Sou uma jovem esposa e mãe católica portuguesa. Neste blog partilho a minha caminhada em busca da santidade e o meu encontro com o amor misericordioso do Senhor. Espero que ele vos possa ajudar a encontrar a alegria do Evangelho!
Sou uma jovem esposa e mãe católica portuguesa. Neste blog partilho a minha caminhada em busca da santidade e o meu encontro com o amor misericordioso do Senhor. Espero que ele vos possa ajudar a encontrar a alegria do Evangelho!
Saindo da sinagoga, [Jesus foi] para casa de Simão e André, com Tiago e João. A sogra de Simão estava de cama com febre, e logo Lhe falaram dela. Aproximando-Se, tomou-a pela mão e levantou-a. A febre deixou-a e ela começou a servi-los. (Mc 1, 31)
Lembram-se da última vez em que ficaram de cama com febre? Do quão irritáveis ficaram, do quanto a cabeça doía e pesava, do quanto cada parte do corpo doía e pesava, da inquietação permanente, da dificuldade em encontrar uma posição confortável que nos satisfaça porque nenhuma nos parece boa, sem ter forças ou vontade de fazer o quer que seja …
À semelhança do que nos acontece quando estamos doentes, quando estamos sob o domínio duma febre ou doença “espiritual”, presos no nosso pecado, também nós nos sentimos sempre irritáveis, desconfortáveis como se nunca nada estivesse bem, inquietos, insatisfeitos, sem ter forças ou vontade de fazer o quer que seja ...
O início da Quaresma leva-nos, com Jesus, ao deserto.
Uma vez baptizado, Jesus saiu da água e eis que se rasgaram os céus, e viu o Espírito de Deus descer como uma pomba e vir sobre Ele. E uma voz vinda do Céu dizia: «Este é o meu Filho muito amado, no Qual pus todo o Meu agrado.» Então, o Espírito conduziu Jesus ao deserto, a fim de ser tentado pelo diabo. (Mt 3,16-17; 4,1)
O momento em que os céus se rasgaram e o Espírito Santo desceu sobre a terra, parece ter sido um momento marcante e decisivo na caminhada de Jesus, em direcção ao pleno conhecimento da vontade do Pai. Parece ter sido o momento em que Cristo recebeu uma confirmação total acerca da missão a que o Pai O chamava, assim como das suas implicações, ou seja, a redenção de toda a humanidade através do Seu sacrifício de amor na Cruz.
Ao ler estes versículos, impressiona-me como Jesus, após um acontecimento com tanta glória e louvor, obedecendo voluntariamente à doce voz do Espírito, abandona todas as consolações e presenças humanas e Se retira sozinho para o deserto. Para aí passar pela prova de ser tentado por Satanás.
Fala-se cada vez menos de Satanás nos dias de hoje e isto é algo que muito lhe convêm e que ele deseja que permaneça assim. Porque, nós não tentaremos combater aquilo que desconhecemos sequer que existe. E, assim, permitimos que ele continue a manipular-nos e a manipular as nossas vidas, como tanto se observa na nossa sociedade de hoje em dia, sem haver qualquer resistência da nossa parte ...
Contudo, também não podemos cair no espectro oposto, de lhe atribuir poder e capacidades que ele, na verdade, não tem. Ele bem gosta de o fingir, para que acreditemos que ele é muito poderoso e capaz e que nós somos impotentes perante o seu aparente poder. Por exemplo, Satanás, sendo um anjo (se puderem voltem a ler este post sobre os anjos), ainda que decaído, desconhece o futuro - isso só Deus conhece - e apenas conhece o presente à mesma velocidade que nós, assistindo e vivendo o acontecer de cada coisa e acontecimento tal como nós. É verdade, ele conhece o passado, porque o viveu também, e, nesse aspecto, ele é perito em fazer-nos recordar o nosso passado - mas apenas as partes que lhe dão jeito, na sua constante tentativa de nos manipular ....
Diz-nos o Arcebispo Fulton Sheen que, enquanto Deus é pura verdade, definindo-Se a Si mesmo como "Aquele que é", a essência de Satanás é a mentira, podendo ser definido como "Aquele que não é". Ele é o tentador, o mentiroso, o enganador, o fingido por excelência. Uma das poucas capacidades que ele realmente tem é de ser extremamente perspicaz. Ele sabe identificar muito bem os nossos pontos fracos, está atento a cada uma das nossas reacções, sabe estudar bem as nossas tendências, os nossos padrões de comportamento e de pecado. Ele adapta-se astuciosamente a cada circunstância e a cada personalidade, falando-nos sempre através de meias-verdades, com declarações e sugestões parcialmente verdadeiras, mas sempre distorcidas e fraudulentas. E com que objectivo? Sempre na tentativa de nos afastar total e definitivamente do amor do Senhor e de nos arrastar com ele para o Inferno, onde ele próprio está já eternamente condenado.
Podemos comprovar tudo isto, se acompanharmos Jesus ao ser tentado no deserto pelo Demónio. São Mateus conta-nos que "o Tentador aproximou-se" de Jesus (Mt 4,3a). A sua astúcia e capacidade de manipulação é de tal modo que Satanás tenta Jesus fingindo que O tentava ajudar a descobrir a resposta à questão, que tinha sido gerada no Seu coração e na Sua mente após ter sido Baptizado: Como poderia Ele cumprir mais perfeitamente a Sua missão de redenção entre os homens?
Tinha sido para descobrir a resposta a esta pergunta que Jesus tinha-Se retirado sozinho para o deserto, para aí jejuar e orar durante 40 dias e 40 noites, escutando a voz do Pai e deixando-Se moldar por Ele. Mas, se o problema estava em como Jesus poderia "ganhar" e converter o coração dos homens, então o Diabo tinha umas quantas sugestões a dar-Lhe.
Todas elas envolviam - adivinhem só - um espécie de bypass, um atalho, à expiação dos nossos pecados através da Cruz. Deus Pai tinha-Lhe dito, nestes 40 dias de oração no deserto, que esta era a única maneira. Satanás tenta persuadi-Lo de que não, de que há outras maneiras. Hmm, onde é que eu já vi isto acontecer?
A serpente era o mais astuto de todos os animais selvagens e disse à mulher: «É verdade ter-vos Deus proibido comer o fruto de alguma árvore do jardim?»A mulher respondeu-lhe: «Podemos comer o fruto das árvores do jardim;mas, quanto ao fruto da árvore que está no meio do jardim, Deus disse: ‘Nunca o deveis comer, nem sequer tocar nele, pois, se o fizerdes, morrereis'. A serpente retorquiu à mulher: ‘Não, não morrereis; porque Deus sabe que, no dia em que o comerdes, abrir-se-ão os vossos olhos e sereis como Deus, ficareis a conhecer o bem e o mal‘.» (Gn 3,1-5)
Sim, nas tentações de Jesus no deserto veremos uma repetição das tentações de Adão (e de Eva) no Jardim do Éden. Mas, enquanto os nossos primeiros pais cederam à tentação, Jesus saiu vitorioso, vencendo cada uma delas.
