Sou uma jovem esposa e mãe católica portuguesa. Neste blog partilho a minha caminhada em busca da santidade e o meu encontro com o amor misericordioso do Senhor. Espero que ele vos possa ajudar a encontrar a alegria do Evangelho!
Sou uma jovem esposa e mãe católica portuguesa. Neste blog partilho a minha caminhada em busca da santidade e o meu encontro com o amor misericordioso do Senhor. Espero que ele vos possa ajudar a encontrar a alegria do Evangelho!
A parábola da dracma perdida surge no contexto de outras 2 parábolas contadas por Jesus, bastante mais conhecidas – a parábola da ovelha perdida e do filho pródigo. Todas estas parábolas falam-nos de bens preciosos que foram perdidos, e acerca da busca incessante de alguém para os reencontrar e resgatar. Um pormenor importante da parábola da dracma perdida, e que a distingue das outras duas, é que o bem precioso foi perdido dentro da própria casa … e o que o fez perder-se não parece ser algum acontecimento fora do comum, mas apenas as coisas aparentemente simples e banais do dia a dia, à quais tendemos a dar pouca importância ...
Tenho andado a passar por um período de insónias e, assim, a Bíblia tem-me acompanhado ainda mais do que o costume. Nestes dias, a Igreja tem-nos levado a meditar em diversas parábolas de Jesus, transmitidas até aos dias de hoje através do Evangelho segundo São Mateus.
Afastando-se, então, das multidões, Jesus foi para casa. E os seus discípulos, aproximando-se Dele, disseram-Lhe: «Explica-nos a parábola do joio no campo.» (Mt 13,36)
Também eu, na solidão do meu quarto, longe das confusões e preocupações que me enchem os dias, me tento aproximar de Jesus, pedindo-Lhe incessantemente: Senhor, explica-me ...
«O Reino do Céu é comparável a um homem que semeou boa semente no seu campo. Ora, enquanto os seus homens dormiam, veio o inimigo, semeou joio no meio do trigo e afastou-se.Quando a haste cresceu e deu fruto, apareceu também o joio.
Os servos do dono da casa foram ter com ele e disseram-lhe: 'Senhor, não semeaste boa semente no teu campo? Donde vem, pois, o joio?'
'Foi algum inimigo meu que fez isto' - respondeu ele.
Disseram-lhe os servos: 'Queres que vamos arrancá-lo?'
Ele respondeu: 'Não, para que não suceda que, ao apanhardes o joio, arranqueis o trigo ao mesmo tempo.Deixai um e outro crescer juntos, até à ceifa; e, na altura da ceifa, direi aos ceifeiros: Apanhai primeiro o joio e atai-o em feixes para ser queimado; e recolhei o trigo no meu celeiro.'» (Mt 13, 24-30)
Estarei eu atenta aquilo que vai crescendo dentro de mim, no campo que o Senhor semeou, no meu coração, na minha vida?
As sementes do Senhor são abundantes e numerosas. Como é que eu as tenho recebido? Como as tenho nutrido? Estarei a ter o cuidado de continuamente enriquecer o solo do meu campo, com a virtude da humildade (que tem origem na palavra "humus" - solo), ou estarei eu a deixar que ele se endureça de orgulho?
Que tipo de sementes tenho eu permitido que criem raízes em mim? Sementes geradoras de vida, de trigo frutuoso, de trigo que se deixe arrancar e moer, para assim se tornar farinha e depois pão, a fim de dar vida aqueles que me rodeiam? Ou serão sementes ocas e vazias, que apenas ocupam espaço e tempo, impedindo que as boas sementes cresçam e se desenvolvam em pleno esplendor?
