Sou uma jovem esposa e mãe católica portuguesa. Neste blog partilho a minha caminhada em busca da santidade e o meu encontro com o amor misericordioso do Senhor. Espero que ele vos possa ajudar a encontrar a alegria do Evangelho!
Sou uma jovem esposa e mãe católica portuguesa. Neste blog partilho a minha caminhada em busca da santidade e o meu encontro com o amor misericordioso do Senhor. Espero que ele vos possa ajudar a encontrar a alegria do Evangelho!
Alegro-me nos sofrimentos que suporto por vós e completo na minha carne o que falta às tribulações de Cristo, pelo Seu Corpo, que é a Igreja. (Cl 1,24)
A nossa filha Isabel teve de nascer através duma cesariana urgente a meio da noite. Este não foi, decididamente, o tipo de parto que nós tinhamos imaginado, nem preparado para ter, ao longo de toda a nossa gravidez. Mas foi a via de parto que o Senhor escolheu.
Durante alguns dias, tive a tentação de pensar que tinha falhado, para com a minha filha e o meu marido; que esta circunstância me tornaria menos mãe e menos mulher do que as outras, que tinham tido partos naturais; que, através deste meu primeiro parto, tinha perdido uma óptima oportunidade para me unir à Paixão de Cristo e de oferecer o sacrifício das minhas dores em expiação pelos pecados do mundo e por tantas intenções de oração que tinha vindo a reunir para este dia ... O Tentador é muito hábil a fazer-nos acreditar nisto: que falhámos, que perdemos, que somos fracos e que aquilo que fazemos (ou somos) é absolutamente inútil e ridículo.
Mas, pela luz do Espírito Santo, pude ver a beleza santificante deste meu primeiro parto, ao reflectir nas suas semelhanças com a Paixão de Jesus. No início, tal como Jesus, também eu implorei a Deus: «Pai, se quiseres, afasta de mim este cálice; contudo, não se faça a minha vontade, mas a Tua.» (Lc 22, 42). Depois, como Jesus no Horto das Oliveiras, também eu tive de aprender a render-me à vontade do Senhor, aceitando e permitindo de coração que se cumprisse, em mim e na nossa vida, aquela que era a Sua vontade. Jesus foi levado ao Cálvario; eu, ao bloco operatório. À semelhança de Jesus na Sua Paixão, também eu tive de passar pela "flagelação" da colocação do catéter epidural, aguentando a passagem de diversos choques elétricos pelas minhas pernas, sem me puder mexer. Tal como Jesus, também eu fui totalmente despida das minhas vestes, deitada numa mesa fria incapaz de me mexer, com os braços estendidos, um para cada lado, numa autêntica forma de cruz. A Jesus abriram-Lhe o peito com uma lança; a mim, cortaram-me ao meio ... para que daí nascesse uma nova vida.
É este o Meu mandamento: que vos ameis uns aos outros como Eu vos amei. Ninguém tem mais amor do que quem dá a vida pelos seus amigos. (Jo 15, 12-13)
Agora, sou capaz de sorrir, olhando para as minhas feridas, as minhas chagas, à semelhança de Cristo Ressuscitado. Agora sei que o meu corpo transformou-se num verdadeiro altar, onde o meu sacrifício de imolação foi capaz de gerar uma nova vida.
Agora - sorrio - já estou mais parecida conTigo, Jesus!
Continuamos o nosso caminho pelo deserto em direcção ao Monte Sinai. Já atravessámos o Mar Vermelho, tal como o povo hebreu; e para traz de nós ficaram os cavalos e os cavaleiros do Egipto. A parte mais fácil do trabalho de Deus - tirar o povo hebreu do Egipto - já está feita.
Agora sim vem a parte mais complicada e mais demorada desta tarefa a que Deus se propõe - tirar o Egipto de dentro do coração, da mente, da alma e do corpo do povo hebreu... Isto sim, dará imenso trabalho! Não demorará apenas alguns meses, como foi para tirar o povo hebreu do Egipto ... Deus Todo Poderoso, que criou o Céu e a Terra em apenas 6 dias, precisará de levar aquele povo - "de dura cerviz", como o próprio Moisés confessa - através do deserto durante 40 anos para tal conseguir ....
Moisés fez partir Israel do Mar dos Juncos, e saíram para o deserto de Chur. Caminharam três dias no deserto e não encontraram água. Chegaram a Mara, mas não puderam beber a água de Mara, porque era amarga. Por isso se chamou àquele lugar Mara.