Recordemos: qual era o objectivo, qual era a missão primordial de Deus para Adão e Eva? Viverem e participarem plenamente no Seu reino de amor, como Seus filhos muito amados, e como colaboradores do Seu poder Criador. Tal como o Catecismo da Igreja Católica nos resume na resposta à pergunta: "Para que fomos criados? Para conhecer, amar e servir a Deus" - uma resposta aparentemente simples mas tão poderosa e transformadora, se meditarmos bem nela ...
A serpente, contudo, tenta desviá-los desse objectivo e dessa missão, à semelhança do que tentará fazer com Jesus no deserto. O Diabo tenta distraí-los. Cria e fomenta uma falsa vontade nos seus corações, uma falsa necessidade, suscitando-lhes uma curiosidade que se revelará mortífera. Ele elabora uma mentira e tenta persuadi-los de que é verdade.
Os nossos pais acreditam nesta mentira, cedem sem aparente resistência, e pecam gravemente, rejeitando o amor de Deus e expulsando-se a si mesmos da Sua presença e do Seu reino. Grande foi a alegria de Satanás naquele dia ...
Agora, Satanás tentará fazer o mesmo com Jesus. As suas tentações tentam distrair Jesus da Sua missão de salvação do género humano. O Diabo tenta convencer Jesus de que há outras maneiras de alcançar a desejada Redenção da humanidade. Tenta persuadi-Lo e pô-Lo a duvidar da real necessidade da Sua entrega à vontade do Pai, através do Seu sacrifício voluntário na Cruz. Em vez de ser pela dolorosa e humilhante Cruz, Satanás tenta sugerir-Lhe três outras maneiras, uma espécie de três atalhos que, aparentemente, prometiam alcançar o mesmo fim - a salvação das almas.
Vendo a mulher que o fruto da árvore devia ser bom para comer, pois era de atraente aspecto e precioso para esclarecer a inteligência, agarrou do fruto, comeu, deu dele também a seu marido, que estava junto dela, e ele também comeu. (Gn 3,6)
Reparem: os nossos pais começaram por ver que o fruto proibido deveria ser bom paracomer,repararam no seu bom e atraente aspecto e concluíram que deveria ser bastante precioso e útil para lhes esclarecer a inteligência (e, assim, tornarem-se basicamente iguais a Deus e ocuparem o Seu lugar). Se meditarmos no assunto, perceberemos que o homem tende a ser tentado e tende a pecar de uma entre três principais maneiras (ou categorias): as que estão relacionadas com os prazeres da carne (pelos pecados da gula e da luxúria), as que estão relacionadas com o desejo de posse e o amor pelas coisas do mundo (pecado da ganância e da inveja) e as que estão relacionadas com o poder e a auto-idolatria (pecado do orgulho).
Da mesma forma, e pela mesma ordem, foi Jesus tentado no deserto pelo Demónio, para nos mostrar como podemos resistir e vencer estas tentações.
Então, o Espírito conduziu Jesus ao deserto, a fim de ser tentado pelo diabo. Jejuou durante quarenta dias e quarenta noites e, por fim, teve fome. O tentador aproximou-se e disse-Lhe: «Se Tu és o Filho de Deus, ordena que estas pedras se convertam em pães» (Mt 4,1-3)
A primeira tentação foi a da procura do conforto e do prazer dos sentidos. Que situação mais absurda - Deus a sentir fome! Onde é que isso já se viu? Como pode tal ser possível? Se Deus alimentou miraculosamente um povo tão numeroso durante 40 anos no deserto, porque é que agora não faz surgir um banquete para Si mesmo? Porque é que o próprio Deus se permite sofrer esta humilhação e passar por esta necessidade tão humana (apenas) para redimir as Suas criaturas? Parece loucura ...
Aliás, o Diabo parece prometer e sugerir-Lhe que, se Jesus usasse o Seu poder para alimentar todos os famintos deste mundo, então Ele ganharia os seus corações e, assim, a Cruz deixaria de ser necessária. Não parece um bom negócio?
Na verdade, Jesus recordará e passará novamente por esta tentação quando, pregado na Cruz em plena agonia, todos os que passarem por Ele Lhe disserem asperamente: «Salva-Te a Ti mesmo! Se és Filho de Deus, desce da cruz!»(Mt 27,40)
Respondeu-lhe Jesus: «Está escrito: Nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus.» (Mt 4,4).
Sim, Jesus passou realmente fome e sede no deserto. E, assim, uniu-Se a toda a humanidade sofredora, sedenta e faminta. Uniu-Se não só àqueles que têm falta de comida e de bebida, tão numerosos no tempo de Jesus como no nosso, mas também àqueles que têm sede e fome de Deus - e esses, sim, são muitíssimo mais numerosos hoje em dia, e encontram-se em quase todas as casas deste mundo.. O homem têm necessidades muitíssimo mais profundas do que aquelas que podem ser saciadas apenas com pão. São homens e mulheres que estão carentes duma felicidade muitíssimo maior do que ter apenas um estômago cheio. Foi para saciar tanto uma, como a outra fome, que Jesus encarnou, habitou entre nós e Se entregou, fazendo de Si mesmo e do Seu corpo o verdadeiro alimento, que nos dá a Vida Eterna.
A segunda tentação foi a da procura da posse e do controlo de todas as coisas: «Se Tu és o Filho de Deus, lança-Te daqui abaixo, que o Senhor Te sustentará» (Mt 4,6). Jesus tem perfeita noção que o caminho a que o Pai O chama terá poucos adeptos. Poucos Lhe darão ouvidos. Poucos O seguirão. Poucos se converterão. Não é um caminho fácil nem atraente aquele que Jesus nos proporá: «Se alguém quiser seguir-Me, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz, dia após dia, e siga-Me» (Lc 9,23) -
Nesta segunda tentação, o Diabo tentará persuadir Jesus a esquecer o caminho da Cruz e a substituí-lo por um caminho que demonstre chamativamente o Seu poder, que seja atractivo e cativante, a fim de tornar mais fácil que todos os homens O sigam.
