Cristo, o nosso eterno Profeta, Rei e Sacerdote
Durante toda a Quaresma, diariamente as leituras da Santa Missa mostram-nos a tripla missão de Jesus, o perfeito e eterno Profeta, Rei e Sacerdote. Esta tripla missão é especialmente visível nas leituras do julgamento de Jesus.
O Sumo Sacerdote voltou a interrogar [Jesus]: «És Tu o Messias, o Filho do Deus Bendito?» Jesus respondeu: «Eu sou. E vereis o Filho do Homem sentado à direita do Poder e vir sobre as nuvens do céu.» O Sumo Sacerdote rasgou, então, as suas vestes e disse: «Que necessidade temos ainda de testemunhas? Ouvistes a blasfémia! Que vos parece?» E todos sentenciavam que Ele era réu de morte. (Mc 14, 61b-64)
Perante o povo judeu, representado por Caifás, o Sumo Sacerdote do templo de Jerusalém naquele ano, foi julgado Cristo-Profeta. Profeta é alguém que se coloca em escuta atenta da Palavra de Deus e que depois a transmite a cada um de nós, ajudando-nos a interpretá-la e a pô-la em prática, retirando-nos as máscaras e as vendas dos nossos olhos - que insistimos em colocar, tanto em nós, como nos outros - auxiliando-nos a reconhecer o nosso pecado e as nossas culpas e indicando-nos o caminho seguro a seguir. Quem foi o mais perfeito Profeta, se não Jesus Cristo?
E qual a razão da condenação de Cristo-Profeta? Jesus ter-Se declarado Filho de Deus, o Messias há muito prometido e desejado. Mas os judeus consideraram-n'O demasiado "terreno", demasiado humano e parecido connosco, para poder ser verdadeiramente Filho de Deus. E, assim, condenaram o Verbo de Deus por blasfémia.
Cristo-Profeta foi ridicularizado ao vendarem-Lhe os olhos e questionando-O se conseguia adivinhar quem era que Lhe batia no rosto - um rosto que, apesar dos inúmeros golpes, lhes oferecia sempre a outra face...
Cuspiam-Lhe no rosto e batiam-Lhe. Outros esbofeteavam-n'O, dizendo: «Profetiza, Messias: quem foi que Te bateu?» (Mt 26, 67-68)
[Pilatos] chamou Jesus e perguntou-Lhe: «Tu és Rei dos judeus?» Respondeu-lhe Jesus: «Tu perguntas isso por ti mesmo, ou porque outros to disseram de Mim? (...) A Minha realeza não é deste mundo» Disse-Lhe Pilatos: «Logo, Tu és Rei!» Respondeu-lhe Jesus: «É como dizes: Eu sou Rei! Para isto nasci, para isto vim ao mundo: para dar testemunho da Verdade».(Jo 18, 33-34. 36a. 37)
Perante os gentios, representados pela figura de Pilatos, foi julgado Cristo-Rei. Rei é alguém que tem uma justa e suprema autoridade sobre o seu reino e sobre cada pessoa que lhe pertence. Uma vez que o rei é responsável por cada pessoa que lhe é confiada, ele tem o dever de as proteger dos perigos e de garantir o seu bem estar. Assim, por causa desse dever paternal, cada súbdito lhe deve a devida reverência.
Os soldados do governador conduziram Jesus para o pretório e reuniram toda a coorte à volta Dele. Despiram-n'O e envolveram-n'O com um manto escarlate. Tecendo uma coroa de espinhos, puseram-Lha na cabeça, e uma cana na mão direita. Dobrando o joelho diante Dele, escarneciam-n'O, dizendo: «Salve! Rei dos Judeus!» (Mt 27, 27-29)
Cristo-Rei foi humilhado ao ser despido das Suas vestes e ao ser coberto por um manto cor de sangue; ao ser coroado com uma coroa de espinhos; ao receber como trono uma cruz, como ceptro uma cana e como jóias três longos cravos, que O prenderam na Cruz.
Por fim, unindo-se pela primeira vez judeus e gentios (só Jesus poderia usar uma situação tão horrível, como a Sua crucifixão, para unir antigos inimigos), condenaram Cristo-Sacerdote. O sacernote serve de ponte medianeira entre Deus e os homens. O sacerdote apresenta ao Senhor os nossos sacrifícios mas também as nossas preces e necessidades. Assim, Jesus é o mais perfeito e eterno Sacerdote.
Os que passavam injuriavam-n'O e, abanando a cabeça, diziam: «Olha o que destrói o templo e o reconstrói em três dias! Salva-Te a Ti mesmo, descendo da cruz!» Da mesma forma, os sumos sacerdotes e os doutores da Lei troçavam Dele entre si: «Salvou os outros mas não pode salvar-Se a Si mesmo!» (Mc 15, 29-31)
Judeus e gentios, juntos, escarneceram de Cristo crucificado, desafiando-O a salvar-Se a Si mesmo e a descer da Cruz. Mas este eterno Cristo-Sacerdote já Se tinha oferecido a Si mesmo como a mais perfeita vítima de holocausto, através da Qual todos nós recebemos o perdão dos nossos incontáveis pecados.
Em resumo, o Sinédrio dos judeus desprezou e ridicularizou Cristo-Profeta; o Império Romano dos gentios julgou e escarneceu de Cristo-Rei; por fim, ambos se juntaram para condenar e crucificar Cristo-Sacerdote. Que paradoxo tão grande - Caifás, aquele que era Sumo Sacerdote por apenas um ano, desprezou o Eterno Sumo Sacerdote do Deus Altíssimo. E Aquele que Se revelou como o Caminho e a Vida é condenado ao caminho do Calvário e à morte...
Mas nós sabemos muito bem que a história não acaba aqui. Nem a morte, nem o demónio, nem o pecado, nem as dificuldades têm a última palavra - mas sim Cristo, o alfa e o ómega, o princípio e o fim, o primeiro e o último, o nosso Salvador.
Quando Jesus se preparava para voltar para o Reino dos Céus, no dia da Sua Ascenção, Ele distribuiu estas três dimensões pelos Seus Apóstolos: o serviço profético ou de ensino, ao prometer-Lhes que lhes enviaria o Espírito da Verdade, que os ajudaria a recordar e a compreender tudo o que Ele lhes tinha ensinado; o serviço real, ao dar-lhes as chaves do Reino de Deus, com o dever de defender e cuidar deste Reino e de cada pessoa que nele habitará; e, por fim, o serviço sacerdotal, para que fizessem memória contínua da Sua entrega Eucarística e conferindo-lhes o poder de perdoar os nossos pecados.
Aproximando-Se deles, Jesus disse-lhes: «Foi-Me dado todo o poder no Céu e na Terra. Ide, pois, fazei discípulos de todos os povos, baptizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a cumprir tudo quanto vos tenho mandado. E sabei que Eu estarei sempre convosco até ao fim dos tempos.» (Mt 28, 18-20)
Não posso deixar de sorrir ao pensar que, neste ano 2021, a Quinta-feira da Ascensão do Senhor será a 13 de Maio - quem melhor do que Nossa Senhora para nos transmitir as graças do Senhor neste dia e para sempre?