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Uma Jovem Católica

Sou uma jovem esposa e mãe católica portuguesa. Neste blog partilho a minha caminhada em busca da santidade e o meu encontro com o amor misericordioso do Senhor. Espero que ele vos possa ajudar a encontrar a alegria do Evangelho!

Uma Jovem Católica

Sou uma jovem esposa e mãe católica portuguesa. Neste blog partilho a minha caminhada em busca da santidade e o meu encontro com o amor misericordioso do Senhor. Espero que ele vos possa ajudar a encontrar a alegria do Evangelho!

Esperando por (e com) Deus

Ninguém gosta de esperar. 

Esperar parece uma autêntica perda de tempo. Porquê esperar? Para quê? Não seria melhor se tudo acontecesse - já?! De que serve esperar?... Ai, o desejo impaciente de passar o mais rapidamente possível da situação em que me encontro para aquela que eu queria tanto estar ou ter ou fazer ou ser - e já!

 

Mas, se pensarmos bem, todos estamos permanentemente à espera. É raro, muito raro na verdade, não estarmos numa situação de espera - seja por algo ou por alguém. Às vezes, esperamos por coisas pequeninas, como esperar que nos respondam a um email, ficar preso no trânsito e nunca mais chegarmos onde queremos, estar na fila das compras (seja para entrar na loja ou para pagar), ou então esperar que chegue a hora de sair do trabalho ... Outras vezes, esperamos ansiosamente por coisas grandes e importantes, como saber que entrámos na faculdade dos nossos sonhos, discernir uma vocação, poder tomar o primeiro passo numa decisão importante ou esperar a resposta do outro ... 

 

Há poucos dias atrás, iniciei um novo ano de vida, o meu 27º ano. Se Deus quiser, e por uma graça absolutamente imerecida, será durante o decorrer deste ano que poderei declarar o meu "sim", total e eterno, à vocação de amor a que o Senhor me chama. Apesar dos longos anos de discernimento vocacional, esperar pela vontade e pelo tempo de Deus continua a ser uma batalha perene para mim. Oh, como gostava que esse dia glorioso, em que poderei oferecer toda a minha vida e todo o meu ser, chegasse depressa - ou, melhor ainda, fosse já amanhã!

 

Mas, se Deus nos coloca, tantas vezes, em situações de espera, não seria melhor aprender a esperar e a esperar santamente

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Imagem retirada daqui

A Bíblia está cheia de histórias de pessoas à espera. Às vezes, estão à espera de certas situações, outras vezes à espera umas das outras mas, principalmente, encontramos pessoas à espera de Deus.

Tomemos como exemplo as primeiras páginas dos Evangelhos. Zacarias e Isabel estão há anos à espera de ter um filho. Maria também espera o nascimento dum Filho, mas um que nunca pensara conceber. José está permanentemente à espera que Deus lhe diga o que deve fazer. Simeão e Ana passaram toda a sua vida à espera do dia em que veriam com os próprios olhos o Messias prometido. 

Todo o Evangelho parece iniciar-se com pessoas à espera. O que inclui o próprio Deus - aliás, ninguém passou mais tempo à espera do que Ele que, desde a queda de Adão e Eva no Jardim do Éden, aguardava ardentemente o momento perfeito para revelar-Se e demonstrar todo o Seu amor e misericórdia por cada homem e mulher.

Mas, tanto Zacarias como Isabel, Maria e José, Simeão e Ana, souberam esperar santamente porque a sua espera estava fundada numa promessa e numa esperança firmes.