Contudo, é necessário aprender a esperar pelo tempo certo do Senhor. Se me deparar com algo que me pareça joio na minha vida, posso, num acto colérico, querer arrancá-lo imediatamente e assim tratar do assunto (à minha maneira, claro). Mas a verdade é que eu percebo pouco de "agricultura" ... saberei eu distinguir, realmente, o trigo do joio? Não, o Senhor não deseja que nenhum trigo se perca ou seja arrancado precocemente; e eu sei, por experiência, que percebo muito pouco de "agricultura" ... Na minha ânsia, posso estar a arrancar de forma irremediável algo que, na verdade, seja bom e traga o bem. É preciso ter paciência e esperar pela ordem interior que o Senhor nos dá - "Sim, é agora, é isso mesmo" ou "Não, ainda não, espera Marisa ...".
Pior ainda - posso cair na tentação de querer ir arrancar aquilo que me parece joio na vida do outro que me rodeia. Deixa-me que "te ajude", penso eu. Ah, que tentação frequente ... Não, apenas ao Senhor, e unicamente a Ele, pertence a ceifa e a colheita ...
Continuamos a explorar a líndissima igreja recém terminada na cidade de Magdala, uma cidade com tanta importância nas Sagradas Escrituras para nós, mas que esteve perdida e escondida debaixo da areia durante séculos e séculos ...
O nome desta Igreja, em latim, 'Duc In Altum', consagrada em 2014 pelo Patriarca de Jerusalém, foi inspirado nas palavras que Jesus disse aos Seus primeiros Apóstolos, entre eles Simão Pedro, após uma noite de pesca infrutífera. Depois de ter ensinado uma multidão inteira, Jesus diz-lhes
"Lançai [as redes] para as profundezas"
ou "Duc in altum" (Lc 5,4)
E eles assim fizeram, eles assim obedeceram, apesar de algo hesitantes. O resultado? Bem, nada menos que uma rede de pesca quase a rasgar-se com o peso de tal pescaria extraordinária ...
Na verdade, toda a construção desta bela igreja (cujas fotos partilhei já convosco no post anterior) serve para nos relembrar e inspirar a não ter medo de confiar nestas palavras de Jesus, nosso Mestre, que nos incentiva a lançar-nos nas profundezas do Seu tremendo e infinito amor... Ouçamos, confiemos, obedeçamos e lancemo-nos - sem qualquer medo ou receio. Jesus estará lá - sempre - connosco e Ele promete-nos que os frutos de tal acto de coragem serão - sempre - imensamente numerosos ...
Nós avançamos também, explorando esta bela e ampla igreja, construída para receber multidões de peregrinos ... mas quase só estamos aqui nós, os 40 peregrinos vindos de Portugal. E eu lembro-me das outras palavras de Jesus
Como é estreita a porta e quão apertado é o caminho que conduz à vida,
e como são poucos os que o encontram!
Mt 7,14
Encontramo-nos sob o manto de Nossa Senhora de Guadalupe (cuja festa celebramos esta semana, a 12 de Dez!), pintado no tecto da igreja - e que nos faz sentir quase como se, também nós, à semelhança de Jesus neste período de Advento, estivéssemos dentro do ventre desta querida Mãe, que nos acolhe e protege com a sua perpétua oração e intercessão...
A nossa guia indica-nos que devemos seguir através duma porta estreita. Porque sorris tanto Marisa? - perguntam-me os outros peregrinos. Oh, Deus tem cá um sentido de humor! .
Esta porta estreita leva-nos, tão adequadamente, até às profundezas desta igreja e, bem, até às profundezas do meu coração quando, através dum quadro nesta modesta e simples capela, chamada Capela do Encontro, sem qualquer aviso, Jesus me leva às lágrimas...
[Havia uma ] certa mulher, vítima de um fluxo de sangue havia doze anos, que sofrera muito nas mãos de muitos médicos e gastara todos os seus bens sem encontrar nenhum alívio, antes piorava cada vez mais ...
Mc 5, 25-26
Começo eu a recitar esta parábola de Jesus que, talvez, mais que qualquer outra, eu sei quase de cor, de tantas e tantas vezes que a li e reli e reli ... E de tantas vez que a cantei - graças a uma das minhas músicas favoritas da Danielle Rose - If I touch Him (se eu Lhe tocar).
