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Uma Jovem Católica

Sou uma jovem esposa e mãe católica portuguesa. Neste blog partilho a minha caminhada em busca da santidade e o meu encontro com o amor misericordioso do Senhor. Espero que ele vos possa ajudar a encontrar a alegria do Evangelho!

Uma Jovem Católica

Sou uma jovem esposa e mãe católica portuguesa. Neste blog partilho a minha caminhada em busca da santidade e o meu encontro com o amor misericordioso do Senhor. Espero que ele vos possa ajudar a encontrar a alegria do Evangelho!

Vivendo as Bodas de Caná

  †   Peregrinação: do EGIPTO à TERRA SANTA ~  2019   †  

 ~  Egipto - Jordânia - Israel - Palestina  ~ 

 

Estamos no final do nosso 7º dia de peregrinação na Terra Santa (um dia que tinha começado lá no topo do Monte das Bem-Aventuranças, ainda se lembram?). O Padre Miguel, que nos acompanhou ao longo de toda a viagem, tinha ainda uma surpresa guardada para nós neste dia: tinha conseguido marcar uma pequena visita guiada àquela que poderá ter sido a casa da Sagrada Família em Nazaré ... Mas parece-me que Deus tinha outros planos em mente para nós nesse dia ... 

A verdade é que, no dia anterior à nossa visita, a Irmã que se tinha disponibilizado para nos abrir a porta da casa e que nos daria a tal visita guiada tinha ficado inesperadamente doente e a visita tinha sido cancelada ...

"Assim, temos ainda mais 1 ou 2 horas livres neste fim de tarde. Alguém tem alguma ideia do que possamos todos fazer? Estão muito cansados? Querem voltar já para o hotel? Querem ir às compras?" - pergunta-nos o Pe Miguel já dentro do autocarro.

 

E eu começo a sentir borbulhar dentro de mim uma ideia e um desejo que tinha tido, semanas antes, ao contemplar o mapa de Israel e ao constatar todos os locais pelos quais iríamos passar na nossa peregrinação na Terra Santa.... Caná da Galileia não aparecia no nosso guião, logo não iríamos passar por lá, para minha grande tristeza... 

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Todos os locais pelos quais passámos neste 7º dia de peregrinação na Terra Santa

Volto a olhar para o mapa: Caná da Galileia ficava mesmo no caminho de volta para o nosso hotel, em Nazaré ... Não seria possível passar por lá? Nossa Senhora Auxiliadora, Mãe de Caná, se for essa a vontade do Senhor, peço-te este pequeno milagre! ...

Dou por mim a levantar a mão e a propor: "Não podíamos passar por Caná? No mapa parece que fica mesmo a caminho do hotel... " 

O Pe Miguel olha para mim intrigado. Nunca tinha pensado nessa hipótese. Ele, aliás, apesar de esta ser a 7ª vez que vem à Terra Santa, nunca tinha tido a oportunidade de visitar esta cidade .... Seria possível? Ainda dava tempo?

Começamos a falar com a nossa querida guia e com o nosso solicito motorista. Sacamos dos telemóveis para tentar saber se chegaríamos a tempo antes da igreja dedicada às Bodas de Caná fechasse. Sim, parece que conseguíamos chegar a tempo!

Eu nem quero acreditar! O meu coração mal cabe dentro de mim!!

Vamos a Caná da Galileia! Vamos a Caná da Galileia!!  

 

Apanhamos trânsito até lá chegar, mas conseguimos chegar 30 minutos antes da Igreja fechar. À entrada, um casal estrangeiro, vestido de noivo e de noiva, rodeados provavelmente da sua família, preparava-se para renovar as suas promessas de Matrimónio (fiquei com a sensação que faziam 25 anos de casamento!)

Alguém pergunta ao nosso Padre, talvez inspirado pela bela imagem que testemunhávamos: "Não podíamos também nós renovarmos as nossas promessas de Matrimónio aqui?"

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Alguns dos nossos casais, em preparação para a renovação dos seus votos de casamento

Pela graça de Deus, a ideia é novamente aceite por todos. A Igreja principal está já ocupada, sim, mas uma querida Irmã indica-nos uma pequena capela, no jardim à volta desta Igreja, em que o podemos fazer ... "Rapidamente, porque estamos quase a fechar!" - avisa-nos com um sorriso.

E nós, quando damos por isso, temos 10 casais a renovar as suas promessas de casamento em plena terra de Caná da Galileia!