«Não temas, Zacarias: a tua súplica foi atendida. Isabel, tua esposa, vai dar-te um filho e tu vais chamar-lhe João.» (Lc 1,13)

«Maria, não temas, pois achaste graça diante de Deus. Hás-de conceber no teu seio e dar à luz um Filho, ao qual porás o nome de Jesus. Será grande e vai chamar-se Filho do Altíssimo» (Lc 1,30-31)

«José, filho de David, não temas receber Maria, tua esposa, pois o que ela concebeu é obra do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, ao qual darás o nome de Jesus, porque Ele salvará o povo dos seus pecados.» (Mt 1,20-21)

Vivia em Jerusalém um homem chamado Simeão; era justo e piedoso e esperava a consolação de Israel. Tinha-lhe sido revelado pelo Espírito Santo que não morreria antes de ter visto o Messias do Senhor. (Lc 2,25-26)

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Zacarias, Isabel e Maria a admirarem João, o filho prometido pelo anjo do Senhor - Imagem retirada daqui

É a fé nas promessas do Senhor que permite a cada uma destas pessoas saber esperar santamente. Pela fé, acreditam desde já que possuirão, um dia, aquilo que o próprio Senhor lhes prometeu. Elas escolheram aceitar receber e aceitar acreditar nas promessas do Senhor. E, assim, aquilo que, a nós, nos parece futuro, para elas tornam-se, desde já, presente e real; torna-se, desde já, obtido. 

É como se recebessem uma semente da parte do Senhor, que crescerá e brotará na terra fértil da sua fé. São capazes de sorrir a cada novo amanhã (como é dito da mulher forte em Provérbios 31) porque sabem que, neste preciso momento em que vivem, a promessa de Deus está a ganhar forma, está a crescer, está a realizar-se. O segredo de esperar santamente é, assim, a fé de que Deus já plantou a semente, que algo já começou, de que algo está já a ocorrer. 

Esse algo está, quase sempre, escondido aos nossos olhos, sim; mas nem por isso deixa de acontecer ou ser real, porque, como nos disse Jesus: "O Meu Pai está sempre a trabalhar" (Jo 5,17)

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Imagem retirada daqui

Olhemos uma vez mais para os Evangelhos, mas agora para as últimas páginas, para a paixão e ressurreição de Jesus. Uma das palavras mais usadas para descrever o que aconteceu a Jesus é "ser entregue".

Estando reunidos na Galileia, Jesus disse-lhes: «O Filho do Homem tem de ser entregue nas mãos dos homens, que o matarão; mas, ao terceiro dia, ressuscitará.» (Mt 22,22-23)

Então, Judas Iscariotes, um dos Doze, foi ter com os sumos sacerdotes para lhes entregar Jesus. Eles ouviram-no com satisfação e prometeram dar-lhe dinheiro. E Judas espreitava ocasião favorável para O entregar. (Mc 14,10-11)

Quando chegou a hora, pôs-Se à mesa e os Apóstolos com Ele. Tomou, então, o pão e, depois de dar graças, partiu-o e distribuiu-o por eles, dizendo: «Isto é o Meu corpo, que vai ser entregue por vós; fazei isto em memória de Mim.» (Lc 22,19)

Estas mesmas palavras serão depois usada por São Paulo, na sua carta aos Romanos, ao declarar que "[Deus] nem sequer poupou o seu próprio Filho, mas entregou-O por todos nós" (Rom 8,32)

É impressionante reparar como, logo a seguir a ser entregue às autoridades de Jerusalém, Jesus deixa de ser Aquele que faz e submete-se humildemente a ser Aquele a quem as coisas Lhe são feitas ...  Jesus é preso por outros; é levado até ao Sumo-Sacerdote; depois é levado até Pilatos; é coroado com espinhos e, por fim, preso na cruz. Tudo Lhe é feito, sem que Ele tenha qualquer controlo

Quando Jesus finalmente diz: "Tudo está consumado" (Jo 19,30), Ele não quer dizer "Eu fiz todas as coisas que queria fazer", mas sim "Eu permiti que Me fosse feito tudo o que era preciso, de modo a cumprir plenamente a Minha vocação." Na verdade, Jesus não cumpriu a Sua missão apenas de uma forma activa, ou seja, curando os doentes, fazendo milagres, anunciando o Reino de Deus; mas também de uma forma passiva (muitíssimo mais difícil de aceitar que aconteça, na minha opinião!) durante a sua longa Paixão, sabendo esperar santamente a realização do plano de Deus Pai. 

