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Uma Jovem Católica

Sou uma jovem esposa e mãe católica portuguesa. Neste blog partilho a minha caminhada em busca da santidade e o meu encontro com o amor misericordioso do Senhor. Espero que ele vos possa ajudar a encontrar a alegria do Evangelho!

Uma Jovem Católica

Sou uma jovem esposa e mãe católica portuguesa. Neste blog partilho a minha caminhada em busca da santidade e o meu encontro com o amor misericordioso do Senhor. Espero que ele vos possa ajudar a encontrar a alegria do Evangelho!

O Senhor que chama pelos corações jovens

O jovem Samuel servia o Senhor sob a direcção de Eli. O Senhor, naquele tempo, falava raras vezes e as visões não eram frequentes. Ora certo dia aconteceu que Eli estava deitado, pois os seus olhos tinham enfraquecido e mal podia ver. A lâmpada de Deus ainda não se tinha apagado e Samuel repousava no templo do Senhor, onde se encontrava a Arca de Deus. (1Sm 3,1-3)

O profeta Eli estava no final dos seus dias. Tinha sido escolhido pelo Senhor, para ser Seu profeta e sacerdote, para ensinar o povo a interpretar os sinais dos tempos e os sinais de Deus, e para servir e louvar o próprio Deus no Seu templo sagrado. Mas Eli não fez nem uma coisa, nem outra. Deixou-se corromper, permitiu que o pecado grave e mortal entrasse na sua casa, no seio da sua família, e se entranhasse no povo de Deus, o qual tinha prometido proteger, guardar e orientar. Todos sabiam dos seus pecados, dos seus maus caminhos, das suas más decisões, não só em relação a si próprio mas especialmente em relação aos seus filhos, que criou com "rédea solta", sem os educar no amor e nos caminhos do Senhor, como era seu dever de pai e chefe de família. Sem limites ou regras, e sem exemplos inspiradores, os seus filhos cresceram entregues às suas próprias paixões e desejos... e o resultado estava à vista de todos.

Mas o Senhor, ao contrário de nós, é sempre rico em misericórdia. Na verdade, a "lâmpada de Deus ainda não se tinha apagado" e continuava a dar novas oportunidades a Eli para se redimir dos seus pecados. Já na sua velhice, já com os olhos "enfraquecidos", que "mal podiam ver" a luz da Fé, o Senhor entrega nas suas mãos o cuidado pelo coração dum jovem. Este jovem, gerado não por obra do próprio Eli, mas através dum milagre do Senhor numa mulher, Ana, até então estéril, é oferecido imerecidamente a Eli para que o adoptasse como seu. 

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Imagem retirada daqui

Apesar de todos os seus erros, pecados e maus caminhos, será só a partir do reconhecimento de Eli, que o jovem Samuel saberá identificar a voz de Deus na sua vida.

O Senhor chamou Samuel e ele respondeu: «Eis-me aqui.» Samuel correu para junto de Eli e disse-lhe: «Aqui estou, pois me chamaste.» Disse-lhe Eli: «Não te chamei, meu filho; volta a deitar-te.»  (1 Sm 3, 3b-5)

Neste último Domingo, na sua homilia, o nosso pároco explicou-nos que este episódio da vida de Samuel poderia assemelhar-se a uma circunstância, nas nossas próprias vidas, pela qual já todos passámos: recebemos uma chamada no nosso telefone, cujo número desconhecemos, e portanto não sabemos quem é; atendemos e não conseguimos reconhecer, logo pelas primeiras palavras, quem está a falar connosco; e por fim, vemo-nos obrigados a questionar - quem está a falar?

Para podermos identificar o número que nos está a ligar, habitualmente, é necessário que já tenhamos ligado antes para esse número e que, por isso, o tenhamos guardado na memória do nosso telefone associado a um nome. Mas, para reconhecermos, imediatamente, a voz de quem nos fala, é preciso haver vários diálogos prévios, é preciso haver intimidade, é preciso haver uma história com aquela pessoa. Só assim podemos reconhecê-la imediatamente: Sim, sei exactamente de quem é esta voz!

O Senhor voltou a chamar Samuel. Samuel levantou-se, foi ter com Eli e disse: «Aqui estou, porque me chamaste». Eli respondeu: «Não te chamei, meu filho; torna a deitar-te». 
Samuel ainda não conhecia o Senhor, porque, até então, nunca se lhe tinha manifestado a palavra do Senhor. (1Sm 3,6)

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Imagem retirada daqui

Por três vezes Samuel é chamado pelo Senhor; por três vezes Samuel acorda do seu sono, tranquilo e sereno, sem refilar nem resmungar; por três vezes Samuel aceita levantar-se da sua cama, quentinha e confortável como a nossa; por três vezes atravessa o templo do Senhor, correndo com santa pressa, para ir ter com Eli que ele julgava que o tinha chamado; por três vezes apresenta-se junto de Eli e comunica-lhe a vontade do seu coração: "Eis-me aqui. Aqui estou. Chamaste-me e eu vim. E vim para fazer a tua vontade".

Às vezes, como sabem que é o meu hábito, ponho-me a imaginar como seria este episódio se fosse eu no lugar do pequeno Samuel. Seria certamente algo como: "O Senhor chamou a Marisa a meio da noite. E das duas uma: ou ela nem sequer acordou; ou então, acordou, refilou - Hã? Que foi? Isto são horas? - virou-se para o outro lado e voltou a adormecer. No dia seguinte, ao pequeno-almoço, a Marisa continuou a resmungar pela interrupção inconveniente dessa mesma noite - E tu nunca mais me faças uma dessas, hã?"

O Senhor chamou Samuel pela terceira vez. Ele levantou-se, foi ter com Eli e disse: «Aqui estou, porque me chamaste». Então Eli compreendeu que era o Senhor que chamava pelo jovem. Disse Eli a Samuel: «Vai deitar-te; e, se te chamarem outra vez, responde: "Falai, Senhor, que o vosso servo escuta"». Samuel voltou para o seu lugar e deitou-se.
O Senhor veio, aproximou-Se e chamou como das outras vezes: «Samuel, Samuel!». E Samuel respondeu: «Falai, Senhor, que o vosso servo escuta». (1 Sm 3, 6-10)

Fora de brincadeiras. 