Uns casaram-se há apenas 3 meses, outros há mais de 40 anos ... É uma cerimónia simples, como terá sido também as Bodas de Caná, como nos conta o Evangelho de São João, e eu vou recordando no meu coração os ensinamentos que tenho aprendido e vivido ao participar no movimento das Famílias de Caná ... 

 

“Ao terceiro dia, houve um casamento em Caná da Galileia e a Mãe de Jesus estava presente. Jesus também tinha sido convidado para esse casamento com os Seus discípulos. Faltou o vinho e a Mãe de Jesus disse-Lhe: «Eles já não têm vinho». Jesus respondeu: «Mulher, que tem isso a ver contigo e comigo? A Minha hora ainda não chegou.» A Mãe de Jesus disse aos servidores: «Fazei tudo o que Ele vos disser».

Ora, havia ali 6 vasilhas de pedra de uns 100 litros cada uma, que serviam para os ritos de purificação dos judeus. Disse Jesus aos servidores: «Enchei as vasilhas de água.» Eles encheram-nas até cima. Então ordenou-lhes: «Agora tirai e levai ao chefe de mesa». E eles assim fizeram.

O chefe de mesa provou a água transformada em vinho, sem saber de onde vinha. Os que serviam sabiam, pois foram eles que tinham tirado a água. Então o chefe de mesa chamou o noivo e disse-lhe: «Todos servem primeiro o vinho melhor e, depois de terem bebido bem, é que servem o pior. Tu, porém, guardaste o melhor vinho até agora!»

Foi assim que, em Caná da Galileia, Jesus realizou o primeiro dos Seus sinais miraculosos. Ele manifestou a Sua glória e os Seus discípulos acreditaram n’Ele.”

                                                                                                                                           Jo 2,1-11 

 

O Evangelho leva-nos directamente para a intimidade duma festa de casamento judaica. Pode-nos parecer bastante estranho que este relato comece com "ao terceiro dia...", pois actualmente as nossas festas de casamento duram apenas um dia, ou ainda menos, uma tarde ou uma noite ...  Eu acho que deveriam durar muito mais tempo, tal é a alegria contagiante e transbordante que todos vivemos quando duas pessoas se decidem a entregar toda a sua vida uma à outra...

Os judeus também parecem concordar comigo e assim as suas festas de casamento têm, até aos dias de hoje, pelo menos 7 dias (as famílias que tiverem dinheiro para isso, podem prolongar a festa até 14 dias).

Desde o início do povo de Israel que o casamento era uma festa vivida em comunidade, uma festa partilhada, com toda a família e com todos os amigos e vizinhos. Eram duas pessoas as que se casavam, sim, mas a festa e a alegria era de todos!

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Igreja em Caná da Galileia, precisamente dedicada a este relato bíblico

... e a Mãe de Jesus estava presente. Jesus também tinha sido convidado para esse casamento com os Seus discípulos.     (Jo 2,2)

Sempre achei engraçado que, durante quase todo o relato, apesar de ser um casamento e de, por norma, os noivos serem a figura mais importante desse dia, quase nem se fala deles ... Na verdade, não fazemos ideia de quem era este casal, cuja família estava agora mesmo a nascer ... Mas, para convidarem Maria e Jesus, que viviam em Nazaré (a cerca de 15 km de distância), podemos assumir que eram duas pessoas muito queridas a ambos. 

E nós, será que também nos lembramos de convidar Jesus e Maria a participarem nas nossas vidas?

Não, nem sempre não ... Oh, como é importante aprender a dizer de todo o coração a Jesus, nosso Senhor, e a Maria, nossa Mãe: Venham, fiquem connosco, nas nossas vidas. Vivam-nas connosco. Estejam presentes ...

Faltou o vinho ...       (Jo 2,3a)

Ai que vergonha tão grande! A festa deveria ainda durar pelo menos mais 4 dias e já ao 3º dia faltou o vinho. E agora? Não é dum dia para o outro que se vai pisar uvas, fermentar e fazer-se vinho...

Faltar o vinho numa festa de casamento era uma grande vergonha para aquela família, porque indicaria que não se tinha preparado adequadamente para tal acontecimento, que não estavam, na verdade, prontos para o compromisso que assumiriam perante toda a comunidade ... 

A festa teria de terminar mais cedo ... e que mau presságio seria esse, para a vida em conjunto daquele casal, daquela família que agora se formava….