O povo murmurou contra Moisés, dizendo: «Que beberemos?»
E ele clamou ao Senhor, e o Senhor indicou-lhe um tronco que ele lançou à água; e a água tornou-se doce.
Ex 15, 22-25
Chegamos a Mara, local onde ocorreu este pequeno episódio bíblico. Este pequeno relato facilmente passa despercebido quando seguimos a história do povo hebreu ao longo do livro do Êxodo - eu não me lembrava de alguma vez o ter lido até este dia!
O povo hebreu e todo o seu rebanho está cheio de sede. Andaram 3 dias pelo deserto sem encontrar nenhuma fonte de água. Toda a água que traziam, tirada do Mar dos Juncos, ou seja, do Mar Vermelho, esgotou-se. E agora, o que fazer? Voltar para trás? Continuar caminho? Morreremos todos à sede?
Eis que vislumbram um autêntico oásis: água, um poço de água! Rápido, venham todos beber!
Mas oh, que decepção! Que água tão amarga, impossível de beber....
O povo hebreu vira-se para um homem, à procura duma solução. O sábio Moisés sabe bem melhor para Quem se deve virar para pedir ajuda - Aquele que tudo pode, Aquele que prometera que estaria sempre com eles.
Deus pede a Moisés que jogue o tronco duma árvore para dentro do poço. Que pedido mais estranho!Estamos em pleno deserto, porque é que Deus não pediu a Moisés que jogasse uma pedra? Pedras há muitas por aqui ...
As árvores são tão raras aqui no deserto. Na periferia do deserto ainda era possível encontrar-se tamareiras; mas aqui, no meio do deserto, apenas é possível encontrar algumas acácias.... E, o mais provável, é que tenha sido essa a espécie de árvore que Moisés atirou para dentro do poço, tornando a água amarga em doce.
Conseguem acreditar que não me lembrei de tirar uma única foto duma acácia ao longo da peregrinação? Foto retirada daqui
As acácias foram quase sempre árvores pouco valorizadas por todos os povos que alguma vez aqui habitaram, no deserto. Sempre foram árvores desprezadas.... Crescem apenas nos lugares mais áridos e decididamente que não são árvores bonitas; são finas e tortuosas, cheias de nós e de espinhos - tudo características que as tornam imensamente difíceis de trabalhar e de fazer seja o que for com a sua madeira. Os Egípcios nunca gostaram de trabalhar com a madeira das acácias, preferiam mais os cedros do Líbano....
Apesar disso, se avançarmos no livro do Êxodo e se lermos com atenção as ordens do Senhor para a construção da Arca da Aliança e dos principais objectos da Tenda da Reunião (e posteriormente do Templo do Senhor) iremos reparar, com frequência, num pormenor muito curioso:
O Senhor falou a Moisés, dizendo-lhe: «Fala aos filhos de Israel. Fareis o santuário e todos os seus utensílios, de acordo com os modelos que vou mostrar-vos. Fareis uma Arca de madeira de acácia. Mandarás fazer varais de madeira de acácia revestidos de ouro; introduzirás os varais nas argolas, ao longo dos lados da Arca, a fim de servirem para a transportar.
Construirás em seguida uma mesa de madeira de acácia. Farás para a mesa quatro argolas de ouro e prendê-las-ás nas quatro extremidades, formadas pelos seus quatro pés. Estas argolas estarão colocadas frente a frente e por elas passarão varais destinados ao transporte da mesa. Farás os varais de madeira de acácia revestidos de ouro e servirão para transportar a mesa. Colocarás sobre esta mesa os pães da oferenda, que estarão permanentemente diante de mim.
Ex 25, 1; 9-10; 13; 23; 26-28; 30
Farás também para o santuário pranchas verticais de madeira de acácia. Assim construirás o santuário, conforme a norma que te mostrei neste monte.
Ex 26, 15; 30
Farás o altar de madeira de acácia. Farás, para o altar, varais de madeira de acácia, revestidos de cobre.
Ex 27, 1; 6
Também construirás um altar para queimar perfumes, e fá-lo-ás de madeira de acácia.
Ex 30,1
Deus pede ao povo hebreu que faça alguns dos objectos mais importantes da Tenda da Reunião usando a madeira da acácia, nomeadamente a própria Arca da Aliança, que conterá as sagradas tábuas com os 10 Mandamentos da Lei do Senhor.