Ao ler esta passagem no Domingo passado, a minha atenção ficou presa nestas últimas palavras: "O Senhor veio, aproximou-Se e chamou como das outras vezes". O escritor sagrado constrói uma frase com 3 verbos - "veio", "aproximou-Se" e "chamou", à semelhança da actuação do jovem Samuel, também ela constituída por 3 etapas: "levanta-se", "vai ter com" e "diz". Não me parece ser ao acaso essa construção gramatical.

Deus veio até nós, como ainda há pouco celebrávamos no tempo de Natal, para que nos possamos levantar, pela Sua graça e força. Deus aproximou-Se de nós, meras criaturas humanas, decaídas e perdidas no nosso pecado, para que pudéssemos iniciar o caminho que nos levará, um dia, até junto d'Ele, para que fosse possível irmos ter com Ele. Por fim, o Senhor chamou-nos, dizendo: "Vocês são os Meus filhos muito amados. Venham, deixem-se amar por Mim!"

A maravilhosa canção-oração da Natércia e do Martinho Coelho do Canal Sede Sal, Sede Luz

 

E Ele continua a chamar-nos, uma, duas, três vezes, as que forem precisas e necessárias. Ele nunca Se cansará de nos chamar; nós é que muitas e muitas vezes nos cansamos de Lhe responder, de O ouvir, de O escutar, de seguir a Sua voz, de nos apresentar-nos ao serviço a que Ele nos chama. É preciso fazer como as crianças e aprender a ter um coração jovem como o delas: pedir, pedir, pedir sem cessar a graça para responder ao Senhor; convidar-nos uns a outros, uma e outra vez, vamos, vamos de novo, outra vez, outra vez!; sem refilar ou resmungar pela repetição, mas escolhendo ser alegres de coração; correndo quando necessário, com a santa pressa de fazer a vontade do Senhor no momento em que Ele nos chama e não depois, mais tarde, mais logo ... Ah, tanto a aprender!

Hoje se escutardes a voz do Senhor, não fecheis os vossos corações (Heb 3,7b-8)

Fala, Senhor, que os vossos servos Te escutam!

Para maior glória de Deus

(Em jeito de continuação do post anterior e em plena sintonia com a nossa querida Teresa Power - meditação para o V Domingo da Páscoa).

 

O tempo de Deus é perfeito.

Sim, o tempo de Deus é perfeito, mesmo que pareça um enorme mistério, mesmo que eu, agora, não o compreenda ... 

Deus nunca se adianta nem se precipita, nem nunca faz algo atrasado ou demasiado tarde.

O tempo de Deus é perfeito.

 

(Aproveito para vos dar a conhecer outra das minhas cantoras católicas favoritas, a Sarah Kroger)

Your time - Sarah Kroger


Your time is not my time, it's a mystery to me
Patience, not my virtue but I'm trying to let it be
You who wrote the hours, made these moments in my days
Know it's getting harder for my heart to trust His way

Lord, Your time is perfect
Lord, so perfect is Your time
Lord, Your time is perfect
So above and beyond mine

Like a newborn bird just waiting for the chance to fly
Still without its wings and all it ever sees is sky
Father, I am waiting for the day when I can go
Your ways are a ballad so I'll wait 'til You say so

Lord, Your time is perfect
Lord, so perfect is Your time
Lord, Your time is perfect
So above and beyond mine

Your time, Your time
Your time, ooh-ooooh, oo-ooh
Your time is not my time but I'm trying to let it be

O Teu tempo - Sarah Kroger (tradução livre minha)


O Teu tempo não é o meu tempo, é um mistério para mim
A paciência não é uma virtude minha, mas estou a tentar que seja
Tu escreveste as horas, criaste estes momentos dos meus dias
Sabe que está a ficar cada vez mais difícil para o meu coração confiar no Teu caminho

Senhor, o Teu tempo é perfeito
Senhor, tão perfeito é o Teu tempo
Senhor, o Teu tempo é perfeito
Tão acima e além do meu

Como um passarinho pequeno que aguarda pela oportunidade de poder voar
Ainda sem as suas asas e tudo o que vê é o céu
Pai, estou à espera do dia em que eu possa ir
Os teus caminhos são como uma balada, então eu esperarei até Tu me dizeres para ir 

Senhor, o Teu tempo é perfeito
Senhor, tão perfeito é o Teu tempo
Senhor, o Teu tempo é perfeito
Tão acima e além do meu

O Teu tempo, o Teu tempo
O Teu tempo, ooh-ooooh, oo-ooh
O Teu tempo não é o meu tempo, mas eu estou a tentar que seja 

 

Eu não sou a primeira nem a única pessoa a debater-me com a diferença entre o tempo de Deus e o "meu" tempo; entre a velocidade da manifestação da vontade e das acções do Senhor e a evolução que eu gostava tanto que estivesse a acontecer. Não, nem eu sou a primeira ou a única, nem nenhum de vocês o é. 

Esta dificuldade, este desafio, está visivelmente presente desde o princípio da nossa história, desde o princípio da história do povo de Deus. 

 

Peguemos no livro do Êxodo, e comecemos a ler a partir do versículo 22 do capítulo 15, em diante. Os israelitas caminham desde o Egipto, pelo deserto, em direcção à Terra Prometida ... e demoraram 40 anos a lá chegar... 40 anos! 

Contudo, tal como muitos saberão, se virmos num mapa a distância entre o Egipto e a Terra Prometida .... parece absolutamente absurdo que o povo de Deus tenha demorado tanto tempo até lá chegar e que tenha andado durante tanto tempo às "voltinhas" pelo deserto, seguindo aquela que seria a vontade de Deus....

Havia claramente um caminho directo, mais curto, mais fácil. Mas o Senhor não os levou por aí.

Porque não o fizeste Senhor?

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Imagem retirada daqui

 

... Oh, se a minha vida não parece por vezes esta viagem interminável do povo de Deus, às voltas e voltinhas pelo deserto adentro, sem qualquer deslumbre da Terra Prometida ... 

 

Mas porque o quiseste assim Senhor? Porquê tanto tempo até lá chegar? Porquê tão difícil? Não havia outra maneira?

Não, não havia. Sim, foi mesmo preciso assim tanto tempo.

Sim, era mesmo necessário ser daquela maneira. 

