Sou uma jovem esposa e mãe católica portuguesa. Neste blog partilho a minha caminhada em busca da santidade e o meu encontro com o amor misericordioso do Senhor. Espero que ele vos possa ajudar a encontrar a alegria do Evangelho!
Sou uma jovem esposa e mãe católica portuguesa. Neste blog partilho a minha caminhada em busca da santidade e o meu encontro com o amor misericordioso do Senhor. Espero que ele vos possa ajudar a encontrar a alegria do Evangelho!
Por aqueles dias, saiu um édito da parte de César Augusto para ser recenseada toda a terra. Este recenseamento foi o primeiro que se fez, sendo Quirino governador da Síria. Todos iam recensear-se, cada qual à sua própria cidade. Também José, deixando a cidade de Nazaré, na Galileia, subiu até à Judeia, à cidade de David, chamada Belém, por ser da casa e linhagem de David, a fim de se recensear com Maria, sua esposa, que se encontrava grávida. (Lc 2,1-5)
São José é chamado a ir recensear-se na sua terra natal, em Belém, nos últimos tempos da gravidez de Maria. Por esta altura, já deviam ter tudo preparado para a chegada de Jesus na sua casa: berço, roupas, fraldas, a ajuda necessária da comunidade de Nazaré ... Tudo estaria pronto e preparado.
Contudo, inesperadamente, Deus chama-os a abandonar o conforto do seu lar e a abdicar do apoio dos vizinhos da aldeia, para viajarem até Belém, a 200km de distância de casa. Como já reflectimos anteriormente, os Evangelhos não nos explicam os motivos que levaram Nossa Senhora a acompanhar S. José até Belém - não era preciso que ela fosse até lá, mas Maria insistiu em ir também.
Bem - deverá ter pensado São José - ao menos em Belém haverá familiares que nos possam receber nas suas casas. Pensei muito neste aspecto ao longo deste tempo de Natal. Todos os elementos da família de São José, por mais próximos ou afastados que fossem, tinham sido chamados a apresentarem-se em Belém. Quando Maria e José chegaram finalmente a Belém, após cinco ou seis dias duma dura viagem, ao passo modesto dum burrinho carregando uma mulher grávida, a maioria dos seus familiares também já lá estariam ... e já estava tudo cheio.
E, quando eles ali se encontravam, completaram-se os dias de ela dar à luz e teve o seu filho primogénito, que envolveu em panos e recostou numa manjedoura, por não haver lugar para eles na hospedaria. (Lc 2,6-7)
Ao reflectir nesta passagem do Evangelho de São Lucas, não tendo a ficar com a impressão de que os habitantes de Belém, a família de Jesus, não quiseram recebê-Lo, mas sim que já não havia espaço. Já estava tudo cheio - as suas vidas, as suas casas, os seus dias, o seu presente e futuro - já estava tudo cheio, já não havia espaço para acolher a Sagrada Família e deixar que Jesus nascesse nos seus corações. Não me parece que não quisessem propriamente recebê-Lo, mas já estavam cheios de outras coisas, de outras pessoas, de outros problemas e preocupações deste mundo. Estavam tão cheios deste mundo e das coisas deste mundo (que só enchem, mas nunca preenchem!), que já não havia espaço para Deus nas suas vidas....
José e Maria, se quisessem, talvez ainda coubessem num cantinho da casa de alguém, desde que não incomodassem ninguém e não chamassem muito à atenção dos seus moradores, que tão concentrados estavam nas suas vidas ocupadas ... Oh, não tenderemos nós a fazer por vezes o mesmo, em certas alturas das nossas vidas?
E, assim, Jesus foi nascer numa gruta aberta e sem porta - porque todos estávamos convidados a ir recebê-Lo; que servia de abrigo e descanso merecido aos pobres animais de trabalho e transporte, como a vaca e o burro, e que, mesmo no seu cansaço, O acolheram; foi enrolado em panos, como se fazia ao cordeiro sacrificial da Páscoa judia, e colocado numa manjedoura transformada em altar de entrega e doação do verdadeiro Pão que nos sacia...