Mas com Deus é sempre assim: tudo aquilo que tiver sido desprezado pelo mundo, Ele reconhece o seu devido valor e ainda o eleva acima das outras coisas ... Servimos um Deus tão bom, tão bom...
Para utilizar a madeira da acácia era preciso, primeiro, cortar os ramos em segmentos de pequeno tamanho (porque os ramos são tortuosos e pouco práticos de utilizar); depois, colocar os ramos em água, para ser possível retirar a sua casca; a seguir era preciso cortar os nós e os espinhos e tentar "endireitar" as angulações naturais destes ramos; e finalmente obtém-se um pedaço de madeira mais ou menos direitinho, mais ou menos pronto a ser usado para construir alguma coisa. Por fim, para que pudesse servir a construção da Arca da Aliança ou dos outros objectos da Tenda da Reunião, era ainda preciso revestir a madeira com uma camada de ouro ou de bronze ... quanta trabalheira!
Mas sabem que mais? A madeira da acácia, uma árvore capaz de resistir à vida difícil do deserto, quando assim trabalhada, torna-se numa das madeiras mais resistentes que se pode encontrar...
Na realidade, se pararmos para pensar um pouco, apercebemo-nos que nós próprios somos muito parecidos com as acácias ... Todos nós temos muitos "espinhos" e "nós" e "angulações", muitos erros e falhas e defeitos e características difíceis de lidar. Para trabalhar com a madeira duma acácia é necessário que se faça um longo e paciente processo de limpeza e tratamento, tentando endireitar ou suavizar ao máximo estes espinhos e nós. Também em nós o Senhor precisa fazer um longo e paciente processo de "limpeza e tratamento" a fim de nos tornar santos.
O primeiro passo neste processo consiste em mergulhar os ramos da acácia dentro de água, a fim de lhes retirar a casca; também nós precisamos de passar, primeiro e logo desde o princípio, pelas águas do Baptismo, a fim de nos retirar a carapaça do pecado original e assim podermos ser trabalhados pelas mãos do Santo dos Santos.
Mas o processo ainda não está completo; é ainda preciso que sejamos revestidos pelo Espírito Santo, tal como acontece no nosso Crisma - e agora sim, o pecado jamais conseguirá aceder e estragar definitivamente o íntimo da nossa natureza, o íntimo da nossa alma. Conseguirá sim, fazer uns riscos ou umas moças, sujar-nos e deixar-nos com algumas manchas ao longo das nossas vidas - mas nada disso será capaz de chegar até ao fundo do nosso coração, se trabalhado desta maneira por Deus. Esse precioso núcleo estará sempre protegido pelas próprias mãos do Senhor, estará sempre a salvo ...
Poço de Mara
Voltemos ao poço das águas de Mara e aos nossos poços, onde acumulamos os nossos problemas, medos, dúvidas, erros e asneiras. Por vezes parecem que estão cheios de água até cá acima, sim, mas cheios duma água amarga, incapaz de dar a vida a quem dela beba ...
Claro que não foi a árvore jogada dentro do poço que purificou aquela água; foi sim todo o trabalho que o povo hebreu teve ao tratar e transformar aquele tronco; foi a cruz de aceitar ter todo aquele trabalho; foi, em última instância, o trabalho que Deus teve no coração de cada um deles, em cada um de nós ...
Oh Senhor, trabalha em mim e no meu coração tanto quanto seja preciso! Amén
Este ano está a ser particularmente difícil e desafiante para mim ... por uma série de razões diferentes ... que, no seu conjunto, têm feito com que este ano esteja a ser muito, muito difícil para mim ...
Louvado seja Deus pela descoberta que fiz, há uns tempos atrás, e que me tem ajudado, em parte, a aceitar este período turbulento e incerto e que tanta dor me tem causado ...
Queria partilhar convosco o blog e em especial o podcast do querido Padre "da minha Faculdade de Medicina", o Pe António Pedro Monteiro....
Chama-se (tão adequadamente) Aquele que habita os Céus sorri - e não posso recomendar-vos o suficiente a escuta atenta e reflexiva deste podcast.... Vale tanto, tanto, tanto a pena!