Quase que oiço o Demónio a dizer-Lhe: 'Porque hás-de preferir um caminho longo e penoso, através do derramamento de sangue e de tanta dor, para converteres os homens? Porque hás-de preferir um caminho em que sejas desprezado, rejeitado e humilhado, enquanto podes escolher um caminho mais curto e eficaz se realizares um milagre vistoso e admirável? Pelo caminho da Cruz, serás como um fantoche nas mãos dos homens, farão de Ti o que eles quiseres, não poderás controlar nada - mas, se Tu quiseres, está aqui mesmo a Tua oportunidade de tomares controlo sobre tudo! Pelo caminho da Cruz, não saberás quantas pessoas conseguirás converter, mas se realizares maravilhas e feitos impossíveis prometo-Te que todos acreditarão! Se és realmente Filho de Deus, eu desafio-Te a fazeres algo heróico, para que todos possam testemunhar o Teu poder e assim acreditar!'
Então, o Diabo conduziu-O à cidade santa e, colocando-O sobre o pináculo do templo, disse-Lhe: «Se Tu és o Filho de Deus, lança-Te daqui abaixo, pois está escrito: 'Dará a Teu respeito ordens aos Seus anjos; eles suster-Te-ão nas suas mãos, para que os Teus pés não se firam nalguma pedra'» Disse-lhe Jesus: «Também está escrito: Não tentarás o Senhor teu Deus!» (Mt 4, 5-7)
Também mais tarde Jesus recordará esta tentação quando, à Sua volta, uma multidão se reunir exigindo-Lhe um milagre, qualquer que fosse, que provasse as Suas palavras e tornasse mais fácil para eles acreditarem plenamente. "As multidões afluíram em massa e [Jesus] começou a dizer: «Esta geração é uma geração perversa, [que] pede um sinal»" (Lc 11,29)
Realmente, se Jesus realizasse esses grandes e admiráveis feitos que O coagiam a fazer, multidões de homens O seguiriam. Mas, como é que isso os beneficiaria, se o pecado permanecesse incrustrado nas suas almas?
Responderá Jesus: «Não tentarás o Senhor teu Deus!» (Mt 4, 7). Não, não farei nada disso que Me pedem. Não farei a vossa vontade, que mal sabeis o que pedis ou o que precisais, mas farei, sim, e sempre, a vontade de Meu Pai. Só quando Me virem pregado numa Cruz se sentirão atraídos até Mim. Só através do Meu sacrifício, do pleno uso da Minha liberdade, da Minha entrega por amor é que, verdadeiramente, os homens se converterão e deixarão os seus maus caminhos.
E responderá Jesus às multidões que O tentam chantagear: «Esta geração é uma geração perversa; pede um sinal, mas não lhe será dado sinal algum, a não ser o de Jonas» (Lc 11, 29).Nenhum sinal vos será dado, a não ser o sinal de Alguém que será elevado aos Céus, após ter saído e vencido as profundezas das águas do abismo e da morte...
Por fim, a terceira tentação foi a da procura da própria glória e louvor: «Tudo isto [reinos e poderes do mundo] Te darei, se, prostrado, me adorares» (Mt 4,9). Satanás tenta, numa última e derradeira tentativa, distrair e desviar Jesus do caminho da Cruz. Se Jesus, tal como Ele próprio o diria mais tarde, veio a este mundo para estabelecer nele o Reino de Deus, porque não escolhia Ele um caminho mais rápido para alcançar tal? Porque não Se submetia Àquele que se apresentava como Senhor deste mundo?
Levando-O a um lugar alto, o Diabo mostrou-Lhe, num instante, todos os reinos do universo e disse-Lhe: «Dar-Te-ei todo este poderio e a sua glória, porque me foi entregue e dou-o a quem me aprouver. Se Te prostrares diante de mim, tudo será Teu.» (Lc 4, 5-7)
Será que o mundo foi-lhe realmente dado? Será que o mundo realmente lhe pertence? A contínua escolha dos homens pelo pecado parece corroborar esta afirmação. Por voto e vontade da maioria dos homens, comprovado pelas suas acções e escolhas diárias, não haveria dúvidas de que todo o mundo lhe pertencia ... em especial nos dias e na sociedade de hoje.
Mas não, isso não é verdade. Pode-nos parecer, por vezes, sim. Mas lembrem-se que Satanás é o príncipe da mentira e do fingimento! O Diabo promete que Jesus poderia ficar com tudo o que existe no mundo, desde que Ele não o tentasse mudar. Poderia ficar com os corações de toda a humanidade, desde que Ele prometesse não os tentar salvar e redimir.
Respondeu-lhe Jesus: «Vai-te, Satanás, pois está escrito: Ao Senhor, teu Deus, adorarás e só a Ele prestarás culto.» (Mt 4, 10)
Jesus responder-lhe-á: 'Vai-te Satanás! Adorar-te é servir-te e servir-te é ser escravo do pecado. Foi exactamente para tornar a humanidade livre das garras do pecado que Eu vim. Eu não desejo nada deste mundo enquanto eles estiverem presos nas amarras da maldade e da culpa. Primeiro, Eu irei vencer a maldade e a conscupiscência no coração dos homens, e então depois conquistarei o mundo e serei coroado Rei de todo o Universo! Eu prefiro perder e abdicar de tudo o que existe neste mundo, do que perder uma só alma para o Reino de amor do Meu Pai!'
Então, o Diabo deixou-O e chegaram os anjos e serviram-n'O. (Mt 4,11)
Por agora, a vitória foi alçancada. Ao contrário do primeiro Adão, o novo e eterno Adão, Jesus, vence as grandes tentações que continuamente assaltam a humanidade. O Diabo deixa-l'O-á mas não será por muito tempo. Uns capítulos à frente, leremos como o Tentador conseguirá apoderar-se momentaneamente do coração de Pedro. Ele, o primeiro entre os discípulos a reconhecer o Messianismo de Jesus, proferindo no versículo 16 do capítulo 16: «Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo», dirá também logo no versículo 22 desse mesmo capítulo: «Deus Te livre, Senhor! Isso nunca Te há-de acontecer!», quando Jesus lhes anuncia que a glória da Ressurreição só é possível através do caminho humilhante e penoso da Cruz.
Nos próximos posts, se Deus o permitir e me ajudar, continuaremos a caminhar com Jesus, nesse caminho de Cruz, em direção à plena obediência à vontade do Pai. Por agora, meditemos no nosso coração, acerca das tentações de Jesus, no seu significado, de como foi possível Ele vencer cada uma delas.
Foi através deste "primeiro treino" no deserto, através destes testes e provações, que Jesus Se fortaleceu para a "grande prova". Pela graça de Deus, nós estamos em plena Quaresma, nos exercícios de "treino" por excelência, para as grandes "provas" das nossas vidas. E a maior "prova" da minha vida começará dentro de pouquíssimo tempo, nesta mesma Páscoa ...