Porque só assim foi possível transformar o coração de pedra daquele povo num coração de carne. Só assim foi possível crescerem em virtudes - fé, esperança, amor ... Só assim puderam crescer todos em paciência, em fortaleza, em mansidão, em entrega plena e total nas mãos de Deus Pai Criador ... 

Porque só assim a glória do Senhor pôde ser manifestada e visível para todos.

 

Os pequenos comentários que acompanham a minha Bíblia dizem-me que, no capítulo 14 do Livro do Êxodo, foi a primeira vez em que, nas Sagradas Escrituras, se falou na glória de Deus.

O povo de Deus está entre a espada e a parede - entre o Mar Vermelho e os soldados do Faraó - e não há por onde fugir. E eis que a glória de Deus se manifesta pela primeira vez - através da de Moisés, as águas do Mar Vermelho separam-se momentaneamente, o que era impossível acontece e torna-se verdadeiro, e o povo de Deus avança em segurança até ao outro lado da margem. Eis a primeira vez que os israelitas se apercebem da imensa glória de Deus .... (claro que já deveriam ter-se apercebido antes, nas incontáveis bênçãos e milagres que o Senhor tinha feito ao longo de tantas gerações anteriores - mas os israelitas, tal como nós próprios, eram um povo de "pouca fé" e de "compreensão lenta" - como Jesus nos disse tantas e tantas vezes....)

 

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Imagem retirada daqui

 

Sim, a glória de Deus é bem visível na vitória das batalhas, mas é precisamente no meio das batalhas mais difíceis e ferozes que a Sua glória resplandece, incomparavelmente. 

O mesmo acontece, hoje, nas nossas vidas - é no meio das nossas lutas e batalhas que a glória de Deus pode (e deve) ser mais visível. Permita-lo-ei eu?

Na minha vida, ao atravessar este deserto de espera, estarei eu a permitir que a glória de Deus seja ainda mais visível e experienciada?

Neste momento da minha vida, em que estou numa fase do caminho que eu não desejaria estar, mas que Deus deseja que eu esteja - estarei eu a permitir que a minha vida O glorique?

Que aponte na Sua direção (oh, hei-Lo, o Autor e Sustento da minha vida -  venham e conheçam-n'O)?

Estarei eu a testemunhar todas as coisas boas e maravilhosas que Ele está a fazer na minha vida, mesmo neste pleno deserto?

 

Continuem a ler o livro do Êxodo, e deparar-se-ão com inúmeras batalhas impossíveis que o Senhor ganhou e venceu pelos israelitas, e assim a Sua glória pôde manifestar-se duma forma incomparável nas Suas vidas. 

 

Eis então a resposta - conseguir olhar para a minha vida, para esta espera no deserto, através desta perspectiva -  em vez de me focar em tudo aquilo que eu desejava e não tenho. Se eu conseguir aperceber-me de todas as coisas boas que Deus está a realizar, mesmo ao longo destes anos de deserto, isso fará então a minha vida mais alegre e mais grata.

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Imagem retirada daqui

 

Se a vossa vida parecer que está, também, parada entre a espada e a parede, entre as águas profundas do Mar Vermelho (que não parece nada que se irá abrir para nos dar passagem) e os assustadores soldados do Faraó que continuam a dirigir-se na vossa direcção, lembrem-se, vocês não estão sozinhos. Não oiçam a voz sedutora do Príncipe das mentiras.

 

Lembremo-nos que temos um Pai que nos ama infinitamente e que tem guardadas para nós tantas coisas maravilhosas. Pensemos em tudo aquilo que Deus está a fazer, neste momento, nas nossas vidas - e não pensemos em tudo o que desejaríamos que Ele estivesse a fazer. Escolham focar-se nas inúmeras bênçãos e graças que Ele nos tem oferecido nas nossas vidas.

Sejamos gratos. Recuperem a vossa fé na bondade do Senhor, nosso Pai.

Tudo o resto, coloquemos nas Suas mãos; ofereçamos-Lhe - tudo - e Ele cuidará - de tudo.

 

Sim, estamos realmente, neste preciso momento das nossas vidas, no exacto lugar e situação que Deus deseja que nós estejamos; na exacta fase do caminho que fará de nós santos ... os santos que só cada um de nós poderá ser.

 

O esforço do nosso "Sim" diário à vontade de Deus

Nos últimos anos, tenho vivido um intenso processo de discernimento vocacional que, pela transbordante e imprescindível graça de Deus, parece que chegou finalmente a um único caminho. Assim, neste último ano, tenho vivido com a certeza da minha vocação, após anos e anos de oração, aconselhamento e exploração das diversas vocações que a Igreja nos oferece. Mas o tempo passa e passa e passa e ... nada acontece.

 

Porque é que esta minha vocação não se concretiza, finalmente, Senhor?

Senhor, se me chamas tão fortemente por este caminho, por esta vocação, porque é que nada acontece, porque é que ela não se realiza?

Se Tu colocaste este desejo tão grande e profundo no meu coração, porque não o cumpres? Porque é que não o completas? 

 

À minha volta, vejo diariamente as vocações das outras pessoas a serem cumpridas; vejo-as a serem chamadas e a dizerem o seu "sim", visível e definitivo, à sua vocação e à vontade de Deus nas suas vidas. Eu também o queria fazer. Eu também o desejava fazer....  

E facilmente (oh tão facilmente!...) caio na tentação de pensar: Senhor, acaso esqueceste-Te de mim?

 

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Oh, a cruz de não vivermos (ainda) a nossa vocação em pleno ...

Oh, a cruz de vivermos uma vida que desejaríamos tanto que fosse diferente.

 

O Tentador, contudo, não perde uma única oportunidade. Mal abrimos esta pequena fresta no nosso coração - Senhor, acaso esqueceste-Te de mim? - e ele fará de tudo para que continuemos a cair, para que nos afastemos do amor de Deus. Quando mal damos por isso, já caímos na tentação de duvidar do imenso amor de Deus por nós - Se me chamas a esta vocação e ela não se realiza, é porque não me amas Senhor ... 

