - e, mais ainda, todas as Suas Obras a partir daquele momento, para sempre memorável.

Jesus saiu com os discípulos para o outro lado da torrente do Cédron, onde havia um horto, e ali entrou com os Seus discípulos. Judas, aquele que O ia entregar, conhecia bem o sítio, porque Jesus Se reunia ali frequentemente com os discípulos. (Jo 18, 1-2)

Estamos em plena noite, após a Última Ceia no Cenáculo, em que Jesus Se ofereceu como verdadeiro Alimento, o Pão Vivo descido do Céu, que nos promete dar acesso à Vida Eterna do amor de Deus. É de noite, mas o caminho é conhecido, tanto por Jesus, como pelos discípulos. Já o fizeram antes várias vezes. Sabem que têm primeiro que descer, até passarem perto da casa do Sumo Sacerdote Caifás, e depois começar a subir. Os discípulos não podiam adivinhar, mas Jesus sabia perfeitamente que, horas mais tarde, no início do novo dia, seria trazido pelos soldados até àquela casa, algemado e maltratado pelo caminho, para aí ser julgado e condenado pelos judeus. 

Mas, por agora, é tempo de subir a rua e passar a grande ponte que, naquela altura, ligava a zona principal da cidade de Jerusalém até ao Monte das Oliveiras, na direção de Betânia, onde era a casa dos irmãos Lázaro, Maria e Marta, a 3km de distância. 

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Getsemani na actualidade - foto tirada em 2019, na minha viagem à Terra Santa

O local do Getsemani, ou o Monte das Oliveiras, devia o seu nome ao extenso olival que ali tinha sido plantado, séculos antes. Era, assim, um jardim de oliveiras - o que, claro, me faz lembrar do jardim do Éden. Jesus é o novo e eterno Adão. Em vez do velho Adão, que se deixou levar pelo pecado de rebelia contra a vontade expressa de Deus - comendo do fruto proibido que lhe trouxe a morte e, através dele, a toda a humanidade - Jesus, o novo Adão, vencerá o pecado, escolhendo fazer, com toda a liberdade que só o verdadeiro amor pode exercer, a Divina vontade do Senhor - e assim redimir, a partir daquele momento, todo o género humano - passado, presente e futuro. 

No centro desse jardim das oliveiras encontrava-se uma prensa que permitia fazer o azeite a partir das azeitonas, à semelhança da árvore do conhecimento do bem e do mal localizada no centro do jardim do Éden. Na altura certa do ano, depois de terem sido arrancadas dos ramos das árvores, as azeitonas eram lançadas nessa prensa, para primeiro serem moídas e trituradas e depois prensadas. Sobre elas era colocado um enorme peso, que ía ficando cada vez mais e mais forte, apertado, constritivo. Até que, por fim, desse processo asfixiante, acontecia um autêntico "milagre" do "martírio" das pobres azeitonas: um líquido dourado, de aroma intenso e textura suave, o azeite. Este azeite, além de ser usado para cozinhar e assim alimentar todo o povo, também era usado na cicatrização das feridas, na iluminação das casas se colocado em candeias, ou usado para purificar, abençoar e ungir tanto coisas como pessoas ao serviço do Senhor no Templo de Jerusalém. 

Podia o Senhor ter usado um local melhor para nos ensinar o que estava a acontecer a Jesus, naquele jardim de agonia? 

Jesus chegou com os Seus discípulos a um lugar chamado Getsémani e disse-lhes: «Sentai-vos aqui, enquanto Eu vou além orar.» E, levando consigo Pedro e os dois filhos de Zebedeu, começou a entristecer-Se e a angustiar-Se. Disse-lhes, então: «A Minha alma está numa tristeza de morte; ficai aqui e vigiai Comigo.» (Mt 26, 36-38)

A oração de Jesus no Monte das Oliveiras é de tal importância e teve tão grande impacto nas primeiras comunidades cristãs, que dela temos, até hoje, 5 versões, uma por cada Evangelista e ainda outra pelo autor da Carta aos Hebreus. 

Diz-nos o papa Bento XVI, acerca da angústia que assalta Jesus neste momento: 

"É a perturbação particular d'Aquele que é a própria Vida diante do abismo de todo o poder da destruição, do mal, daquilo que se opõe a Deus e que agora Lhe cai directamente em cima, que Ele de modo imediato deve agora tomar sobre Si, aliás deve acolher dentro de Si até ao ponto de ser pessoalmente «feito pecado» (cf 2 Cor 5,21).