Mas Deus, que é rico em misericórdia e em amor, não perde uma única hipótese de nos oferecer uma nova oportunidade, de nos redimir, para que possamos tentar fazer o bem uma vez mais ...
Depois de ter ouvido o rei, os magos puseram-se a caminho. E a estrela que tinham visto no Oriente ia adiante deles, até que, chegando ao lugar onde estava o Menino, parou. Ao ver a estrela, sentiram imensa alegria; e, entrando na casa, viram o Menino com Maria, sua mãe. E prostrando-se, adoraram-No. (Mt 2,9-11)
Afinal, parece que alguém - não sabemos se uma família, uma viúva, um sacerdote, um tio ou primo de José - mas alguém arrependeu-se, reflectiu, deixou-se tocar e incomodar pelo mistério do Deus Menino, e fez espaço na sua casa, para O acolher. Para Deus, nunca - nunca! até ao derradeiro momento da nossa morte (a partir daí, só Deus saberá) - é tarde de mais. Há sempre tempo para o arrependimento, para tentarmos novamente, para fazermos melhor, ainda que pouco, a seguir.
Quem sabe se demorou algumas horas ou dias ou até semanas para isso acontecer; mas alguém arrependeu-se, pensou melhor novamente, e aceitou abrir, tanto as portas da sua casa, como do seu coração, como da sua vida, ao amor do Senhor. Quanta humildade e misericórdia Jesus nos demonstra e ensina, desde já, e Ele ainda mal nasceu ...
Deus fez dois grandes luzeiros: o maior para presidir ao dia, e o menor para presidir à noite; fez também as estrelas. Deus colocou-os no firmamento dos céus para iluminarem a Terra, para presidirem ao dia e à noite, e para separarem a luz das trevas. E Deus viu que isto era bom. Assim, surgiu a tarde e, em seguida, a manhã: foi o quarto dia. (Gn 1,14-19)
A narração do 4º dia da Criação leva-me a pensar em todos os episódios das Escrituras em que vemos simultaneamente presente o sol, Jesus, e a lua, Maria, mas também as diversas estrelas que os acompanham.
Penso na Anunciação do anjo Gabriel, a primeira estrela luminosa a aparecer no céu da Nova Criação, e no primeiro encontro terreno entre este sol e esta lua, fruto do "sim" humano mais importante na nossa História.
Penso na Visitação de Nossa Senhora, em Isabel e Zacarias, autênticas estrelas cintilantes de esperança, e na canção de louvor que brotou do coração de Maria, magnificando de forma incomparável a luz do Senhor.
Penso no nascimento de Jesus em Belém e no mistério da Encarnação. Deus que Se fez Homem, num corpo pequenino e frágil dum bebé, para que a Sua luz, tão forte e resplandecente, que facilmente seria capaz de nos cegar pela Sua grandeza, não nos assustasse nem por um segundo. Antes, fez-Se débil e vulnerável, de forma a nos atrair até junto de Si, para que pudéssemos ver, mais de perto, como é maravilhosa a luz que a lua, Maria, reflecte tão admiravelmente desde essa noite. E quantas estrelas não se juntaram no céu da Nova Criação nesse momento? José, o silencioso guia e protector da Sagrada Família; os humildes pastores, os últimos que se tornam em primeiros, e que tanto se alegraram com a glória do Senhor; os sábios magos, prudentes e conhecedores, tanto da direcção dos planos de Deus como das intenções do coração humano...
Penso na Apresentação de Jesus no Templo, na luz proveniente deste pequeno sol, feito Menino de colo, a ser reflectido e espelhado na face de Sua Mãe, permitindo que Simeão e Ana, quais estrelas puras e expectantes, soubessem exactamente o caminho até bem junto de Deus.
