Um simples puzzle
Nestas férias, escolhemos um puzzle para montar em família. Um puzzle grande, com 1000 peças, com a pintura do "Julgamento Final" do Miguel Ângelo, e que me pôs bastante a pensar e meditar ...
A construção dum puzzle torna-se mais fácil se construirmos primeiro os seus limites. Limites são coisas boas, muito mais do que tendemos a pensar. Orientam-nos e dão-nos direções sobre onde cada desenho principal vai ficar. Dão-nos segurança, pois sabemos claramente até onde podemos ir, antes de nos engarnar-nos ou fazermos asneira. Limites claros e bem definidos permitem-nos começar a juntar peças e avançar na nossa construção. São esses mesmos limites, presentes desde o início, que, no final, garantirão que todo o puzzle se mantém unido, com cada peça no seu lugar ...
Avançamos no nosso trabalho e vamos à procura de novas peças, para as ligar àquelas que já temos colocadas corretamente nos seus devidos lugares. Tentamos e voltamos a tentar, até encontrar aquela peça perfeita que encaixa que nem uma luva. Encontramos, assim, o lugar que apenas aquela peça (e mais nenhuma outra) podia ter - não só pelo seu formato mas também pela harmonia das cores e pela continuidade do desenho.
Basta uma só peça não estar no seu devido lugar e o puzzle já não é o mesmo. Nota-se logo a sua falta. A sua beleza já não será completa ...
Ah, a beleza da jornada conjunta, lado a lado à volta da mesma mesa, de se ir construindo um puzzle peça por peça. A alegria partilhada por cada novo encaixe. A partilha da frustração por não se conseguir encontrar aquela peça que se procura há tanto tempo... "Deixa, dorme sobre o assunto, logo tentamos amanhã novamente, com as forças renovadas pelo Senhor "...
Nem todos os dias conseguiremos produzir os mesmos frutos: haverá dias em que montaremos pouco mais de meia dúzia de peças, mera gota de água naquele oceano; mas, noutros dias, veremos o quão abundantes podem ser os frutos do nosso trabalho, do nosso empenho e persistência...
Ah, o caminho partilhado... A obra que começa a tomar forma e relevo. "Força, estamos quase lá, juntos conseguimos" ...
Eis, por fim, o quadro final, sinal visível do nosso caminho conjunto, da nossa jornada partilhada. Todas as peças, por fim, perfeitamente unidas, a pintura finalmente composta. "Que linda está" ...
Continua a ver-se o formato individual de cada peça. Cada uma delas é única e não poderia ocupar nenhuma outro lugar ...
De hoje em diante, de cada vez que olharmos para aquele quadro, na parede da nossa casa, lembrar-nos-emos e faremos memória do caminho percorrido em conjunto. Contaremos histórias, partilharemos momentos e memórias ...
Assim acontecerá connosco, um dia, no Céu, quando Deus nos mostrar os puzzles das nossas vidas ... Oh, que pura beleza!
Ámen