Precisamente porque é o Filho, vê com extrema clareza toda a amplitude da maré imunda do mal, todo o poder da mentira e da soberba, toda a astúcia e a atrocidade do mal, que se apresenta com a máscara da vida mas serve continuamente a destruição do ser, a deturpação e o aniquilamento da vida. Precisamente porque é o Filho, sente profundamente o horror, toda a imundície e perfíria que deve beber naquele «cálice» que Lhe está destinado - todo o poder do pecado e da morte. Ele tem de acolher tudo isso dentro de Si mesmo, para que n'Ele fique despojado do poder e superado."

Livro do Papa Bento XVI, "Jesus de Nazaré",  pág. 130 e 131

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Uma das imagens que melhor representa o que Jesus viveu na agonia do Getsemani - imagem retirada daqui

Cheio de angústia, [Jesus] pôs-Se a orar incessantemente e o suor tornou-Se-lhe como grossas gotas de sangue, que caíam na terra. (Lc 22,44)

Os Apóstolos deviam estar habituados ao estado sempre sereno de Jesus, mesmo perante discussões com os fariseus, ou perseguições dos habitantes das aldeias da Judeia, ou até mesmo durante as violentas tempestades em pleno mar da Galileia. Esta deverá ter sido a primeira vez que os discípulos O viram tão transtornado, tão desfigurado, tão esmagado pela dor e o peso do pecado do mundo. Nem mesmo naquela outra vez, em que Jesus revirou as mesas dos comerciantes dentro do Templo sagrado do Senhor, usando um chicote para os expulsar da casa do Seu Pai - nem mesmo dessa vez, O tinham visto como agora.

[Jesus] disse-lhes: «Orai, para que não entreis em tentação.» Depois afastou-Se deles (...) e, pondo-Se de joelhos, começou a orar, dizendo: «Pai, se quiseres, afasta de Mim este cálice; contudo, não se faça a Minha vontade, mas a Tua.» (Lc 22, 40-42)

Disse-lhes então [Jesus]: «A Minha alma está numa tristeza de morte; ficai aqui e vigiai Comigo.» E, adiantando-Se um pouco mais, caiu com a face por terra, orando e dizendo: «Meu Pai, se é possível, afaste-se de Mim este cálice. No entanto, não seja como Eu quero, mas como Tu queres.» (Mt 26, 38-39)

É a primeira vez, nos Evangelhos, que nos é descrita a posição que Jesus adopta ao rezar. Põe-se primeiro de joelhos, numa postura de vulnerabilidade e pequenez, e depois prostra-Se no chão duro e frio, com o rosto por terra. Assim, o Seu rosto enche-se de pó, transformado em lama pela mistura com as gotas de suor e sangue. Pó da terra - como tu e eu e toda a humanidade. Abaixando-Se em infinito, humilhando-Se, Jesus chega até nós, mero pó da terra, para mais tarde nos erguer Consigo (no ano passado, escrevi um post sobre esta analogia). Não há como os Apóstolos não compreenderem que, aquele momento na vida de Jesus, é absolutamente importante, decisivo e cheio de significado. Tanto para Ele, como para nós ... 

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Interior da Igreja da Agonia, em Jerusalém (2019), erguida sobre o exacto local da agonia de Jesus. É uma igreja (adequadamente) muito escura e silenciosa. A pedra sobre a qual Jesus terá passado a noite em oração, encontra-se imediatamente à frente do altar, e está rodeada duma escultura com a forma duma coroa de espinhos, com um cálice no centro. 

Jesus disse aos discípulos: «Ficai aqui enquanto Eu vou orar.» Tomando consigo Pedro, Tiago e João, começou a sentir pavor e a angustiar-Se. (Mc 14, 32-33)

Era necessário que todos os díscipulos O acompanhassem e vivessem o que ía acontecer naquela noite e naquela madrugada, para mais tarde o testemunharem. Mas apenas Pedro, Tiago e João podiam experienciar de forma detalhada, próxima e íntima, aquilo que estava prestes a acontecer com Jesus. Porquê? 

Porque eram os únicos que podiam compreender - realmente compreender - o que ía a acontecer. Eram os únicos que tinham sido preparados e fortalecidos, ao longo daqueles três anos de ministério de Jesus, para o que iam ver, sentir e viver naquela noite do início da nossa Redenção. Pedro, Tiago e João tinham sido os únicos a poderem estar presentes naquele dia extraordinário em que Jesus trouxe de novo à vida a filha de Jairo. A sua ressurreição era um sinal do que ia acontecer com Jesus e, através Dele, com a Igreja. 