 

O Maligno é o príncipe da sedução e ele, mais que ninguém, sabe exactamente como nos seduzir com as suas mentiras - Porque me mostras, Senhor, tantos bons exemplos de vocações a serem cumpridas e realizadas, e a minha não? Porque me mostras tanto ouro na vida dos outros, e na minha nem sequer um pouco de ferro parece existir? Porque é que não permites que aconteça? Porque é que o impedes de acontecer? 

 

Oh, poderá Deus, alguma vez, impedir que se cumpra aquilo que Ele próprio mais deseja, mais ainda que qualquer um de nós - o cumprimento pleno da nossa vocação, através da qual nos santificaremos e assim viveremos para todo o sempre em profunda comunhão de amor com Ele ... 

 

Oh, que pecado tão grande o meu!

Não, não é assim que deve ser a minha postura perante esta situação. Não, não é assim que eu devo responder por este caminho que o Senhor me leva, que eu não compreendo e que eu não concordo que seja mesmo por aqui ... (Não podia ser mais rápido, Senhor? Tem mesmo de demorar assim tanto tempo a acontecer?)

 

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Noutros dias (numa nova tentativa do Príncipe da mentira e da discórdia), dou por mim a escolher evitar a todo o custo pensar sequer na minha vocação, não permitindo que este meu desejo profundo se manifeste no meu dia a dia. Escolho ignorá-lo, escolho escondê-lo, escolho evitá-lo, chegando até a negá-lo, chegando até a fingir que não o conheço e que ele não existe ... 

Oh, esta é um tipo de resposta muito fácil, muito confortável, que muitos escolhem.

Mas não, esta também não é a atitude correta...

 

Então, o que devo fazer? 

Aceita a Cruz. Aceita essa luta, diária. Aceita esses desejos, tão profundos, tão entranhados no teu coração; aceita-os, recebe-os, acolhe-os ... E aceita o facto de eles ainda não se terem cumpridos, de ainda não terem sido plenamente satisfeitos ou realizados.

Aceita esta tua necessidade, esta tua incompletude, aceita esta falta que tens - e permite que seja o próprio Deus a preencher e completar esse espaço (aparentemente) vazio.

Dói o peito? Chama o Senhor e pede-Lhe que te cure e alivie. 

Não aguentas mais? Pede a Deus pela fortaleza que não possuis.

Não sentes mais nada do que um enorme vazio? Oferece-o, vá, oferece-o ao Senhor, se é tudo o que pensas possuir....

 

Lembra-te, Marisa, das lições que Deus tão carinhosamente já te ensinou nestes anos. Se sentes tão fortemente este desejo, se hoje é um daqueles dias em que a não realização da tua vocação te custa tanto, se dói tanto que chega a arder no peito - então sabes (lembra-te!) que Deus está neste preciso momento a tentar dizer-te: Está na altura de passarmos algum tempo juntos, tu e Eu. Não, esta sede insaciável não é pela tua vocação; esta sede só Eu próprio posso saciar. Vem Comigo, então beberás e comerás e ficarás saciada ... 

 

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Sim, é uma cruz não vivermos (ainda) a nossa vocação em pleno ... - é libertador poder reconhecer esta verdade....

Sim, é uma luta e uma cruz, diária - a liberdade que surge ao admiti-lo....

É um caminho, cheio de bênçãos e graças mas também de muitas dores e lágrimas.

Sim, é uma luta dura e contínua, esta de viver com um desejo tão grande e tão forte no nosso coração que ainda não foi satisfeito.

Sim, é uma cruz que eu tenho de aceitar levar comigo todos os dias, em todos os instantes da minha vida.

Se é este o cálice que desejas que eu beba, Senhor, seja feita a Tua vontade - eu continuarei a beber diariamente deste cálice, eu escolho continuar a beber dele ... 

 

Mas sem dúvidas que há dias mais fáceis que outros. Há dias em que este cálice não parece ser tão amargo e insuportável como parece noutros dias... 

 

Para que serve, então, este tempo de espera? Este tempo em que nada parece acontecer?

Para poderes crescer em virtudes. Para poderes aprender e treinar todas aquelas virtudes que precisarás, diariamente, a partir do dia em que o Senhor te chamar a viver (concretamente) a tua vocação - fortaleza, mansidão, paciência, temperança, auto-doação total e voluntária, saber sofrer com alegria, saber oferecer todos os nossos sacrifícios por mais pequenos que aparentes ser, aprender a dizer "sim"s e "não"s pequeninos (mas ainda assim custosos e dolorosos) - para quando chegar o dia, em que o Senhor te perguntar: aceitas - completa e eternamente - este caminho? - então poderes dizer um verdadeiro e autêntico "sim".

 

Então eu escolho dizer-Te que sim, meu Deus e meu Senhor, neste preciso instante, àquela pequena coisa que me queres oferecer. Eu escolho acolher a Tua vontade, eu escolho acolher-Te. Eu escolho fazer a Tua vontade, neste momento. E daqui por uns instantes, meros segundos ou minutos, eu escolherei, novamente, dizer-te que sim, e depois e depois e depois ... 

 

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E se, pela graça de Deus, conseguirmos permanecer nesta atitude de acolhimento, de aceitação, com o coração aberto e disponível a ouvir a palavra e os desejos d'Aquele que mais nos ama, então conseguiremos compreender que viver este período de espera é exactamente o melhor plano de vida que Deus tem para nós. É a nossa melhor oportunidade para vivermos e crescermos em santidade.

A santidade é, afinal, a nossa vocação universal, aquela a que todos somos chamados. E estar, neste momento, neste período de espera, faz parte da minha vocação à santidade. Esta espera servirá para me tornar mais santa. Esta espera é o melhor caminho que a minha vida poderia assumir para me poder tornar santa

Passar por este período de espera fará de mim mais santa, duma forma mais rápida e eficaz, do que se já estivesse a viver em pleno a minha vocação. Deus assim o promete. 

 

Sim, eu estou, neste preciso momento da minha vida, no exacto lugar e situação que Deus deseja que eu esteja; na exacta fase do caminho que fará de mim santa ... a santa que só eu posso ser.

 

Uau!

Qual o sentido da minha vida?

   Porque Deus nos criou?

      Porque nos criou - homem e mulher?

         Qual o significado do meu corpo?

          Porque sinto dentro de mim esta vontade indiscritível e irreprimível de amar e de expressar amor?

                 O que é, afinal, amar? 