Algumas das homilias que mais me tocaram, bem fundo, no coração, nos últimos tempos foram:
Jesus lifestyle - O coração de Jesus
Cabem todos e a rede não se rompe
A tarefa de renovar todas as coisas
Mas eu acho sinceramente que podia ter escolhido todas as homilias que já ouvi do nosso querido Padre António Pedro Monteiro - tanto estas, disponíveis em formato electrónico, como todas aquelas que me lembro de ter ouvido ao longo dos anos de faculdade ... e que tanto impacto tiveram em mim e na minha vida.
Louvado seja Deus pela graça de podermos ouvir estas palavras, que tanto nos (re)aquecem o coração!
Um abençoado fim-de-semana para todos
E se se lembrarem, nem que seja por um breve momento, por favor, rezem por mim ...
Nos últimos anos, tenho vivido um intenso processo de discernimento vocacional que, pela transbordante e imprescindível graça de Deus, parece que chegou finalmente a um único caminho. Assim, neste último ano, tenho vivido com a certeza da minha vocação, após anos e anos de oração, aconselhamento e exploração das diversas vocações que a Igreja nos oferece. Mas o tempo passa e passa e passa e ... nada acontece.
Porque é que esta minha vocação não se concretiza, finalmente, Senhor?
Senhor, se me chamas tão fortemente por este caminho, por esta vocação, porque é que nada acontece, porque é que ela não se realiza?
Se Tu colocaste este desejo tão grande e profundo no meu coração, porque não o cumpres? Porque é que não o completas?
À minha volta, vejo diariamente as vocações das outras pessoas a serem cumpridas; vejo-as a serem chamadas e a dizerem o seu "sim", visível e definitivo, à sua vocação e à vontade de Deus nas suas vidas. Eu também o queria fazer. Eu também o desejava fazer....
E facilmente (oh tão facilmente!...) caio na tentação de pensar: Senhor, acaso esqueceste-Te de mim?
Oh, a cruz de não vivermos (ainda) a nossa vocação em pleno ...
Oh, a cruz de vivermos uma vida que desejaríamos tanto que fosse diferente.
O Tentador, contudo, não perde uma única oportunidade. Mal abrimos esta pequena fresta no nosso coração - Senhor, acaso esqueceste-Te de mim? - e ele fará de tudo para que continuemos a cair, para que nos afastemos do amor de Deus. Quando mal damos por isso, já caímos na tentação de duvidar do imenso amor de Deus por nós - Se me chamas a esta vocação e ela não se realiza, é porque não me amas Senhor ...
O Maligno é o príncipe da sedução e ele, mais que ninguém, sabe exactamente como nos seduzir com as suas mentiras - Porque me mostras, Senhor, tantos bons exemplos de vocações a serem cumpridas e realizadas, e a minha não? Porque me mostras tanto ouro na vida dos outros, e na minha nem sequer um pouco de ferro parece existir? Porque é que não permites que aconteça? Porque é que o impedes de acontecer?
Oh, poderá Deus, alguma vez, impedir que se cumpra aquilo que Ele próprio mais deseja, mais ainda que qualquer um de nós - o cumprimento pleno da nossa vocação, através da qual nos santificaremos e assim viveremos para todo o sempre em profunda comunhão de amor com Ele ...
Oh, que pecado tão grande o meu!
Não, não é assim que deve ser a minha postura perante esta situação. Não, não é assim que eu devo responder por este caminho que o Senhor me leva, que eu não compreendo e que eu não concordo que seja mesmo por aqui ... (Não podia ser mais rápido, Senhor? Tem mesmo de demorar assim tanto tempo a acontecer?)
Noutros dias (numa nova tentativa do Príncipe da mentira e da discórdia), dou por mim a escolher evitar a todo o custo pensar sequer na minha vocação, não permitindo que este meu desejo profundo se manifeste no meu dia a dia. Escolho ignorá-lo, escolho escondê-lo, escolho evitá-lo, chegando até a negá-lo, chegando até a fingir que não o conheço e que ele não existe ...
Oh, esta é um tipo de resposta muito fácil, muito confortável, que muitos escolhem.
Mas não, esta também não é a atitude correta...
Então, o que devo fazer?
Aceita a Cruz.Aceita essa luta, diária. Aceita esses desejos, tão profundos, tão entranhados no teu coração; aceita-os, recebe-os, acolhe-os ... E aceita o facto de eles ainda não se terem cumpridos, de ainda não terem sido plenamente satisfeitos ou realizados.