Penso na Fuga repentina da Sagrada Família para o Egipto, na tentativa dos homens deste mundo de exterminarem qualquer raio de luz de amor ou misericórdia que possam vislumbrar. Como é verdade que, pensando no protector São José, é na noite mais escura, que melhor se vê a luz das estrelas...
Penso na Perda e no Reencontro de Jesus no Templo e em todas as vezes em que eu própria perdi de vista a luz e o calor do Senhor, para O reencontrar sempre no mesmo lugar em que O deixei, sozinho e para trás. Se ao menos eu, como a lua, Maria, demonstrou nesse dia, vivesse a mesma ânsia e angústia pela terrível separação com a sua primordial fonte de luz e vida ... Benditas sejam as estrelas, como São José, que nos acompanham nessa busca de novo pelo nosso sol perdido.
Penso, por fim, no Calvário, no supremo e total derramamento do amor e misericórdia do Senhor, que a todos dá uma nova vida. Penso na Sua ternura, ao pedir a cada um de nós, Suas estrelas, para que cuidassemos da sua lua, a nossa professora exemplar na arte de magnificar e reflectir a luz do sol.
Não houve um só episódio em que o sol, Jesus, e a lua, Maria, estivessem juntos, sem estarem também presentes outras estrelas, numa maravilhosa escola de santidade para cada um de nós. E Deus desejou que assim fosse, desde o início da Criação ...
Lamento muito a ausência de posts no blog ultimamente, mas Deus tem mantido a minha vida de trabalhadora-estudante muito movimentada e preenchida. E se lhe juntarmos o florescer duma vocação então ... Quantas bênçãos mas quanto trabalho também!
Assim, pelo menos até meados de Janeiro, não prevejo que vá conseguir escrever-vos nada de jeito ...
Não podia, contudo, deixar de partilhar convosco a meditação e reflexão mais profunda e transformadora que tive a oportunidade de ouvir neste Advento. Louvado seja Deus por esta enorme graça! Que ela possa também transformar este vosso restinho de Advento e início de Natal...
A anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia chamada Nazaré, a uma virgem desposada com um homem chamado José, da casa de David.
Lucas 1,26-27
Morto Herodes, o anjo do Senhor apareceu em sonhos a José, no Egipto, e disse-lhe: «Levanta-te, toma o Menino e sua mãe e vai para a terra de Israel, porque morreram os que atentavam contra a vida do menino.» Levantando-se, ele tomou o Menino e sua mãe e voltou para a terra de Israel.
Advertido em sonhos, retirou-se para a região da Galileia e foi morar numa cidade chamada Nazaré; assim se cumpriu o que foi anunciado pelos profetas: «Ele será chamado Nazareno».
Mt 2,19-20.23
Estamos em Nazaré, a terra natal de Maria e de José e a região onde Jesus passou a maior parte da Sua vida, desde o Seu regresso da terra do Egipto, por volta dos seus 6 a 7 anos de idade, até ter iniciado a Sua pregação (depois de ter passado pelas águas do rio Jordão), por volta dos seus 30 anos.
Nazaré situa-se na parte Norte do país de Israel, num vale rodeado por altas montanhas. Este vale, se o seguíssemos para Noroeste, levar-nos-ia até ao Mar Mediterrâneo; e se o seguíssemos para Sudeste, levar-nos-ia em direcção ao rio Jordão.
A Sul da cidade de Nazaré, localiza-se a Planície de Esdrelão (ou Vale de Jezrel), que é uma zona muito fértil, cheia de campos de colheitas, de plantas, árvores e flores - ena, que contraste tão grande em relação a todas as terras áridas e desérticas pelas quais temos passado nos últimos dias!