Post escrito após a leitura do livro "Life of Christ" do Arcebispo Fulton Sheen, 1958, pág 59 a 69
Continuamos a nossa peregrinação pela cidade de Cafarnaúm, sob um sol abrasador. Como pode uma terra à beira mar ser assim tão quente?
Mas há aqui, nesta cidade, uma construção muito especial, que eu há muito desejava ver com os meus próprios olhos (e que, infelizmente, entre o entusiasmo e a maré de turistas, quase não consegui tirar fotos ...)
Deixando a sinagoga, Jesus entrou em casa de Simão Pedro (Lc 4, 38a)
E nós fazemos o mesmo - saímos da sinagoga, onde Jesus tinha acabado de curar um homem possesso por um espírito maligno, em pleno Sábado judaico (ai o burburinho que não terá corrido pela cidade nesse dia!); descemos uns degraus de pedra, damos uma dúzia de passos e deparamo-nos com aquela que se acredita ser a casa do Apóstolo Simão Pedro....
É tão pequenina!
É a primeira interjeição que me sai dos lábios, quando a vejo pela primeira vez, por fora, e que volto a repetir uns instantes depois, quando tiver a oportunidade de a ver melhor, de cima. Sim, é realmente pequena, tem apenas uma divisão, de formato quadrangular, que serviria simultaneamente de cozinha, sala e quarto.
E como podemos nós saber, tantos séculos depois, que esta é, realmente, a casa de Pedro?
Sou-vos sincera, já não me lembro de todos os argumentos que a nossa guia partilhou connosco, mas lembro-me de nos ter falado sobre umas inscrições descobertas nas paredes, em hebraico e em grego, datadas dos primeiros séculos, alegando este facto, e outras inscrições dizendo "Cristo tende piedade" e "Senhor Jesus Cristo ajuda os Teus servos".
Um dado arqueológico em particular marcou-me a memória: o terem descoberto, nas ruínas desta casa, uma quantidade absurda de cotos de velas e de candeias a óleo! Sim, restos e restos de velas, e quase nenhum item doméstico, como pratos ou vasilhas de barro, como as que se encontraram nas ruínas das outras casas vizinhas. Parece que os primeiros cristãos utilizaram estas instalações como uma das primeiras igrejas, quando começaram a ser expulsos das sinagogas e perseguidos pelos romanos.
Outro dado importante é que, à volta destas primeiras paredes (que rapidamente se tornaram alvo de veneração pelos primeiros cristãos) foram sendo construídos outros edifícios, mas estes já com um formato octogonal, típico do estilo bizantino no século IV e V. Tal como podem observar nesta foto já antiga, parece que foi sendo preciso ir aumentado o tamanho da igreja, uma e outra vez, para poder acolher todos os fiéis que se continuaram a reunir nesta primeira igreja ....
Mas voltemos ao relato dos Evangelhos. Conta-nos São Lucas que Jesus naquele dia
Deixando a sinagoga, Jesus entrou em casa de Simão.
A sogra de Simão estava com muita febre, e intercederam junto Dele em seu favor.
Inclinando-se sobre ela, ordenou à febre e esta deixou-a;
ela erguendo-se, começou imediatamente a servi-los.
Lc 4, 38-39
Jesus tinha acabado de fazer um (grande) milagre público, à frente de todos os habitantes daquela cidade, em plena sinagoga; mas agora realiza um novo milagre, ainda em pleno Sábado, na intimidade dum lar. Jesus passa do interior das paredes sagradas da sinagoga, o local de eleição para os judeus louvarem a Deus, e entra, Ele mesmo, o próprio Senhor, no interior das paredes sagradas duma casa de família, dando assim um carácter de sacralidade à nossa vida familiar.
É o próprio Deus que deseja entrar em nossa casa e nas nossas vidas, e fazer nelas "Sua morada". Será que o permitimos, à semelhança de Pedro? Não tenhamos medo nem vergonha, por mais simples ou humilde que elas sejam - Deus está desejoso de entrar na intimidade das nossas vidas.
Igreja construída nos anos 90, exactamente por cima e à volta da casa de S.Pedro, numa brilhante ideia, que mistura engenharia e teologia. No seu centro, através dum pavimento transparente, podemos ver ainda mais de perto as ruínas da casa de Pedro.
Também São Marcos nos relata este episódio
Saindo da sinagoga, [foi] para casa de Simão e André, com Tiago e João.
A sogra de Simão estava de cama com febre, e logo Lhe falaram dela.
Aproximando-se, tomou-a pela mão e levantou-a.
A febre deixou-a e ela começou a servi-los. (Mc 1, 29-31)
Ao entrar na casa de Pedro, Jesus depara-se com uma mulher paralisada "por uma febre" que a tinha colocado de cama, incapaz de se levantar. Jesus aproxima-Se, faz-Se próximo daquela mulher e de cada um de nós, independentemente da razão da nossa "febre" que nos impede de viver.
Jesus estende-lhe a mão, desejoso de curá-la e de salvá-la daquela prisão - mas, para isso, é necessário um pequeno esforço da parte da sogra de Pedro; é necessário que nós estejamos dispostos, também, a estender a nossa mão, por um pouco que seja, na direcção do Senhor que Se faz próximo de nós; é necessário um pequeno gesto de reciprocidade e de entrega ao Deus que nos visita, tentando salvar, mesmo no nosso maior momento de fraqueza ...
E assim, levantados pela força do Espírito Santo, acolhendo o amor que Deus nos oferece, agradecidos de todo o coração pelas maravilhas que o Senhor operou nas nossas vidas, colocamo-nos imediatamente ao serviço dos irmãos, começando com os de lá de casa, como sinal visível de quem já não vive só para si mesmo, mas para "dar a vida" aos outros ...
Os Evangelhos dizem-nos que Jesus veio a Cafarnaúm e ficou diversas vezes nesta casa que pertencia a Simão Pedro... Ao folhear as páginas dos Evangelhos e ao rever estas minhas memórias acerca da Terra Santa, não posso deixar de notar a forma como Pedro deixou que Jesus entrasse na sua vida e de como, aos poucos, este mero pescador, primeiro de peixes e depois de almas, foi permitindo que Jesus tomasse posse de tudo o que lhe pertencia...
Tudo começou com um "ouvi falar" dum Nazareno, com um olhar cheio de amor e misericórdia, com um toque capaz de curar os doentes e uma voz capaz de expulsar demónios, cuja "fama rapidamente se espalhou por toda a parte, em toda a região da Galileia" (Mc 1,28) ...
Um "ouvi falar", que rapidamente se tornou num "vem e vede" como "o Senhor é bom para aqueles que O temem" (como tantos Salmos nos anunciavam). Pedro veio, viu e ouviu, e o seu coração começou a transformar-se ...