Estava escrito no livro do Levítico que
«Quando uma mulher tiver o fluxo de sangue que corre do seu corpo, permanecerá durante sete dias na sua impureza. Quem a tocar ficará impuro até à tarde. Todo o objecto sobre o qual ela se deitar, durante a sua impureza, ficará impuro; tudo aquilo em que se sentar, ficará impuro. Quem tocar no seu leito, deverá lavar as vestes, banhar-se-á em água e ficará impuro até à tarde. Quem tocar em qualquer objecto em que ela tenha estado sentada lavará as vestes, banhar-se-á em água e ficará impuro até à tarde. Quem tocar nalguma coisa que estiver sobre a cama ou sobre o móvel em que ela se sentou, ficará impuro até à tarde. Se um homem coabitar com ela e a sua impureza o atingir, ficará impuro durante sete dias, e todo o leito em que se deitar ficará impuro.
Quando uma mulher tiver um fluxo de sangue durante vários dias, fora do tempo normal de impureza, isto é, se o fluxo se prolongar para além do tempo da sua impureza, ficará impura durante todo o tempo desse fluxo, como no tempo da sua impureza. Durante todo o tempo desse fluxo, todo o leito em que se deitar será para ela como o leito em que se deitava durante a sua impureza; qualquer móvel sobre o qual se sentar ficará impuro, como no tempo da sua impureza; quem os tocar ficará impuro; deverá lavar as suas vestes, banhar-se-á em água e ficará impuro até à tarde. Quando terminar o fluxo de sangue, contará sete dias e, depois, ficará pura.»
Lev 15, 19-28
Conseguem imaginar o profundo e intenso sofrimento desta mulher, que há 12 anos mantinha este fluxo de sangue?
Há 12 anos que não podia tocar em ninguém, nem ninguém lhe podia tocar. Teria ela uma família, um marido e filhos? Meu Deus, imaginar 12 anos sem lhes poder tocar... Oh, quanto desejava fazê-lo ... Mas ela sabia que, se o fizesse, os tornaria impuros ... E o amor de mãe e o amor de esposa é muitíssimo maior que este desejo - então, por amor aos outros, lutando contra os desejos do seu próprio coração, mantinha-se firme na resolução de não tornar os outros impuros, de não levar os outros a pecar ...
Ela tinha procurado ajuda em tudo quanto fosse lugar, tinha gasto tudo o que tinha, tinha-se colocado nas mãos de todos os que eram chamados de sábios e de médicos ... e nada, absolutamente nada, era capaz de sarar aquela ferida aberta, aquela profunda ferida aberta, que lentamente, gota por gota, lhe retirava toda a vida ...
Até que surgiu Jesus. É sempre assim, também nas nossas vidas - chega Jesus e nunca nada é o mesmo!
Tendo ouvido falar de Jesus, veio por entre a multidão e tocou-lhe, por detrás, nas vestes, pois dizia: «Se ao menos tocar nem que seja as Suas vestes, ficarei curada.»
Mc 5, 27-28
Ela tinha-se tentado esconder por entre a multidão. Já estava tão habituada a isso ... Durante anos tinha vivido com intensos sentimentos de vergonha e de culpa. Durante anos tinha-se sentido suja .... Terá sido, muito provavelmente, expulsa de muitos locais pela sua situação. Oh, o que aconteceria se alguém a reconhesse? Oh, se alguém descobrisse que ela se tinha atrevido a estar no meio duma multidão! ...
Pela primeira vez, ao fim de tantos e tantos anos, um sentimento mais forte que a culpa e a vergonha tinha surgido na sua vida - a Fé. Sim, apenas Ele a poderia salvar, oferecendo-lhe o amor misericordioso que ela tanto procurava. A Fé que tem origem no amor de Deus torna-nos corajosos e audazes...
♫ Se ao menos eu Lhe tocar, Ele curará o meu coração que sangra
Se eu Lhe tocar, Ele dar-me-á tudo o que eu preciso
Se apenas esticar a minha mão e Lhe tocar na orla das Suas vestes
Eu acredito que serei tornada inteira novamente ... ♪
Apreciem bem todo o realismo desta pintura belíssima do artista Daniel Cariola ...