Aceita esta tua necessidade, esta tua incompletude, aceita esta falta que tens - e permite que seja o próprio Deus a preencher e completar esse espaço (aparentemente) vazio.
Dói o peito? Chama o Senhor e pede-Lhe que te cure e alivie.
Não aguentas mais? Pede a Deus pela fortaleza que não possuis.
Não sentes mais nada do que um enorme vazio? Oferece-o, vá, oferece-o ao Senhor, se é tudo o que pensas possuir....
Lembra-te, Marisa, das lições que Deus tão carinhosamente já te ensinou nestes anos. Se sentes tão fortemente este desejo, se hoje é um daqueles dias em que a não realização da tua vocação te custa tanto, se dói tanto que chega a arder no peito - então sabes (lembra-te!) que Deus está neste preciso momento a tentar dizer-te:Está na altura de passarmos algum tempo juntos, tu e Eu. Não, esta sede insaciável não é pela tua vocação; esta sede só Eu próprio posso saciar. Vem Comigo, então beberás e comerás e ficarás saciada ...
Sim, é uma cruz não vivermos (ainda) a nossa vocação em pleno ... - é libertador poder reconhecer esta verdade....
Sim, é uma luta e uma cruz, diária - a liberdade que surge ao admiti-lo....
É um caminho, cheio de bênçãos e graças mas também de muitas dores e lágrimas.
Sim, é uma luta dura e contínua, esta de viver com um desejo tão grande e tão forte no nosso coração que ainda não foi satisfeito.
Sim, é uma cruz que eu tenho de aceitar levar comigo todos os dias, em todos os instantes da minha vida.
Se é este o cálice que desejas que eu beba, Senhor, seja feita a Tua vontade - eu continuarei a beber diariamente deste cálice, eu escolho continuar a beber dele ...
Mas sem dúvidas que há dias mais fáceis que outros. Há dias em que este cálice não parece ser tão amargo e insuportável como parece noutros dias...
Para que serve, então, este tempo de espera? Este tempo em que nada parece acontecer?
Para poderes crescer em virtudes. Para poderes aprender e treinar todas aquelas virtudes que precisarás, diariamente, a partir do dia em que o Senhor te chamar a viver (concretamente) a tua vocação - fortaleza, mansidão, paciência, temperança, auto-doação total e voluntária, saber sofrer com alegria, saber oferecer todos os nossos sacrifícios por mais pequenos que aparentes ser, aprender a dizer "sim"s e "não"s pequeninos (mas ainda assim custosos e dolorosos) - para quando chegar o dia, em que o Senhor te perguntar: aceitas - completa e eternamente -estecaminho? - então poderes dizer um verdadeiro e autêntico "sim".
Então eu escolho dizer-Te que sim, meu Deus e meu Senhor, neste preciso instante, àquela pequena coisa que me queres oferecer. Eu escolho acolher a Tua vontade, eu escolho acolher-Te. Eu escolho fazer a Tua vontade, neste momento. E daqui por uns instantes, meros segundos ou minutos, eu escolherei, novamente, dizer-te que sim, e depois e depois e depois ...
E se, pela graça de Deus, conseguirmos permanecer nesta atitude de acolhimento, de aceitação, com o coração aberto e disponível a ouvir a palavra e os desejos d'Aquele que mais nos ama, então conseguiremos compreender que viver este período de espera é exactamente o melhor plano de vida que Deus tem para nós. É a nossa melhor oportunidade para vivermos e crescermos em santidade.
A santidade é, afinal, a nossa vocação universal, aquela a que todos somos chamados. E estar, neste momento, neste período de espera, faz parte da minha vocação à santidade. Esta espera servirá para me tornar mais santa. Esta espera é o melhor caminho que a minha vida poderia assumir para me poder tornar santa.
Passar por este período de espera fará de mim mais santa, duma forma mais rápida e eficaz, do que se já estivesse a viver em pleno a minha vocação. Deus assim o promete.
Sim, eu estou, neste preciso momento da minha vida, no exacto lugar e situação que Deus deseja que eu esteja; na exacta fase do caminho que fará de mim santa ... a santa que só eu posso ser.
Não faço ideia como é que o mês de Janeiro está quase no fim... No dia 2 de Janeiro comecei um novo estágio hospitalar, desta vez em Pediatria. O trabalho tem sido muito e os ponteiros do relógio não perdoam ... tic tac, tic tac ... e o tempo voa!