Um dia, na praia, Jesus atrevido - como por vezes era (e ainda é) Seu costume - pede a Simão Pedro o seu barco, para daí poder ensinar melhor as multidões. Pedro aceita mais este passo de Jesus na sua vida e no seu coração, e coloca à Sua disposição um dos seus bens mais preciosos, o seu próprio ganha pão e a sua forma de sustento. Pedro oferece a Jesus, numa demonstração do seu amor crescente pelo Senhor, toda a autoridade e poder de comandar o seu próprio barco, tanto nos dias de brisa suave e de sol ameno, como nos dias de tempestade...
Agora, Jesus pede-lhe para entrar na sua própria casa. Nunca mais haverá sossego naquela casa, com pessoas a trazerem familiares e amigos doentes, desde manhã até à noite, num vai e vem constante, não lhes dando tempo sequer para pescarem, cozinharem ou alimentarem-se ...
Mais tarde, quando o coração de Pedro estiver preparado, Jesus pedir-lhe-á que deixe casa, família e trabalho, para poder segui-Lo. Deus vai assim, pouco a pouco, tomando o devido lugar no coração e na vida de Pedro, Ele de quem tudo provém, Ele de quem tudo recebemos ...
Barco, casa, família, bens e comida, vontade e paciência, (muito!) tempo, o presente e o futuro, incertezas e perseguições, uma grande trabalheira, e por fim a própria vida - sim, Jesus pedirá para se tornar Senhor e Rei de tudo, tudo, tudo na vida do Apóstolo Pedro.
À semelhança do que os primeiros cristãos foram fazendo, e do que o povo de Deus tinha já feito no seu longo percurso no deserto, também Pedro aprende que é preciso ir fazendo espaço para o Senhor, é preciso ir alargando o tamanho "da tenda" do nosso coração, "para a esquerda e para a direita"... É preciso, nesta nossa caminhada de santidade diária, que saibamos oferecer - livremente, por puro amor, um passinho de cada vez - todas as áreas das nossas vidas, tudo aquilo que possuímos, que fazemos, que amamos ... o nosso trabalho, as nossas coisas, a nossa casa, a nossa família, o nosso quarto, o nosso coração, a nossa vida ...
O tempo da Quaresma está quase aí, à nossa porta.
Deixaremos que o Senhor se aproxime de nós? Que entre na nossa casa e no nosso coração?
Que cure tudo o que nos paralisa e impede de viver plenamente em serviço e em comunhão com os irmãos?
Permitiremos, à semelhança de Pedro e da sua família, que o Senhor venha e sacralize a nossa vida familiar?
Continuamos a nossa visita pela recém descoberta cidade de Magdala... e continuamos a seguir, quase linha por linha, os relatos dos Evangelhos. Tanto São Mateus, como São Marcos e São João nos contam que, logo após ter alimentado a multidão de 5000 famílias, perto da praia de Tagba, mostrando, uma vez mais, o quanto a matemática de Deus é diferente da nossa, Jesus realizou outro grande milagre, igualmente cheio de simbolismo e tão, tão cheio de ensinamentos profundos para a nossa vida ...
Depois, Jesus obrigou os discípulos a embarcar e a ir adiante para a outra margem, enquanto Ele despedia as multidões. Logo que as despediu, subiu a um monte para orar na solidão. E, chegada a noite, estava ali só.
Mt 14, 22-23
Bolas, Jesus! - parece que oiço o apóstolo Pedro a refilar (ou serei eu própria?)
Fazes um milagre absolutamente incrível, alimentas mais de 5.000 homens a partir de 5 pãezinhos de cevada e 2 peixes ... e em vez de ficares connosco e de nos explicares o simbolismo deste Teu acto, mandas-nos para o outro lado da margem do Mar das Tiberíades....
Fogo Jesus, aquilo que eu mais queria era ficar, agorinha mesmo, bem aqui, perto de Ti - e Tu pedes-me para seguir caminho, para avançar e ir para a outra margem ... Não era bem isso que eu tinha em mente, sabes? Era mais uma noite descansada, connosco sentados na praia à Tua volta, a ouvir-Te falar a cada um dos nossos corações ... Jesus, tem mesmo de ser?
Sim, Pedro, tem. Sim, Marisa, tem.
Jesus estava bastante magoado, tinha acabado de receber a notícia da morte de João Baptista. Mal teve tempo de chorar a sua morte e de sentir a sua falta ... e logo uma grande multidão O tinha procurado, implorando pela Sua ajuda. Jesus esquece-se de Si mesmo e da Sua dor, e ensina-nos que é ao doarmo-nos aos outros que, por vezes, acabamos por curar as nossas próprias feridas....
O dia estava já no fim e Jesus estava tão cansado - não apenas aquele cansaço do corpo, depois dum dia longo de trabalho; mas aquele cansaço da alma, que só Deus pode aliviar. E Jesus dá-nos o exemplo do que devemos, sempre, fazer - encontrarmos um momento para estarmos a sós com Deus e falar-Lhe de coração aberto, agradecendo as Suas incontáveis bênçãos e graças, e pedindo o auxílio e a perseverança para levar a bom porto aquilo que Ele nos pede para fazer a seguir....
Igreja na cidade de Magdala - sim, o altar tem mesmo o feitio dum barco! Não é absolutamente lindíssimo?
A custo, lá vencemos a nossa vontade e cumprimos a Tua ordem, Jesus. Pomo-nos no barco e avançamos mar adentro. Pode ser que a noite seja calma ...
O barco encontrava-se já a várias centenas de metros da terra, açoitado pelas ondas, pois o vento era contrário.
Mt 14, 24
A sério, Jesus? Estamos a cumprir aquilo que Tu nos disseste para fazer - não é suposto dar sempre tudo certo? Donde vem este vento contrário? Porquê esta tempestade, porquê esta dificuldade tão grande? Tem mesmo de ser assim tão difícil e custoso?
Na verdade, este vento de que nos fala os Evangelhos tanto pode representar as dificuldades que encontramos sempre que tentamos fazer a vontade do Senhor e as Suas obras; como pode, também, representar a força dos nossos próprios medos e dúvidas ... Ouvimos as palavras de Deus no nosso coração, confiamos em Jesus, arregaçamos as mangas e atiramo-nos às tarefas que nos são pedidas - em casa, no trabalho, na escola, na paróquia, na rua - mas, quando damos por isso, os problemas e as dificuldades parecem abanar o nosso barco por todos os lados, os nossos medos e dúvidas paralisam-nos e, quase sem darmos conta, permitimos que a água comece a entrar para dentro do nosso barco e comece a afundar-nos ...