Mais tarde, no topo de outro monte, como o qual se encontram nesta noite, Pedro, Tiago e João tinham testemunhado a Transfiguração de Jesus, o Seu rosto brilhante como a luz do sol e as Suas vestes brancas como a maior pureza de sempre. Tinha sido a manifestação plena da Sua Divindade. Agora iriam testemunhar a manifestação plena da Sua Humanidade. Nesta noite interminável, eles voltarão a ver outra tranfiguração de Jesus - Seu rosto modificado pela dor e pelo suor de sangue, as Suas vestes rasgadas e manchadas de sangue pela Sua paixão. Mais tarde, em apenas três dias, tal como Jesus tinha prometido, voltarão a vê-Lo mais uma vez transfigurado, desta vez com uma alegria eterna no rosto e um glorioso corpo ressuscitado.

Como deve ter sido grande a desilusão de Jesus, naquela noite. Estes três discípulos tinham sido amorosamente escolhidos e preparados para O acompanharem naquele momento, mas até eles falecem e adormecem, até eles sucumbem aos poderes da carne e do mundo. Até eles O abandonam ... Nunca Jesus Se sentiu tão só como naquela noite ... 

Voltando para junto dos discípulos, [Jesus] encontrou-os a dormir e disse a Pedro: «Nem sequer pudeste vigiar uma hora Comigo! Vigiai e orai, para não cairdes em tentação. O espírito está pronto, mas a carne é débil.»

Afastou-Se, pela segunda vez, e foi orar, dizendo: «Meu Pai, se este cálice não pode passar sem que Eu o beba, faça-Se a Tua vontade!» 

Depois voltou e encontrou-os novamente a dormir, pois os seus olhos estavam pesados. Deixou-os e foi orar de novo pela terceira vez, repetindo as mesmas palavras. (Mt 26, 40-44)

Por três vezes Jesus pede-lhes (implora-lhes!) que rezem, que vigiem e que O acompanhem naquele momento de agonia. Faz-me lembrar das três tentações pelas quais Jesus passa no deserto, sendo tentado por Satanás. Também aqui volta a sê-Lo. Uma vez ouvi alguém dizer que, na primeira parte da noite, Jesus viveu a agonia de todos os pecados e maldades que já tinham sido cometidos no passado; na segunda parte, pelos pecados e iniquidades que estavam a ser cometidos naquele momento da História e, por fim, já de madrugada, por todos os pecados que viriam a ser cometidos no futuro (como os meus e os teus). 

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Oportunidade única e inesquecível de poder tocar nesta pedra e de rezar neste local sagrado (foto gentilmente tirada por outro peregrino, na altura sem eu me aperceber) - peregrinação à Terra Santa 2019.

Reunindo-Se finalmente aos discípulos, disse-lhes [Jesus]: «Continuai a dormir e a descansar! Já se aproxima a hora, e o Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos pecadores. Levantai-vos, vamos! Já se aproxima aquele que Me vai entregar.» (Mt 26, 45-46)

Como fico sempre que o leio, estas palavras surpreendem-me. Então Jesus? É para continuar a dormir e descansar, ou é para nos levantarmos com pressa? Ambos. Paradoxalmente, é para fazermos ambos. Por um lado, devemos, sim, ter uma santa pressa em seguir Jesus e em pôr em prática aquilo que Ele nos pede e partilha connosco durante a nossa oração. Devemos ter pressa em servir, em obedecer, em fazer a vontade do Senhor. Mas devemos fazê-lo de forma tranquila, serena, confiantes no poder do Deus que nos chama e na Sua infinita graça, capaz de alcançar tudo em nós. Lembra-te, Marisa, que é assim que deverá sempre viver um cristão ... 

 

Coroa de Espinhos

Hoje não consigo ter palavras para vos expressar o que sinto ... assim, deixo-vos com uma das melhores canções da belíssima cantora norte-americana Danielle Rose - Crown of Thorns (Coroa de Espinhos).
 

3º Mistério Doloroso: A Coroação de Espinhos de Jesus

 

Letra escrita com base nos Evangelhos de S.Mateus 27: 27-31, S.Marcos 15: 16-20, e S.Lucas 23:11

A letra da canção descreve o ponto de vista da Rosa

 

 

 

 

My seed was born
One bright spring morn
In gardens grown by God.
Out of the earth
My stem gave birth
To petals red as blood.

 

The gentle rain
My growth sustained,
And like each seed God sows,
I dreamed one day
That I’d be named
A king’s most precious rose.

 

***

 

One day a soldier
Bent me over,
Tore me from my bed.
All beaten, battered,
My stem tattered,
Wanted but for dead.

 

In cruel hands gripped,
My beauty stripped,
‘Twas not the dream I chose.
And filled with shame,
I wept in pain,
No more a precious rose.