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Imagem retirada daqui

Assim, de certa forma, a agonia de Jesus não será meramente a agonia da morte e do sofrimento, mas também a agonia de ter de esperar. É a agonia dum Deus que depende de nós para poder demonstrar a Sua divina presença entre nós; é a agonia dum Deus que, duma forma absolutamente misteriosa, permite-nos quase que decidir como Deus será Deus...

Descubro, assim, uma nova perspectiva de esperar - não apenas em esperar por Deus, mas também de participar na espera do próprio Deus ...

A fé de Isabel

Sempre que passo por uma altura na minha vida, em que Deus me pede para esperar por algo, acabo por descobrir mais um querido amigo do Céu, cuja história de vida me inspira a levar avante o meu combate diário pela virtude da paciência e da humildade. E assim, desta vez, Deus falou-me ao coração através da história de Isabel.

No tempo de Herodes, rei da Judeia, havia um sacerdote chamado Zacarias, da classe de Abias, cuja esposa era da descendência de Aarão e se chamava Isabel. Ambos eram justos diante de Deus, cumprindo irrepreensivelmente todos os mandamentos e preceitos do Senhor. Não tinham filhos, pois Isabel era estéril, e os dois eram de idade avançada.  (Lc 1,5-7)

Uma pesquisa rápida no Google diz-me que, em toda a Bíblia, podemos encontrar referência a mais de 20 personagens com o nome de Zacarias. Mas, e Isabel? Ah, Isabel há só uma, a mulher escolhida - à semelhança de Maria - para ser a mãe de São João Baptista, e não há outra ...

Só o Evangelho de São Lucas, o Evangelho da alegria, nos fala de Isabel, a prima mais velha de Maria e esposa do sacerdote Zacarias. Não são muitas as mulheres cujo nome aparece expresso nas Sagradas Escrituras, quase que se podem contar pelos dedos das mãos (e dos pés ). Mas Isabel promete ser alguém muito especial, ou não fosse ela logo chamada, juntamente com o seu marido, como sendo «justa diante de Deus», à semelhança quase apenas do que nos é dito sobre São José.

O anjo disse-lhe: «Não temas, Zacarias: a tua súplica foi atendida. Isabel, tua esposa, vai dar-te um filho e tu vais chamar-lhe João. Será para ti motivo de regozijo e de júbilo, e muitos se alegrarão com o seu nascimento. 

Pois ele será grande diante do Senhor e não beberá vinho nem bebida alcoólica; será cheio do Espírito Santo já desde o ventre da sua mãe e reconduzirá muitos dos filhos de Israel ao Senhor, seu Deus. Irá à frente, diante do Senhor, com o espírito e o poder de Elias, para fazer voltar os corações dos pais a seus filhos e os rebeldes à sabedoria dos justos»

Zacarias disse ao anjo: «Como hei-de verificar isso, se estou velho e a minha esposa é de idade avançada?»  (Lc 1,13-18)

Terminados os dias do seu serviço, [Zacarias] regressou a casa. Passados esses dias, sua esposa Isabel concebeu. (Lc 1,23-24)

Zacarias, apesar de ser sacerdote e de ter passado toda a sua vida a conhecer, a servir e a amar o Senhor, quando chega a um dos momentos mais impactantes da sua vida, duvida das palavras de Deus, transmitidas pelo Anjo Gabriel. Já Isabel, pelo contrário, crê firmemente nas promessas do Senhor e é essa fé que permite que um milagre aconteça na vida de ambos. 

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Imagem retirada daqui

Num Matrimónio abençoado pelo Senhor, aquilo que poderá faltar a um dos esposos - a fé num dado momento, a paciência noutro, o bom humor, o entusiasmo, o livre abandono à vontade do Senhor - é, por acção Divina, compensado pela virtude do outro esposo. Na verdade, anos mais tarde, São Paulo falará deste grande mistério, tão bela e visivelmente presente na história de Zacarias e Isabel, ao afirmar aos Coríntios de que "o marido não crente é santificado pela sua mulher, e a mulher não crente é santificada pelo seu marido" (1 Cor 7,14)

Isabel não vê Anjo nenhum, nem ouve nenhuma palavra proferida pela sua boca - não é preciso! A passagem dos anos ensinou-a a ser uma mulher que crê, que confia, que sabe esperar, que sabe escutar uma outra voz, que fala bem mais baixinho, vinda do mais fundo do seu coração durante a oração e que lhe assegura vezes e vezes sem conta: "Procura no Senhor a tua felicidade e Ele satisfará os desejos do teu coração" (Sl 37, 4).