Nazaré é hoje uma cidade grande, próspera e bonita; mas no tempo de Jesus terá sido apenas uma pequena aldeia judaica, de pouca importância, com pouco mais que 20 a 30 famílias, que viveriam da agricultura, do pastoreio e do trabalho de artífices como a carpintaria de S.José. Esta aldeia estaria rodeada de olivais e de vinhas que desceriam pelas encostas dos montes. É provável que tivesse uma única sinagoga, pequena e simples, à imagem dos seus habitantes, e que talvez fosse, tal como as casas destas famílias eram, parcialmente construída à mão e parcialmente escavada na encosta dos montes.
A Sagrada Família viveu durante tantosanos em Nazaré e ninguémsuspeitava que o próprio Deus vivesse ali, bem juntinho do Seu povo tão amado. Como é que foi possível? Oh, que mistério tão grande!
Penso nos incontáveis Santos que povoam o Céu, já neste preciso momento, cujos nomes nós nem sequer sabemos, cujas vidas nem conhecemos; tantos Santos escondidos, silenciosos, que levaram vidas simples, humildes, sem grande alarido, sem feitos extraordinários, à semelhança da Sagrada Família, à semelhança (assim o espero e desejo) da minha vida, da tua vida, da nossa vida ...
Alguém muito querido do meu coração, um dia destes perguntou-me se eu alguma vez tinha pensado que nunca na História da humanidade tinha havido, como hoje, tantos Santos e Santas, Beatos e Veneráveis, Servos e Servas de Deus, conhecidos ou não, a viver, a rezar e a interceder por todos nós no Céu ... como é que eu nunca tinha pensado nisso?! Quão maravilhoso! Louvado seja Deus!
Planície de Esdrelão (ou Vale de Jezrael)
E como terá sido a vida quotidiana da Sagrada Família?...
Penso em Jesus como criança, a receber o início da Sua educação escolar e de Fé (só a nossa sociedade actual é que tenta separar as duas coisas ...), através dos ensinamentos e do exemplo vivo de Maria e de José; ao aprender na carpintaria a trabalhar a madeira e a pedra com as Suas mãos e instrumentos, enquanto ouvia, vezes e vezes sem conta, José a contar-Lhe toda a História do povo de Deus, até a saber de coração...
Jesus a brincar com os outros meninos e meninas da Sua idade... Jesus como menino na escola da sinagoga, a aprender a ler e a interpretar as Sagradas Escrituras ... Oh, será que Jesus chegava a pensar: Hum ... isto parece-me familiar... sim, acho que fui Eu que fiz e disse isto tudo
Penso em Maria, como esposa e mãe, exercendo na perfeição todas as facetas do «génio feminino» que o Santo Papa João Paulo II nos ensinaria tantos séculos mais tarde ... Maria a lavar e a estender a roupa, a limpar a casa, a fazer as refeições, a ir buscar água aos poços e cisternas, enquanto cantava continuamente todas as maravilhas que o Senhor fez ...
Sabem, desde que me tornei catequista, dou por mim muitas vezes a imaginar (e a tentar inspirar-me) acerca de como é que Maria ensinaria e cativaria todas as meninas e meninos com os quais contactasse, ao longo da sua vida, acerca do amor, da misericórdia e da justiça de Deus ... (tento, mas garanto-vos que falho redondamente a tentar fazer o mesmo! )
Durante muito tempo pensei que Maria e José tivessem dedicado as suas vidas, em exclusividade, um ao outro e a Jesus, depois de casarem. Que todas as outras facetas anteriores das suas vidas - restante família, profissão, actividades na comunidade, amizades e tarefas - tivessem sido completamente abandonadas e esquecidas e postas de parte, para que tudo girasse apenas à volta de Jesus ... o que é, bem, em parte verdade.
Mas apenas em parte verdade. Graças aos ensinamentos das Famílias de Caná, percebi que a Sagrada Família, protótipo perfeito das Famílias-Cântaro a que somos chamados a ser, não só não terá renunciado às diversas tarefas e funções que anteriormente possuía, como as deverá ter, sim, abraçado e dedicado ainda mais intensamente, com ainda mais amor, auto-doação e sacrifício!