Senhor, Senhor, onde estás Tu? Porque nos abandonaste?
De madrugada, Jesus foi ter com eles, caminhando sobre o mar.
Ao verem-n'O caminhar sobre o mar, os discípulos assustaram-se e disseram: «É um fantasma!» E gritaram com medo.
No mesmo instante, Jesus falou-lhes, dizendo: «Tranquilizai-vos! Sou Eu! Não temais!»
Mt 14, 25-27
É verdade Jesus ... como pude eu esquecer-me? Tempestade nenhuma, por mais terrível ou assustadora que pareça, Te poderá afastar de mim ... Por mais poderosas que pareçam as águas do mar, Tu consegues, sempre, abrir um caminho até mim. Tu vens, sempre, até mim. Tu vens, sempre, socorrer-me. Por mais que eu me tenha afastado da margem segura. Por mais afastado que eu esteja de Ti... Tu vens, Jesus, até junto de mim - sempre.
É verdade, Senhor, eu nem sempre reconheço os Teus passos. Eu nem sempre consigo perceber que és Tu que estás a vir na minha direção, em meu auxílio, quando me encontro em plena noite escura da minha alma ...
Mas, ainda assim, Tu vens até mim - sempre.
Pedro respondeu-lhe: «Se és Tu, Senhor, manda-me ir ter conTigo sobre as águas.»
«Vem» - disse-lhe Jesus.
Mt 14, 28
Sim, ver o amor que Jesus nos tem, capaz de enfrentar qualquer vento contrário, qualquer noite escura, faz-nos ganhar coragem. Faz-nos aumentar a nossa Fé. Faz-nos acreditar que, sim, conseguimos.
E Jesus convida-nos a irmos ao Seu encontro.Vem, não tenhas medo, vem! Pode parecer impossível, Eu sei, mas acredita, a Minha graça será suficiente. A Minha graça é, realmente, tudo o que tu precisas ...
Se acreditares nas Minhas palavras, então verás o poder do Meu amor; então verás todas as coisas impossíveis que o Meu amor será capaz de fazer na tua vida ...
Vem, até Mim, e Eu guiar-te-ei, Eu cuidarei de ti, Eu suportar-te-ei, Eu serei a tua força ...
E Pedro, descendo do barco, caminhou sobre as águas para ir ter com Jesus.
Mt 14, 29
Tu chamas-me, Senhor? Então eu vou!
Agarro-me à proa do barco. Ponho uma perna de fora e depois a outra. Os meus companheiros olham para mim e pensam que estou louco. O vento não pára de soprar. O mar não pára quieto. É tudo tão instável e inseguro...
Mas eu olho para Ti, Jesus, olho bem nos Teus olhos, e recebo, de Ti, a coragem que necessito. Abandono todos os meus medos e inseguranças, e confio - em Ti e nas Tuas promessas.
Confiante no Teu eterno amor, sou capaz de largar tudo o que eu achava que possuía e controlava... Sim, a Tua graça será suficiente!
Igreja em Magdala
Mas, sentindo a violência do vento, [Pedro] teve medo e, começando a ir ao fundo, gritou: «Salva-me, Senhor!»
Imediatamente Jesus estendeu-lhe a mão, segurou-o e disse-lhe: «Homem de pouca fé, porque duvidaste?»
E, quando entraram no barco, o vento amainou. Os que se encontravam no barco prostraram-se diante de Jesus, dizendo: «Tu és, realmente, o Filho de Deus!»
Mt 14, 30-33
Ah, maldito vento!
O vento parece ser tão forte e eu tão fraco. Esta noite escura, interminável, parece tão aterradora e eu apercebo-me que tenho tanto medo. As águas das dúvidas e dos medos, dos problemas e das dificuldades, querem-me engolir .... oh, que me poderá acontecer?
Mas agora eu sei o que devo fazer. E, com toda a confiança, clamo por Ti - Jesus!
Com alta voz chamo por Ti - Vem Senhor Jesus! Vem e salva-me! Só Tu o podes fazer! Só Tu!
E Tu, sem qualquer demora, estendes a Tua forte mão para me ajudar. Tu desces até mim, até às profundezas onde me encontro, e elevas-me à Tua altura. Com todo o Teu poder, libertas-me das águas opressoras.
E, nos Teus braços, descubro que a tempestade acalmou ... Oh, Tu que és, realmente, o Filho de Deus!
Nada te perturbe, minha querida e frágil alma, pois a Deus, nada é impossível....
E tu? O que te impede de segurares na mão que Ele te estende?
Permanecemos um pouco mais nesta praia em Tagba, no sopé do Monte das Bem-Aventuranças, para ouvirmos e meditarmos noutro episódio que os Evangelhos nos contam e que também aconteceu aqui.
Jesus Ressuscitado tinha aparecido aos Apóstolos nesta praia, depois duma noite de pesca infrutífera. Estavam a perder o rumo, a viver uma autêntica "noite escura da alma" - como séculos mais tarde São João da Cruz nos explicaria tão bem. Parecia que Deus os tinha abandonado e toda a esperança tinha desvanecido ...
Jesus renova as suas forças e a sua fé oferecendo-lhes uma refeição, preparada com todo o Seu amor - tal como ainda hoje o deseja fazer, a cada um de nós, sempre que participamos na Santa Missa. Nutridos com este verdadeiro alimento - o corpo e sangue do próprio Deus - está na altura dos Apóstolos se porem a caminho; está na altura de partirem em missão; está na altura de responder com coragem à vocação a que o Senhor os chama ...
Depois de terem comido, Jesus perguntou a Simão Pedro:
«Simão, filho de João, tu amas-Me mais do que estes?»
Pedro respondeu:
«Sim, Senhor, Tu sabes que eu sou deveras teu amigo.»
Jesus disse-lhe:
«Apascenta as minhas ovelhas.»
Jo 21,15
(versão da Bíblia dos Capuchinhos)
Simão, tu amas-Me?
Também a nós Jesus faz essa pergunta ... Marisa, tu amas-Me? Mais que qualquer outra pessoa? Acima de tudo?
Outras traduções da Bíblia (mais correctas a meu ver) dizem-nos que a resposta de Simão Pedro foi:
Sim, Senhor, Tu sabes que eu gosto muito de Ti ...
Tal como Pedro, também eu desejava poder dizer - Sim, Senhor, Tu sabes que eu Te amo ... mas, na verdade, ainda só sou capaz de responder - Sim, Senhor, Tu sabes que eu gosto muito de Ti ...