 

 

Este fim-de-semana tive a oportunidade de participar no meu primeiro Fórum Wahou - um fim-de-semana imerso na belíssima e inspiradora Teologia do Corpo, que o nosso querido Papa João Paulo II nos ofecereceu.

 

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A iniciativa do Fórum Wahou (sim, lê-se mesmo uau! - a expressão de felicidade que Adão proferiu quando viu Eva pela primeira vez no Paraíso) surgiu há uns anos atrás, em França, e na sua última edição contou com mais de 3.000 participantes, desde leigos solteiros a casados e a consagrados!

Em Portugal, nesta última edição, eramos cerca de 50 pessoas, vindas um pouco por todo o país: muitos jovens, muitos casais, pais e filhos e netos, pessoas separadas ou divorciadas, outras viúvas, enfim, uma rica e inspiradora mistura de pessoas, todas com histórias e situções de vida únicas e diferentes ... reunidos por uma razão em comum: todos ouvimos o chamamento do amor de Deus e dissemos-Lhe sim! Todos viemos à procura das respostas às perguntas que brotam incessantemente do nosso coração - e que só Deus pode dar! Todos desejamos amar e sentir-nos amados .... então viemos em busca d'Aquele que é o próprio Amor.

 

Uma das principais entidades divulgadoras da Teologia do Corpo em Portugal é o grupo CERTA (aconselho-vos vivamente a explorarem o site ou então a página no facebook). Aproveito esta oportunidade para partilhar convosco outros sites que vos sugiro a explorar, caso queiram ficar a saber mais acerca da Teologia do Corpo:

 

  • Chastity Project (site)Chastity Project (canal no youtube) - do casal Jason e Crystalina Evert, um dos casais pioneiros na divulgação da Teologia do Corpo nos EUA, em especial para os jovens
  • Women Made New - o blog da Crystalina Evert, especialmente dedicado às mulheres que sofreram algum tipo de abuso ou de mágoa profunda ao longo das suas vidas
  • The Cor Project - do Christopher West, que tem dedicado toda a sua vida a divulgar a Teologia do Corpo por todo o mundo 
  • The Culture Project (Blog)The Culture Project (canal no youtube) - um site feito por jovens para jovens, que explora diversas vertentes da Teologia do Corpo, em especial nos dias de hoje
  • LifeTeen - um site especialmente vocacionado a explicar e explorar a Teologia do Corpo aos adolescentes (um site que eu altamente recomendo a todas as pessoas que contactam com adolescentes, seja em casa, na catequese ou na escola)
  • Steubenville Youth Conferences - onde podem assistir a diversas palestras, de diversos autores e personalidades, sempre num ambiente de partilha, bom humor e espírito de juventude, bravura e esperança
  • Vida e Castidade (canal no youtube) - o canal talvez antigo, mas que possui inúmeros vídeos traduzidos (por exemplo do Jason Evert e do Christopher West)
  • Teologia do Corpo (canal no youtube) - curso online gratuito (em brasileiro)

 

 

Lições de humildade ...

O Senhor levou-me a viver inúmeras aventuras, com Ele, neste ano de 2018, ano esse que agora termina para dar lugar a um novo ano - cheio de possibilidades, oportunidades, sonhos, conquistas e lições ....

 

Neste ano de 2018, iniciei a minha profissão como médica, passando por diversos serviços e áreas, passando da teoria abstrata, impessoal e indiferente para a prática real, imperfeita, humana, personalizada. Agora, neste ano de 2019, iniciarei a minha formação específica para me tornar médica de família, um processo que será, sem dúvida, díficil e muito trabalhoso, e que durará pelo menos 4 anos ...

Neste ano de 2018, consolidei a minha vocação como catequista na minha paróquia, oferecendo-me verdadeiramente de corpo e alma, aceitando (uns dias melhores que outros) todas as contrariedades e dificuldades que foram surgindo pelo caminho, e aceitando desafios que outrora jamais teria tido a coragem de o fazer ...

Neste ano de 2018, assumi publicamente (no meu coração, já o tinha feito há muito tempo...) o meu compromisso com o movimento das Famílias de Caná, após um (demasiado longo) período de discernimento acerca do meu papel, como leiga solteira, dentro do movimento, e assim tornei-me numa activa Jovem de Caná - à semelhança de Nossa Senhora quando ainda solteira....

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Neste ano de 2018, passei também por um intenso processo de discernimento vocacional, após ter aumentado, a passinhos de bebé (mas sempre aumentando, graças a Deus!), a minha vida de oração, e agora encontro-me num estado de maior claridade, desapego e entrega à vontade de Deus para a minha vida ...  

Por fim, neste ano de 2018, tomei a difícil e custosa decisão de sair da casa dos meus pais, para vir viver sozinha numa casinha, bem juntinho da casa de Jesus, e, com esta última decisão, as pequenas portas e janelas que ainda pudessem estar a impedir a ação do Espírito Santo, foram finalmente escancaradas e plenamente abertas às Suas infinitas Graças (até ao dia em que eu voltar a fechar alguma, novamente - convosco também é assim?)

 

Houve, sem dúvida, outros acontecimentos marcantes e significantes que podia referir, mas penso que estes servirão para explicar, pelo menos em parte, como cheguei às pequenas reflexões que hoje queria partilhar convosco. São anotações soltas que eu fui escrevendo ao longo do ano, no meu caderno espiritual. Todas elas partiram de situações difíceis, em que o meu orgulho e egoísmo desmedidos tiveram de morrer (aos bocadinhos, claro) - autênticas lições de humildade que Deus, tão carinhosa e pacientemente, me tem vindo a ensinar....

 

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O ano de 2018, para mim, podia ter perfeitamente como tema e título - "Crescer em intimidade com Deus": crescer mesmo quando custa e dói, sem medo das mudanças, das transformações, daquilo que se perde e que tem de morrer, para algo melhor e mais santo poder germinar, nascer, crescer e florir; intimidade - um dos desejos mais profundos do nosso coração - com Deus, por Deus, em Deus ...

 

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Neste ano, compreendi finalmente (de coração) que o nome que melhor revela a vocação da mulher é maternidade, é ser mãe; e que o verbo que melhor define a vocação da mulher é receber e estar sempre aberta à vida ... Esta vocação está profundamente enraizada no nosso coração, por mais que a neguemos ou tentemos fugir dela, e apenas encontraremos a felicidade verdadeira, plena, permanente, eterna e inalterável, independentemente das circunstâncias da vida, se a aceitarmos de braços abertos - à semelhança de Maria.