Sim, claro que sim! Claro que tanto Maria como José se terão disponibilizado para servirainda mais cada elemento das suas comunidades e das suas famílias; claro que se terão dedicado com ainda mais fervor e amor às suas profissões e tarefas; claro que terão crescido ainda mais em generosidade; claro que terão aberto as portas (e as janelas e o telhado!) da sua casa a todos os que precisassem, ou duma simples palavra amiga e dum sorriso, ou duma fatia de pão com doce de tâmaras, ou dum colo e ombro amigo para chorar, ou duma cama para passar a noite; claro que raramentehaveria apenas3 pratos e 3 copos e 3 talheres na mesa da Sagrada Família, mas sim sempre mais, sempre espaço e comida e amor para mais um (ou dois ou três ou mais!), por mais tarde que chegassem; claro que se terão oferecido e dedicado e gastomais e mais e mais, depois da chegada de Jesus às suas vidas ...
Oh, que o mesmo aconteça na minha vida também!...
O nosso autocarro está quase a chegar a um dos locais que eu mais desejava ver e tocar, sentir e estar, como Jesus tantas e tantas vezes o fez - o Mar das Tiberíadas, o Mar da Galileia - oh, ei-lo em toda a sua beleza, bem aqui à nossa espera ...
Hoje reflectiremos, com a ajuda do nosso querido Papa Bento XVI, acerca de São José, adequadamente chamado de «o Justo».
A designação de José como homem justo (zaddik) (...) oferece um retrato completo de São José e, ao mesmo tempo, insere-o entre as grandes figuras da Antiga Aliança, a começar por Abraão, o justo.
O Salmo 1 representa a imagem clássica do «justo». O justo, segundo este salmo, é um homem que vive em intenso contacto com a palavra de Deus, que «põe o seu enlevo na lei do Senhor» (v.2). É como uma árvore que, plantada à beira das águas correntes, produz continuamente o seu fruto. Com a imagem das águas correntes, das quais se nutre a árvore, entende-se naturalmente a palavra viva de Deus, onde o justo faz penetrar as raízes da sua existência. Para ele, a vontade de Deus não é uma lei imposta a partir de fora, mas «alegria»; para ele, a lei torna-se espontaneamente «evangelho», boa nova, porque ele interpreta-a numa atitude de abertura pessoal e cheia de amor para com Deus, e assim aprende a compreendê-la e a vivê-la a partir de dentro. (...)
Esta imagem - do homem que tem as suas raízes nas águas vivas da palavra de Deus, não cessa jamais de dialogar com Deus e, por isso, produz sempre fruto - torna-se realidade concreta (...) em José de Nazaré. Depois da descoberta feita por José, trata-se de interpretar e aplicar a lei de maneira justa; e ele fá-lo com amor: não quer expor publicamente Maria à ignomínia. Ama-a, mesmo no momento de grande desilusão. (...) José vive a lei como evangelho, procura o caminho da unidade entre direito e amor. E assim está preparado interiormente para a mensagem nova, inesperada e humanamente incrível, que lhe virá de Deus.
Enquanto «entra em casa» de Maria, o anjo a José aparece só em sonho, mas num sonho que é realidade e revela realidade. Mais uma vez é-nos apresentado um traço essencial da figura de São José: a sua sensível percepção do divino e a sua capacidade de discernimento. (...)
A mensagem que lhe é comunicada é enorme e requer uma fé excepcionalmente corajosa. (...) Antes, Mateus dissera que José estava «considerando interiormente» a questão da justa reacção à gravidez de Maria. Podemos, pois, imaginar como terá então lutado, no seu íntimo, com esta mensagem inaudita do sonho: «José, filho de David, não temas receber Maria, tua esposa, pois o que ela concebeu é obra do Espírito Santo» (Mt 1,20). (...)