No início desta semana, fiquei doente, de cama, com uma valente amigdalite. Muita febre, arrepios e suores, muito sono e cansaço, tantas dores por todo o lado e oh, tantas dores de garganta! ... e, quase dum dia para o outro, eis que a minha voz praticamente desaparece. Para conseguir dizer uma única palavra, numa voz muito rouca e baixinha, tinha de suportar um aumento significativo nas dores de garganta e ui, como doía ....
Deus fez questão que eu experimentasse em primeira mão grande parte das experiências que ela tem partilhado connosco no site das Famílias de Caná - e que experiências!!
Louvado seja o Senhor pelo dom de estar doente!
Mas será que eu endoideci?
Que maravilhosa experiência é poder compreender, completamente, o sofrimento dos doentes de quem cuido todos os dias.
Que dom é aceitar ser vulnerável e frágil e de precisar da ajuda de alguém.
Que lição de humildade é ter que deixar que alguém cuide de mim.
Que óptima oportunidade para oferecer este meu (gigante, a meu ver) sofrimento por uma intenção especial.
E que bom que é estar calada ...
Sim, estar calada, leram bem.
O pecado que eu mais repito a cada confissão há-de ser certamente as respostas tortas que eu digo aqui por casa....
Ao longo destes 6 anos em medicina, já me disseram por diversas vezes que a paciência e o carinho que eu demonstro ao lidar com os doentes será com certeza um dos meus maiores pontos fortes .... mas parece que essas capacidades se esgotam totalmente no meu local de trabalho.
Cá por casa, exactamente para as pessoas que eu mais amo, o que se ouve mais sair da minha boca são respostas tortas e muitas, muitas, muitas declarações de cansaço e frustração ...
Ora, quando Deus me coloca numa situação, como a desta semana, em que cada palavra que eu quisesse pronunciar tinha de estar disposta a sofrer ... aprende-se uma bela lição, não é verdade?
Quem nos dera que fosse sempre assim. Como seria diferente a nossa postura no mundo.
Como seria diferente a minha vida, se eu me lembrasse sempre antes de falar: valerá a pena? estaria disposta a sofrer para a pronunciar?
Fez-me lembrar uma frase que li, algures, na internet:
Nem queiram saber a paz que reinou aqui por casa nestes últimos dias ... como desejo que permaneça assim, mesmo quando a minha voz voltar.
Já São Paulo nos tinha exortado:
"Irmãos, tudo o que seja verdadeiro, tudo o que seja nobre,
tudo o que seja justo, tudo o que seja puro,
tudo o que seja amável, tudo o que seja respeitável,
tudo o que seja virtuoso e louvável,
eis o que deve ocupar os vossos pensamentos."
Carta de S.Paulo aos Filipensses 4:8
E eu vou acrescentar: eis o que deve sair da vossa boca ...
P.s: Ao longo deste mês tenho adicionado novos links de blogs/sites na barra lateral do blog, que gosto e vos recomendo, se quiserem descobrir novas páginas católicas ...
Não há dúvida que o Senhor tem andado a trabalhar profundamente no meu coração nos últimos tempos. Ele encaminhou-me para uma fase da minha vida onde tenho tido diferentes oportunidades para praticar virtudes que ... digamos assim ... tinham sido um pouco esquecidas ultimamente.
Um dia destes deparei-me com a seguinte citação:
"Humility and charity are the two main parts of the spiritual edifice. One is the lowest and the other the highest, and all the others depend on them. Hence, we must keep ourselves well founded in these two, because the preservation of the entire edifice depends on the foundation and the roof." (St. Francis de Sales)
"A Humildade e a Caridade são os dois pilares principais do edifício espiritual. Uma delas é a menor e a outra a maior, e todas as outras dependem delas. Por isso, nós devemos permanecer bem apoiados em ambas, porque a preservação de todo o edifício depende da sua fundação e do seu telhado." (São Francisco de Sales - tradução minha)
Ah, uma citação bonita, certo?
Na verdade, no início não lhe liguei nenhuma .....
Contudo, nos dias seguintes, com a progressão da doença do avô e depois de ler os inspiradores comentários da Teresa, acabei por me lembrar novamente dela ....