De facto, no mesmo instante se estancou o fluxo de sangue, e sentiu no corpo que estava curada do seu mal. Imediatamente Jesus, sentindo que saíra Dele uma força, voltou-se para a multidão e perguntou: «Quem tocou as minhas vestes?»
Os discípulos responderam: «Vês que a multidão te comprime de todos os lados, e ainda perguntas: ‘Quem me tocou?’» Mas Ele continuava a olhar em volta, para ver aquela que tinha feito isso.
Mc 5, 29-32
Oh, o poder dum simples toque ...
Jesus tinha acabado de ser chamado, à pressa, para ir acudir a filha de Jairo, uma menina de 12 anos, que estava à beira da morte ... Também esta mulher tinha estado a morrer, esvaindo-se em sangue que brotava do seu corpo e da profunda ferida aberta da sua alma, nos últimos 12 anos ....
À filha de Jairo, Jesus segurará na sua mão e ressuscita-la-á dos mortos ... Também a esta mulher bastará um simples toque, único e especial, incomparável a qualquer outro, para a trazer de novo à vida ...
Num instante toda a vergonha, toda a culpa, toda a imundice, toda a solidão, toda a dor, oh tão forte e profunda, desapareceu ... terminou ... para sempre!
Então, a mulher, cheia de medo e a tremer, sabendo o que lhe tinha acontecido, foi prostrar-se diante Dele e disse toda a verdade.
Disse-lhe Ele: «Filha, a tua fé salvou-te; vai em paz e sê curada do teu mal.»
Mc 5, 33-34
Como é grande o amor de Deus por nós! Tão grande e belo e imenso, que nos tira o fôlego e faz tremer o nosso corpo com toda a Sua intensidade! Que nos leva a desejar colocar-nos de joelhos diante d'Aquele que nos dá uma nova vida ...
♬ Então a criança dentro da minha alma, que eu pensava que tinha morrido há tanto tempo atrás
Foi ressuscitada de novo à vida e eu senti uma alegria até nos meus ossos.
Então eu fui a correr contar - aos cegos, aos coxos, aos que andavam de coração partido, aos que sentiam vergonha
Aos ricos, aos pobres, aos jovens, aos velhos - a verdade que precisa de ser proclamada! ♪
♪ Se tu Lhe tocares, Ele curará o teu coração que sangra,
Se tu Lhe tocares, Ele te dará tudo o que tu precisas,
Se tu ao menos esticares as tuas mãos e tocares no Pão do Céu,
Acreditas que Ele será capaz de te tornar inteiro novamente? ♫
Passámos uma bela manhã nesta lindíssima praia em Tagba. Está na altura de seguirmos caminho - há ainda tantas maravilhas à nossa espera na Terra Santa! - mas temos ainda tempo para ouvir o relato dum último (grande!) milagre de Jesus, que terá ocorrido não muito longe desta praia tão especial ...
Jesus foi para a outra margem do lago da Galileia, ou de Tiberíades. Seguia-o uma grande multidão, porque presenciavam os sinais miraculosos que realizava em favor dos doentes. Jesus subiu ao monte e sentou-se ali com os seus discípulos.
Estava a aproximar-se a Páscoa, a festa dos judeus. Erguendo o olhar e reparando que uma grande multidão viera ter com Ele, Jesus disse então a Filipe: «Onde havemos de comprar pão para esta gente comer?» Dizia isto para o pôr à prova, pois Ele bem sabia o que ia fazer.
Filipe respondeu-lhe: «Duzentos denários de pão não chegam para cada um comer um bocadinho.»
Disse-lhe um dos seus discípulos, André, irmão de Simão Pedro: «Há aqui um rapazito que tem cinco pães de cevada e dois peixes. Mas que é isso para tanta gente?»
Jesus disse: «Fazei sentar as pessoas.»
Ora, havia muita erva no local. Os homens sentaram-se, pois, em número de uns cinco mil. Então, Jesus tomou os pães e, tendo dado graças, distribuiu-os pelos que estavam sentados, tal como os peixes, e eles comeram quanto quiseram.