 

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Neste ano, descobri que um dos maiores desejos do meu coração é receber Aquele que mais quero amar, Aquele que mais me ama, Aquele que é o amor, Aquele que é o meu Amado ...

Receber é uma palavra maravilhosa e divina, mas também é uma palavra difícil e muito exigente. Para eu poder receber, tenho de estar disposta a ser e estar vulnerável - oh, a vulnerabilidade de receber! - tenho de admitir e aceitar que tenho uma necessidade, que algo me falta, de que preciso de algo que não tenho e que não sou capaz ... Admitir e aceitar isto, pode ser assustador ao princípio, pode deixar-nos com medo e fazer-nos sentir ansiedade - e o mundo de hoje tem tantas formas apelativas de nos afastar desta realidade e de nos fazer esquecer estes sentimentos que, ao contrário do que popular e socialmente se propaga, não nos faz mal nenhum, antes pelo contrário - dá-nos vida e felicidade!

 

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O que significa intimidade, Senhor? O que significa ser íntimo de alguém, mas especialmente de Ti?

É sentir-se plenamente "em casa" na presença de alguém. É aceitar ser-se perfeita, total e completamente conhecida tal como sou - cheia de vícios, defeitos e pecados, cheia de feridas abertas e outras em resolução, "cheia" de espaços vazios e de pedaços que faltam - e, ainda assim, aceitar ser-se amada ... por aquele Amor louco e infinito de Deus que, tal como um dilúvio, é capaz de nos encher até transbordar, de inundar completamente todos os buracos e espaços vazios, de limpar todas as feridas, de remover todas as minhas manchas e sujidades e de santificar e purificar todos os meus desejos ... Intimidade significa eu poder ser, livremente, quem sou - sem máscaras, sem medos, sem sentir necessidade de ser aprovada, nem de conseguir ser ou fazer algo ... para ser amada.

 

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Mas, como se chega a essa intimidade - conTigo? Como podemos nos tornar íntimos?

Para se ser íntimo, é necessário confiar no outro. Em que se baseia a confiança?

Em promessas realizadas. Num amor que tenha sido comprovado e testado, que tenha sido posto à prova no fogo, por diversas vezes, e ainda assim subsistir - e até aumentar de intensidade - apenas um amor assim pode chegar a esse nível de intimidade que eu tanto desejo .... E, na minha vida, Deus já me deu mais do que provas suficientes do Seu amor....

 

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É realmente um dos desejos mais profundos do nosso coração ser-se conhecido e amado: é alguém conhecer toda a nossa história de vida, todo o nosso ser e, ainda assim, aceitar-nos e amar-nos. 

 

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Se tivermos a coragem de olhar para o mais profundo do nosso coração, descobriremos que desejamos ser intimamente conhecidos; que desejamos permitir que possamos ser vistos, conhecidos e admirados; que desejamos permitir ser acarinhados e amados....

O maior desejo de Jesus (por inúmeras vezes e por inúmeras vozes Ele nos disse isto!) é oferecer-nos o Seu amor, é satisfazer e realizar todos estes nossos desejos mais profundos ... porque não O permitimos de vez?

Porque ainda tento eu fazer coisas, ser assim ou assado e, desta forma, "provar" a Deus que mereço o Seu amor...? Quem penso eu que sou? Merecer o amor de Deus? Como se fosse possível ... que heresia! Que pecado tão grande! Afinal, quem é para mim Jesus?....

 

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Olho para Jesus na cruz - um dia, li algures que a cruz é o leito matrimonial de Jesus. Sim, leito matrimonial ...

Ali, Jesus encontra-se nu e sem qualquer proteção. Nada possui. Está completamente vulnerável e sem qualquer segurança a que se agarrar. Ali está Jesus - pregado, aberto, indefeso, vulnerável ... 

E o Seu maior desejo é tornar-se Um connosco. É abraçar os nossos medos, inseguranças, traumas e dores. É amar-nos completa e infinitamente....

Jesus, na cruz, não se preocupa em proteger-se a Si mesmo - o que apenas deseja é oferecer-se a Si mesmo, é entregar-se - por nós ...

 

Amar ~ Oferecer ~ Receber ~ Confiar ~ Amar

 

 

"Bendiz o Senhor, ó minha alma.

A minha única alegria encontra-se no Senhor.

Ao Senhor, glória eterna! Aleluia!"

Salmo 103

 

Um abençoado ano novo para todos! Que aceitem o convite de Deus, para crescerem em intimidade com Ele, ao longo deste ano ...

Jesus que nos chama

Encontro-me (mais uma vez) numa altura de grande necessidade de discernimento, para poder tomar em breve decisões importantes na minha vida. Períodos de discernimento levam-me sempre a colocar grandes questões ...

Porque é que alguns são favorecidos em tudo o que fazem e outros têm de sofrer tanto e alcançar tão pouco?

Porque é que parece que alguns santos tiveram vidas tão simples, fáceis, lineares, humildes e outros vidas tão duras e complicadas, perigosas, de martírio?

Porque é que eu nasci num país em paz, enquanto outra rapariga teve de nascer em plena guerra em África ou na Ásia?

Porque é que eu nasci no ano em que nasci, e não noutra altura da História; porque é que eu nasci nesta família e não noutra, porquê neste contexto socio-cultural e não noutro?

Porque é que Deus me chamou a mim de volta a casa, à Igreja Católica, e não o parece fazer com outras pessoas? 

 

Um dia destes, ao ler as Sagradas Escrituras, por alguma razão, a minha atenção focou-se nestas palavras....

 

Jesus, tendo subido a um monte, chamou a Si os que Ele quis, e foram ter com Ele.   Mc 3, 13

 

Jesus chamou os doze Apóstolos e começou a enviá-los ...  Mc 6, 7

(leitura do Evangelho deste domingo, XV Semana do Tempo Comum)

 

E pouco depois, leio também:

"Durante muito tempo perguntei a mim própria porque tinha Deus preferências, porque não recebiam todas as almas um grau igual de graças; admirava-me por O ver prodigalizar favores extraordinários aos Santos que O tinham ofendido, como São Paulo, Santo Agostinho, e que forçava, por assim dizer, a receberem as suas graças; ou então, ao ler a vida de santos a quem aprouve a Nosso Senhor acarinhar desde o berço ao túmulo, sem deixar no seu caminho nenhum obstáculo que os impedisse de se elevarem para Ele (...); perguntava-me por que razão os pobres selvagens, por exemplo, haviam de morrer em tão grande número sem sequer terem ouvido pronunciar o nome de Deus..." 