"Pensa no pai de Santa Teresinha, e que hoje é santo como ela, Luis Martin: morreu demente... Teresinha disse que não trocava os anos de sofrimento do pai por nada deste mundo! (…)
Sabes que os chamados "advogados do diabo" no processo de canonização de Luis Martin colocaram essa questão: Pode um santo terminar demente? Foi uma bela discussão na Igreja... E o resultado foi claríssimo: claro que sim! Haverá maior humilhação? Luis Martin, nos pequenos momentos de lucidez que tinha antes de entrar em demência profunda, disse a Teresinha, por detrás das grades: "Para agradecer a Deus o dom que me fez de chamar à vida religiosa todas as minhas filhas, ofereci-me como vítima... E Deus aceitou! Eu nunca antes tinha sido humilhado, e agora sou-o mais do que pensei ser possível..." Ah, que grande exemplo de santidade!"
Humildade e Caridade
Ora aí estão as duas virtudes com as quais eu me debato mais frequentemente.
Mas não são elas a base da nossa Igreja? A base do Cristianismo? A base do projecto de Deus para toda a humanidade?
Humildade e Caridade
As duas virtudes que Jesus mais nos exortou a seguir e a praticar nas nossas vidas….
Humildade e Caridade ….
.... as principais virtudes que o mundo já se esqueceu.
O que se chama hoje em dia a uma pessoa que tenta ser humilde??
Burra? Estúpida? Parva?
Fraca? Alguém que se deixa pisar pelos outros?
Ridícula? Retardada? Ultrapassada?
Ou alguém que suspeitamos que pretende ser dissimuladamente melhor que os outros?
Alguém já ouviu falar da Ladainha da Humildade? Sim? Não?
Peço-vos então que oiçam com atenção os pedidos que são feitos a Jesus nesta belíssima oração. Peço-vos que tirem os próximos 5 minutos para apreciem bem a simplicidade e a doce submissão presente na letra da oração, assim como na voz da maravilhosa cantora católica, Danielle Rose:
Litany Of Humility
(The Missionaries of Charity pray this litany each week. May we seek to become humble like little children.)
From the desire of being esteemed,
From the desire of being loved,
From the desire of being extolled,
From the desire of being honored,
From the desire of being praised,
From the desire of being preferred,
From the desire of being approved,
From the desire of being consulted,
Deliver me,
Oh deliver me,
Jesus.
From the fear of being humiliated,
From the fear of being despised,
From the fear of suffering rebukes,
From the fear of being calumniated,
From the fear of being forgotten,
From the fear of being wronged,
From the fear of being ridiculed,
From the fear of being suspected,
Deliver me,
Oh deliver me,
Jesus.
That others be loved more than I,
Others esteemed more than I,
Others increase and I decrease in the world’s eyes,
That others be chosen and I set aside,
Others praised and I unnoticed,
Others be preferred in everything,
That others become holier than I,
Provided that I may become as holy as I should,
Jesus, grant me the grace to desire it.
Meek and humble of heart, Jesus.
Meek and humble of heart, hear us.
Meek and humble of heart, Jesus.
Ladainha da Humildade
Oração tradicional que as Missionárias da Caridade rezam todas as semanas. Que procuremos tornar-nos humildes como as crianças pequenas.
Do desejo de ser estimado,
Do desejo de ser amado,
Do desejo de ser exaltado,
Do desejo de ser honrado,
Do desejo de ser elogiado,
Do desejo de ser preferido,
Do desejo de ser aprovado,
Do desejo de ser consultado,
Livra-me,
Ó livra-me,
Jesus.
Do medo de ser humilhado,
Do medo de ser desprezado,
Do medo de sofrer repreensões,
Do medo de ser caluniado,
Do medo de ser esquecido,
Do medo de ser injustiçado,
Do medo de ser ridicularizado,
Do medo de ser duvidado,
Livra-me,
Ó livra-me,
Jesus.
Que os outros sejam mais amados do que eu,
Que os outros sejam mais estimado do que eu,
Que os outros aumentem e que eu diminua aos olhos do mundo,
Que os outros sejam escolhidos e eu seja colocado de parte,
Que os outros sejam elogiados e eu passe despercebida,
Que os outros sejam preferidos em tudo,
Que os outros se tornem mais santos do que eu,
Desde que eu me torne tão santo quanto deveria,
Jesus, concede-me a graça de desejá-lo.
Manso e humilde de coração, Jesus.
Manso e humilde de coração, ouvi-nos.
Manso e humilde de coração, Jesus.
Lágrimas chegam rapidamente aos meus olhos e facilmente deslizam pela minha face.