A praia junto da Mensa Christi e do local do Primado de Pedro
Ao ouvir esta passagem do Evangelho de São João, na Terra Santa, lembro-me imediatamente duma homilia que tinha ouvido alguns meses antes e dum pequeno (grande!) livro de C.S. Lewis, chamado "Os quatros amores".
O Sr. Padre tinha-nos explicado que, nos textos originais dos Evangelhos, escritos em grego, o verbo utilizado na primeira pergunta de Jesus a Pedro tinha sido a conjugação do verbo Agape.
Para quem não estiver familiarizado com a palavra, o amor Agape é o nome que os primeiros cristãos encontraram para nomear o infinito e imerecido amor de Deus por cada um de nós. O amor Agape é o amor mais inteiro, mais completo. É um amor absolutamente desinteressado de si próprio e livre - livre para amar e servir o outro. Aquilo que o amor Agape mais deseja - ou, melhor dizendo, a pulsão irresistível que sente, impossível de conter ou dominar - é o doar-se, totalmente, ao outro. O amor Agape é o amor que deseja dar a vida pelo outro, que dá (e dá-se) sem medida, que dá (e dá-se) sem condições. É um amor completamente desmedido e incondicional. E este é o amor que Deus tem por cada um de nós....
Pedro responde à pergunta de Jesus - Pedro, tu amas-Me - com um amor Agape? - conjugando um verbo diferente, um diferente tipo de amor - Filia.
O amor Filia é o nome do amor de amizade. É o amor que "gosta muito" do outro. É um amor em que se sente grande alegria e prazer e bem-estar ao estar junto do outro, ao estar com o outro. É, contudo, um amor que exige uma cerca correspondência e reciprocidade da parte do outro. No fundo, o amor Filia é, digamos assim, um nível mais baixo, mais inferior de amor, do que o amor Agape (assumindo que este seja o amor mais completo)
Nós sabemos - explicou-nos o Sr. Padre - que o diálogo entre Jesus e Pedro não foi na língua grega, mas sim aramaica. Contudo, São João, como é seu hábito, não deixou passar esta oportunidade para dar uma belíssima e profundíssima lição de catequese. São João faz questão de apontar a diferença entre o amor de Jesus e o amor de Pedro.
Jesus pergunta a Pedro - Pedro, tu amas-Me com todo o teu coração? Com um amor totalmente desinteressado, livre, desmedido, de pura auto-doação?
E Pedro responde, sendo absolutamente franco e honesto - tal como nós já conhecemos que S. Pedro era - respondendo que amava Jesus sim, mas ainda duma forma incompleta...
Praia em Tagba - Foto tirada por outro peregrino - obrigado pela partilha!
Alguém reparou que as rochas grandes desta praia pareciam que tinham o formato de corações? Oh, quão adequado!!
[Jesus] voltou a perguntar-lhe uma segunda vez:
«Simão, filho de João, tu amas-me?»
Ele respondeu:
«Sim, Senhor, Tu sabes que eu sou deveras teu amigo.»
Jesus disse-lhe:
«Apascenta as minhas ovelhas.»
Jo 21, 16
Pela segunda vez, Jesus pergunta a Pedro se este O ama, conjugando o verbo Agape.
Pela segunda vez, Pedro responde que sim mas empregando o verbo Filia. Pedro conhece-se - e bem! Ainda há uns meros dias atrás, Pedro tinha prometido a Jesus, à frente de todos os que quisessem ouvir, que O amava de todo o coração, que permaneceria e O seguiria para onde quer que fosse, custasse o que custasse ... para, após uma única noite de susto e medo, na noite em que Jesus foi preso e acusado, ser capaz de O negar - não uma, não duas, mas três vezes ...
Mas Pedro, agora, conhece-se e bem; a experiência da vida transformou-o e, por isso, já nem tenta responder a Jesus - quer publicamente, quer no íntimo do seu coração - com o mesmo grau de amor que Este demonstrou ter por si. As provas são evidentes. Pedro gostava muito, oh mesmo muito, de amar Jesus tal como Ele o ama a si. Mas ainda não consegue. Ainda ...
Reparem também que, ao responder a Jesus, Pedro não começa a sua resposta dizendo logo - Senhor, eu gosto muito de ti ... - mas sim - Senhor, Tu sabes que eu gosto muito de ti ...
Pedro ama Jesus com todo o amor que tem e consegue, com todo o amor que o seu finito e humano coração lhe permite. Mas aqui continuamos a observar outra transformação de Pedro - sempre tão constantes ao longo de todo o Novo Testamento como, assim o espero e desejo, as sejam na minha vida, na tua vida, na nossa vida...
Assim, Pedro diz: Tu, Senhor, conheces o meu coração. Conheces o quanto eu desejava amar-Te, mas não consigo - ainda. E a principal razão é que - Senhor, agora vejo e reconheço finalmente - todo o amor que existe, vem de Ti. Eu sou incapaz de saber apreciar este amor imenso - Agape - que Tu tens por mim. E eu sou absolutamente incapaz de amar assim, tal como Tu. Mas se Tu quiseres, Senhor, poderás transformar-me, uma vez mais. A Tua graça é suficiente. Porque Tu és a fonte de todo o amor! Porque todo o amor vem de Ti!
E [Jesus] perguntou-lhe, pela terceira vez:
«Simão, filho de João, tu és deveras meu amigo?» (ou então - Simão, tu gostas muito de mim?)
Pedro ficou triste por Jesus lhe ter perguntado, à terceira vez: ‘Tu és deveras meu amigo?’ Mas respondeu-lhe:
«Senhor, Tu sabes tudo; Tu bem sabes que eu sou deveras teu amigo!» (ou então - Senhor, Tu sabes tudo, Tu sabes que eu gosto muito de Ti)
E Jesus disse-lhe: «Apascenta as minhas ovelhas.
Em verdade, em verdade te digo: quando eras mais novo, tu mesmo atavas o cinto e ias para onde querias; mas, quando fores velho, estenderás as mãos e outro te há-de atar o cinto e levar para onde não queres.»
E disse isto para indicar o género de morte com que ele havia de dar glória a Deus.
Depois destas palavras, acrescentou: «Segue-me!»
Jo 21,17-23
Disse-lhe Jesus: Alimenta, apascenta, cuida das minhas ovelhas.
Toma o teu cajado. Sê o seu pastor aqui na terra, a partir deste momento. Sê o seu primeiro Papa ...
À terceira vez, Jesus faz a pergunta conjugando, desta vez, o verbo Filia....
Jesus aceita "descer" ao nível do amor - actual - de Pedro. O amor Agape faz continuamente isto - sempre que for necessário, baixa a fasquia para chegar ao outro, para estar ao mesmo nível do outro, para caminhar ao ritmo do outro. O amor Agape é assim tão grande que é capaz de fazer isto - e com toda a simplicidade e naturalidade que o caracteriza.