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Interior da Igreja dedicada às Bodas de Caná

Faltou o vinho e a Mãe de Jesus disse-Lhe: «Eles já não têm vinho»              (Jo 2,3)

Mas Maria estava atenta.

Ela estava lá como convidada e por isso não tinha de se preocupar com estas coisas... Mas o coração de Nossa Senhora não consegue senão estar sempre em serviço.

Maria está, até aos dias de hoje, sempre atenta e vigilante a todas as necessidades dos seus filhos e claro que notará, talvez ainda antes de nós mesmos, que o vinho está a acabar nas nossas vidas ...

 

E que vinho é este?

Muitas vezes será o vinho do Amor; umas vezes poderá ser o vinho da ou da Esperança; por vezes será o vinho da Alegria ou então o vinho do deslumbramento pelo nosso esposo ou esposa, pelos nossos filhos, pela nossa família …

Oh, quantas vezes vemos o outro, que convive e habita connosco, como prémio da nossa conquista, que eu "mereci" receber ... Ou então, pelo contrário, como infortúnio ou fruto dum mero acaso qualquer ...  Em vez de o receber, tal como ele é, como um dom magnífico e maravilhoso de Deus na minha vida! 

 

Mas  ... e se o vinho estiver, realmente, a acabar nas nossas vidas, na nossa família? O que podemos fazer?

Nós podemos não saber muito bem o que fazer, mas Maria sabe perfeitamente e fá-lo ali mesmo: vai falar directamente com Jesus, intercedendo por nós. É Maria que nos revela onde se esconde a Fonte do verdadeiro vinho, que nos trará de novo a vida e onde poderemos voltar a encher os nossos corações, a nossa família, as nossas vidas... 

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Poço do jardim da Igreja das Bodas de Caná.

Faltou o vinho e a Mãe de Jesus disse-Lhe: «Eles já não têm vinho».

Jesus respondeu: «Mulher, que tem isso a ver contigo e comigo? A Minha hora ainda não chegou.»

A Mãe de Jesus disse aos servidores: «Fazei tudo o que Ele vos disser».  (Jo 2, 3-5)

Reparem bem na fé de Maria - apesar das palavras (algo provocadoras) de Jesus, a sua fé continua inabalável! Ela sabe, ela tem a certeza que está na hora, que chegou a hora.

Então Nossa Senhora vira-se para os servos do casamento e diz-lhes algo tão simples, mas ainda assim tão difícil e desafiador: Fazei tudo o que Ele vos disser.... Maria passou a sua vida inteira a fazer exactamente isso – a fazer a vontade de Deus, a fazer tudo de acordo com o coração de Deus. Ela sabe que isso resulta e resulta sempre!

Quem melhor que ela para nos puder dizer uma coisa destas? Fazei tudo o que Ele vos disser. Eu sempre fiz assim e Ele nunca me deixou ficar mal …

Ora, havia ali 6 vasilhas de pedra de uns 100 litros cada uma, que serviam para os ritos de purificação dos judeus.

Disse Jesus aos servidores: «Enchei as vasilhas de água.»  (Jo 2,6-7)

Jesus também não faz por menos! Ele gosta muito de actuar assim: nós recorremos a Ele na nossa oração, pedimos por favor para que Ele nos dê um copinho de água e Jesus - porque nos ama assim tanto! - dá-nos nada mais nada menos que 6 vasilhas com 100L cada … ena, que fartura!

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As talhas (ou vasilhas) responsáveis por encher de água o poço do jardim da Igreja das Bodas de Caná.

Mas digam-me: É possível encher-se algo, algum recipiente, se ele já tiver cheio de outras coisas? Acham que é possível encher os nossos corações, as nossas vidas, quais grandes vasilhas, se elas já tiverem cheias com outras coisas do mundo?

Sim, é preciso esvaziarmo-nos - de nós próprios, do nosso ego, do nosso egoísmo e orgulho, das distrações deste mundo, das coisas que insistimos em acumular ... para poder acontecer este autêntico milagre de Caná, também nas nossas vidas; para poder acontecer esta enorme graça e bênção que Maria pediu por nós, e que Jesus tanto deseja realizar, dia após dia, em cada uma das nossas famílias ... 