Depois da informação sobre a concepção do Menino por virtude do Espírito Santos, é confiado a José um encargo: Maria «dará à luz um filho, ao qual darás o nome de Jesus, porque Ele salvará o povo dos seus pecados» (Mt 1,21). Juntamente com o convite a tomar consigo Maria como sua esposa, José recebe a ordem de dar um nome ao Menino e, deste modo, de O assumir juridicamente como seu filho. (...)
Mateus completa a narração referindo que José se levantou do sono e fez o que lhe fora mandado pelo anjo do Senhor. (...) Mais uma vez e de maneira muito concreta, José é-nos apresentado aqui como «homem justo»: o seu permanecer interiormente alerta para Deus - uma atitude que lhe permite acolher e compreender a mensagem - torna-se, espontaneamente, obediência. Se antes procurara adivinhar com as próprias capacidades, agora sabe que coisa justa deve fazer.
Reflexão retirada do livro "Jesus de Nazaré - A infância de Jesus",
Qual é a primeira imagem que se forma na vossa mente quando pensam em São José?
Provavelmente, pensarão, como eu, num homem de meia-idade, magro, com cabelos brancos e barba comprida, a olhar terna e carinhosamente para o Menino Jesus no seu colo e com um bonito lírio numa das mãos, como símbolo da sua pureza …
Bem, pelo menos, era essa a imagem que eu tinha de São José …. E vocês?
Um dia, quando estava a ler o Evangelho segundo São Mateus, deparo-me, no capítulo 13, versículo 54-55, com uma pergunta que me pôs a pensar:
“Tendo [Jesus] chegado à Sua terra, ensinava os habitantes na sinagoga, de modo que todos ficavam admirados e diziam: «De onde Lhe vem esta sabedoria e o poder de fazer milagres?
Eu tinha lido anteriormente que o povo Judeu tinha por tradição que, quando os rapazes chegavam aos 12 anos de idade, começavam a aprender o ofício dos pais [1]. Sem dúvida que na casa de Jesus, modelo de cumprimento das Sagradas Escrituras, não terá sido diferente! Assim, ensinado por São José, Jesus também terá aprendido o ofício da carpintaria e esse terá sido o Seu principal modo de subsistência durante a maior parte da Sua vida.
Mas o que é que os carpinteiros faziam exactamente naquela altura?
Lá fui eu, novamente, pesquisar nesse mar imensurável de informações a que chamamos internet. Querem saber o que descobri?
Primeiro, descobri que a palavra original nesses textos, em grego, “tekton”, teria sido melhor traduzida como artesão, em vez de carpinteiro, para englobar todo o seu significado. “Tekton” aparentemente indica um artífice que trabalha com madeira, mas também com pedra, ferro e cobre. [2]
Em segundo lugar, descobri (sem me admirar) que a profissão de carpinteiro (ou artesão, como preferirem) conferia à família uma posição social muito baixa na cultura Judaica e que os seus rendimentos seriam bastante pequenos e humildes. [2]
Depois, descobri que os principais objectos fabricados pelos carpinteiros naquela altura eram arados e jugos (ou juntas) de madeira (ouvem tocar algum sininho?), uma vez que grande parte dos hebreus eram agricultores e havia assim uma grande necessidade de juntas de bois e de arados para trabalharem nos campos. [1, 2]
Os carpinteiros também construíam objectos pequenos, como chaves e cadeados de madeira, e peças maiores, como portas e janelas, telhados, mesas, cadeiras e bancos, baús e outros móveis de arrumação. Além disso, eram frequentemente chamados para reparar objectos que se partiam ou que precisavam de novas peças. [1,2]
Que árvores eram usadas para fornecer a madeira? Principalmente ciprestes, carvalhos, freixos, sândalo e oliveiras ... ah, e claro, os cedros! A bíblia refere com frequência os famosos cedros do Líbano ... [1]
Quase todas estas árvores, como sabem, são árvores de grande porte. Os cedros, por exemplo, podem alcançar os 40 metros de altura …
E sabem quem eram os homens capazes de deitar abaixo estas grandes e pesadas árvores, cortá-las e transportá-las até à cidade? Sim, exactamente, os carpinteiros!