Quando se saciaram, disse aos seus discípulos: «Recolhei os pedaços que sobraram, para que nada se perca». Recolheram-nos, então, e encheram doze cestos de pedaços dos cinco pães de cevada que sobejaram aos que tinham estado a comer.
Aquela gente, ao ver o sinal milagroso que Jesus tinha feito, dizia: «Este é realmente o Profeta que devia vir ao mundo!»
Jo 6, 1-14
Praia em Tagba, junto da Mensa Christi e do Primado de Pedro
Ah, a matemática de Deus ... que é tão diferente da nossa!
Na escola, facilmente aprendemos a não gostar muito das contas de subtração ou de divisão - afinal, ficamos quase sempre com menos no final da conta do que quando começámos! Depois crescemos e, ao longo da nossa vida, também o mundo nos tenta ensinar isso mesmo ... Quantas vezes ouvimos - "Estás a dar demais! Não dês tanto ou não haverá para ti também..." ou "Dividir o que é meu contigo? Assim fico eu a perder e isso não pode ser... "
Mas Jesus veio ensinar-nos que, nas contas de Deus, quem se subtrair aqui na terra, pelo contrário, no final da equação somará bênçãos e graças infinitas no Céu! Quem dividir com os irmãos tudo o que tem, quem der e der e der - até doer - receberá mil por cada cem!
Tomando a palavra, Pedro disse-lhe: «Nós deixámos tudo e seguimos-te. Qual será a nossa recompensa?»
Jesus respondeu-lhes: «Todo aquele que tiver deixado casas, irmãos, irmãs, pai, mãe, filhos ou campos por causa do meu nome, receberá cem vezes mais e terá por herança a vida eterna.»
Mt 19,27.29
Neste mundo, quanto mais damos, com menos (aparentemente) ficamos. Mas, nas contas de Deus, quanto mais damos ao outro, nosso irmão - amado, ou talvez não - mais tesouros estaremos a acumular no Céu. Dizem-nos os Santos que, para o Céu, levaremos apenas connosco, não nada daquilo que tivermos acumulado nesta terra, mas sim tudo o que tivermos oferecido, abdicado e sacrificado ao longo da nossa vida - por amor ao outro, por amor a Deus....
Oh, tantas e tantas vezes que Jesus nos diz nos Evangelhos: aquele que muito junta, acabará por ficar sem nada e de mãos vazias; mas aquele que divide o que tem, receberá ainda mais. Porque não O ouvimos nós?
Sim, quem desejar salvar a sua vida, perdê-la-á. Mas quem a oferecer, em sacrifício, por amor, salva-la-á e entrará no Reino dos Céus.
Pelas contas de Deus, vale a pena largar as noventa e nove ovelhas que estão seguras, para ir atrás daquela única que se perdeu. Dizem-nos também os Santos nossos amigos que, por cada pecador que se converte, por cada alma que é salva - quem sabe, talvez por ação da oração de alguém que vive do outro lado do planeta! - há uma festa no Céu maior do que qualquer Casamento Real aqui da terra...
Pensem no pequenino grão de mostarda - tu e eu, querido leitor - que, quando lançado à terra, se não morrer para si próprio, não poderá gerar vida e dar origem a uma árvore de tal porte magnífico que consegue acolher, debaixo dos seus ramos e folhas, outras criaturas que em si procuram abrigo...
À nossa volta, no mundo, vemos tanto desperdício ao todo o lado - plástico, cartão, embalagens, mobílias fora de moda, brinquedos que já não são novidade, e comida, oh tanta comida...
Mas nas contas do Senhor? Nem uma única lágrima nossa se perde! Nem um único suspiro ou prece passa despercebida! Nem um pequeno ou invisível acto ou renúncia deixa de ter o seu efeito - eterno!
Achas que tens pouco para oferecer ao Senhor e aos irmãos? Parece-te que tens apenas cinco pães de cevada e dois peixinhos... e pedem-te que alimentes cinco mil homens, mais as suas mulheres e filhos?....