Santa Terezinha, História de uma Alma, Manuscrito A, cap.I

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O Evangelho de São Marcos responde-me em poucas palavras - a iniciativa de cada chamamento à santidade é de Jesus. A iniciativa parte sempre Dele, e está continuamente a surgir, oportunidade atrás de oportunidade, misericórdia seguida de perdão seguido de amor e uma nova oportunidade, uma nova tentativa, sempre, sempre, sempre... sem nunca desistir de cada um de nós, até à altura do nosso último sopro de vida ...

Jesus chama, a cada momento e para cada pequena (ou grande) tarefa, aquele(s) que Ele quer.

O Evangelho não nos oferece nenhuma explicação acerca dos critérios que levam a essa escolha - o chamamento de cada um, a vocação de cada um, única, irrepetível, insubstituível, especialmente criada, planeada e desejada por Deus para ser de tal maneira - é um mistério, insondável, que só conseguiremos compreender no Céu.  

 

Outra bela lição de humildade para ti, Marisa ... 

Em aventuras com Deus

Nesta Quaresma, Deus levou-me até uma série de situações bastante atípicas, fora do meu "normal", tal como vos tinha falado num post anterior. Mas, como relembro a mim mesma todos os dias, Deus deseja a nossa santidade e não o nosso conforto ou comodidade.... 

Eu devia ter suposto que Deus não iria ficar só por ali ... Deus quer sempre mais, Deus quer tudo, Deus quer-nos (sim, a nós!) por inteiro. 

 

O meu discernimento vocacional tem tido os seus altos e baixos - às vezes parece que sei exactamente qual o caminho a que o Senhor me chama a percorrer e a viver; noutras alturas, tenho dúvidas, muitas dúvidas, sinto medo e receio pelo futuro desconhecido, pelas consequências de escolher um caminho em detrimento de outro ...

Oh Senhor, qual é afinal a minha vocação? O que é que Tu desejas que eu seja? 

Queres que me santifique através do Sacramento do Matrimónio? Ou como leiga consagrada, entregando-me plenamente aos meus doentes e à minha paróquia? Ou será que me chamas a ser Tua esposa?

Oh, se algum anjo descesse do Céu e me viesse dizer claramente qual o caminho que Tu desejas que eu escolha! 

 

Não desejaríamos todos que fosse assim - simples e directo?

Oh, mas assim perderíamos todas as bênçãos, graças e virtudes que recebemos e que aprendemos a cultivar enquanto percorremos este caminho de discernimento vocacional.

E como são numerosas essas bênçãos e graças que Deus nos oferece! Como são numerosos esses sacrifícios que aprendemos a fazer, de livre vontade, alegremente! E como são numerosas as virtudes que aprendemos a conquistar e a alcançar! A principal é sem dúvida a Paciência - que, ui ui, como é difícil de conquistar!

 

Pertencer ao movimento das Famílias de Caná tem-me ensinado bastante acerca do Matrimónio e da vida familiar. Mas acerca dos 2 outros caminhos de vida que a Igreja Católica nos apresenta - vida religiosa e vida leiga consagrada - bem, eu já tinha lido bastante e reflectido acerca de ... mas ... ainda não tinha conhecido pessoalmente ninguém que as vivesse!

 

É realmente verdade, tal como os Santos nos dizem, que se tivermos o coração aberto, receptivo a ouvir a voz do Senhor e a aceitar, sem medo, os desafios e as oportunidades que Ele nos lança ... acontecem coisas maravilhosas!

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A minha primeira experiência com a vida religiosa aconteceu neste Tríduo Pascal, quando tive a oportunidade de passar 3 dias na Casa de Oração de Santa Rafaela Maria, em Palmela, junto das irmãs Escravas do Sagrado Coração de Jesus - eu e outros 60 jovens, vindos de todas as partes do país - Lisboa, Coimbra, Porto e até das Ilhas! 

Durante 3 dias, vivemos intensamente os momentos mais importantes da vida de Jesus - a Sua última ceia e a instituição da Eucaristia, a noite de oração no Horto das Oliveiras, todos os momentos da Sua Paixão, o deserto, a espera e a esperança dos discípulos e de Maria, e por fim a gloriosa Vigília Pascal, onde pudemos celebrar num só coração a alegria renovadora da Ressurreição de Cristo!

Este foi, sem dúvida, um Tríduo Pascal que eu nunca esquecerei! Quantas bênçãos, quantas graças, quanto impacto teve na minha vida ....

 

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No passado Domingo, no 3º Domingo da Páscoa, no dia em que celebrámos a visita de Jesus ressuscitado à primeira comunidade cristã, Deus ofereceu-me a graça de passar algumas horas a conversar com uma leiga consagrada!

Tudo começou num simples convite de boleia para a missa - estava a chover e eu sabia que uma amiga, mãe duma maravilhosa e inspiradora família da nossa paróquia, ía a pé até à igreja com os filhos, então perguntei-lhe se queria boleia. Quando dei por mim, já estávamos a marcar um cafezinho e uma conversa para depois da missa. E como as famílias católicas, à semelhança de Jesus, não costumam deixar-se ganhar em generosidade ... o convite alargou-se e quando dei conta, Deus tinha-me dado a graça de almoçar com essa família - a mim e a uma das irmãs do nosso novo pároco, que é leiga consagrada, da Ordem das Virgens (e que, vejam bem, também trabalha num hospital!)

E eu não encontro palavras para vos expressar todas as bênçãos que recebi nesse belo Domingo de Páscoa ...

 

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Vocação, missão e descanso em Deus

"Fomos criados por Deus para o descanso!"

 

O quê?? Eu ouvi bem??

Mais de 100 pessoas ficam a olhar, perplexas, para o sr. Pe José Pinheiro, no passado sábado dia 2 de Março, no início do retiro quaresmal para catequistas, a nível diocesano, que decorreu no nosso belíssimo Seminário em Almada.