Ora, que tem esta conversa toda a ver com a imagem do velhinho São José??
Durante muitos séculos, foi defendida a ideia que São José teria cerca de 80 anos quando casou com a Virgem Maria. Porquê? Porque assim, com um marido idoso, seria mais fácil defender a Virgindade Perpétua de Maria. [3]
Actualmente, a maior parte dos investigadores-historiadores que se dedicam ao estudo das Sagradas Escrituras, da cultura judaica e dos acontecimentos históricos no tempo de Jesus, concordam entre si que, tal como a grande maioria das raparigas naquela altura, a Virgem Maria teria provavelmente cerca de 14 a 15 anos quando se casou com São José e foi mãe de Jesus. [3]
.... Agora, conseguem imaginar uma rapariga de 15 anos a casar livre e deliberadamente com um homem de 80 anos? Acham mesmo que Deus teria inspirado uma história de amor entre duas pessoas com idades tão díspares, para serem os pais terrenos do Seu Único Filho?
Eu pessoalmente não consigo imaginar que Deus tenha escolhido um velhote de 80 anos para defender e proteger a Sagrada Família … Não consigo imaginar que Deus tenha escolhido um homem já velho para percorrer todos aqueles quilómetros, que separam Nazaré de Belém, apenas para se apresentar e registar no censo do Imperador romano. Nem consigo imaginar como um idoso poderia fugir da ira do rei Herodes, às pressas e no meio da noite, desde Belém até ao Egipto! Nem como um homem assim poderia trabalhar como carpinteiro, carregando pesados troncos de árvores, serrando e partindo a madeira, construindo telhados e móveis, a fim de sustentar a sua esposa e o seu filho …
Na verdade, actualmente, os investigadores-historiadores já conseguiram comprovar que, naquela altura da História, a maioria dos homens judeus se casavam por volta dos 16 a 20 anos de idade, e que essa terá sido provavelmente a idade de São José quando se casou com Nossa Senhora. [3]
O falecido Arcebispo Fulton J. Sheen (que eu admiro particularmente, lembram-se dele?), já tinha escrito no seu livro “O Primeiro Amor do Mundo” (The World’s First Love, Ignatius Press) em 1952, que:
“S. José foi, provavelmente, um homem jovem, forte, viril, atlético, bonito, casto e disciplinado, o tipo de homem que se vê a trabalhar numa oficina de carpintaria. Em vez de ser um homem incapaz de amar, ele deve ter ardido interiormente com amor ... Naqueles dias, jovens raparigas como Maria, já faziam votos de dedicação e de amor perpétuo a Deus, tal como alguns jovens rapazes, entre os quais José, que se tornou digno de ser chamado de “o justo”. Em vez de ser como um fruto seco para ser servido sobre a mesa do Rei, ele terá sido como uma árvore florida de promessas e de força. Ele não estaria no entardecer da sua vida, mas sim na sua manhã, borbulhando de energia, força e controlada paixão.”
Para mim, esta imagem de São José, como um jovem alegre, fisicamente em forma, com a força e coragem e o ânimo necessário para aguentar todas aquelas provas de resiliência … mas, simultaneamente capaz de ser fiel e casto, protector e guarda, um homem de oração e de serviço, humilde e obediente aos desígnios do Senhor …. Esta imagem de São José tem, certamente, infinitamente mais mérito e ofereceria uma glória muitíssima maior a Deus.
São José - o maior exemplo terreno de masculinidade e de paternidade.
[3] Artigo do sr. Fr Michael D. Griffin, no site do canal americano EWTN, sobre a vida de São José e do seu importantíssimo papel na Salvação da Humanidade (que recomendo vivamente a ler!): https://www.ewtn.com/library/MARY/THEOINTR.HTM