Disse Jesus aos servidores: «Enchei as vasilhas de água.» Eles encheram-nas até cima.  (Jo 2,7-8)

Quase que oiço os servos a pensarem para si: "Ah Jesus, toda a gente sabe que o vinho não vem assim da água. É absurdo o que nos pedes … mas pronto, se Tu o dizes, e logo Tu com esse Teu olhar, firme e confiante, entao nós fazemos, então nós acreditamos …"

Por um lado, é preciso acreditarmos que o milagre acontecerá; é preciso confiarmos - com toda a confiança! - que as promessas de Deus sempre, sempre, sempre se concretizarão, mais tarde ou mais cedo ... Mas, por outro lado, é preciso também que nós próprios facilitemos a realização desse milagre; é preciso mexermo-nos, é preciso agir e enchermos as nossas vasilhas com a água que temos à mão, aqui mesmo na nossa casa, na nossa própria família, no nosso próprio estado de vida – com a água do nosso trabalho, dos nossos talentos, da nossa inteligência, da nossa criatividade, do nosso tempo, do nosso esforço, do nosso cansaço ... sim, esforço e cansaço também.

É que, com Deus, não há meias medidas. Não há meio cheio, meio vazio … ou é tudo ou é nada. Ou é cheio, bem cheio até cá acima, ou não é suficiente. Por amor a Deus e para Deus, devemos dar o nosso tudo, o nosso melhor, toda a nossa vontade … ou não é suficiente; ou não é verdadeiro amor ...

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A pequena capela na qual os nossos casais renovaram as suas promessas de Matrimónio em Caná

Então [Jesus] ordenou-lhes: «Agora tirai e levai ao chefe de mesa». E eles assim fizeram.                                                                                                                         (Jo 2,8b-9a)

Eu não faço ideia como é que chegou algum vinho sequer àquela mesa!… Se eu fosse um dos servos, as minhas pernas iriam tremer tanto, que iria derramar quase tudo pelo caminho e quase nada chegaria àquela mesa, tal era o meu medo da reacção dos convidados e dos noivos, quando eles me pedissem vinho e eu lhes trouxesse vasilhas com água...

Mas eles assim fizeram … apesar do medo, das dúvidas, do desconhecido, do não saberem o que iria acontecer … eles fizeram - tudo! - o que Jesus lhes disse.

O chefe de mesa provou a água transformada em vinho, sem saber de onde vinha. Os que serviam sabiam, pois foram eles que tinham tirado a água.

Então o chefe de mesa chamou o noivo e disse-lhe: «Todos servem primeiro o vinho melhor e, depois de terem bebido bem, é que servem o pior. Tu, porém, guardaste o melhor vinho até agora!»                                                                                                              (Jo 2,9b-10)

A lógica de Deus parece ser sempre diferente da do mundo... O mundo acha que o melhor tem de vir logo primeiro, em grande quantidade e ser bem aproveitado e apreciado - e que fique com os restos quem vier a seguir.

Mas Deus guarda (quase) sempre o melhor para o fim. No final, disse-nos Jesus tantas vezes, os últimos serão os primeiros, os rejeitados terão um lugar à frente. Na lógica de Deus, o vinho melhor vem depois da provação, depois da dificuldade - e restabelecerá não só as nossas forças, como saberá ainda melhor do que se fosse tomado antes ...

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Foi assim que, em Caná da Galileia, Jesus realizou o primeiro dos seus sinais miraculosos. Ele manifestou a Sua glória e os Seus discípulos acreditaram n’Ele. (Jo 2,11-12)

E nós?

Deixaremos que o Senhor manifeste toda a Sua glória nas nossas vidas, tal como Ele deseja tanto fazer?

Atrevemo-nos a acreditar e a pôr em prática, tal como Maria e os Apóstolos, tudo o que Ele nos disser, todas as Suas palavras, todas as Suas promessas? 

 

No próximo Domingo, dia 1 de Março, haverá um retiro das Famílias de Caná, em Mogofores, em Aveiro, para nos ajudar a preparar esta Quaresma.

Venham, queridos leitores, queridos amigos! Venham celebrar connosco as Bodas da vida!

Nossa Senhora Auxiliadora, Mãe de Caná,

Consagramos-te hoje e sempre a nossa família.

Confiamos na tua intercessão de mãe,

Para que o vinho da fé, da esperança e do amor

Nunca acabe em nossa casa.

Faz de nós servos do Senhor, como tu e S.José teu esposo,

E ensina-nos a fazer tudo o que Jesus nos disser.

Ámen!

 

  †   Peregrinação: do EGIPTO à TERRA SANTA ~  2019   †  

 ~  Egipto - Jordânia - Israel - Palestina  ~ 

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