 

"Sim, ouviram bem, Deus criou-nos para descansarmos Nele!"

Na verdade, já Santo Agostinho afirmava

Criaste-nos para Vós, Senhor, e o nosso coração vive inquieto, enquanto não repousar em Vós!

 

Mas não se enganem: descansar em Deus é muito diferente de não fazer nada. Aliás, envolve até fazermos muita coisa, dizer Sim a Deus muitas e muitas e muitas vezes - quando apetece e quando não apetece, quando dá jeito e quando não dá jeito nenhum, quando posso e mesmo quando não posso...

Mas devemos fazer tudo isso, com o nosso coração em paz, nas mãos de Deus, no exacto local onde ele pertence. Só encontramos verdadeiro descanso para a nossa alma, um descanso permanente, seguro, eterno, quando encontramos Deus e a Ele oferecermos a nossa pobre alma e aceitarmos descansar Nele.

 

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Imagem retirada daqui

 

Existem muitas pessoas que descansam demais (quantos exemplos podemos nós encontrar nos Evangelhos... e nas nossas vidas!)... ou melhor dizendo, usam essa desculpa para permanecerem estacionários no conforto das suas vidas

Outras, pelo contrário, não conseguem ficar quietas, fazem, fazem e fazem, como autênticas Martas... mas esquecem-se ou desvalorizam aquilo que é mais importante - conhecer e amar Deus, crescer todos os dias em intimidade com Ele, deixar que Ele nos fale ao coração, que cuide das nossas feridas, que nos ensine o caminho a seguir, e que desta relação de amor transborde abundantemente o amor pelo próximo.

Não importa o quão cheia ou agitada ou preenchida a nossa vida esteja. Pelo menos um momento de oração por dia é absolutamente essencial nas nossas vidas. Essencial! Imprescindível!

Porque

«Sem Mim, nada podeis fazer»   Jo 15,5

 

Cada um de nós tem uma vocação, um chamamento por parte de Deus, para sermos santos. Santos! Conseguem imaginar-vos santos? Eu não consigo imaginar-me! Mas o olhar de Deus vai sempre mais longe que o nosso...

Esta nossa vocação tem ser descoberta - alguns mais cedo, outros mais tarde na vida. E quando a descobrimos, devemos olhá-la com verdadeiro espanto (Tu queres-me a mim, Senhor?!), com verdadeira humildade (Oh Senhor, mas eu não sou digno!) e com verdadeiro agradecimento (Se Tu queres Jesus, então eu também quero!).

A nossa vocação surge do nosso encontro pessoal com Jesus. Eu não escolho a minha vocação - Deus escolhe. E por mais que eu a negue e que tente fugir e dizer que não, a nossa vocação é incontornável. Aceitarmos a vocação de Deus é o único, único caminho que sacia completamente e que me traz felicidade verdadeira.

Ao procurarmos Jesus, descobrimos depois a nossa missão; do nosso encontro com Jesus, brota uma missão. Enquanto a vocação à santidade é universal, é para todos, a missão que Deus tem para cada um de nós é única, irrepetível, personalizada. Ninguém a poderá fazer por mim. Tenho mesmo de ser eu. Só podia ser eu a fazê-la.

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Imagem retirada daqui

 

Ser catequista faz parte da missão que Deus escolheu para mim.

Partindo sempre do meu encontro pessoal, íntimo, familiar, de pleno amor, com Deus, eu devo dar testemunho aos outros, devo apontar o caminho, devo partilhar as maravilhas que Deus continuamente faz na minha vida, devo evangelizar, sempre, em todos os momentos, em todos os lugares, não apenas na sala de catequese.

 

Sábado foi um dia muito chuvoso, com muito vento e trovoada. Na hora de meditação pessoal durante o retiro, senti-me a ser chamada numa dada direção no Seminário. Eu já devia ter adivinhado quem seria - claro que fui encontrar uma bela estátua de Nossa Senhora, bem ali, à minha espera. Fiquei toda molhada, mas nem dei conta.

Ali, no meio dos trovões, da chuva, do vento, não pude deixar de reparar num pequeno passarinho que insistia em continuar a cantar - e que bem que cantava. Quanto mais chovia, mais trovejava, mais ele cantava! Que eu assim seja também ...

 

Para terminar, queria apenas partilhar convosco algumas ideias (já antigas, ao que parece) do nosso querido Papa Francisco (mas que eu nunca tinha lido antes!) para manifestarmos visivelmente o amor de Deus durante a Quaresma (e que foram partilhadas connosco durante o retiro).

 

15 actos de caridade como manifestações concretas de amor

  • Sorrir - um cristão é sempre alegre
  • Agradecer - embora não "precise" fazê-lo
  • Lembrar o outro quanto o amamos
  • Cumprimentar com alegria as pessoas que vemos todos os dias
  • Ouvir pacientemente a história do outro, sem julgamento, com amor
  • Parar para ajudar - estar atento a quem precisa de mim
  • Animar alguém
  • Reconhecer os sucessos e as qualidades do outro
  • Separar o que não se usa e dar a quem precisa
  • Ajudar alguém, para que possa descansar
  • Corrigir com amor - não calar por medo
  • Ter pequenas delicadezas para quem está perto de nós
  • Limpar o que se suja em casa
  • Ajudar os outros a superar os seus obstáculos
  • Telefonar aos nossos pais

 

E agora, para coisas ainda mais dificeis

O melhor jejum

  • Jejum de palavras negativas e abundância de palavras bondosas
  • Jejum de descontentamento e abundância de gratidão
  • Jejum de raiva e abundância de mansidão e paciência
  • Jejum de pessimismo e abundância de esperança e optimismo
  • Jejum de preocupações e abundância de confiança em Deus
  • Jejum de queixas e abundância de agradecimento pelas coisas simples da vida
  • Jejum de tensões e abundância de orações
  • Jejum de amargura e tristeza e abundância de alegria no coração
  • Jejum de egoísmo e abundância de compaixão pelos outros
  • Jejum de falta de perdão e abundância de gestos de reconciliação
  • Jejum de palavras e abundância de silêncio para ouvir os outros

A continuação duma santa Quaresma para todos!