Porque choro eu?
Choro porque dói. E dói muito.
Dói porque estou disposta a renunciar-me.
Dói porque custa tanto, mesmo agora, e continuará a custar.
Mas choro também, e principalmente, por causa duma felicidade inexprimível.
Duma alegria inexplicada.
E duma certeza inabalável no infinito Amor e Misericórdia do Senhor.
Há algum tempo que penso em escrever este post, mas tenho vindo a adiar e adiar ... sempre na esperança de que a situação vai melhorar em breve ... mas na verdade, não vai.
O meu avô (aquele com quem nós vivemos) foi diagnosticado com doença de Alzheimer há cerca de 1 ano e meio. O diagnóstico não foi surpresa nenhuma para nós, já conhecíamos os sintomas-chave da doença e estavam todos presentes há algum tempo ... o facto dos diversos exames estarem (quase) normais vieram apenas confirmar este diagnostico (que é sempre de exclusão). Concomitantemente, suspeita-se que o avô tenha também uma demência vascular (que é mais frequente que a doença de Alzheimer) que basicamente acaba por ter os mesmos efeitos... só acelera ainda mais o processo ...
Na semana antes de ir para a Missão País, o estado físico do avô agravou num ápice. Ele vinha a envelhecer bastante fisicamente ao longo do último ano, perdendo rapidamente a mobilidade e a força muscular, principalmente a nível dos membros inferiores. Nessa semana, ele praticamente deixou de conseguir andar. E estava a piorar tanto e tão depressa que, por alguns dias, pensávamos que ele poderia morrer a qualquer momento... Eu estive muito perto de não ir à Missão País - acabei por ir, mas com o coração bastante pesado e na promessa de voltar para casa ao menor sinal de qualquer contrariedade...
O avô neste momento está acamado e continua a definhar a cada dia que passa... e nós perguntamo-nos se ele ainda estará connosco no próximo mês, para celebrarmos os seus 81 anos no dia 3 de Maio ...
Esta situação tem sido especialmente difícil para a avó que, além de ser a principal enfermeira e empregada, de dia e de noite, tem também de ver o seu companheiro de há mais de 50 anos a perder-se e a esquecer-se de tudo e de todos ... e a situação piora a cada dia ... e tem sido tão, tão difícil, tanto física como mentalmente, para os quatro cá em casa, lidarmos com tudo ... É sempre preciso muita ajuda para tratar do avô. Dá imenso trabalho. E além disso, passámos a ter que fazer as imensas tarefas que a avó fazia diariamente... sim, tem sido muito, muito, muito difícil....
Porque escrevo eu isto? Também não sei ...
Achei que estava na hora de vos contar porque, apesar de tentar que este blogue seja um local onde qualquer pessoa possa sair daqui a sentir-se melhor, mais alegre, com mais esperança e fé.... na verdade, esta é a minha vida real - confusa, difícil, imperfeita, dolorosa, cheia de frustrações e de dores de cabeça e de lágrimas e ....
O nosso mundo, tal como o conhecíamos, está a desabar. Já nada será como ontem. Aguarda-nos um futuro desconhecido e imprevisível e que nos mete tanto medo ...
Se não fosse o Senhor... ai, se não fosse pelo Senhor.... Com certeza, todas as pessoas desta casa já tinham desabado ....
Ai se não fosse o Senhor a segurar-nos ...
Louvado seja o Senhor! Louvado seja o Senhor, para sempre!
Só por acção da Divina Providência poderia acontecer que, num dia de especial dor e tristeza cá em casa, tenha literalmente chovido emails, cartas, telefonemas e mensagens de apoio inesperadas de todo o lado! Obrigado Senhor, oh, muito obrigado!
O cartoon de hoje é para mim - que passei estas 2 semanas a queixar-me imenso da quantidade de trabalho que tenho em Medicina (trabalho esse que parece ser inesgotável!!!! incrível, aparece sempre mais!!!)....
Tradução (minha):
3. Senhor, é muito pesada! Por favor, corta-a um bocadinho....
7. Senhor, por favor, corta-a novamente mais um bocadinho ... Assim, conseguirei carregá-la melhor ...
9. Ei, Senhor, muito obrigado!
11. Ah?
12. Os outros dizem: Usaremos as nossas cruzes como pontes para atravessarmos para o outro lado
13. Oh não! É demasiado pequena, não chega ao outro lado ...