Jesus muda a pergunta, visto que Pedro aindanão é capaz de mudar a sua resposta. Jesus continua o Seu diálogo de amor com Pedro - e com cada um de nós - deixando de pedir um amor que Pedro aindanão é capaz de dar. Ainda...
Segue-Me. Acompanha-Me. Não tenhas medo. Vem comigo.
Não olhes para a fragilidade e finitude do teu coração e das tuas capacidades.
Vem, segue-Me, acompanha-Me.
Se aceitares, se tiveres coragem, tempos virão, Pedro (ou Marisa, Ana, Maria, João, António ...), onde então sim, serás capaz de amar, de amar-Me e, por conseguinte, aos irmãos - com um verdadeiro amor Agape.
Continuamos a nossa viagem em Tagba, perto de Nazaré. Estamos no sopé do Monte das Bem-Aventuranças e caminhamos todos juntos até encontrarmos uma pequena igreja franciscana, conhecida como Mensa Christi - a mesa de Cristo.
Estamos na costa noroeste do Mar da Galileia, um dos locais favoritos para os pescadores de Cafarnaum desempenharem as suas profissões, pescadores como os apóstolos Pedro e o seu irmão André. Os Evangelhos contam-nos que Jesus passou por diversas vezes, ao longo das suas viagens e pregações, por esta praia ... poderá ter sido esta a Sua praia favorita?
Olho para a beleza da praia que me rodeia, inspiro fundo até sentir o cheiro da água, fecho os olhos e continuo a ouvir os passarinhos que cantam nas árvores à nossa volta misturado com o som das ondas, passo a mão pela água fresca, brincando com as pequenas conchas brancas e pretas que abundam por aqui e sorrio abertamente - só posso acreditar que sim!
Algum tempo depois, Jesus apareceu outra vez aos discípulos, junto ao lago de Tiberíades, e manifestou-se deste modo: estavam juntos Simão Pedro, Tomé, a quem chamavam o Gémeo, Natanael, de Caná da Galileia, os filhos de Zebedeu e outros dois discípulos.
Disse-lhes Simão Pedro: «Vou pescar.» Eles responderam-lhe: «Nós também vamos contigo.»
Saíram e subiram para o barco, mas naquela noite não apanharam nada.
Jo 21,1-3
A nossa guia conta-nos que estamos naquele que se acredita ser o local onde ocorreu este episódio do Evangelho. Jesus tinha morrido na Cruz, em Jerusalém. Três dias depois, as mulheres que O seguiam tinham ido ao Seu sepulcro e tinham-no encontrado vazio. Alguns anjos disseram-lhes que o Messias tinha ressuscitado. Jesus Ressuscitado tinha aparecido a Maria Madalena, que chorava em busca d'Aquele que o seu coração mais amava. Os discípulos de Emaús tinham vindo a correr, para contar a todos que tinham encontrado Jesus Ressuscitado ao longo do caminho e no partir do pão.
Mas os dias passavam e passavam, mais ninguém tinha visto Jesus, e os apóstolos começaram a duvidar... Loucura das loucuras ... oh, poderá mesmo algo assim acontecer, Alguém vencer a morte e ressuscitar?
Não, o melhor é ganharmos juízo e voltarmos para as nossas vidinhas normais, simples, pacatas e seguras, de pescadores de peixes e não de homens ...
Ao romper do dia, Jesus apresentou-se na margem, mas os discípulos não sabiam que era Ele. Jesus disse-lhes, então: «Rapazes, tendes alguma coisa para comer?» Eles responderam-lhe: «Não.»
Disse-lhes Ele: «Lançai a rede para o lado direito do barco e haveis de encontrar.»
Lançaram-na e, devido à grande quantidade de peixes, já não tinham forças para a arrastar.
Jo 21,4-6
Oh, isto já tinha acontecido antes!
Sim, só existe uma Única pessoa capaz de algo assim!
Só existe uma Única pessoa capaz de nos dizer onde podemos encontrar o verdadeiro alimento para as nossas almas!
Então, o discípulo que Jesus amava disse a Pedro: «É o Senhor!»
Simão Pedro, ao ouvir que era o Senhor, apertou a capa, porque estava sem mais roupa, e lançou-se à água. Os outros discípulos vieram no barco, puxando a rede com os peixes; com efeito, não estavam longe da terra, mas apenas a uns noventa metros.
Jo 21,7-8
Quando estamos apaixonados e queremos muito estar junto daquele que amamos, somos capazes de fazer qualquer loucura, como lançar-nos nas águas do desconhecido e nadar contra a maré...
Ao saltarem para terra, viram umas brasas preparadas com peixe em cima e pão. Jesus disse-lhes: «Trazei dos peixes que apanhastes agora.»
Simão Pedro subiu à barca e puxou a rede para terra, cheia de peixes grandes: cento e cinquenta e três. E, apesar de serem tantos, a rede não se rompeu.
Disse-lhes Jesus: «Vinde almoçar.» E nenhum dos discípulos se atrevia a perguntar-lhe: «Quem és Tu?», porque bem sabiam que era o Senhor. Jesus aproximou-se, tomou o pão e deu-lho, fazendo o mesmo com o peixe.
Esta já foi a terceira vez que Jesus apareceu aos seus discípulos, depois de ter ressuscitado dos mortos.
Jo 21,9-14
Foi aqui, sobre estas rochas, que Cristo esperou que os olhos dos Seus apóstolos se abrissem e O reconhecessem.
Foi aqui, sobre estas rochas, que Cristo esperou, preparando uma refeição; fogueira acesa, peixinho na brasa, pão partido, a mesa posta ...
Foi aqui, sobre estas rochas, que Cristo, verdadeiro Deus, verdadeiro Rei, os serviu e alimentou, com o Seu próprio corpo e sangue.
Não tenham medo de seguir Jesus. Não tenham medo de fazer o que Ele vos propõe.
Se se atirarem ao mar do desconhecido, nunca se afogarão. Se se afadigarem a pescar pelo reino de Deus, o Senhor nunca se deixará vencer em generosidade. Se lançarem as vossas redes e elas vos parecerem pesadas e quase a arrebentar, acreditem, tal nunca irá acontecer.
Trazei para a mesa do Senhor o resultado do suor do vosso trabalho, por pouco ou muito que seja. Será aqui, na mesa do Senhor, no altar do Senhor, que Ele próprio Se oferecerá como alimento, como verdadeiro alimento para as nossas almas, sedentas e carentes de compreensão e de amor.
Sim, estão mesmo todos convidados. O Senhor chama-vos para o Seu banquete, para a Santa Missa.