Parece loucura, eu sei.... Sim, segundo aquilo que o mundo nos diz, é impossível...
Mas, o teu pouco, colocado nas mãos do Senhor? Abençoado pela Sua tremenda graça? Oh, a todos, sem faltar nenhum, conseguirás alimentar, nutrir e fortalecer - e ainda sobrará, abundantemente, o suficiente para ti e toda a tua família!
Estávamos a poucos dias do fim da Quaresma, a poucos dias da Semana Santa.
No Evangelho de São Marcos, capítulo 10, leio que Jesus dirigia-se em subida para Jerusalém, a Cidade Santa, para aquela que seria a Páscoa da Sua cruz e ressurreição. Na berma da estrada estava sentado um mendigo, cego, chamado Bartimeu. Ao saber que Jesus se encontrava perto, ele põe-se a gritar: «Jesus, Filho de David, tem misericórdia de mim!», sem cessar. Jesus convida-o a aproximar-se. O cego suplica-Lhe «Mestre, que eu veja!» e Jesus responde «Vai, a tua fé te salvou!». Bartimeu recuperou a vista «e seguiu Jesus pelo caminho» (Mc 10, 47-52)
Vai.
Escolham um Evangelho para ler e analisem as palavras de Jesus a cada pessoa que se encontrava com Ele pelo caminho. Vão encontrar quase sempre esta resposta de Jesus - Vai. Agora que já te encontraste Comigo, agora que já Me conheceste - Vai.
Não é possível ter um verdadeiro encontro com Jesus e permanecer na mesma. É impossível que a nossa vida permaneça na mesma. Se permanecer, quer apenas dizer que afinal não O encontrámos realmente, que não O chegámos a conhecer.
Vai, mexe-te. Vaie conta a toda a gente acerca de Mim, da Minha misericórdia, do Meu infinito amor. Vaie vive a tua nova vida que Eu te dei. Vai, por Mim. Vai, Comigo.
Quem tenta seguir Jesus mas sem querer perder nada deste mundo, desta sociedade ... na verdade, está a perder tudo, porque não está a seguir Jesus. É simplesmente impossível ter as duas coisas. É preciso escolher. E todas as escolhas, todas, implicam perdas. Ao escolhermos algo, estamos a dizer não a tudo o resto.
É difícil? É...Vai.
Vêm poucas pessoas por este caminho? Sim .... Vai.
Foto de todos os participantes na Missão País 2016 na Chamusca.
Conclusão da Parábola do Filho Pródigo
Como vimos ao longo da "viagem" que foi esta série de posts, a Parábola do Filho Pródigo é uma história extremamente rica e cheia de diferentes sentidos, significados, imagens e analogias.
Em apenas algumas frases, com base numa pequena história, Jesus resume toda a Boa Nova que Ele nos veio trazer, todo o Evangelho e até, atrevo-me a dizer, toda a mensagem da Bíblia....
Jesus mostra-nos, por um lado, o rosto dum Pai misericordioso, bondoso e compassivo, sempre capaz de perdoar e de aceitar de volta todos os seus filhos perdidos.
E, por outro, mostra-nos as duas formas principais pelas quais cada um de nós se pode afastar do amor do Pai.
Em algumas fases da nossa vida, podemo-nos comportar como o Filho mais novo: procurando uma vida fisicamente longe da casa do Pai; perdendo-nos numa busca desenfreada do prazer, do excesso material, do desperdício e da insensatez; e desperdiçando toda a “herança” que nos foi dada gratuitamente pelo nosso Pai.
Mas, incrivelmente, todos estes pecados são carinhosamente perdoados pelo nosso misericordioso Pai.
Contudo, talvez na maior parte da nossa vida católica, acabamos por nos comportar como o Filho mais velho. Nas palavras do Papa Francisco:
“Temos uma atitude “justiceira”, ou seja, presumimos que pelos nossos méritos somos justos e que, por causa desse facto, temos a autoridade para julgarmos o outro. Julgamos até Deus, porque pensamos que Ele deveria castigar os pecadores e condená-los à morte. E não somos capazes de aceitar a atitude misericordiosa do Pai para com um irmão.