 

***

 

Then I did see
The soldiers lead
A man through palace doors.
Was this my king?
Why did they bring him in,
This man so poor?

 

A purple garment
Hid the torment
None but I could see.


They mocked and laughed,
Gave him a staff,
And bowed on bended knee.

 

***

 

They bent me ‘round
And wove a crown
And placed me on his head.


My petals found
Crushed on the ground,
Like tears of God turned red.

 

With each small sin
I was pressed in.
I pierced with self-disdain.


In thought and deed
I made him bleed,
My selfishness, his pain.

 

***

 

“Behold!” they’d sing,
“Behold your King! Hail,
King of the Jews!”
With each reeds’ blow,
Our pain did grow.


As one we were abused.

Despite the crown,
He did not frown.


He smiled with love instead,
And carried me
For all to see
Upon His tender head.

 

***

 

Once placed with awe
In manger straw,
Anointed by John’s hands,
Transfigured on
A mountain dawn,
Now wore a mangled branch.

 

Once gently kissed
By Mary’s lips,
And blessed with magi’s myrrh,
Baptized by
A parting sky,
Now streamed with blood so pure.

 

***

 

An innocent brow
Calls to us know
To follow this example:
To let our thorns
And all that scorns
Be healed within His Temple.

 

Though dreams may fade,
Each one was made
In seed that Jesus sows.
And now I see
I’m called to be
The King’s most precious rose.

 

***

A minha semente nasceu

Numa manhã clara de primavera

Nos jardins cultivados por Deus.

Fora da terra

O meu caule deu à luz

Pétalas vermelhas como o sangue.

 

A chuva suave

O meu crescimento continuou,

E como cada semente que Deus semeia,

Eu sonhei (que) um dia

Seria chamada

A rosa mais preciosa do rei.

 

***

 

Um dia, um soldado

Inclinou-se sobre mim,

(E) arrancou-me da minha cama.

Totalmente espancado, golpeado,

O meu caule esfarrapado,

Procurado, mas para morrer.

 

Agarrada em mãos cruéis,

Fui despida da minha beleza,

Este não era o sonho que eu escolhi.

E cheia de vergonha,

Chorei de dor

Nunca mais (seria) uma rosa preciosa.

 

***

 

Então, eu vi

(Que) os soldados conduziam

Um Homem através das portas do palácio.

Seria este o meu Rei?

Porque trazem eles

Este Homem tão pobre?

 

Um manto de púrpura

Escondeu a tortura

Mas eu (ainda) podia ver.

 

Eles ridicularizaram(-No) e riram-se (Dele),

Deram-Lhe uma equipa,

E se inclinaram ajoelhados.

 

***

 

Eles dobraram-me sobre mim mesma

E teceram uma coroa

E colocaram-me sobre a Sua cabeça.

 

As minhas pétalas encontravam-se

Esmagadas pelo chão,

Como se fossem as lágrimas vermelhas de Deus.

 

Com cada pequeno pecado

Eu estava pressionando-O.

(E) eu perfurei-O com auto-desprezo.

 

Em pensamentos e em acções,

Eu fi-Lo sangrar,

O meu egoísmo, a Sua dor.

 

***

 

"Eis", eles cantam,

"Eis o vosso Rei! Saúdem,

O Rei dos judeus!"

Com cada golpe dos juncos,

A nossa dor aumentava.

 

Como (se fossemos) um, nós fomos maltratados.

Apesar da coroa,

Ele não franziu as sobrancelhas.

 

Em vez disso, Ele sorriu com amor,

E carregou-me

Para todos verem

Sobre a Sua querida cabeça.

 

***

 

Outrora colocado com reverência

Sobre as palhas duma manjedoura,

Ungido pelas mãos de João,

Transfigurado

Numa montanha ao amanhecer,

Agora usava um ramo destruído.

 

Outrora beijado delicadamente

Pelos lábios de Maria,

E abençoado com mirra dos Magos,

Baptizado por

Um céu que se dividiu (ao meio),

(Estava) agora raiado do sangue mais puro.

 

***

 

Uma fronte inocente

Chama-nos a conhecer

(E) a seguir este exemplo:

Deixemos que os nossos espinhos

E tudo o que nos despreza

Seja curado no interior do Seu Templo.

 

Embora os sonhos possam desaparecer,

Cada um (deles) foi criado

Nas sementes que Jesus semeou.

E agora eu vejo

(Que) fui chamado a ser

A Rosa mais preciosos do Rei.

 

***

 

 

Se quiserem, podem ouvir as canções dos outros Mistérios Dolorosos e seguir a letra de cada uma aqui.