Por aqueles dias, Maria pôs-se a caminho e dirigiu-se à pressa para a montanha, a uma cidade da Judeia. Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel.  (Lc 1,39-40)

Apesar de nos ser dito, logo no início da narração de São Lucas, que Isabel e Zacarias "cumpriam irrepreensivelmente todos os mandamentos e preceitos do Senhor", eles aceitam receber na sua casa uma jovem rapariga que, apesar de ainda não estar casada, já ficou grávida! Como podem eles aceitar tal coisa? Como podem recebê-la na sua casa? Não saberão eles que a lei dos fariseus e dos escribas condena gravemente essas mulheres?

Sim, Zacarias e Isabel conhecem bem a Lei de Moisés, como conhecem as palmas das suas mãos. Eles são o reflexo vivo de um casal que não só conhece como vive diariamente o Shemá: "AmarásSenhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todo o teu entendimento e com todas as tuas forças" (Dt 6,5) E é por isso mesmo que sabem reconhecer o mistério extraordinário que se vai revelando diante dos seus olhos ...

Meu filho, se receberes as Minhas palavras
e guardares cuidadosamente os Meus mandamentos,
prestando o teu ouvido à sabedoria,
se a buscares como se procura a prata
e a pesquisares como um tesouro escondido,
então, compreenderás o temor do Senhor
e chegarás ao conhecimento de Deus.

Compreenderás a justiça e a equidade,
a rectidão e todos os caminhos que conduzem ao bem;
pois a sabedoria entrará no teu coração
e o conhecimento será para ti uma delícia.

(Sl 2, 1-2. 5. 9-10)

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Imagem retirada daqui

Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, o menino saltou-lhe de alegria no seio e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. Então, erguendo a voz, exclamou: «Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o Fruto do teu ventre. E donde me é dado que venha ter comigo a mãe do meu Senhor? Pois, logo que chegou aos meus ouvidos a tua saudação, o menino saltou de alegria no meu seio. Feliz de ti que acreditaste, porque se vai cumprir tudo o que te foi dito da parte do Senhor.»  (Lc 1, 41-45)

Nuns versículos mais atrás, é-nos dito que Isabel se encontra no seu 6º mês de gestação, quando recebe a visita de Maria. São Lucas, sendo médico, sabia bem que uma mulher, grávida com o seu primeiro filho, apenas o sentirá mexer a partir da 20ª a 22ª semana de gestação. Assim, esta poderá muito bem ter sido a primeiríssima vez que Isabel sentiu o seu bebé, João, a mexer dentro de si. E ele não mexeu só um bocadinho, mas verdadeiramente "saltou de alegria no [seu] seio".

Oh, pensar que a primeira pessoa a reconhecer a presença de Jesus, verdadeiro Deus encarnado dentro de Maria, foi um bebé que ainda não tinha nascido, um feto ainda dentro do útero de sua mãe (mas um embrião não é uma pessoa, nem possui nenhuma dignidade nem valor, grita-nos a nossa sociedade actual ...)

Num momento de pura clareza espiritual, Isabel compreende todos os sinais que Deus lhe foi dando e que culminam neste momento: a plena e perfeitíssima realização de tudo o que foi escrito nas Sagradas Escrituras, naquele que se tornará o Antigo Testamento, está agora mesmo a começar. Está agora mesmo a realizar-se. Ali, diante dos seus olhos.

 

E assim, contemplando tudo isto, faço minhas as palavras de Isabel, em oração: "Donde me é dado que venha ter comigo a mãe do meu Senhor?"