Desta forma, corremos um enorme risco de permanecermos fora da casa do Pai, como Irmão mais velho. Se no nosso coração não há misericórdia e não há a alegria do perdão, então não estamos em comunhão com Deus, ainda que observemos todos os Seus preceitos – porque é o amor que salva, e não a prática dos preceitos. É o amor a Deus e ao próximo que dá cumprimento pleno a todos os mandamentos.”
Papa Francisco, no Angelus do dia 15 de Setembro de 2013
Na verdade, os dois Filhos desta Parábola são Filhos Pródigos, porque ambos são exemplos da negação e da rejeição do amor de Deus que conduz ao pecado. É necessário apercebermo-nos da nossa própria condição, da nossa pobreza e do nosso nada sem o amor de Deus, para finalmente encontrarmos o acolhimento, a reconciliação, a ternura, a alegria e a misericórdia do nosso Pai!
Para terminar, partilho convosco um vídeo feito por uma colega/missionária da nossa missão, em que cada um de nós tenta explicar o que é a Missão País:
Hoje terminamos o estudo da Parábola do Filho Pródigo, com os versículos que, a meu ver, são os mais surpreendentes e desconcertantes:
"Ora, o filho mais velho estava no campo. Quando regressou, ao aproximar-se de casa ouviu a música e as danças. Chamou um dos servos e perguntou-lhe o que era aquilo. Disse-lhe ele: ‘O teu irmão voltou e o teu pai matou o vitelo gordo, porque chegou são e salvo.’
Encolerizado, não queria entrar; mas o seu pai, saindo, suplicava-lhe que entrasse. Respondendo ao pai, disse-lhe: ‘Há já tantos anos que te sirvo sem nunca transgredir uma ordem tua, e nunca me deste um cabrito para fazer uma festa com os meus amigos; e agora, ao chegar esse teu filho, que gastou os teus bens com meretrizes, mataste-lhe o vitelo gordo.’
O pai respondeu-lhe: ‘Filho, tu estás sempre comigo, e tudo o que é meu é teu. Mas tínhamos de fazer uma festa e alegrar-nos, porque este teu irmão estava morto e reviveu; estava perdido e foi encontrado.’»”
Lucas 15:25-32
O Filho mais velho também se afastou ...
Ao lermos atentamente estes versículos, acabamos por constatar que, apesar de sempre ter vivido na casa do seu Pai, o Filho mais velho também se sentia longe dela ...
Ele vê-se como sendo um filho fiel e exemplar, que sempre cumpriu todos os seus deveres e que sempre seguiu todas as ordens do seu Pai. E, por causa disso, dos seus méritos e acções (aparentemente) exemplares, pensa que devia ser recompensado.
Mas, apercebemo-nos depois, o Filho mais velho, na verdade, não se comportava como verdadeiro filho, mas sim como um escravo obediente. O Filho mais velho demonstra ser capaz de fidelidade, sem dúvida, mas também demonstra uma incapacidade em amar e deixar-se ser amado.
É por esta razão, simultaneamente tão simples mas tão decisiva, que o Filho mais velho não consegue compreender o amor que perdoa manifestado pelo Pai.
Para ele, o mais importante é o mérito prático, os sacrifícios públicos e visíveis, e as formalidades rígidas e indiferentes - o que muito me lembra o comportamento dos fariseus descritos nos Evangelhos e que Jesus tanto criticava ....
Para ele, não existe lugar para a solidariedade, nem para a gratuidade, muito menos para a caridade ou o amor desinteressado….
Na verdade, o Filho mais velho estava tão afastado do Pai tanto quanto o Irmão mais novo...
O Regresso do Filho Pródigo (1668) - Rembrandt
O Filho mais velho também estava perdido ...
Nestes versículos, vemos o Filho mais velho a acusar o Pai de cegueira e de injustiça. De notar que, ao falar, ele usa expressões como "esse teu filho" e "os teus bens", demonstrando uma frieza, um isolamento, uma separação, um afastamento e um sentimento de não pertença na sua família.
Assim, verifica-se que ocorreu com o Filho mais velho o mesmo que com o seu irmão, ou seja, também ele estava perdido e precisava voltar...
Porém, o seu regresso, ao contrário do irmão, ainda não aconteceu. Ele encontra-se ainda perdido, no interior da própria cada do seu Pai. Também ele é o Filho Pródigo...
O Filho mais velho também foi encontrado pelo Pai...
O Pai que, momentos antes saíra da sua casa ao encontro do Filho mais novo, parte agora em busca do Mais velho. Pede-lhe, suplicando, que participe da sua alegria, que só será completa quando houver verdadeira comunhão entre todos os filhos. Vemos um Pai que anseia por uma completa união e reconciliação da sua família.
Portanto, «é preciso» que também o Filho mais velho "caia em si", reconhecendo os seus erros e experimentando também ele o perdão do Pai.
Na verdade, ao rivalizar com o irmão, o Filho mais velho não se apercebe que o amor do Pai não tem preferências nem predilecções; e é tão grande que chega para todos…
Ao lermos a Parábola do Filho Pródigo, quase inconscientemente achamos que o Filho Mais Novo é a personagem principal - porque é a personagem mais falada e acerca da qual a parábola parece girar. Mas, finalmente, nos versos 20 a 24, apercebemo-nos que o Pai, uma personagem quase secundária até aqui, é na verdade a personagem mais importante.
"Quando ainda estava longe, o pai viu-o e, enchendo-se de compaixão, correu a lançar-se-lhe ao pescoço e cobriu-o de beijos. O filho disse-lhe: ‘Pai, pequei contra o Céu e contra ti; já não mereço ser chamado teu filho.’ Mas o pai disse aos seus servos: ‘Trazei depressa a melhor túnica e vesti-lha; dai-lhe um anel para o dedo e sandálias para os pés. Trazei o vitelo gordo e matai-o; vamos fazer um banquete e alegrar-nos, porque este meu filho estava morto e reviveu, estava perdido e foi encontrado.’ E a festa principiou."
Lucas 15:20-24
O Pai, representando Deus, espera durante muito tempo pelo regresso do seu Filho mais novo a casa. E, quando o vê, corre de braços abertos para o receber! Quando o recebe, não lhe pergunta por onde andou nem o que fez, mas dá-lhe, simplesmente, de volta toda a dignidade de filho que se arrependeu.
Por muitos pecados que possamos ter cometido, Deus espera-nos sempre e está pronto a acolher-nos e a festejar connosco e por nós! Deus nunca se esquece de nenhum de nós. Deus nunca nos abandona. Ele é um Pai infinitamente paciente, que nos espera sempre!
Porque, como disse o Papa Francisco, "Deus nunca se cansa de nos perdoar! ... nós é que nos podemos cansar de Lhe pedirmos perdão."
Disse também o Sumo Pontífice, no Angelus, a 15 de Setembro de 2013:
"Se vivermos segundo a lei do «olho por olho, dente por dente», jamais sairemos da espiral do mal. O Maligno é astuto e ilude-nos que, com a nossa justiça humana, podemos salvar-nos a nós mesmos e ao mundo...
Na realidade, só a justiça de Deus nos pode salvar! E a justiça de Deus revelou-se na Cruz: a Cruz é o juízo de Deus sobre este mundo.
Mas como nos julga Deus? Dando a vida por nós!
Eis o gesto supremo de justiça, que derrotou de uma vez por todas o Príncipe deste mundo. E este gesto supremo de justiça é também, precisamente, o gesto supremo de misericórdia. Jesus chama a todos nós a seguir este caminho: «Sede misericordiosos, como o vosso Pai é misericordioso» (Lc 6:36)
Realço também que, apesar de não ser dito directamente, pode-se inferir que é só neste momento que o Filho mais novo se apercebe que a verdadeira herança do Pai não era a posse material, mas o sim Seu amor!
O nosso Deus é um Pai que espera.
O nosso Deus é um Pai alegre - e a Sua alegria é perdoar!